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Primeira edição: Pravda, nº 132, 11 de junho de 1913. Assinado V. I. V. I. Lênin, Obras, 4.ª ed. em russo, t. 19, págs. 179/181
Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 301-303
Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz
HTML: Fernando Araújo.
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Nos jornais e revistas populistas encontramos com frequência a afirmação de que os operários e os camponeses «trabalhadores» constituem uma só classe.
A completa inexatidão desta opinião é evidente para quantos compreendam que em todos os Estados contemporâneos domina a produção capitalista mais ou menos desenvolvida, isto é, o arbítrio do capital no mercado e a transformação por ele das massas trabalhadoras em operários assalariados. O chamado camponês «trabalhador» é, na realidade, um pequeno proprietário ou um pequeno-burguês, que quase sempre aluga a outros seu trabalho ou contrata ele mesmo operários. O camponês «trabalhador», em sua qualidade de pequeno proprietário, vacila também em política entre os patrões e os operários, entre a burguesia e o proletariado.
Uma das confirmações mais eloquentes desta natureza de proprietário, ou de burguês, do camponês «trabalhador» pode ser encontrada nos dados sobre o trabalho assalariado na agricultura. Os economistas burgueses (inclusive os populistas) cantam loas geralmente à «vitalidade» da pequena produção na agricultura, compreendendo por pequena uma exploração agrícola que não exige trabalho assalariado. Mas não lhes agradam os dados exatos sobre o trabalho assalariado entre os camponeses!
Vejamos os dados reunidos sobre esta questão pelos censos agrícolas mais recentes: o austríaco de 1902 e o alemão de 1907.
Quanto mais desenvolvido está o país, mais forte é o trabalho assalariado na agricultura. Na Alemanha, de um total de 15 000 000 de pessoas ocupadas na agricultura, 4 500 000 são assalariados, isto é, cerca de 30%; na Áustria, de 9 000 000, 1 250 000, isto é, cerca de 14%. Mas mesmo na Áustria, se tomamos as propriedades incluídas usualmente entre as camponesas (ou «trabalhadoras»), ou seja, as que têm de 2 a 20 hectares de terra (um hectare equivale a 9/10 de deciatina), comprovaremos um considerável desenvolvimento do trabalho assalariado. Explorações agrícolas de 5 a 10 hectares, 383 000; delas, 126 000 com assalariados. Explorações de 10 a 20 hectares, 242 000; delas, 142 000 (cerca de 3/5) com assalariados.
Assim, pois, a pequena agricultura camponesa («trabalhadora») explora centenas de milhares de operários assalariados. Quanto maior é a exploração agrícola, maior é o número de operários assalariados, ao lado de forças de trabalho familiares mais consideráveis. Na Alemanha, por exemplo, para cada 10 explorações camponesas correspondem os seguintes operários:
Explorações | Familiares | Assalariados | Total |
---|---|---|---|
2 a 5 hectares | 25 | 4 | 29 |
5 a 10 hectares | 31 | 7 | 38 |
10 a 20 hectares | 34 | 17 | 51 |
Os camponeses mais acomodados, que têm mais terra e maior número de trabalhadores «próprios» na família, contratam, além disto, um número maior de assalariados.
Na sociedade capitalista, que depende integralmente do mercado, a produção pequena (camponesa) maciça na agricultura é impossível sem o emprego em massa do trabalho assalariado. A expressão açucarada camponês «trabalhador» não faz senão enganar o operário, encobrindo esta exploração do trabalho assalariado.
Na Áustria, cerca de 1500 000 explorações camponesas (de 2 a 20 hectares) contratam meio milhão de operários assalariados. Na Alemanha, 2 000 000 de explorações camponesas contratam mais de 1 500 000 operários assalariados.
E os proprietários ainda menores? Eles próprios se deixam contratar! São operários assalariados com um pedaço de terra. Na Alemanha, por exemplo, calcula-se que existem aproximadamente três milhões e meio (3 378 509) de explorações com menos de 2 hectares. Nelas, os agricultores independentes somam menos de meio milhão (474 915), e os operários assalariados, pouco menos de dois milhões (1 822 792)!
Portanto, a própria situação dos pequenos agricultores na sociedade contemporânea os converte de modo inevitável em pequeno-burgueses, que vacilam constantemente entre os operários assalariados e os capitalistas. A maioria dos camponeses vive na miséria e se arruína, proletarizando-se, enquanto a minoria segue os capitalistas e ajuda a fazer com que dependam deles as massas da população rural. Daí que, em todos os países capitalistas, a massa do campesinato permaneça ainda à margem do movimento socialista dos operários, aderindo a diversos partidos reacionários e burgueses. Só uma organização independente dos operários assalariados, que mantenha uma luta de classes, consequente, está em condições de arrancar o campesinato da influência da burguesia e explicar-lhe a situação, completamente sem saída, dos pequenos produtores na sociedade capitalista.
A situação dos camponeses na Rússia em relação ao capitalismo é inteiramente igual à que vimos na Áustria, na Alemanha, etc. Nossa «peculiaridade» consiste em nosso atraso: diante do camponês se levanta o grande proprietário agrícola ainda não capitalista, e sim feudal, que é o apoio principal do atraso econômico e político da Rússia.