A Luta Continua

Samora Machel


Primeira Edição: ....

Fonte: RTP

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.


Não se pergunta a um escravo se quer ser livre.

Não sei se um ambicioso muda, mas a minha experiência prova que não. Muda de tática, mas não elimina a ambição. Um ambicioso é criminoso ao mesmo tempo, pode matar por causa da sua ambição, pode aliar-se facilmente com o imperialismo só por causa da sua ambição, do seu interesse individual. É capaz de tudo, vender a pátria, vender a revolução, destruir e impedir o progresso do país só por causa da sua ambição.

O poder, as facilidades que rodeiam os governantes, pode corromper facilmente o homem mais firme. Por isso, queremos que vivam modestamente e com o povo. Não façam da tarefa recebida um privilégio ou um meio de acumular bens ou distribuir favores.

Vão tentar nascer aqui em Moçambique capitalistas pretos, a chamada burguesia nacional. Não queremos isso aqui, não há lugar para exploradores aqui. Preto ou branco, não pode explorar o povo. O dever de cada um de nós é dar tudo ao povo, sermos os últimos quando se trata de benefícios, primeiros quando se trata de sacrifícios. Isso é que é servir o povo.

Uns sentem-se orgulhosos, porque foram colonizados pelos ingleses, porque os ingleses são civilizados e constituíram um grande império e outros porque foram colonizados pelo franceses e pensam que intelectualmente são mais desenvolvidos, mais civilizados e mais evoluídos, porque foram colonizados pelos franceses. Eu fui colonizado pelos portugueses? país mais subdesenvolvido da Europa. Mas colonialismo é um crime contra a humanidade, Não há colonialismo humano, não há colonialismo democrático, não há colonialismo não explorador.

A corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as cunhas, o nepotismo, isto é, os favores na base de amizade, e em particular dar preferência nos empregos aos seus familiares, amigos ou à gente da sua região fazem parte do sistema de vida que estamos a destruir.

A luta continua contra o analfabetismo, contra a ignorância, contra o tribalismo, contra os pés descalços, contra a exploração do homem pelo homem, contra superstição, contra a miséria, contra a fome. A luta continua para que sejamos todos homens iguais.

Aqui trava-se um combate, é duro, mas temos que vencer.

Façam o que fizerem, ninguém mudará a localização geográfica do povo moçambicano, ninguém derrubará a independência de Moçambique.

É necessário fazer da escola uma base para o povo tomar o poder.

[Afirmar que as nacionalizações decretadas em 24 de julho de 1975 pela Frelimo foram demasiado cedo] é um ponto de vista ocidental e os analfabetos aceitam isso. Não foi nem demasiado cedo nem demasiado tarde, agimos no momento oportuno.

A coisa mais bela que há na vida é um homem viver livre, é viver independente.

Primeiro são aqueles inúteis que estão no aparelho do estado. Vamos reduzir [os inúteis] em todos os ministérios, em todos os setores, o resto vão à produção, depois são as empresas, preguiçosos e indisciplinados, vão à produção.

É longe de onde Cabo Delgado [norte de Moçambique]? Amigo, vai a Cabo Delgado para dirigir aquele complexo que tem lá. Há muitos complexos em Cabo Delgado. Não têm eletricistas, não têm mecânicos, soldadores, canalizadores. Então, um grupo de brigadistas diz ?vai para lá`. [E ele responde] ?Não, é longe`. É longe de onde? ?Ah, não há cimento`. Cabeça de galinha!

Alguns responsáveis se deixaram embalar por relatórios, relatórios triunfalistas, relatórios que escamoteiam, porque alguns responsáveis são sensíveis à adulação, gostam de ser adulados, sensíveis ao servilismo e sensíveis ao lambebotismo`.

Alguns responsáveis são sensíveis ao beija-mão, perderam a sensibilidade para os problemas do povo, ficaram insensíveis às queixas do povo, abandonaram o martelo, o leme, não dirigem, não exercem o poder que o povo lhes confiou. Recebem o salário, nisso são pontuais.

Há calamidades que nós podemos prever o seu fim e outras [Renamo] são imprevisíveis.


Inclusão 12/11/2018