O Socialimo e a Educação dos Filhos

A. S. Makarenko


Sexta Conferência — Educação para o Trabalho


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Não se pode conceber uma educação soviética correta que não seja uma educação dos hábitos de trabalho. O trabalho sempre foi fundamental na vida do homem para assegurar seu bem-estar e sua cultura.

Em nosso pais, o trabalho deixou de ser um objeto de exploração e converteu-se numa questão de honra, de glória, de valor, de heroísmo. Nosso Estado é um Estado de trabalhadores e inscreveu em sua Constituição: «Quem não trabalha não come.»

Por isso o trabalho deve ser também um dos elementos básicos da educação. Procuraremos analisar pormenorizadamente o sentido e o alcance da educação para o trabalho, na família.

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Os pais nunca devem esquecer que seu filho será membro de uma sociedade de trabalhadores e que seu papel nesta sociedade, seu valor como cidadão dependerão exclusivamente do grau de sua participação no trabalho. Seu bem-estar e seu nível material de vida também dependerão de sua contribuição, pois nossa Constituição estabelece: «De cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo seu trabalho»

Sabemos que, por natureza, todos os indivíduos possuem aproximadamente as mesmas possibilidades de trabalho, mas que na vida real, uns trabalham melhor, outros pior; enquanto uns são capazes de realizar apenas tarefas muito simples, outros podem efetuar trabalhos mais complexos e, por conseguinte, de mais valor. Estas diferentes capacidades de trabalho não são inatas, se educam durante a vida, especialmente durante a juventude.

Disso resulta que a preparação para o trabalho, a formação das qualidades de trabalho do homem não representam apenas a preparação e educação de um futuro bom ou mau cidadão, mas significam a formação de seu futuro nível de vida, de seu bem-estar.

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Pode-se trabalhar por necessidade vital. Na história da humanidade o trabalho teve quase sempre um caráter coercitivo, de esforço penoso, necessário para não se morrer de fome. Mas, desde os tempos antigos, os homens procuravam não ser apenas força de trabalho, mas uma força criadora. Nem sempre isto lhes foi possível, nas condições de desigualdade e de exploração de classe.

No Estado soviético, todo trabalho deve ser um trabalho criador, pois todo ele se volta para a criação de riquezas sociais e culturais. Ensinar a trabalhar criadoramente é tarefa particular do educador.

O trabalho criador só é possível quando o homem trabalha com amor, quando o homem sente real prazer em seu trabalho e compreende a utilidade e a necessidade desse trabalho, quando este se torna para ele uma forma fundamental de expressão de sua personalidade e de seu talento. Somente quando se formou profundo hábito de esforço de trabalho é possível esta atitude relativamente ao trabalho; nesse caso, nenhuma tarefa se torna difícil quando possui um sentido.

O trabalho criador é completamente impossível nos homens que têm medo de trabalhar, que temem a sensação de esforço, e receiam em suma o suor em sua fronte e que procuram constantemente se verem livres do trabalho o mais depressa possível para poderem fazer outra coisa, que, imediatamente começada, deixa de atraí-los.

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Ao comunicar-se o hábito e o prazer do esforço, não se está apenas educando o homem para o trabalho, mas formando-se, também o camarada, isto é, preparando-se relações justas entre os homens. É também uma formação moral. Na União Soviética, o homem mais imoral é aquele que procura a cada passo se furtar ao trabalho, que se limita tranquilamente a observar como trabalham os outros e exploram os frutos de seus esforços.

Pelo contrário, os esforços de trabalho em comum, o trabalho coletivo, a ajuda mútua no trabalho e a interdependência constante dos trabalhadores só podem criar sadias relações entre os homens, relações estas que não consistem unicamente em consagrar à sociedade todas as suas forças, mas em exigir o mesmo esforço da parte dos outros, em não tolerar parasitas a seu lado. Unicamente a participação no trabalho coletivo permite que o homem mantenha relações corretas com os outros homens: afeição e amizade familiar para com todo homem trabalhador, indignação e repúdio para com o preguiçoso, o homem que foge ao trabalho.

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Seria falso crer que a educação dos hábitos de trabalho só desenvolve os músculos e as qualidades dos sentidos (visão, tato, habilidade manual).

O desenvolvimento físico no trabalho tem evidentemente também grande significação: é um elemento importante e indispensável da cultura física, mas a sua utilidade principal é o desenvolvimento psíquico e espiritual do indivíduo. É esse desenvolvimento espiritual produzido por um trabalho harmonioso que distingue o cidadão de uma sociedade sem classes do cidadão de uma sociedade dividida em classes.

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É indispensável assinalar outra particularidade, à qual infelizmente pouca importância é dada entre nós: o trabalho não tem apenas importância social e produtiva, tem grande importância também na vida individual.

Vemos o quanto são felizes e alegres os homens que sabem fazer muitas coisas, que têm êxito em tudo e que prosperam em tudo, que são capazes e serenos, que sabem dominar e governar as coisas. Ao contrário, nos inspiram pena as pessoas que se detêm ante o menor obstáculo, que não sabem bastar-se a si próprios, mas vivem precisando dos caridosos serviços e da ajuda dos outros, e se ninguém as ajuda, vivem incomodamente, sem conforto, na sujeira e na desordem.

Estas coisas precisam ser bem meditadas pelos pais, que verão, a cada passo, em sua vida e na de seus amigos, a confirmação da grande importância de que se reveste a educação dos hábitos de trabalho. Em sua tarefa de educadores, os pais jamais devem esquecer-se deste princípio. É, na verdade, difícil proporcionar aos filhos uma educação profissional no seio da família, pois que esta carece dos recursos necessários para isto; ela se obtém nas organizações do Estado: escola, fábrica, administração e universidade. À família não cabe, em nenhum caso, dar às crianças uma qualificação nesta ou naquela especialidade.

Antigamente, se o pai era sapateiro, o filho devia aprender o mesmo oficio; se era carpinteiro, o filho também devia aprender carpintaria. As filhas, como se sabe, eram sempre destinadas a ser donas de casa e não podiam ambicionar mais nada.

Agora é o Estado que se preocupa em dar qualificação aos futuros cidadãos; ele dispõe, para isto, de inúmeros Institutos poderosos e bem aparelhados.

No entanto, não devem os pais pensar que a educação familiar nada tem a ver com a qualificação. Ao contrário, é precisamente a preparação familiar que tem a maior importância na qualificação futura do indivíduo. A criança que no seio de sua família foi educada para o trabalho está melhor preparada para adquirir uma especialização. Ao contrário, as crianças que não se educaram para o trabalho dentro de suas famílias não poderão, por si sós, alcançar qualquer qualificação; sofrerão frequentes fracassos e se tornarão maus trabalhadores apesar dos esforços dos organismos públicos.

Os pais também não devem pensar que entendemos por trabalho apenas o esforço físico, o trabalho muscular. Com o desenvolvimento da produção, o trabalho físico vem perdendo pouco a pouco sua antiga importância na vida social. O Estado soviético se esforça por abolir completamente o trabalho físico penoso. Já vemos, na construção, os tijolos serem transportados por máquinas, e se tornar cada vez mais desnecessário o transporte manual. Em nossas fábricas, principalmente nas construídas depois da Revolução, já desapareceu inteiramente todo trabalho físico penoso.

O homem domina cada vez melhor imensas forças físicas organizadas, para o que se exige dele crescente desenvolvimento não físico, mas intelectual: organização, atenção, previsão, inventiva, presença de espírito, mestria.

Nosso movimento stakhanovista, um dos mais notáveis fenômenos de nossa pátria, não representa absolutamente a mobilização das forças físicas da classe operária, mas, justamente, a mobilização criadora de suas forças morais, libertadas da opressão pela Grande Revolução Socialista. O verdadeiro stakhanovista não deposita grande confiança em seus músculos, mas organiza seu êxito empregando novos métodos para dispor o material e preparar os instrumentos, pondo em prática novos arranjos, novos métodos de trabalho. Que os pais não o esqueçam. Não devem educar em sua família homens de força bruta, mas stakhanovistas, homens aptos ao trabalho e aos êxitos socialistas..

Por isto, não devemos pensar que existem, na educação, diferenças fundamentais entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. A organização do trabalho, seu lado mais humano, existe tanto no trabalho intelectual como no manual. Se confiamos ao menino ou à menina apenas uma coisa a fazer, sempre a mesma, um trabalho físico que só dependa de energia muscular, este trabalho terá uma diminuta significação pedagógica, se bem que não se possa dizer que este esforço tenha sido inteiramente inútil. A criança se habituará ao esforço de trabalho, participará do trabalho social, educar-se-á normalmente trabalhando como todo o mundo. Mas, não será uma educação stakhanovista, se não acrescentarmos a este esforço de trabalho, tarefas interessantes e organizadas.

Passaremos a falar sobre um aspecto do método que possui grande importância na educação para o trabalho: é preciso que se encarregue a criança de uma tarefa para cuja realização ela deva escolher um processo de trabalho. Esta tarefa não deve ser realizada num prazo curto de um ou dois dias. Pode ter um caráter mais prolongado que exija meses ou anos. O que importa é deixar à criança uma certa liberdade na escolha dos meios e que essa tarefa envolva uma certa responsabilidade e exija qualidade no trabalho. Isto é muito mais proveitoso do que dizer: «Eis um espanador, tira o pó da sala e fá-lo deste ou daquele modo.»

É melhor confiar à criança a limpeza de uma peça determinada da casa, e deixá-la escolher sozinha o modo de fazê-la. No primeiro caso, indicamos à criança uma tarefa puramente muscular, e no segundo, lhe colocamos um problema de organização, o que é muito mais útil e elevado.

Por conseguinte, quanto mais complexa e independente for a tarefa, maior será seu valor pedagógico. Muitos pais não se dão conta disto. Confiam ao filho tal ou qual trabalho mas se perdem nos menores detalhes: mandam o filho ou a filha comprar-lhes uma coisa no armarinho, quando teria sido melhor confiar-lhe uma tarefa contínua, como, por exemplo, a de zelar para que não falte sabão ou pasta de dentes para a família.

A participação da criança nas tarefas familiares deve começar bem cedo. Ela se iniciará nos brinquedos. Deve-se mostrar à criança que ela é responsável por seus brinquedos, pela limpeza deles e pela ordem do lugar onde se entretém e onde os guarda. Esse trabalho deve ser-lhe proposto de forma geral: tudo deve estar limpo, as coisas em ordem, não se deve derramar água, os brinquedos não devem estar cheios de pó. Pode-se, é certo, indicar-lhe como fazer algumas coisas, mas seria bom que a criança adivinhasse por si mesma que é preciso um pano limpo para tirar o pó, que é necessária pedi-lo à mamãe, conservá-lo limpo, que precisa pedir um bom esfregão, etc.... Da mesma forma deve competir-lhe, na medida de suas forças, bem entendido, o conserto de seus brinquedos com os materiais colocados à sua disposição.

As tarefas podem ir-se tornando cada vez mais complexas, desligando-se dos folguedos. Enumeremos alguns aspectos do trabalho infantil, deixando a cada família o cuidado de corrigir ou estender nossa lista, de acordo com suas condições de vida e a idade das crianças:

  1. — Regar as plantas de seu quarto ou de toda a casa.
  2. — Tirar o pó do parapeito das janelas.
  3. — Arrumar a mesa para as refeições.
  4. — Encher os saleiros e as pimenteiras.
  5. — Cuidar do escritório do pai.
  6. — Cuidar da estante de livros ou do armário e conservá-los em ordem.
  7. — Receber os jornais e colocá-los no lugar, separando-os dos velhos.
  8. — Dar comida ao gatinho ou ao cachorrinho.
  9. — Limpar a pia, comprar sabão, pasta de dentes e as lâminas de barba do pai.
  10. — Encarregar-se da arrumação de um quarto ou de uma parte do quarto.
  11. — Repregar os botões de sua roupa e manter em ordem a caixa de costura.
  12. — Responsabilizar-se pela ordem do armário da sala.
  13. — Escovar as roupas do irmão ou da mãe e do pai.
  14. — Adornar o quarto com retratos, cartões postais ou quadros.
  15. — Quando a família tem uma horta ou uma estufa, se responsabilizar por um canteiro, semeando, cultivando e colhendo.
  16. — Zelar para que a casa esteja sempre florida (se necessário, ir à cidade comprar flores, o que será feito pelas crianças mais velhas).
  17. — Se o apartamento tem telefone, tomar nota dos recados e manter o caderno de endereços em dia.
  18. — Ter o itinerário dos transportes e poder indicar o meio de chegar aos diversos lugares onde a família costuma ir mais frequentemente.
  19. — Quando a criança é mais velha, deve organizar sozinha os passeios da família ao teatro ou ao cinema, estar a par dos programas, comprar as entradas, guardá-las, etc.
  20. — Manter arrumada a farmácia da casa e cuidar de que não falte nada.
  21. — Cuidar para que não haja insetos na casa: pulgas, percevejos. Tomar medidas enérgicas para eliminá-los.
  22. — Ajudar a mãe ou a irmã nos trabalhos domésticos.

Cada família encontrará muitas ocupações semelhantes, mais ou menos divertidas ou complicadas. É evidente que não se pode sobrecarregar de trabalho a criança, mas em todo caso, é necessário que não salte aos olhos uma diferença muito grande entre as responsabilidades domésticas dos pais e as das crianças. Se o pai ou a mãe estão doentes, os filhos devem ser levados a ajudá-los. Ocorre diferentemente quando a família tem uma auxiliar doméstica: as crianças se habituam completamente a contar com o seu trabalho, em coisas que elas próprias pediam fazer. Os pais devem controlar cuidadosamente isto e obter que a auxiliar doméstica não faça as tarefas que a criança possa assumir.

É preciso sempre lembrar que as crianças já podem estar sobrecarregadas de trabalhos escolares. Evidentemente este é o trabalho mais importante, o primeiro de todos. As crianças devem compreender que ao cumprir o trabalho escolar, não estão apenas se desincumbindo de uma função pessoal, mas de uma função social, e que não é só diante dos pais que elas respondem por seus êxitos, mas diante do Estado. De outro lado, não é justo que só deem valor a seu trabalho escolar e negligenciem todos os outros. A dedicação exclusiva ao trabalho escolar é perigosa porque faz nascer na criança um desprezo total pela vida e o trabalho da coletividade familiar. A atmosfera de coletividade deve sempre ser visível na família e se manifestar o mais frequentemente possível na ajuda mútua de seus integrantes.

Como se pode e se deve provocar na criança um esforço de trabalho? Nas mais variadas formas. Na primeira infância é preciso, bem entendido, sugerir e mostrar muitas coisas à criança, mas em geral a fórmula ideal consiste em que ela note por conta própria a necessidade de fazer um determinado trabalho, veja que a mãe ou o pai não têm tempo de fazê-lo e procure por iniciativa própria ajudar à coletividade familiar. Desenvolver a boa vontade para o trabalho e a atenção às necessidades do grupo familiar é educar um verdadeiro cidadão soviético.

Acontece, por vezes, que uma criança, por sua inexperiência ou má orientação, não possa notar por si própria a necessidade de um determinado trabalho. É necessário, então, indicar-lhe habilmente, de modo que ela possa determinar sua atitude para com a tarefa e tomar parte em sua solução. Frequentemente isto é feito do melhor medo, suscitando um simples interesse técnico pelo trabalho, mas não se pode abusar de tal processo, pois a criança deve saber executar as tarefas que não a interessam particularmente e que, naquele instante, lhe parecem mesmo sem interesse. De um modo geral, deve-se educá-la de modo que o aspecto decisivo do esforço de trabalho não seja o divertimento, mas a utilidade, a necessidade. Os pais devem desenvolver na criança a capacidade de executar, pacientemente e sem reclamar, tarefas desagradáveis. À medida que a criança se desenvolve, o trabalho mais desagradável termina por lhe trazer alegria, se sua utilidade social é evidente.

Quando a necessidade ou o interesse não são suficientes para despertar na criança o desejo de fazer um esforço, recorrer-se-á ao pedido. Esta forma de se dirigir à criança distingue-se das outras porque a deixa inteiramente livre para escolher. É desse modo que se concebe um pedido. É preciso mesmo que se o formule de tal medo que a criança pense que realizou a tarefa por vontade própria, sem nenhuma pressão. É preciso dizer: «Tenho algo a pedir-te, é difícil, sei que tens outras coisas a fazer... mas...»

O pedido é a melhor e a mais suave maneira de se proceder, mas é preciso não abusar, é preferível se recorrer a ele quando se tem certeza de que a criança o executará com prazer.

Se tendes dúvida a respeito, recorrei a uma ordem simples, calma, num tem seguro e prático. Se, desde a primeira idade, sois hábil em alternar ordens e pedidos, e se sobretudo sabeis despertar a iniciativa pessoal da criança, se vós a habituais a sentir por si só a necessidade da tarefa e a executá-la de boa vontade, sabereis dar vossas ordens com suavidade, mas, se negligenciais vossas tarefas educativas, ser-vos-á necessário recorrer à coerção.

A coerção pode ter diferentes formas: da repetição simples de uma ordem à reiteração imperiosa e exigente. Em todos os casos, nunca se deve recorrer à coerção física, pois é o que menos convém e só pode despertar o desgosto pela tarefa.

O que mais preocupa os pais é o que fazer com uma criança preguiçosa. É preciso que se diga que só raramente a preguiça ou o desgosto por um esforço físico se explicam por um mau estado de saúde, pela fraqueza física ou a falta de entusiasmo. Nesse caso, é evidente ser melhor consultar um médico. Mas, na maioria dos casos, a preguiça se deve a um mau hábito que se inicia quando os pais não desenvolvem a energia da criança, desde a idade mais tenra, não a habituam a superar as dificuldades, não despertam seu interesse pelas tarefas domésticas, não a acostumam ao trabalho nem às satisfações que ele proporciona.

Só existe um meio de lutar contra a preguiça, ou seja atrair progressivamente a criança para a atividade, despertando lentamente seu interesse pelo trabalho.

Mas, ao mesmo tempo que se luta contra a preguiça, é necessário lutar também contra os outros defeitos. Existem crianças que realizam qualquer tipo de trabalho, mas sem entusiasmo, sem interesse, sem satisfação ou alegria. Trabalham porque querem evitar aborrecimentos ou queixas, etc. Esse trabalho lembra frequentemente o esforço dos animais de carga. Trabalhadores desse tipo podem perder todo controle de seu trabalho, habituar-se a não exercer seu senso crítico: tornam-se em consequência, homens que só sabem servir e ajudar a todo mundo, mesmo aos que nada fazem. O Estado soviético não pode cultivar tal submissão quase animal, pois pessoas desse tipo não têm exigência moral em relação a seu trabalho, nem em relação ao dos outros.

É verdade que em nosso sistema de produção é impossível a exploração do homem pelo homem, mas há ainda muitos espertalhões dispostos a explorar o trabalho de outrem na vida familiar.

A educação de nossos filhos não pode dar à sociedade seres dispostos a se deixarem explorar; evitemos desenvolver na vida familiar uma tendência a explorar os outros.

Eis porque os pais devem cuidar de que os filhos mais velhos não explorem os mais novos e só devem admitir os casos de ajuda mútua; devem zelar para que reine total equidade na divisão das tarefas.

Resta-nos dizer poucas palavras sobre a qualidade do trabalho. A qualidade do trabalho deve ter a mais decisiva importância: é preciso sempre exigir a mais alta qualidade, exigi-la com seriedade. É certo que a criança é ainda inexperiente, frequentemente incapaz do ponto de vista físico de realizar uma tarefa com perfeição. Por isso, só se deve exigir dela uma qualidade que esteja à altura de suas forças e de sua compreensão.

Não se deve repreender uma criança por seu trabalho mal feito, envergonhá-la ou censurá-la. Deve-se dizer-lhe simples e tranquilamente que o trabalho não é satisfatório, que deve ser modificado, corrigido, refeito. Muito menos se deve fazer o trabalho por ela. Somente em alguns casos raros os pais podem terminar o que está acima das forças da criança, corrigindo desse modo o erro que cometeram encarregando-a de uma tarefa muito difícil.

Somos absolutamente contra as recompensas e as punições no trabalho: a tarefa e sua solução devem proporcionar à criança tal satisfação que a torne contente. Constatar que seu trabalho está bem feito é sua melhor recompensa. Elogiar uma criança por seu espírito de inventiva e empreendimento, por seus métodos de trabalho, é também recompensá-la. Mas não se deve nunca abusar dessas aprovações verbais, nunca se deve felicitá-la por um trabalho feito, diante de seus amigos e conhecidos.

Menos ainda se deve castigar a criança por um trabalho mal feito e não terminado. O mais importante neste caso é obter que o trabalho seja, apesar de tudo, levado a bom termo.


Inclusão 22/09/2012