História do Mundo
Volume I - O Mundo Antigo - A Idade Média

A. Z. Manfred


I Parte: O Mundo Antigo
Capítulo II - O Médio Oriente


O Egipto
capa

O Egipto está situado na parte nordeste do continente africano e consiste num estreito vale (de 5 a 30 km de largura) no troço mais baixo do rio Nilo, cercado de ambos os lados pelo deserto.

Condições Naturais

O rio Nilo desempenha um papel de alta importância na vida do país. É significativo que nos tempos antigos o Egipto fosse chamado de «dom do Nilo»: todos os territórios do nordeste de África, com excepção do vale do Nilo, se tinham convertido desde há muito num deserto árido. O vale do Nilo, graças a cheias anuais (entre Julho e Novembro), tem uma terra fértil, que é extremamente fácil de cultivar. Por isso, as condições nesta área favoreceram o desenvolvimento da agricultura primitiva.

O vale do Nilo, em tempos antigos já era rico de valiosas espécies de árvores de fruto, tais como palmeiras e sicómoros, que também forneciam material de construção. As montanhas que havia junto do vale, eram ricas em pedras próprias para a construção, como o granito e o calcário, e havia ouro nas montanhas da vizinha Núbia. Assim, verifica-se que, além do seu solo fértil, o vale do Nilo também era rico em recursos naturais.

Formação de uma Sociedade de Classes e de um Estado no Egipto

O povo do antigo Egipto estava agrupado em várias tribos que se tinham estabelecido no vale do Nilo desde tempos imemoriais. A população dedicava-se, sobretudo, ao cultivo da terra, embora a caça e a pesca também fossem actividades importantes. O cultivo desta zona exigia porém a construção de sistemas de irrigação. E como este trabalho era demasiado pesado para famílias e clãs isolados e ainda porque não era rentável abrir canais para a irrigação de pequenas extensões de terra, formaram-se grupos cada vez maiores constituídos por um certo número de clãs. A estes grupos chamamos nomos. Cada nomo tinha a sua própria designação, os seus costumes e usava, por vezes, até um dialecto próprio. Apareceram, então, os nomarcas ou chefes; cada família dentro do nomo tinha o seu ancião e a escravatura tornou-se numa prática cada vez mais espalhada. Gradualmente, os nomos começaram a unir-se e dois reinos surgiram no Egipto — o reino do Norte e o reino do Sul.

Ocorreu então um conflito entre os dois reinos, do qual o reino do Sul saiu vitorioso. Cerca do ano 3200 a.C., o faraó Menés uniu pela primeira vez todo o território do Egipto sob o seu governo, instituindo o poder do Estado em todo o seu país. Este poder estava nas mãos da nobreza, dos grandes proprietários de terras. A história do Egipto divide-se geralmente em três períodos principais: o Antigo, o Médio e o Novo.

O Império Antigo e o Império Médio
mapa do Egito

No Império Antigo, a principal actividade do povo era ainda a agricultura. A terra era cultivada por comunas de camponeses e cada comuna era administrada pelo seu conselho de anciãos. Estes conselhos organizavam a cobrança de impostos e também o recrutamento do trabalho para os «projectos reais». Era esta a designação dada no Egipto ao recrutamento obrigatório para todos os que trabalhavam nas comunas de camponeses. Os escravos no Egipto eram geralmente utilizados nas grandes propriedades que pertenciam aos cortesãos do faraó ou nas terras que pertenciam aos templos.

Os faraós detinham grandes poderes. Deram-lhes o título de soberanos do Alto e Baixo Egipto (Egipto do Sul e Egipto do Norte) e usavam duas coroas, uma branca e outra vermelha. O principal conselheiro do faraó chamava-se vizir e dirigia por sua vez aqueles que superintendiam nas várias esferas da administração. As obrigações do vizir incluíam a administração dos vários armazéns de cereais, do ouro, dos vinhos, da criação de gado, das questões militares e dos sacrifícios a realizar nos templos. Além disso, o vizir também superintendia em todo o trabalho para o faraó, no Tesouro Público e no Grande Tribunal. Muitos escribas trabalhavam para o próprio vizir e para os vários «armazéns».

Os faraós do Império Antigo empreenderam campanhas militares contra os povos da Península do Sinai e da Núbia. Estas campanhas trouxeram ao Egipto ricos despojos, incluindo malaquite, minério de cobre, ouro, marfim, ébano e também grande número de prisioneiros, que não eram mortos mas reduzidos à escravatura. A estes prisioneiros dos egípcios dava-se o nome de «mortos -vivos» e havia boas razões para isso.

Foi no Império Antigo que apareceu o costume de construir pirâmides, enormes túmulos de pedra que os faraós e seus cortesãos mandavam erguer para si durante a sua vida. No Egipto, cerca de setenta destas pirâmides sobreviveram até aos nossos dias. A maior e mais famosa é a pirâmide de Kéops ou Khufu que tem 145 m de altura e cuja base tem cerca de 732 m de lado; para a sua construção foram precisos 2 300 000 blocos de pedra que pesavam duas toneladas cada um. A pirâmide levou vinte anos a construir, apesar de toda a população rural do Egipto ter sido recrutada para este trabalho, a um ritmo de 100 000 homens de três em três meses. Tais eram as condições de trabalho na casa real no Império Antigo.

A construção das pirâmides estava relacionada com a religião egípcia e em particular com a crença numa vida além-túmulo, desde que o corpo fosse bem conservado e lhe fossem regularmente fornecidos alimentos e bebidas. Esta crença está na base do costume de embalsamar, isto é, de mumificar os mortos, arte na qual os Egípcios se tornaram mestres.

No final do Império Antigo, o poder centralizado dos reis começou a enfraquecer e o Egipto foi de novo dividido numa série de nomos, que guerreavam entre si com certa frequência. A reunificação do país foi conseguida pouco antes do início do século XX a.C. A este período chama-se Império Médio.

Durante o Império Médio foram empreendidas obras em larga escala para aumentar e aperfeiçoar o sistema de irrigação no oásis de Fayum. O comércio desenvolveu-se, assim como vários tipos de artesanato. Uma característica deste período foi a estratificação das comunas de camponeses; vastos sectores do campesinato empobreceram e arruinaram-se.

Em meados do século XVII a.C. ocorreu no Egipto uma revolta generalizada de camponeses, artesãos e escravos. Todo o país foi envolvido na revolta, o faraó foi obrigado a abdicar e os grandes proprietários foram expulsos dos seus palácios. As múmias de antigos reis foram saqueadas e extraídas dos seus túmulos e pirâmides. Os celeiros e tesouros reais e os templos foram conquistados e os depósitos de alimentos e objectos de valor foram distribuídos pelo povo. Todos os documentos referentes a impostos e tributos foram destruídos.

mapa do Egito

Como está escrito numa das crónicas do antigo Egipto, «a terra moveu-se em turbilhão como a roda do oleiro», porque os pobres foram viver nas casas dos ricos senhores, vestiram as suas roupas e obrigaram-nos a trabalhar para eles.

No final do século XVIII a.C., o Egipto foi devastado por uma invasão de uma tribo nómada da Ásia, os Hicsos. Este povo conquistou o país e durante quase um século e meio os Egípcios viveram sob o jugo dos opressores estrangeiros, até que finalmente um movimento de libertação adquiriu impulso suficiente para os expulsar e reunificar o país. Este acontecimento marcou o começo do Império Novo.

O Império Novo

Durante este período, o Egipto tornou-se uma forte potência militar. O faraó Ahmose I, que libertou o Egipto dos conquistadores Hicsos, perseguiu-os até ao interior das regiões vizinhas da Ásia e depois empreendeu uma expedição contra a Núbia. Contudo, o verdadeiro fundador da nova potência militar egípcia foi Tuthmosis III (1525 - 1491 a.C.) que chefiou dezassete expedições à Ásia, tendo conquistado a Síria, a Palestina, a Líbia e a Núbia. Este faraó tinha vastas forças à sua disposição, formadas por infantaria, armada de arcos, setas e lanças, e cavalaria equipada com carros. Além das tropas terrestres, Tuthmosis também possuía uma esquadra de guerra que incluía galeras a remo e barcos à vela.

Estas campanhas trouxeram ao Egipto grandes quantidades de despojos que iam, sobretudo, encher os cofres e os celeiros do faraó; milhares de escravos e de cabeças de gado foram também trazidos para as propriedades reais. Os faraós ofereceram então ricos presentes e concederam privilégios aos templos e àqueles que neles serviam. Por exemplo, ao templo de Amon Râ — o deus mais popular de Tebas, a capital — foi atribuída autoridade absoluta sobre toda uma região do Líbano com três grandes cidades, depois duma destas campanhas.

Tudo isto levou a um crescimento extremamente rápido do poder dos sacerdotes na vida política do país. O templo de Amon Râ, em Tebas, tinha importância especial: este templo tinha mais terras, escravos e camponeses que todos os outros juntos. Daqui a enorme influência política exercida pelos sacerdotes de Tebas, que até tentaram arrebatar certos poderes aos próprios faraós.

O faraó Ekhnaton (Amenhotep IV, 1424- 1388 a.C.) tomou medidas para pôr fim a este estado de coisas e decidiu fazer uma reforma religiosa. O politeísmo foi abandonado e substituído pela adoração de um só deus, o deus do Sol Aton. Ergueram-se templos a Aton em todo o país, e o faraó tomou o nome de Ekhnaton — «O amado de Aton» —, usando-o de preferência ao seu título original de Amenhotep.

Contudo, as reformas de Ekhnaton duraram muito pouco. A luta contra as suas reformas levou mesmo a uma revolta, e embora o faraó conseguisse reprimi-la, depois da sua morte as reformas foram logo abandonadas e os sacerdotes tornaram-se ainda mais poderosos do que anteriormente. Por exemplo, durante o reinado de Ramsés II (1317 -1251 a.C.), a área das terras pertencentes aos templos duplicou e os principais sacerdotes sentiam-se independentes do rei. Entretanto, o cargo de sumo sacerdote tornou-se hereditário.

Durante o reinado de Ramsés II foram empreendidas as últimas campanhas militares em larga escala. No território sírio, os Egípcios tiveram pela primeira vez de medir forças com uma nova e forte potência — os Hititas, que nessa altura já tinham conquistado quase toda a Síria. A luta durou muito tempo, e o resultado não foi decisivo, tendo a Síria sido dividida entre os Hititas e os Egípcios.

O final do Império Novo assistiu a um grande enfraquecimento do poder militar do Egipto. Um certo número de estados vassalos readquiriu a independência e voltaram a fazer-se sentir tendências separatistas entre os vários nomos. Em breve, o próprio Egipto ia ser presa de conquistadores estrangeiros.

A Religião e a Cultura do Antigo Egipto
mapa do Egito

A religião era um fenómeno central da vida dos antigos Egípcios. E uma das suas características típicas era a deificação dos animais e dos pássaros. A cidade de Mênfis adorava o boi Ápis; Horus, o deus do céu, com cabeça de falcão, era adorado nas cidades de Tanis e Buto, e vários nomos tinham nomes de animais: o nomo do antílope, o nomo do crocodilo, etc. Pouco a pouco, os deuses adorados pelos nomos mais poderosos passavam a ser adorados à escala nacional, por exemplo o deus do Sol Râ, o criador do mundo Amon, e o deus e a deusa da fertilidade Osíris e Ísis. O culto de Osíris e Ísis estava estreitamente ligado às tradições agrícolas. A lenda da morte de Osíris e da sua subsequente ressurreição era uma alegoria à sementeira e ao nascimento dos cereais. Na altura das sementeiras e das colheitas organizavam-se grandes espectáculos dramáticos em honra de Osíris e da sua consorte.

Uma grande realização da antiga cultura egípcia foi o desenvolvimento da escrita. Para escrever na pedra, os Egípcios usavam sinais especiais, ou hieróglifos, a partir dos quais se desenvolveu uma escrita simplificada para escrever em papiro. Importantes avanços verificaram-se na literatura (canções, lendas, crónicas de viagem, etc.), na arquitectura e nas belas-artes. Ainda hoje se podem ver ruínas de esplêndidos templos, absolutamente estranhos às pirâmides, como por exemplo o de Karnak.

Os antigos Egípcios conheciam ainda os princípios básicos de um certo número de ciências, tais como a Matemática, a Astronomia e a Medicina. Usaram o sistema decimal e sabiam calcular a superfície do triângulo, do trapézio e até do círculo, usando Π = 3,16. Com base em observações dos movimentos dos corpos celestes, foi elaborado um calendário que dividia o ano em doze meses e em 365 dias. A prática corrente do embalsamamento levou a uma familiaridade cada vez maior com a anatomia humana e o desenvolvimento de campos científicos, como a Medicina e a Cirurgia.

Babilônia e Assíria

Tal como o vale do Nilo foi o centro da antiga civilização do Nordeste Africano, assim também os antigos reinos do Médio Oriente iam surgir nos vales do Tigre e do Eufrates, isto é, na «terra entre os rios» ou Mesopotâmia.

Condições Naturais
mapa do Egito

As condições naturais da Mesopotâmia estão longe de ser uniformes. A parte norte é um território com pequenas elevações, irrigado por pequenos cursos de água da montanha e de grande pluviosidade. A parte sul é uma depressão pantanosa, sendo o solo formado por depósitos aluviais. Os rios inundavam os terrenos marginais, de Março a Julho, e a água dos campos, então, secava. Porque o solo secava em grau desigual nos vários lugares, mesmo nos tempos antigos, foi indispensável construir um meio artificial de controlar o abastecimento de água.

As riquezas naturais da Mesopotâmia eram menos espectaculares do que as do vale do Nilo. Contudo, havia calcário e barro nalguns sítios; a vegetação mais comum, eram palmeiras e várias espécies de canas; nas montanhas que delimitavam o vale havia gado selvagem, cabras, javalis e leões, e os rios abundavam em peixe.

Os Antigos Reinos de Sumer e Akkad

Na parte sul da Mesopotâmia e ao longo das costas do golfo Pérsico, algumas tribos de povos chamados Sumérios tinham-se estabelecido desde há muito tempo. Foram eles que fizeram pela primeira vez obras de irrigação: canais, reservatórios e diques. Os Sumérios eram grandes agricultores. A terra naquela região, tal como no Egipto, estava dividida entre as comunas de camponeses, e os produtos mais cultivados eram a cevada, o trigo, o linho e o gergelim. As comunas de camponeses eram obrigadas a pagar impostos em géneros, em geral um décimo da colheita, que iam para o celeiro real. Nas propriedades reais e dos templos, onde predominava o trabalho escravo, a terra estava na sua maior parte plantada de pomares e era florescente a criação de gado.

Nos fins do quarto milénio a.C., no Sul da Mesopotâmia havia mais de vinte pequenos Estados. Não sabemos os seus nomes, mas sabemos que os seus governantes eram príncipes-sacerdotes, chamados «patesi», e estes reinos têm, por isso, sido chamados de «patesiatos», tais como Lagash e Umma, pois cada um tentava unificar a Mesopotâmia do sul sob a sua hegemonia.

As regiões central e do noroeste da Mesopotâmia foram habitadas por tribos semíticas, que parecem ter vindo originariamente da Arábia, e tomaram o nome da sua cidade principal, Akkad. Cerca do ano 2500 a.C., o chefe dos povos de Akkad era o talentoso administrador e chefe militar Sargão I. Foi o primeiro homem da história a recrutar tropas regulares entre os camponeses nas comunidades de aldeias pobres, os quais mais tarde receberiam terras como pagamento pelo seu serviço militar. Com estas tropas, Sargão realizou com êxito uma série de campanhas. Conquistando as cidades sumérias conseguiu unificar toda a Mesopotâmia sob o seu domínio. Parece ter conquistado Elam, um estado situado nas montanhas a leste da Mesopotâmia, e também chefiou uma expedição à Síria e à Ásia Menor. Foi com razão que no final do seu reinado, Sargão I atribuiu a si próprio o título orgulhoso de «rei das terras».

O Antigo Reino da Babilônia
A Mesopotâmia durante o III e IV milénios a.C.

Pouco antes de 2000 a.C. vieram da Arábia sobre Akkad tribos conhecidas por Amoritas, e sobre Suméria os Elamitas. Em breve os invasores conseguiram conquistar todo o vale da Mesopotâmia. Então estalou uma guerra entre os Amoritas e os Elamitas. A guerra acabou com uma vitória decisiva para os reis amoritas, e com a ascensão da cidade de Babilónia, que logo se tornaria um centro económico, político e cultural muito importante. O florescimento do antigo reino de Babilónia e a sua final unificação em torno deste novo centro deu-se durante o reinado do famoso rei Hamurábi (1792-1750 a.C.).

Hamurábi conseguiu derrotar os Elamitas e depois conquistou o reino de Mari ao norte de Babilónia e finalmente a cidade de Assur, centro daquilo que mais tarde seria o poderoso estado da Assíria. Contudo, Hamurábi foi famoso não só como conquistador mas também pelo seu célebre código de leis. Este código, gravado num pilar de basalto e composto de 282 estatutos, conservou-se intacto até hoje. Este código fornece-nos uma interessante perspectiva da estrutura económica e política da antiga sociedade da Babilónia.

O código de Hamurábi revela claramente a sociedade babilónica numa rígida estrutura de classes. Os direitos de propriedade dos proprietários de terras, sacerdotes e comerciantes, são garantidos, e os seus interesses cuidadosamente protegidos. Por ele verificamos que, no reino da Babilónia, não só a agricultura estava muito desenvolvida como também vários ofícios e o comércio. O código enumera os seguintes ofícios: ceramistas, pedreiros, curtidores de couro, confecção de vestuário e ferreiros. No que se refere ao comércio é interessante notar que nas transacções de grande vulto tomavam parte os templos e mesmo os próprios reis. As suas ordens eram executadas por mercadores, que, por sua vez, contratavam agentes e assessores. As principais mercadorias em que negociavam com os Estados vizinhos eram os cereais, o gado, a prata e o cobre.

O código de Hamurábi também nos esclarece sobre a situação dos escravos na antiga Babilónia. Uma prática muito espalhada parece ser aquilo a que se chama escravatura por dívidas. Se um devedor não pudesse pagar o seu débito no prazo estabelecido, tinha de o pagar com o seu trabalho ou com o trabalho dos seus filhos. Este tipo de servidão podia durar toda a vida, mas Hamurábi limitou a escravatura por dívidas a um período de três anos.

A sociedade babilónica, durante o reinado de Hamurábi, atingiu um alto nível de desenvolvimento. Mas esta idade de oiro havia de durar muito pouco, porque o país ia ser alvo de algumas invasões devastadoras, que tiveram como consequência a queda do antigo reino da Babilónia.

A Assíria

O reino Assírio desenvolveu-se a partir de uma pequena comuna do Norte da Mesopotâmia que tinha como centro a cidade de Assur. O capítulo mais brilhante da história do estado militar da Assíria ocorreu no século VIII a.C. O rei assírio Teglat-Falasar III (745-727 a.C.) empreendeu algumas campanhas de que saiu vitorioso. Conquistou a Síria e a Fenícia. Os reis de Tiro e de Israel tornaram-se seus tributários. A expedição que fez contra o estado de Urartu acabou numa esmagadora derrota para este último. Finalmente, Teglat-Falasar conquistou Babilónia e fez-se seu rei.

Os seus feitos militares foram continuados por outros reis assírios — Sargão II (722 - 705 a.C.) e Esarhaddon (680 - 669 a.C.). Como resultado das suas conquistas e campanhas, a Assíria tornou-se uma grande potência, incorporando toda a Ásia Menor, central e oriental, a Mesopotâmia, a Síria, a Palestina e parte do Egipto. Vista pelos padrões daquela época, a Assíria era, sem dúvida, uma potência mundial.

A Assíria era um estado de guerreiros e proprietários de escravos, onde a escravatura estava mais desenvolvida do que antes no Egipto ou na Babilónia. Ao serviço do rei havia milhares de escravos que eram frequentemente utilizados na construção de estradas, canais, e até de cidades inteiras. O comércio de escravos também se desenvolveu muito.

A Assíria era célebre pelo alto nível da sua organização militar. O exército assírio estava dividido em vários grupos:

  1. Carros de dois cavalos;
  2. Cavalaria (que apareceu pela primeira vez no exército assírio);
  3. Infantaria equipada com armas pesadas ou ligeiras;
  4. Engenharia;
  5. Tropas de assalto (equipadas com catapultas e grandes troncos com cabeças de ferro para derrubar muralhas ou portas).

O exército era a principal base do poder real e era costume os reis apresentarem-se ao exército antes de subirem ao trono.

Contudo, o poder militar assírio era um gigante com pés de barro. As várias regiões deste enorme estado não eram suficientemente unidas e as nações e os povos submetidos estavam sujeitos a uma cruel opressão. A revoltada Babilónia, juntamente com os Medos (o povo de um estado com vastos territórios, situado no planalto Iraniano) desferiu um golpe fatal ao reino da Assíria.

A Religião e Cultura da Babilónia e da Assíria
A Mesopotâmia durante o III e IV milénios a.C.

O papel da religião na sociedade da Babilónia não era menos importante do que no antigo Egipto. Todas as esferas da vida cultural — da literatura à ciência — estavam condicionadas por uma forte influência religiosa. Os deuses mais importantes eram Marduk, Shamash e as dividandes da natureza, Tammuz e Ishtar (mais ou menos equivalentes a Osíris e Ísis). A acrescentar a tudo isto, havia ainda uma multiplicidade de crenças populares relacionadas com os espíritos dos rios e canais locais e também se adoravam os espíritos dos mortos.

Na Mesopotâmia, a língua escrita, ao contrário da dos antigos Egípcios, era cuneiforme, formada por um conjunto de sinais em forma de cunha, impressos em placas de barro, que, depois de terem ido ao fogo, se podiam conservar indefinidamente.

Chegou grande número de obras da antiga literatura da Babilónia, até hoje, incluindo os poemas épicos de Gilgamesh, onde figura pela primeira vez a lenda do Dilúvio.

Os rudimentos da ciência descobertos na antiga Babilónia estavam relacionados de perto com a agricultura. Já na época dos Sumérios tinha existido um sistema sexagesimal, de que a actual divisão do círculo em 360 graus é uma reminiscência. O povo de Babilónia conhecia os quatro princípios aritméticos, as fracções simples, a potenciação ao quadrado e ao cubo, e a raiz quadrada. Também estavam muito avançados na astronomia e conseguiram localizar cinco planetas e calcular as suas órbitas. O estudo que fizeram das fases da lua, deu-lhes a possibilidade de dividir o calendário em anos, meses e dias (cada dia tinha 12 horas e cada hora estava dividida em 30 minutos).

A cultura assíria não pode ser considerada autóctone. De um modo geral, os Assírios, pelas suas conquistas e relações comerciais, foram disseminadores da cultura da Babilónia pelos outros países do Antigo Oriente. Por exemplo, a famosa biblioteca do rei assírio Assurbanípal continha uma colecção de textos literários e religiosos, tratados científicos, livros de consulta e dicionários escritos em várias línguas e era uma verdadeira colecção de preciosidades das realizações culturais do Antigo Oriente.

O Reino Hitita
Formação e Ascensão do Reino Hitita

O reino Hitita surgiu pouco depois de 2000 a.C. nas margens do rio Kizil Irmak (o clássico Halys) na Ásia Menor. A população indígena da área, vulgarmente conhecida pelo nome de proto-Hititas, foi invadida no início do II milénio a.C. por tribos Nesitas. A nação Hitita resultou da fusão destes povos.

Afirma-se tradicionalmente que o reino Hitita foi fundado pelo semi-lendário rei Labarnash (século XVII a.C.), cujo nome foi mais tarde usado como título real. Outro dirigente famoso foi o rei Murshilish I (século XVI a.C.) que capturou e saqueou a Babilónia, levando consigo grande número de prisioneiros.

O Império Hitita atingiu o seu apogeu no século XV a.C. durante o reinado do rei Shuppiluliumash. Sob a sua chefia, os Hititas conquistaram todo o território da Ásia Menor entre o seu reino e a Síria e subjugaram o reino de Mitanni (situado nos troços superiores do Tigre e do Eufrates. Os sucessores de Shuppiluliumash aproveitaram-se dos reveses temporários do Egipto para penetrarem na Síria e mesmo na Palestina. No final do século XIV, e no início do século XIII a.C., houve confrontações em larga escala entre os Hititas e os Egípcios, que acabaram num tratado com Ramsés II, pelo qual todo o Norte da Síria ficaria nas mãos dos Hititas.

Foi este um período de notáveis feitos militares, mas pouco depois o poder hitita começou a declinar. Por volta de 1200 a.C., a Ásia Menor, a Síria e a Palestina foram invadidas pelos «Povos do Mar» (das ilhas do mar Egeu) que mais tarde devastariam o reino Hitita. Foi dividido numa série de pequenos principados, e acabou por se tornar numa província assíria.

A Estrutura Social e a Cultura do Reino Hitita

A sociedade hitita durante o reinado de Shuppiluliumash era um exemplo típico de uma sociedade onde se praticava a escravatura. No Código de Leis hitita (séculos XV - XIII a.C.) mais de vinte artigos diziam respeito aos escravos, e o número de escravos trazidos para o país como prisioneiros de guerra era muito grande. O trabalho escravo foi também considerado como forma de pagamento de dívidas.

A principal actividade dos habitantes do reino Hitita era a criação de gado, a agricultura, o cultivo de árvores de fruto e de vinha. O reino era governado por um rei que era considerado com uma divindade com posição equivalente à do deus do Sol. Os oficiais da corte, os sacerdotes, os guerreiros, os agiotas e os comerciantes também desempenhavam funções importantes nos negócios do Estado. Os Hititas mantinham comércio activo com o Egipto e vários outros países.

Escavações feitas em Boghazkeui (a 230 km de Ancara), no local onde estava situada a antiga capital hitita, forneceram-nos dados importantes sobre a cultura hitita. Apareceu à luz do dia um grande arquivo dos reis hititas. Primitivamente, os Hititas escreviam em hieróglifos, que foram depois substituídos, sob a influência da Assíria, pela escrita cuneiforme. As inscrições hititas foram decifradas pela primeira vez pelo estudioso checo Hrozny. Monumentos da arte hitita que sobreviveram foram encontrados sob a forma de esculturas monumentais e baixos-relevos, que por sua vez também revelaram forte influência assíria.

Urartu

O Estado de Urartu abrangia um vasto planalto entre a Ásia Menor, o Irão e o Norte da Mesopotâmia, rodeado por altas montanhas. O país era rico em florestas, pedra e jazigos de metal.

Formação e Desenvolvimento do Estado do Urartu
A Mesopotâmia durante o III e IV milénios a.C.

Os primitivos habitantes desta área eram aparentados com os proto-Hititas. Em antigas inscrições assírias fazem-se referências a dois estados, Urartu (no território da actual Arménia), e Naíri (nas costas do lago Van) que, mais tarde, por volta do século IX a.C., se uniram sob o domínio de Sardur I.

O poder de Urartu cresceu no início do século VIII a.C. No conflito com a Assíria que ocorreu nesta altura, os Urartianos conseguiram alguns êxitos notáveis. Durante o reinado de Argistis I (781-760 a.C.) as tropas assírias sofreram uma esmagadora derrota e Urartu conseguiu anexar partes da Transcaucásia. Sardur II (760-730) continuou esta política de anexação, começada pelo seu antecessor. Durante o seu reinado, foram conquistados mais territórios na Transcaucásia (na região à volta do lago Sevan) e mesmo a Síria do norte. Mas esse sucesso durou pouco, pois em meados do século VIII a.C. o rei assírio Teglat-Falasar III chefiou duas expedições contra Urartu e devastou o território. Golpe final sobre o Império Urartu foi a invasão de Sargdo II em 714 a.C., momento em que a rica capital, Musasir, foi conquistada e devastada. O Estado de Urartu, então seriamente enfraquecido, continuou a existir até ao século VI a.C. quando foi finalmente conquistado pelos Medos e os Citas.

A Estrutura Social e a Cultura de Urartu

Como outros antigos reinos do oriente, Urartu era uma sociedade em que se praticava a escravatura. O grande número de prisioneiros feitos durante as campanhas militares de Argistis e Sardur II eram obrigados a trabalhar como escravos. O trabalho dos escravos foi utilizado nas minas de cobre e ferro de Urartu, nas obras de construção e irrigação e também na criação de gado. A classe dominante era constituída pela aristocracia que possuía escravos, pelos chefes militares e pelos sacerdotes, com um rei como chefe supremo.

A actividade principal do povo de Urartu foi a pastorícia, mas a agricultura também se desenvolveu muito, sobretudo o cultivo do trigo, do milho-miúdo e da cevada, e havia pomares e vinhas. A agricultura desenvolveu-se muito com a montagem de um evoluído sistema de irrigação artificial. Escavações arqueológicas testemunharam o alto nível da arte urartiana em vários campos técnicos e metalúrgicos. Encontraram-se grandes oficinas ligadas aos palácios e aos templos.

A cultura de Urartu estava muito ligada à da Babilónia e da Assíria. Adoptou por exemplo, a escrita cuneiforme dos Assírios (e mais tarde simplificou-a até certo ponto). A sua realização mais original foi na arquitectura: o templo de Musasir com as suas colunas, com frontões, é quase um protótipo dos templos gregos. As escavações revelaram também grande número de artefactos de bronze, tais como estátuas de touros alados, os luxuosos tronos dos reis de Urartu e escudos decorados com trabalhos de rara complexidade. Também se encontraram fragmentos de pinturas rurais nas ruínas de vários palácios e templos.

A Fenícia

A Fenícia situava-se numa estreita faixa de terra ao longo da costa da Síria, habitada por numerosas tribos semíticas ocidentais, conhecidas sob o nome de Fenícios, que os Gregos lhe deram. A Fenícia nunca foi um único reino unificado, mas uma série de cidades e regiões independentes, possuindo cada uma a terra arável adjacente. As maiores cidades eram Ugarit, Byblos, Tiro e Sidon.

Aproximadamente a partir de 1500 a.C. as cidades fenícias ficavam sob domínio egípcio ou hitita, até que no século XII a.C. readquiriram a independência e Tiro começou a ocupar uma posição predominante entre elas. O rei Hiram I de Tiro (969 - 936) empreendeu campanhas militares em larga escala, chefiando uma expedição a Chipre e várias à África. Durante esse período, Tiro estendeu a sua hegemonia sobre as cidades de Byblos e Sidon, e tornou-se um importante centro político e comercial. Com uma situação privilegiada, esta cidade foi durante muito tempo considerada uma fortaleza inacessível. Mas a independência dos Fenícios durou muito pouco tempo, pois foram conquistados pelos Assírios no final do século VIII a.C.

As principais culturas da Fenícia eram os cereais e a vinha. Quando não se utilizava o trabalho escravo na agricultura (na verdade a escravatura nunca foi praticada em larga escala), a principal força de trabalho era composta por camponeses que viviam em comunidades. O povo das cidades dedicava-se, sobretudo, ao artesanato e ao comércio. Mesmo nos tempos antigos, os Fenícios eram famosos como comerciantes e marinheiros experimentados. Os Fenícios exportavam vinho, madeira e produtos de artesanato, mas os seus comerciantes não se limitavam a negociar estes artigos: desempenhavam, também, funções de intermediários, comprando mercadorias de outros países para revenda. Os Fenícios faziam comércio com o Egipto, a Assíria, a Mesopotâmia, a Ásia Menor, etc.

A Mesopotâmia durante o III e IV milénios a.C.

Para fins comerciais, os marinheiros fenícios empreendiam longas viagens aos países do mar Egeu e do Mediterrâneo e foram os primeiros a alcançar por mar as «colunas de Hércules», ou seja, o estreito de Gibraltar. Onde quer que fosse possível garantir um fornecimento mais ou menos regular de mercadorias de valor, os Fenícios fundavam colónias. Estas foram estabelecidas em várias ilhas do mar Egeu (Thasos e Rodes) e no Mediterrâneo (Chipre, Malta e Sicília). Na costa norte de África, os Fenícios fundaram a cidade de Cartago, que mais tarde se desenvolveria e se tornaria um estado importante, e fundaria ela própria grande número de colónias.

A realização mais importante da cultura fenícia foi o desenvolvimento e a difusão de um alfabeto (que data do século XIII a.C.) que resultou directamente do rápido desenvolvimento do comércio e da crescente necessidade de arquivar, frequente e rapidamente, documentos comerciais. Com base nos hieróglifos egípcios e na escrita cuneiforme da Babilónia, os Fenícios produziram um alfabeto de vinte e duas letras. Este alfabeto serviria mais tarde de modelo ao alfabeto grego e a partir dele a muitas formas de escrita posteriores.

A Palestina

A antiga Palestina estendia-se das colinas do Sul do Líbano até ao deserto Arábico, e estava limitada a ocidente pelo mar Mediterrâneo. Planaltos e árida terra desértica alternavam com vales férteis. Nos tempos mais antigos, as regiões costeiras da Palestina foram habitadas por uma das tribos Egeias dos «Povos do Mar», os Filisteus, e o restante território por Semitas ou Cananeus do noroeste. Nos séculos XV e XIV a.C., tribos Apiru ou Hebraicas começaram a aparecer na região. No decurso do conflito entre as tribos hebraicas e os Cananeus e Filisteus na parte norte da Palestina, formou-se a pouco e pouco o reino de Israel (fundado por Saul no século XI a.C.). Cerca de um século mais tarde formou-se o reino da Judeia na parte sul da Palestina. O rei David, da Judeia, deveria unificar os dois reinos sob o seu domínio, expulsar os Filisteus e declarar a antiga cidade cananeia de Jerusalém sua capital e centro religioso.

O reino unificado da Judeia e de Israel desenvolveu-se durante o reinado do rei Salomão (século X a.C.). Durante esse período, relativamente pacífico, foi concluído um pacto com Hiram, rei de Tiro, o comércio externo desenvolveu-se num ritmo rápido e impressionantes obras arquitectónicas foram realizadas em Jerusalém (a construção do famoso templo de Salomão, entre outras).

Contudo, pouco depois da morte de Salomão, o reino unificado seria dividido em duas partes. No final do século VIII a.C., Israel foi conquistada pelo rei assírio Sargão II, enquanto a Judeia comprava a independência a troco de um enorme tributo. O reino da Judeia continuou a existir durante mais cento e cinquenta anos, caindo depois sob o domínio do rei da Babilónia, Nabucodonosor, que atacou Jerusalém violentamente e a arrasou (586 a.C.), levando grande número de prisioneiros para o cativeiro na Babilónia («cativeiro da Babilónia»).

Enquanto no Norte da Palestina o cultivo da terra era a principal ocupação, no Sul predominava a criação de gado. Os camponeses viviam em comunidades e na Palestina o trabalho escravo estava mais espalhado do que na Fenícia. Grandes exércitos de escravos trabalhavam nas terras reais e nos templos. Os habitantes originais do país, os Cananeus, foram reduzidos à escravatura.

A religião desempenhava um papel importante na vida dos antigos Hebreus. A religião hebraica tinha muitas características em comum com a religião dos Fenícios. Particularmente espalhado era o culto de Yavé, ou Jeová. Originalmente, Yavé era o deus da tribo da Judeia, mas mais tarde seria adoptado à escala nacional. A religião judaica adquiriu a sua forma definitiva relativamente tarde, isto é, depois do «cativeiro da Babilónia».

Importante realização histórica e cultural da antiga Palestina são os livros sagrados dos povos hebraico e judeu, particularmente as várias obras que mais tarde seriam coligidas no Antigo Testamento e nos Apócrifos, que incluem livros de história, mitos e lendas, doutrinas religiosas e escritos poéticos, e que hoje são venerados como «Sagradas Escrituras» pelos adeptos das religiões judaica e cristã.

A Pérsia

O coração do antigo reino da Pérsia era o vasto planalto Iraniano situado a leste da Mesopotâmia. E se a parte central deste planalto era constituída por um solo bastante seco de escassa vegetação, as colinas eram ricas em florestas, metais (ouro, prata, cobre, ferro e chumbo) e mármore. Consideradas no seu conjunto, as condições naturais tornavam possível o cultivo de cereais (centeio, trigo e cevada) e a criação de gado (nómada a Leste e fixa no Ocidente).

A Média e a Pérsia

Durante o terceiro milénio a.C., tribos iranianas da Ásia penetraram no planalto, e essa foi a razão por que esta região assim se chamou. Nalgumas áreas subjugaram os habitantes locais e noutras estabeleceram-se pacificamente a seu lado, para mais tarde se fundirem com eles.

Por volta do século IX a.C. formaram-se dois grandes grupos de tribos iranianas: os Medos e os Persas. Os Medos haviam de se evidenciar mais cedo do que os Persas, mas pouco da sua história chegou ao nosso conhecimento, e o pouco que sabemos tem um carácter semilendário. Contudo, é certo que no fim do século VII a.C. a Média se tornou um estado poderoso e, juntamente com Babilónia, conseguiu desfechar sobre a Assíria o golpe de morte. Apesar disso, em meados do século VI a.C., os Medos foram compelidos a submeter-se aos seus vizinhos Persas.

O fundador do Estado persa foi o famoso chefe militar e homem de Estado, Ciro (559-529 a.C.). As suas origens perdem-se nas névoas da lenda, segundo a qual, embora fosse filho de rei, foi educado por um pastor que o encontrou abandonado. Durante a expedição do último rei medo contra a Mesopotâmia, os Persas, comandados por Ciro, invadiram a Média, e depois de uma luta que durou três anos o país foi conquistado e anexado ao reino persa.

Uma vez senhor da Média, Ciro empreendeu algumas operações militares. Reorganizou o exército persa, fazendo da cavalaria a principal força de ataque. Em 547 a.C. Ciro conquistou a Arménia e a Capadócia e depois o reino da Lídia em 546, apoderando-se das enormes riquezas que pertenciam ao rei Cresos, cujo nome já se tornara proverbial, como sinónimo de homem rico. Ciro passou então a controlar toda a Ásia Menor incluindo as numerosas e ricas cidades gregas situadas no litoral.

Depois destas vitórias, quase toda a Mesopotâmia (excluindo o Sul) ficou rodeada de países conquistados por Ciro, o que aumentou muito a sua força na guerra contra Babilónia, e em 518 a.C. a cidade rendeu-se-lhe. Ciro fez então publicar um manifesto no qual prometia não alterar a organização administrativa da Babilónia, respeitar as divindades locais e aumentar a prosperidade da cidade. Este manifesto mostra que Ciro não era só um chefe militar notável mas também um hábil homem de estado e diplomata.

A campanha contra a Palestina e a Fenícia foi empreendida nos mesmos moldes. Ciro apontava sempre os objectivos pacíficos da expedição: a reconstrução da cidade de Jerusalém, que tinha sido devastada pelos conquistadores babilónicos, e o auxílio a algumas cidades fenícias. Na realidade, a conquista da Palestina e da Fenícia dava a Ciro uma ponte vital para a iminente guerra contra o último grande Estado que restava no Oriente nessa época — o Egipto. Contudo, Ciro não pôde pôr em prática este plano porque foi morto numa batalha contra os Massagetas na fronteira nordeste do seu império.

A Formação do Império Persa

A política militar de Ciro foi continuada pelo seu filho Cambises (529-522 a.C.) que fez cuidadosos preparativos para a guerra contra o Egipto com a ajuda da esquadra fenícia. Contrastando com a prudente diplomacia de Ciro, Cambises iniciou um período de terror no Egipto depois de o ter conquistado. Apesar disso, a última grande potência do Oriente tinha sido conquistada e a Pérsia — seguindo o exemplo da Assíria — tinha-se agora tornado uma potência mundial, segundo os padrões daquela época.

Conhecemos pormenores da organização deste enorme império pela célebre inscrição do rei Dario I (522-486 a.C.) num rochedo nas montanhas. Todo o reino persa foi dividido numa série de satrapias e, como regra, cada país conquistado pelos Persas constituía uma satrapia (Egipto, Babilónia, Lídia, etc.). Os governadores das satrapias, os sátrapas, eram designados pelo próprio rei, eram directamente responsáveis perante ele e detinham a totalidade dos poderes judicial e administrativo.

Todas as satrapias eram obrigadas a pagar impostos em dinheiro e em géneros. Por exemplo, o Egipto tinha de fornecer trigo suficiente para alimentar os 120 000 soldados de guarnição. Este sistema de tributação trazia a Dario rendimentos colossais.

Dario instituiu também uma reforma monetária. Pela primeira vez na história um enorme império formado por muitos países diferentes passou a usar uma moeda uniforme — moedas de ouro ou «darics», que só o rei tinha o direito de cunhar (embora os sátrapas tivessem autorização de cunhar moedas de prata e de cobre). A instituição do daric contribuiu para a expansão do comércio, no interesse do qual Dario promoveu ainda a construção de estradas com um sistema de policiamento eficaz. Durante esse período, a Pérsia teve um bom conjunto de estradas, com hospedarias e estações de muda de cavalos com intervalos de 21 km. Além da sua importância para o comércio, estas estradas tinham também um grande valor estratégico.

Dario fez também reformas militares. Foram fixadas nas várias satrapias guarnições permanentes e todo o Estado foi dividido em cinco regiões militares que não coincidiam com as fronteiras das satrapias. Os comandantes das zonas militares eram directamente responsáveis perante o rei.

Era esta a estrutura do Estado durante o reinado do rei Dario. Os Persas ocupavam uma posição dominante no país. Serviam no exército e trabalhavam no cultivo da terra e como criadores de gado. Eram livres de todos os impostos e do recrutamento para o trabalho forçado, a que estavam sujeitos todos os povos conquistados. Entretanto, com o tempo, o Estado persa acabou por mostrar o que era: um gigante com pés de barro, (como antes dele o fora a Assíria), que só conseguia sobreviver, com base na sua força militar, faltando como faltavam elos económicos e políticos firmes entre os vários estados componentes. Esta ausência de coesão interna fez-se sentir muito mais quando os Persas tiveram de enfrentar um inimigo mais perigoso: os Gregos.

A Religião e a Cultura da Pérsia

Como em todos os outros países do Oriente daquele período, a religião desempenhava um papel importante na vida da sociedade iraniana. A antiga religião iraniana incluía o culto da natureza (por exemplo das montanhas) e dos animais. Mais tarde espalhou-se o culto do deus tribal persa, Ahura Mazda, e do deus do Sol, Mithras. Admite-se vulgarmente que o Zoroastrismo (que herdou o nome do profeta lendário Zoroastro) apareceu durante o reinado de Dario; característica essencial desta religião era o conceito de uma luta universal entre os princípios do Bem e do Mal, da Luz e das Trevas.

Pouca coisa era genuinamente original na cultura iraniana, e praticamente não chegou até nós nenhum documento de valor literário. Tanto o Egipto como a Assíria exerceram grande influência sobre a arquitectura iraniana. Os Persas tinham adoptado a escrita da Babilónia, embora mais tarde elaborassem gradualmente um alfabeto com base na escrita cuneiforme. A ausência de realizações culturais originais valiosas pode explicar-se pela natureza militar do próprio estado e pela sua falta de homogeneidade.


Inclusão 25/01/2016