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O marxismo é monolítico, como seu criador. O socialista inglês Hyndman relata em suas memórias:
Lembro-me de ter dito, a Marx, certa vez, que à medida que ia envelhecendo, parecia mais tolerante. Mais tolerante? — replicou ele — Mais tolerante?!.. Era evidente que ele nunca seria mais tolerante.(1)
Este pequeno-burguês, mais tarde adepto do imperialismo inglês, viu perfeitamente o traço essencial de Marx, que é também do marxismo. O marxismo revolucionário não se transforma, “com o passar dos anos”, numa ideia mais tolerante com os inimigos de ideias e de política. A força do marxismo revolucionário reside, precisamente, em sua intransigência. Esta intolerância ideológica e política do marxismo foi posta como base do partido bolchevista, sendo fio condutor da atividade teórica e política de Lenine, o genial discípulo de Marx.
Marx lançou as bases da doutrina sindical. Determinou a posição dos sindicatos no Estado capitalista. Estabeleceu a justa correlação entre a luta econômica e política. Demonstrou a proeminência da luta política sobre a luta econômica. Assinalou os limites da atividade dos sindicatos, elaborando a tática sindical sob a base da luta revolucionária de classe, ligando, organicamente, a luta pelas reivindicações imediatas à luta pelo objetivo final.
Segundo demonstrou Marx, os sindicatos que não lutam contra a burguesia transformam-se, nas mãos desta em arma contra os interesses do proletariado. Marx definiu o passado, presente e futuro dos sindicatos, nos países capitalistas. Porém, não podia definir o papel dos sindicatos, depois da conquista do poder pela classe proletária, nem o lugar que ocupariam, no sistema da ditadura do proletariado. Isto foi feito pelo grande discípulo e continuador de Marx, o fundador e organizador do Partido Comunista bolchevista russo, Lenine. Este assim fez, partindo da teoria de Marx. Baseado na experiência do movimento proletário mundial, e de uma série de revoluções, Lenine enriqueceu e desenvolveu o marxismo. E isto nos faz dizer que “o leninismo é o marxismo da época do imperialismo e da revolução proletária,” ou, com mais propriedade, “o leninismo é a teoria e a tática da revolução proletária em geral, e a teoria é a tática da ditadura do proletariado em particular”. (Stalin).
Lenine elaborou teórica e praticamente todos os problemas da ditadura do proletariado, e não pôde, portanto, deixar de ocupar-se com os sindicatos, que representam um apoio importantíssimo à ditadura proletária.
Qual, pois, a ideia orientadora de Lenine, na questão dos sindicatos? Era a ideia já formulada por Marx: os sindicatos são a escola do comunismo. Esta fórmula, apesar de lacônica, é um rico manancial de ideias. Com efeito, apoiam-se nela algumas ideias diretrizes:
Existem “teóricos” que não conseguem ocultar sua surpresa, ante a fórmula “os sindicatos são escolas de comunismo”, porque entendem a palavra “escola” em seu sentido estrito e gramatical. A diferença entre uma escola comum e os sindicatos consiste no fato destes serem escola de classe, reunindo trabalhadores dispersos, realizando um trabalho prévio de transformação destes trabalhadores em classe, não mediante instrução livresca, mas graças à educação que se aprende no combate de classe. Nos países capitalistas esta educação se adquire nas lutas contra o capital, (greves, paradas, revoltas e todas as demais formas de luta).
Na União Soviética, adquire-se na participação positiva dos sindicatos, na construção do socialismo, na participação na administração, na economia nacional, na emulação socialista, no trabalho de adaptação, na disciplina do trabalho, na elaboração do nível material e cultural das massas, etc.
Tanto em um como em outro caso, trata-se de uma escola de tipo especial, e os que imaginam os sindicatos como escola ordinária, são apenas neófitos nas questões do marxismo-leninismo. Poder-se-ia crer certamente, que a fórmula “os sindicatos são a escola do comunismo” é clara, especialmente para os membros do Partido Comunista da U. R. S. S. Porém, com um exame minucioso em nossa literatura sindical, observaremos a conclusão reinante entre alguns teóricos. Vejamos, por exemplo, o que escreve o companheiro V. Yarotski, erigido em “teórico”, nos tempos do companheiro Towski:
“A fórmula ‘escola de comunismo’ não é completa Uma definição científica deve separar, com previsão, um fenômeno determinado da cadeia de fenômenos afins. A fórmula deve ser redigida de maneira a conter somente o fenômeno dado. E é isto que falta, precisamente, à fórmula ‘os sindicatos são a escola do comunismo’. O Partido Comunista não é, por acaso, uma escola de comunismo? Não preenche, qualquer clube operário, na realidade, o papel de escola de comunismo? Os métodos de ação pedagógica sobre seus membros são diferentes em cada organização. A composição de seus membros é também diversa. Porém, todas elas são escolas de comunismo, na mesma proporção em que o é uma cooperativa proletária. Desta maneira, a fórmula “os sindicatos são a escola do comunismo” enfeixa, em uma determinada escola de desenvolvimento da classe proletária, todas as organizações da mesma.
Aliás, é evidente que esta fórmula, definindo as funções dos sindicatos, não permite traçar linhas divisórias precisas e distintas em medida determinada, entre os sindicatos profissionais e as demais organizações proletárias. Evidentemente, esta fórmula é insuficiente”.(2)
A fórmula “os sindicatos são a escola do comunismo”, diz nosso candidato a teórico, é incompleta e insuficiente O próprio Yarotski cita, ao explicar essa fórmula, as palavras de Lenine:
“Os sindicatos são uma escola, escola de unificação, escola de solidariedade, de defesa dos interesses proletários, escola de direção e administração.”
Resulta, sem dúvida, que estas explicações não satisfazem ao severo “critico”. A fórmula de Lenine “é incompleta e insuficiente”. Por quê? Porque o Partido, um clube operário, a cooperativa, são também escolas de comunismo. E nós não suspeitávamos de que o Partido fosse uma escola! Nós, com Lenine e a I. C., considerávamos até agora o P. C. da U. R. S. S. como a vanguarda da classe proletária.
Estes arrazoados antileninistas têm sua raiz na completa incompreensão do que é o Partido. Ouçamos a respeito o II Congresso da Internacional Comunista, na resolução elaborada e adotada, com a direta participação de Lenine:
“O Partido Comunista é uma parte da classe proletária; porém, é claro, a mais avançada, a mais consciente, e, portanto, a mais revolucionária. O Partido Comunista é formado pela seleção dos melhores trabalhadores, dos mais conscientes, dos mais abnegados e inteligentes. Os interesses do Partido Comunista são os interesses da classe proletária. O Partido Comunista distingue-se da massa dos trabalhadores, quando, ao assinalar seu caminho histórico, esforça-se por defender em todas as suas curvas, não os interesses de grupos isolados, de profissões, mas os da classe proletária em geral. O Partido Comunista é o alicerce político e da organização, sobre o qual se eleva a parte mais avançada da classe proletária, que conduz por caminho certo toda a massa do proletariado e do semiproletariado.”(3)
Como essas palavras se parecem pouco com os vagidos infantis do professor Yarotski, ao afirmar que o Partido Comunista é, também, escola de comunismo! Yarotski, como os outros “críticos” do marxismo, embarafusta-se e desorienta-se na questão fundamental do marxismo-leninismo; Partido — sindicato — classe.
V. Yarotski, após escorregar na fórmula “o sindicato é a escola do comunismo”, tenta em outras páginas dar uma definição melhor e mais completa dos sindicatos. Fracassa, certamente, em sua tentativa, porque seu ponto de vista é falso. Eis o que nos propõe Yarotski, em lugar da fórmula, de Marx e Lenine:
“A organização sindical, como tal, é sempre (?), em todos os tempos (?) e em todos os países (?), o agrupamento proletário mais adequado ao nível oscilante e cada vez mais elevado da consciência de classe.”(4)
Esta é a fórmula “universal”, “completa”, para todos os tempos(!), para todos os povos e países, se considerarmos somente o valor das palavras, indubitavelmente teremos uma fórmula mais completa; porém, sob o ponto de vista da significação, é um modelo de verborragia descontrolada, quanto ao fundo, e “científica”, quanto à forma.
Yarotski deseja que renunciemos à “incompleta” e “insuficiente” fórmula do marxismo-leninismo, para a substituirmos por seu embrulhado palavrório. Com efeito, não se pode acusá-lo de modéstia exagerada... Não; preferimos ficar com a fórmula incompleta e insuficiente” de Marx-Lenine, do que com a “completa”.... porém, cheia de tolices e pretensões (para todos os tempos, todos os povos, todos os países e todos os sindicatos) de Yarotski, professor... de confusão...
Como se sabe, foi também da questão sindical que Trotski iniciou sua marcha para trás, até alcançar a social-democracia. A discussão sindical provou que não compreendera, e era incapaz de compreender, o significado da fórmula “os sindicatos são escola de comunismo”. E chegou a alterar tão monstruosamente as ideias de Marx e Lenine, sobre o papel dos sindicatos, que foi combatido impiedosamente por Lenine, Stalin e todo o Partido. No VI volume dos trabalhos de Lenine, foi publicado o folheto de Trotski, “O papel e os objetivos dos sindicatos”, com as observações de Lenine. Este acompanha os comentários de Trotski, com observações como estas: “É falso”, “absurdo”, “sindicalista”, “que confusão”, “que palavreado”! etc...
O palavrório e os problemas, partido-sindicato-classe, conduziram Trotski ao campo da contrarrevolução.
Marx e Lenine, ao definir os sindicatos, não consideravam todos os sindicatos, em todos os tempos e em todos os países, como a escola do comunismo. Referiam-se unicamente aos sindicatos, que mantêm, sob a direção do Partido, luta de classe contra os capitalistas e o sistema capitalista. Marx e Lenine odiavam os dissimuladores, que ocultavam sua impotência e ignorância teórica, com razões “científicas”.
Assiste-nos o direito de fazer esta pergunta: o movimento sindical da revolução vitoriosa, o movimento sindical que se alastrou, baseado nos ensinamentos de Marx, e sob a direção de Lenine, tinha, por acaso, necessidade, nos tempos de Trotski, de “teoria” e de “teóricos” desta espécie?
A doutrina sindical de Lenine é a aplicação e o desenvolvimento, dentro das novas condições, dos conceitos fundamentais de Marx. Extremamente aplicado à questão dos sindicatos, Lenine conseguiu compreender, melhor e mais profundamente do que outro qualquer, a essência do marxismo e o método de Marx. Lenine não só prosseguiu na elaboração da teoria do movimento sindical (trataremos disso num livro especial), como estabeleceu e definiu a estratégia e a tática antes, durante e após a revolução proletária. Em que consiste a estratégia e a tática do leninismo?
“A estratégia e a tática do leninismo — escreve o companheiro Stalin — é a ciência da direção da luta revolucionária do proletariado.(5)
Portanto, a luta revolucionária é a missão principal dos sindicatos. Conseguindo dominar com perfeição o método de Marx, Lenine tornou-se o maior estrategista da luta de classes. Citarei somente um dos inúmeros exemplos. Em artigo destinado ao dicionário de Granat, que devia ser submetido à censura tzarista, Lenine declara, a propósito da tática proletária, tal como a concebia Marx:
“Para Marx, a finalidade fundamental da tática do proletariado consistia na concordância rigorosa da mesma com todas as premissas de sua concepção materialista dialética. Só a consideração objetiva de todo o conjunto de relações recíprocas, existentes, sem exceção, entre todas as classes da sociedade, e, portanto, a consideração do grau objetivo de evolução da dita sociedade, e, também, das relações recíprocas com outras sociedades, pode servir de base a uma tática justa da classe avançada. Além disso, todas as classes e todos os países são considerados, não em seu aspecto estático, mas em seu aspecto dinâmico, isto é, não no estado de imobilidade, mas em movimento, (cujas leis derivam das condições econômicas de existência, de cada classe). O movimento, por sua vez é considerado, não só sob o ponto de vista do passado, mas também sob o ponto de vista do futuro. Não só é considerado segundo a concepção vulgar dos “evolucionistas”, que só vêm as pequenas modificações, mas também dialeticamente.
Vinte anos são iguais a um dia nos acontecimentos históricos — escreve Marx a Engels – embora ulteriormente possamos ver dias, que, em cada um, concentrem vinte anos.
Em cada fase da evolução, em cada momento, a tática do proletariado deve ter em conta a inevitável dialética objetiva da história humana.
De um lado, deve ser utilizada para o desenvolvimento da consciência, das forças e da capacidade de combate da classe avançada, às épocas de paralisação política ou de evolução “passo de tartaruga”, “de evolução pacífica”. E, por outra parte, orientando todo esse trabalho de utilização para o “objetivo final do movimento” da classe, e para a criação na mesma de uma aptidão para resolver praticamente as grandes tarefas, nos grandes dias que “concentram em si vinte anos cada um.”(6)
Só o maior discípulo de Marx, o grande mestre da revolução proletária, podia definir assim a tática do proletariado.
Lenine demonstrou na ação como se deve atuar quando chegam “as grandes jornadas, em que cada uma concentra vinte anos”.
Porém, Lenine, como Marx, não pôde prever tudo. Lenine não deu nem pôde dar uma solução ao problema do papel e das tarefas dos sindicatos no período da reconstrução. Essa questão foi elaborada e resolvida pelo melhor discípulo de Marx e de Lenine, o camarada Stalin. Isso mais uma vez demonstra que o marxismo não é um dogma, nem uma doutrina fixa, eternamente imutável. A metafísica jamais tomou parte nos ensinamentos e no método de Marx. O marxismo é uma lição revolucionária que nos faz compreender a sociedade onde vivemos, e nos permite transformá-la. É “a teoria e o programa dos proletários de todos os países” (Lenine). O marxismo é inimigo acérrimo da teoria e da prática “da harmonia das classes”; “não tem nada a ver com o oportunismo, que representa a aliança de parte dos proletários com a burguesia, contra os interesses das massas do proletariado.” (Lenine).
Conclui-se daí, que só os sindicatos, partidários da luta de classe contra a burguesia e seus apologistas ideologistas auxiliares e aliados políticos, têm o direito de erguer a grande bandeira do marxismo — leninismo.
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A Associação Internacional de Trabalhadores reuniu de vez os partidos políticos e os sindicatos. Os inimigos de Marx atacavam-no então pelos dois flancos. Uns eram de opinião que a Internacional devia agrupar somente os sindicatos; outros, que a Internacional só se devia compor de partidos políticos. Porém, estes críticos não compreendiam toda a significação de princípio, da estrutura da Associação Internacional de Trabalhadores..
A I Internacional, tanto por sua estrutura, como por sua teoria e tática, foi, graças a Marx, muito superior a suas partes integrantes.
A I Internacional desagregou-se devido às irreconciliáveis divergências ideológicas e políticas, e pelo esmagamento da “Comuna”. O historiador da II Internacional, G. Seidel, pensa de outra maneira. Afirma que “a disputa teórica entre Marx e Bakunin, especialmente nas questões de organização (sublinhado por Seidel), serviu de causa imediata à cisão e consequente dissolução da I Internacional.”(7)
Isso é falso. As divergências de organização eram consequência das divergências políticas, portanto, as divergências de organização jamais foram a causa, mas o pretexto para a cisão. A queda da “Comuna" de Paris foi um golpe irreparável na I Internacional, que não pôde continuar existindo nessa primeira forma histórica.(8)
Esta observação de Marx sobre a influência das guerras e revoluções nos destinos das agrupações internacionais, foi ratificada pela história. A queda da “Comuna” de Paris conduz à dissolução da I Internacional. A guerra de 1914-1918 conduz à bancarrota ideológico-política da Internacional socialista e da Internacional Sindical. A Revolução de outubro de 1917 serviu de ponto de partida para a criação da Internacional Comunista e da Internacional Sindical Vermelha. A I Internacional se desmembrou, apesar de haver adotado uma conduta irrepreensível em face da guerra e da revolução. A II Internacional desmembrou-se, por colocar-se do ponto de vista da colaboração de classes, o que não deixou de provocar a sua queda, no início da guerra. A Internacional Comunista surgiu e converteu-se em grande potência mundial, graças à continuação da linha revolucionária de Marx, em novas circunstâncias, numa época de guerras e revoluções sociais.
A I Internacional desagregou-se porque suas partes integrantes (bakuninistas, blanquistas, proudhonianos e trade-marxistas) eram socialistas pequeno-burgueses, que arrastavam a Internacional à política pequeno-burguesa, desviando-a da política proletária.
Apesar da incessante luta política de organização, travada no seio da Internacional, esta firmou de vez a questão sobre a possibilidade dos sindicatos serem membros da A. I. T.. Naquela ocasião, era uma premissa indispensável, para ressaltar a significação política dos sindicatos, e a necessidade de sua unificação internacional. O IV Congresso da I Internacional, celebrado em 1859, em Basileia, decidiu:
“Considerando que o caráter internacional do trabalho e do capital exige a organização internacional dos sindicatos, o Congresso encarrega o Conselho Geral de criar uma unificação internacional dos sindicatos.”
A I Internacional não teve tempo de realizar essa decisão. Ao ser criada a II Internacional (1889), os sindicatos participaram de seus congressos, e, somente muito tempo depois (1901), foi criado o secretariado sindical internacional, que passou a ter a forma de uma organização, com iguais direitos, demonstrando assim a dualidade política do movimento proletário social-democrata internacional. Esta dualidade aparente, ao lado da unidade política interior, facilitava aos oportunistas a tarefa de impelir os trabalhadores não sociais-democratas, atrás da burguesia. Chamavam a isto, conduzir os proletários “à bandeira da mentalidade e independência.”
A Internacional Comunista seguiu nesta questão, desde os primórdios, o caminho da Associação Internacional de Trabalhadores.
No II Congresso da Internacional Comunista, tomaram parte também representantes dos sindicatos revolucionários, e, em particular, da C.N.T. anarco-sindicalista da Espanha. O regulamento adotado pelo II Congresso da Internacional Comunista, diz:
“Os sindicatos que se colocam no terreno do comunismo, e que formam grupos internacionais sob o controle do Comité Executivo da I.C., constituem uma Seção Sindical da Internacional Comunista. Os sindicatos comunistas enviam um representante ao Comité Executivo da I. C., com direito a voz e voto. O Comité Executivo da I. C. tem o direito de enviar à Seção Sindical da I.C., seu representante, com direito a voz e voto.”
Esse ponto de vista da Internacional Comunista exposto em uma série de documentos, antes já do II Congresso, serviu de ponto de partida para a diferenciação política nos sindicatos revolucionários. Os sindicatos, solidamente conquistados pelos comunistas, empreenderam a cristalização orgânica da orientação recebida. Assim, o III Congresso dos Sindicatos da Federação de Repúblicas Socialistas Soviéticas Russas (março de 1920), adotou a seguinte resolução, sobre o movimento sindical internacional:
“A luta do proletariado internacional realiza-se, não para a reforma do capitalismo, mas para a sua abolição. No transcorrer da luta revolucionária, todos os elementos revolucionários conscientes unem-se, em maior quantidade e com mais decisão dia a dia, nas fileiras da III Internacional, como organização que encarna a revolução proletária mundial. Os sindicatos russos, que participaram ao lado do Partido Comunista, na luta contra o capitalismo na Rússia, não podem permanecer fora da III Internacional; por isso, o III Congresso dos Sindicatos resolve:
Ingressar na III Internacional Comunista, convocando os sindicatos revolucionários de todos os países a seguir o exemplo proletariado russo organizado.”(9)
Só o movimento sindical mais avançado, dirigido pelo Partido Bolchevista, pôde adotar tal decisão. Entre os sindicatos revolucionários dos países capitalistas, que apenas começavam a cristalizar-se no seio do movimento reformista e anarquista, a Resolução do III Congresso foi interpretada como uma limitação do papel dos sindicatos. Os anarco-sindicalistas, que, naquele período, estavam inclinados a unir-se conosco, começaram a experimentar dificuldades, ante os ataques dos anarquistas, que interpretavam as decisões da Internacional Comunista, como expressão da independência orgânica dos sindicatos, etc.
Era evidente que esta resolução, justa em princípio, e de conformidade com as tradições da Internacional, era prematura e podia retardar o desenvolvimento do movimento sindical revolucionário nos países capitalistas, a caminho da Internacional Comunista. Quando a C.G.T.U. francesa apresentou, em 1922, como condição de ingresso à I.S.V., a representação recíproca dos Executivos da Internacional Comunista e da I.S.V., aceitamos, seguindo o conselho de Lenine, e assinalamos, em nossa declaração, que continuaríamos reconhecendo o papel dirigente da Internacional Comunista em relação à Internacional Sindical Vermelha. A experiência demonstrou ser melhor aplicar nossa política, por meio da facção comunista, do que por meio de uma representação recíproca estatutária. Porém, a questão de princípio, apresentada pela Associação Internacional de Trabalhadores, por sua estrutura e princípios, continua subsistindo. Entrarão algum dia os sindicatos revolucionários na Internacional Comunista ou seu ingresso é inadmissível, sob o ponto de vista de princípios? Esta pergunta só pode ter uma resposta: sob o ponto de vista de princípios, é provável e politicamente admissível.
O tipo de estrutura da Internacional revolucionária não significa a fusão do Partido com os sindicatos, nem a dissolução do Partido nos sindicatos; é, simplesmente, a síntese das duas formas do movimento proletário, em uma Internacional única. Sublinhei: de duas, e não de todas as formas do movimento proletário, porque, depois da vitória da Revolução de outubro, a antiga divisão clássica do movimento proletário em três formas, — partido, sindicatos e cooperativas — caducou.
A revolução proletária na Rússia destacou os Soviets como forma fundamental da ditadura do proletariado. Num futuro próximo, será estabelecida a seguinte divisão:
A vitória da revolução proletária não resolveu o velho problema: partido — sindicato — classe. Apresenta-o, porém, sob nova forma. Se os sindicatos devem reunir “de modo absoluto, todo proletariado” (Lenine), o Partido agrupa em si, durante o período de transição, somente a vanguarda, que constitui a parte mais avançada, mais consciente. Cogitar, durante o período de transição, do problema da fusão do Partido com os sindicatos, significa cogitar da fusão do Partido com a classe, isto é, a dissolução do Partido na classe, o desaparecimento do Partido, coisa absolutamente inconcebível sem a abolição das classes e sem a implantação do comunismo, no mundo inteiro.
A respeito, a mesma resolução do II Congresso da Internacional Comunista, corrigida e completada por Lenine, dá a seguinte resposta:
“A necessidade de um partido político do proletariado só desaparece, quando deixarem de existir as classes sociais. Em sua marcha para a vitória definitiva do comunismo, é possível que o peso específico das três organizações proletárias fundamentais da atualidade (partido, Soviets e sindicatos de indústrias) mude, e que se vá cristalizando, gradualmente, em um tipo único de organização proletária. Mas, o Partido Comunista só se dissolverá no seio da classe proletária, quando o Comunismo deixar de ser um objetivo de luta e toda a classe proletária converter-se a ele.” (II Congresso da I.C.).
Por isso, não se pode nem se deve cogitar atualmente da fusão do Partido com os sindicatos. Não resta dúvida porém, que, quando atingirmos uma etapa determinada, poder-se-á empreender a criação de uma Internacional única.
A Internacional Comunista cresceu, paralelamente à U.R.S.S., e ao desenvolvimento do movimento proletário internacional. À proporção que a Internacional Comunista e a Internacional Sindical Vermelha conquistem as massas do reformismo internacional, e se produza a concentração das forças do proletariado mundial sob a bandeira do comunismo, aumentará e se robustecerá a ligação entre a Internacional Comunista e o movimento sindical revolucionário mundial. Destarte serão criadas as condições para a existência de uma Internacional única de combate. Assim uma vez alcançada uma etapa determinada da luta, a Internacional Sindical Vermelha poderá ser também, organicamente, parte da Internacional Comunista.
Estas perspectivas não são inventadas.
Baseiam-se no inventário das tendências do desenvolvimento da política, da economia e do movimento proletário mundial. Alicerçam-se em massa firme e inabalável convicção científica de que a vitória do marxismo-leninismo no mundo inteiro é definitiva e segura.
Em toda a nossa política, estratégia e tática, guiamo-nos por esta máxima de Lenine: “A doutrina de Marx é toda-poderosa, porque é verdadeira.”
Notas de rodapé:
(1) Lenine: “Hyndmann sobre Marx”. (retornar ao texto)
(2) V. Yarotski: “A história, a teoria e a prática do movimento sindical”. — l.a parte: “A essência do movimento sindical”, Ed. da C. G. T. Soviética, p. 31-32. (retornar ao texto)
(3) II Congresso da I. C. Relatório Taquigráfico. (retornar ao texto)
(4) Yarotski: “A história, teórica e prática do movimento sindical”. (retornar ao texto)
(5) Stalin: “Fundamentos do Leninismo”. (retornar ao texto)
(6) Lenine. T. XX — 1.° ponto. p. 493. (retornar ao texto)
(7) G. Seidel: “Ensaio sobre a história da II Internacional”. (retornar ao texto)
(8) K. Marx: Crítica do Programa de Gotha. (retornar ao texto)
(9) Resoluções e decisões do III Congresso Sindical. (retornar ao texto)
(10) Sobre o papel do Partido Comunista na revolução proletária, ver versão taquigráfica do II Congresso da I. C., pg. 512. (retornar ao texto)
Inclusão | 18/09/2019 |