O Que os Líderes Estão Fazendo?

Rosa Luxemburgo

7 de Janeiro de 1919


Primeira Edição: Die Rote Fahne, 7 de janeiro de 1919.
Fonte:
Rosa Luxemburg: Selected Political Writings, editado e introduzido por Robert Looker, pp.291-4..

HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: Random House, 1972, ISBN/ISSN: 0224005960. Impresso com a permissão da Random House. Luxemburg Internet Archive (marxists.org) 2004 - agradecimentos especiais à Robert Looker pela ajuda com as permissões. A cópia ou distribuição desta tradução em português é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.


Na inflamada atmosfera da revolução, as pessoas e as coisas amadurecem com incrível rapidez. Há apenas três curtas semanas atrás, quando a conferência dos conselhos dos trabalhadores e dos soldados terminou, parecia que Ebert e Scheidemann estavam no auge do seu poder. Os representantes das massas dos trabalhadores e soldados revolucionários por toda a Alemanha renderam-se cegamente a seus líderes. A convocação da Assembléia Nacional, da qual as ‘pessoas nas ruas’ foram barradas, a degradação do Conselho Executivo, e com os conselhos, a figuras cômicas — que triunfo para a contra-revolução de todas as maneiras! Os frutos do dia 9 de novembro pareciam ter sido desperdiçados e jogados fora, a burguesia mais uma vez suspirou de alívio, e as massas foram deixadas perplexas, desarmadas, amarguradas e, certamente, em dúvida. Ebert e Scheidemann imaginavam-se no auge do poder.

Que tolos cegos! Nem mesmo vinte dias se passaram desde então, e seu poder ilusório, de um dia para o outro começou a oscilar. As massas são o autêntico poder, o verdadeiro poder, em virtude da coação de ferro da história. Alguém pode colocá-las em correntes por enquanto, alguém pode formalmente privar suas organizações de qualquer poder - mas elas só precisam se agitar, apenas ajeitar sua coluna obstinadamente, e a terra irá tremer sob os pés da contra-revolução.

Qualquer um que testemunhou a manifestação da massa de ontem na Siegesallee, que sentiu esta dura convicção revolucionária, este ânimo magnífico, esta energia que as massas transpiraram, deve concluir que, politicamente, os proletários cresceram enormemente através de sua experiência das semanas recentes, nos últimos acontecimentos. Eles tornaram-se conscientes do seu poder, e tudo o que resta é eles beneficiarem-se deste poder.

EbertScheidemann e seus clientes, a burguesia, que incessantemente clamam golpe, estão neste momento experimentando a mesma desilusão sentida pelo último Bourbon quando seu ministro respondeu a seu indignado clamor sobre a ‘rebelião’ do povo de Paris com as palavras, ‘Senhor, isto não é uma rebelião, é uma revolução!’

Sim, é uma revolução com todo seu desenvolvimento externo caótico, com sua alternada decadência e fluidez, com surtos momentâneos rumo à captura do poder e também momentâneas recessões dos transgressores revolucionários. E a revolução está traçando o seu caminho passo a passo através de todo este aparente movimento em ziguezague e está marchando à frente de maneira invencível.

A massa deve aprender a lutar, a agir na própria luta. E hoje se pode sentir que os trabalhadores de Berlim, em grande extensão, tem aprendido a agir; sua sede por ações decididas, situações claras, vastas proporções. Eles não são os mesmos do dia 9 de novembro; eles sabem o que querem e o que devem fazer.

Entretanto, seus líderes, os órgãos executivos de suas vontades, estão bem informados? Os presidentes e delegados revolucionários dos grandes interesses tem a energia e determinação dos elementos radicais do USPD produzidos neste meio tempo? Sua capacidade de ação acompanhou a crescente energia das massas?

Nós estamos com medo de não conseguir responder a estas questões com um direto sim. Nós tememos que os líderes ainda sejam os mesmos que eram no dia 9 de novembro, que eles tenham aprendido apenas um pouco mais. Vinte e quatro horas se passaram desde que o governo de Ebert atacou Eichhorn. As massas seguiram entusiasmadas o apelo de seus líderes; espontaneamente e em sua própria força eles ocasionaram a recondução de Eichhorn. Por sua própria iniciativa, eles ocuparam Vorwärts e apreenderam os editores burgueses e a W.T.B. [Agência Telegráfica de Wolff] e, na medida do possível, eles se armaram. Eles estão esperando para mais instruções e atitudes de seus líderes.

E enquanto isso, o que estes líderes tem feito? O que eles tem decidido? Que medidas eles tem tomado para garantir a vitória da revolução nesta situação tensa na qual o destino da revolução será decidido, pelo menos para a próxima época? Nós não temos visto ou ouvido nada! Talvez os representantes dos trabalhadores estejam deliberando profunda e produtivamente. Agora, no entanto, chegou o tempo de agir.

Ebert, Scheidemann, et al., com certeza não estão perdendo seu tempo com conferências. E certamente eles não estão dormindo. Eles estão preparando silenciosamente suas intrigas com a energia e cautela habituais dos contra-revolucionários; eles estão afiando suas espadas para pegar a revolução desprevenida, para assassiná-la.

Outros elementos covardes já estão ativamente trabalhando na pavimentação do caminho para ‘negociações’, causando acordos, lançando uma ponte através do abismo que se abriu entre as massas de trabalhadores e soldados e o governo de Ebert, induzindo a revolução a fazer um ‘acordo’ com seus inimigos mortais.

Agora não há tempo a perder. Medidas abrangentes devem ser empreendidas imediatamente. Instruções claras e rápidas devem ser dadas às massas, aos soldados fiéis à revolução. Sua energia, sua belicosidade devem ser direcionadas aos objetivos certos. Os elementos indecisos entre as tropas podem ser ganhos à sagrada causa do povo por meio de ações decididas e claras tomadas pelos grupos revolucionários.

Ajam! Ajam! Corajosamente, decididamente, consistentemente — este é o ‘maldito’ dever e obrigação dos dirigentes revolucionários e dos autênticos líderes do partido socialista. Desarmem a contra-revolução, armem as massas, ocupem todas as posições de poder. Ajam rápido! A revolução obriga. Suas horas contam-se em meses, seus dias como anos na história mundial. Deixem os órgãos da revolução conscientes de suas principais obrigações!


Inclusão 20/05/2009
Última alteração 23/12/2012