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Primeira Edição: Publicado originalmente como “La situazione”, em Umanità Nova, ano III, n° 196, 2 de dezembro de 1922.
Fonte: Instituto de Estudos Libertários
Tradução: Inaê Diana Ashokasundari Shravya
HTML: Fernando Araújo.
Mussolini segue no trono e o parlamento rasteja mais do que nunca aos seus pés. Os plenos poderes foram concedidos com a urgência de servos que competem em baixeza. Mussolini havia dito: “Dai-os a mim ou a ninguém”, e nenhum teve a dignidade de responder: Tomai-os, mas não nos obriguem a interpretar o papel de patrões na comédia, quando somos servos e nos dá prazer sermos.
Os próprios socialistas não entenderam que não podem se manter dignamente numa assembleia que funciona sob o terror do cassetete, ou da dissolução, e onde a oposição só pode ser uma farsa.
A ditadura triunfa: ditadura de aventureiros sem escrúpulos e sem ideais, que chegou ao poder e permanece ali pela desorientação das massas proletárias e pela ansiosa avareza da classe burguesa em busca dum salvador. Mas todos sentem que a situação é tal que não pode durar, e os conservadores mais iluminados, enquanto presenteiam o patrão do momento e enganam com cada palavra o pavor que os domina, demandam a restauração do “Estado liberal”, isto é, voltar às mentiras constitucionais.
Os conservadores incluem certamente todo o humor ao demandar um regime de liberdade, embora seja limitado, a pessoas que têm o costume de impor a própria vontade com o cassetete, o óleo de rícino e, pior ainda, a pessoas feitas antes desarmar prudentemente; mas a liberdade não lhes preocupa. O que querem é um regime qualquer dos regimes considerados constitucionais, que consiga fazer acreditar o povo que é livre, e que assegure assim aos proprietários e aos governantes o tranquilo gozo de seus privilégios.
O método com o qual Mussolini chegou ao poder não permite engano; e é isto que atormenta as cândidas almas dos conservadores.
Mussolini, se logra consolidar seu poder, fará nem mais nem menos que o que faria qualquer outro ministro: servirá aos interesses da classe privilegiada. . .e fará pagar por seus serviços. Mas não enganará a ninguém com que ele chegou ao governo pela vontade do povo. Sua tirania é demasiado recente para poder esconder sua origem: talvez por isto sua turva consciência o aconselha a apelar da Deus!
Dos projetos e propósitos, reais ou não, sinceros ou menos, do novo governo não queremos nos ocupar. É sempre o usual reparo de velhos enganos, a velha tentativa de consertar com uma mão de pintura uma casa desmoronando.
Para nós a única mudança importante é esta: Fomos hostis ao governo porque o governo não é senão o defensor armado de todas as injustiças sociais, o criador de novas injustiças, o inimigo da liberdade, o obstáculo material sobre o caminho da civilidade. E fomos hostis ao fascismo porque é um movimento que pretende defender os privilégios burgueses, impedir a ascensão proletária, sufocar toda aspiração a uma sociedade mais justa e mais livre, e que se serviu de meios brutais, ferozes e vis para alcançar os seus objetivos.
Agora governo e fascismo se tornaram a mesma coisa, e se conformam do mesmo pessoal: portanto, há maior possibilidade de dúvida sobre quando essas duas forças da opressão pareciam em desacordo entre si.
Situação simplificada: muito melhor. Muito melhor se isto pode servir para reunir todas as forças do progresso na luta contra a barbárie triunfante.