A cada dia que passa, vários companheiros passam à ilegalidade e são substituídos no trabalho legal por novos membros que poderão, mais hoje, mais amanhã, se submeter ao batismo de fogo da prisão. Portanto, devemos ter diante da repressão policial da ditadura uma opinião preconcebida, amadurecida, trabalhada antecipadamente, enfim uma preparação ideológica para enfrentarmos os brutais beleguins nacionais ou estrangeiros. Claro está que o comportamento de um militante depende da capacidade ideológica adquirida, da coragem física do mesmo e, principalmente, da convicção e certeza de vitória da causa que abraçou como seu ideal. Fortalecer a vontade em levá-la até as últimas consequências, a Revolução, ajuda muito a resistir a todos os reveses sofridos, quer políticos, quer físicos. Devemos assim enxergar somente diante de nós as tarefas partidárias. Colocá-las acima de tudo. E uma dessas é a resistência à repressão brutal da polícia ou agentes das forças armadas quando caímos na cadeia.
Para reforçar toda esta capacidade, temos de conhecer truques e métodos do inimigo a fim de visualizarmos a cada instante um pensamento, não muito comum a certas pessoas: devemos odiar veementemente a burguesia, seus conceitos e principalmente seus órgãos de repressão utilizados contra os revolucionários.
Odiar a polícia é o primeiro passo para não transigir, não vacilar. Tê-la como monstro brutal cujo produto é o esmagamento físico dos revolucionários é um dever sagrado, consciente, sem contestação para o militante. Da profundidade com que cala em sua consciência esse pensamento, subsídio de sua ideologia, depende e decide, na maioria das vezes, o comportamento de um revolucionário.
O primeiro fato que um militante deve aprender é que a polícia tem um objetivo primordial: retirar um depoimento do patriota quando ele está na cadeia. Para tanto, utiliza todos os métodos ao seu alcance desde morder e soprar, como as baratas, até o fuzilamento simulado ou real.
É preciso compreender que a polícia não muda em seu conteúdo, ela é como o imperialismo, sua face brutal pode estar encoberta, mas seus tentáculos monstruosos de polvo faminto estão nos rodeando para nos esmagar. Seus métodos mais comuns são os da violência física, tais como: fuzilar, queimar com cigarros ou charutos, arrancar unhas, cortar aos poucos a pele do militante com lâminas, castrar, queimar com vela ou isqueiro a gás os testículos ou vagina do ou da militante, introduzir lápis nos ouvidos, o telefone (bater com as mãos em concha nos dois ouvidos), deixar isolado e desnudo o patriota em uma cela imunda, fria, submeter a processos de inanição, seviciar das mais variadas formas (com cacete, barra de ferro, no Vietnã utilizam garrafas quebradas), o “pau de arara” (colocar durante várias horas o militante amarrado pelas pernas de cabeça para baixo e bater constantemente), o “caldo” (manter o militante com a cabeça submersa em um líquido), introduzir pela boca substâncias que provoquem a diarreia e desidratação para tentar o militante com água e remédios, submeter o militante a luz intensa a fim de provocar sede e ainda uma infinidade de torturas inventadas e especializadas na “aprendizagem” dos truculentos agentes da ditadura através dos anos. Para isso não só aprendem cá em nosso país, como também fazem cursos de especialização no exterior com a CIA, PIDE etc.
Assim sendo, devemos combater qualquer tentativa de apresentar tal ou qual agente inimigo como “mais humano”. Isso é uma opinião traiçoeira e inoportuna, serve para desarmar outros militantes e retirar da população todo o ódio que ela dedica aos policiais, todo nojo que o povo tem para com os torturadores. Mostrar os Papa Docs como diferentes dos Ton Macoutes é o mesmo que declarar a inexistência de ligação entre a Casa Branca e o Pentágono. Entre eles não há diferença alguma. Apenas, em certos casos, aplicam a mesma política, beligerante e violenta, com forma aveludada, porém mais perigosa. Destarte, ninguém tem o direito de dizer que tal ou qual “tira” é “bonzinho” ou me tratou melhor ou ainda “que o exército, marinha ou aeronáutica tratam os presos diferentemente da polícia”, pois o policial violento ou de fala macia fazem parte de um só esquema, corromper o militante para ele revelar os segredos da sua organização.
Se durante a prisão os repressores utilizassem somente os métodos violentos, nenhum militante teria necessidade de conhecer a experiência de outros companheiros que passaram pela prisão, porém isso não ocorre e, como já dissemos, qualquer argumento e método é válido para os órgãos de repressão, desde que o preso dê o “serviço” (gíria policial).
Portanto, nosso objetivo é alertar, prevenir, despertar o membro do Partido para as artimanhas da polícia. Por outro lado, delinear de forma ampla normas de comportamento na prisão diante dos carniceiros da polícia para objetivar nossos intentos de formar uma couraça protetora ideológica a fim de educar nossos militantes para ter sempre e praticamente uma posição que se aproxime ou se iguale à grande máxima do revolucionário: não revelar nada ao inimigo, estando ou não na cadeia.
A primeira, melhor, mais consequente, mais corajosa forma de comportamento do militante ao ser preso é não depor. Nada dizer, nada falar, nem nome, residência, filiação etc. Calar, calar, calar, diante de qualquer pergunta, qualquer tortura. Partir da opinião de que, se falar, sofrerá, caso contrário também estará sofrendo e, assim sendo, escolher o primeiro caminho que é mais digno. Este deve ser, em princípio, a forma escolhida pelos dirigentes. Estes não têm a tratar com os Filinto Müller ou Chico Pinote. Não têm a justificar ou depor. Seus depoimentos, diante dos tribunais, devem se constituir em peças de acusação contra os algozes do povo, contra os inimigos da pátria, contra os entreguistas da ditadura.
A segunda é estabelecer mentalmente a concatenação de um depoimento curto, “bastante real”, a fim de “convencer” os carcereiros e mantê-lo sempre presente em qualquer declaração prestada. Este depoimento deve se constituir de uma história pequena a fim de não entrar em contradição e que possua em perspectiva uma “verdade” e um amontoado de mentiras na realidade. Ele não deve conter nomes, endereços, telefones, enfim nenhuma informação precisa capaz de possibilitar novas detecções. Partir sempre do ponto de vista de que a polícia, normalmente, sabe poucas informações e grandemente espalhadas e de maneira vaga. Portanto, não devemos dar brechas a que ela forme uma opinião sistematizada ou atualize seu fichário ou conhecimentos e caso isto aconteça ela ou ele seja bastante inverídico e ridículos. Depondo desta forma terá o companheiro que admitir alguma ligação, mas nunca a participação com o Partido.
A terceira forma é depor com as mesmas características da anterior, mas sem admissão ou ligação com o Partido ou outras organizações. Normalmente isso ocorre com estudantes e elementos de base que nunca foram presos anteriormente. Os militantes classificados neste último caso, mesmo presos com documentos, podem negar participação com as organizações, rechaçando ser de sua propriedade os documentos. Devemos não perder de vista o exemplo dos vietcongs que negam a propriedade de granadas encontradas em seus bolsos, alegando que a polícia as colocara para incriminá-los.
A classificação de quem deve ou não depor desta ou daquela forma é arbitrária, não é sistemática. O importante é manter a calma, a lucidez e a polícia “desinformada”, enfim, não delatar. Entretanto, aos elementos dirigentes reconhecidamente comunistas, ridículo, reprovável, errado e desprestigiador seria bancar o inocente, a estes só o primeiro caso é realmente válido, ou quando fraquejarem só lhes resta a segunda forma. Outra certeza de que devem todos ter é que cada palavra aberta conduz imediatamente à exigência de outra, cada informação, mesmo “insignificante”, leva no aperto da polícia para querer outra. Ela nunca se contenta. E devemos ter em mente: calar, negar, mentir, resistir às torturas dos brutais e repulsivos vermes da polícia. Desinformar, despistar, não servir ao inimigo deve ser nosso lema.
A polícia, para consecução de seus objetivos e durante os interrogatórios e depoimentos, várias armadilhas são engendradas para retirar informações, corromper, debilitar a vigilância dos revolucionários e comprometê-los com algum problema que ela não resolveu e deseja arranjar um “bode” como responsável. A mais comum é a apresentação do preso, após um certo tempo de espera em um banco, com um “tira-mor” que afirma saber de tudo e ser experiente, alardeando uma série de experiências de anos de seu “trabalho” e desfiando uma cantilena onde cita vários presos, na sua maioria ilustres patriotas e comunistas, os quais, segundo o policial, ao passarem por seus interrogatórios, tudo confessaram. Assim tenta ele convencer o militante a delatar, baseando-se na pseudo-fraqueza dos companheiros ou elementos de outras organizações mencionados por ele antecipadamente. É tudo artimanha para debilitar o moral do revolucionário inexperiente. Outro modo antigo é pedir para o militante confessar tudo, pois outro companheiro já disse, já revelou todos os segredos da organização. O membro consequente, revolucionário, não deve dar ouvidos às lábias do “tira”. Se aceitar o “diálogo”, coisa que normalmente não deve fazer e sim fazer ouvidos de mercador, pedir para ler o depoimento acusador. Caso seja verídico (observar a assinatura e ler o depoimento todo, isto leva tempo e pode dar ao militante que está sendo interrogado, ficar por dentro, mais ou menos, do que realmente a polícia sabe. Não aceitar ler somente partes do depoimento, pois podem ter sido forjados) negar tudo e afirmar que o decaído falou por ter sido torturado. Levantar o moral do militante falante, quando possível, durante uma acareação e tentar transformá-la em acusação aos policiais por suas torturas infringidas a ambos. Devemos sempre utilizar esse método quando o companheiro, ainda recuperável, vacilou e “abriu o bico”. Com os irrecuperáveis, negar o conhecimento e dizer que ele é um agente provocador. Alertar-se inclusive para o famoso truque da publicação de depoimentos fantasmas nos jornais. A polícia nunca nos deixa ler nenhum órgão de divulgação de notícias, quando faz é porque deve ter um objetivo, uma armadilha. Esta é a maneira hábil com que ela tenta incompatibilizar os militantes presos. Nunca um revolucionário deve acusar um militante que vacilou e falou retrucando o que ele era, que sabia isso ou aquilo, esta é uma maneira errada de se desvencilhar das acusações. Devemos sempre estar com o desconfiômetro apontado constantemente para o inimigo. Raciocinar que ele está dizendo uma verdade é o primeiro passo para uma delação absurda e gratuita, que conduzirá o militante pelos caminhos da desonra. O pedido para identificar manuscritos, fotos, saber autores de trabalhos ou publicações deve ser rechaçado sem nem pestanejar ou titubear. Este ardil tenta nos comprometer com alguns esquemas do qual normalmente nem conhecimento temos e a tática já anteriormente falada de arranjar um bode expiatório. Não devemos nos iludir com gravações de depoimentos, ou acareações com olhos vendados. Ambos os métodos por sua forma já revelam a cumbuca onde querem nos forçar a colocar a mão. Mas “macaco velho não põe a mão em cumbuca”. Assim devemos também agir não nos deixar impressionar, mesmo que a voz que está ao nosso lado seja parecida com a de um companheiro.
Qualquer depoimento que o militante preste deve ser lido antes de assiná-lo e sempre bem junto da última linha escrita. Nunca por hipótese nenhuma assinar sem ler, folha em branco, ou deixando espaço em branco, entre a linha última datilografada ou manuscrita.
Ameaças a familiares também estão na ordem do dia do policial para chantagear com o militante e forçar uma confissão. Esta chantagem deve ser repelida prontamente taxando o “tira” de criminoso e assassino. Desprezar também as ameaças de morte, pois a polícia quando vai executar, ela não avisa e sim realiza. A maioria dos casos de ameaça de morte ou fica na ameaça ou é simulado um fuzilamento com tiro de festim. Nossa consciência revolucionária, nesses instantes, deve estar preparada pelos constantes momentos em que nos arriscamos. Perder o medo de arriscar a vida é uma disposição inicial preparatória para ter o desprezo pela morte e sacrificar a vida, em nome e benefício da organização e da Revolução.
Se tivermos a capacidade em nos comportarmos segundo sugestões anteriores determinadas pelo Partido, conseguindo com isso anular a nefasta intromissão da polícia nas organizações do Partido, honraremos bravamente o nome de comunistas revolucionários e poderemos nos colocar, por direitos adquiridos, no Panteão dos mártires que lutaram pelos interesses de sua pátria e pela construção de uma sociedade socialista e comunista.