III Congresso da Internacional Comunista(N262)

V. I. Lénine

22 de junho-12 de julho de 1921

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Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Edições "Avante!", 1977, t3, pp 525-543.
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t.44, pp. pp. 3-12, t. 52, pp. 265-269, t. 44, pp. 23-33.
Transcrição e HTML: Manuel Gouveia
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" — Edições Progresso Lisboa — Moscovo.

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TESES DO RELATÓRIO SOBRE A TÁCTICA DO PCR(N263)

1. A SITUAÇÃO INTERNACIONAL DA RSFSR

A situação internacional da RSFSR é caracterizada neste momento por um certo equilíbrio, que, embora sendo extremamente instável, criou no entanto uma conjuntura peculiar na política mundial.

Essa peculiaridade consiste no seguinte: por um lado, a burguesia internacional está cheia de ódio raivoso e de hostilidade contra a Rússia Soviética e está pronta a todo o momento a lançar-se sobre ela para estrangulá-la. Por outro lado, todas as tentativas de intervenção militar, que custaram a essa burguesia centenas de milhões de francos, terminaram por um completo fracasso, apesar de o Poder Soviético ser então mais fraco do que agora e os latifundiários e capitalistas russos terem exércitos inteiros no território da RSFSR. Em todos os países capitalistas fortaleceu-se extraordinariamente a oposição à guerra contra a Rússia Soviética, alimentando o movimento revolucionário do proletariado e ganhando massas muito amplas da democracia pequeno-burguesa. As divergências de interesses entre os diferentes países imperialistas agravaram-se e agravam-se de dia para dia. O movimento revolucionário cresce com uma força notável entre as centenas de milhões de homens dos povos oprimidos do Oriente. Em resultado de todas estas condições, o imperialismo internacional não foi capaz de estrangular a Rússia Soviética, apesar de ser muito mais forte do que ela, e viu-se obrigado temporariamente a reconhê-la ou a semi-reconhecê-la, a negociar tratados comerciais com ela.

Resultou daí um equilíbrio extremamente precário, extremamente instável, mas mesmo assim um equilíbrio tal que torna possível, não por muito tempo, naturalmente, a existência da República Socialista no cerco capitalista.

2. CORRELAÇÃO DAS FORÇAS DE CLASSE À ESCALA INTERNACIONAL

Com base em tal estado de coisas, a correlação das forças de classe à escala internacional é a seguinte:

A burguesia internacional, não tendo possibilidade de fazer abertamente a guerra contra a Rússia Soviética, espera, espreita o momento em que as circunstâncias lhe permitam reiniciar essa guerra.

O proletariado dos países capitalistas avançados formou já por toda a parte a sua vanguarda, os partidos comunistas, que crescem, avançando com firmeza para a conquista da maioria do proletariado em cada país, destruindo a influência dos velhos burocratas trade-unionistas e da camada superior da classe operária da América e da Europa, corrompida pelos privilégios imperialistas.

A democracia pequeno-burguesa dos países capitalistas, representada na sua parte avançada pela II Internacional e pela Internacional II 1/2, constitui actualmente o principal apoio do capitalismo, porque continua sob a sua influência a maioria ou uma parte considerável dos operários e empregados da indústria e do comércio, que receiam perder, em caso de revolução, o seu relativo bem-estar pequeno-burguês, criado pelos privilégios do imperialismo. Mas a crescente crise económica piora em toda a parte a situação das amplas massas, e esta circunstância, a par da inevitabilidade cada vez mais evidente de novas guerras imperialistas se o capitalismo se mantiver, torna cada vez mais precário o referido apoio.

As massas trabalhadores dos países coloniais e semicoloniais, que constituem a imensa maioria da população da Terra, foram já despertadas para a vida política desde princípios do século XX, sobretudo pelas revoluções da Rússia, da Turquia, da Pérsia e da China. A guerra imperialista de 1914-1918 e o Poder Soviético na Rússia transformam definitivamente essas massas num factor activo da política mundial e da destruição revolucionária do imperialismo, embora os filisteus instruídos da Europa e da América, incluindo os chefes das Internacionais II e II 1/2, continuem obstinados em não ver isto. Esses países são encabeçados pela índia britânica, onde a revolução cresce com tanto maior rapidez quanto maior importância adquire ali, por um lado, o proletariado industrial e ferroviário, e, por outro lado, quanto mais feroz se torna o terror dos ingleses, que recorrem cada vez com maior frequência aos massacres (Amritsar(N264) ), aos açoites públicos, etc.

3. CORRELAÇÃO DAS FORÇAS DE CLASSE NA RÚSSIA

A situação política interna da Rússia Soviética define-se pelo facto de que aqui, pela primeira vez na história universal, vemos que existem apenas, ao longo de toda uma série de anos, duas classes: o proletariado, educado ao longo de decénios por uma grande indústria mecanizada moderna, apesar de muito jovem, e o pequeno campesinato, que constitui a imensa maioria da população.

Os grandes proprietários agrícolas e os capitalistas não desapareceram na Rússia, mas foram submetidos a uma expropriação completa e foram completamente derrotados no terreno político como classe, cujos restos foram esconder-se entre os funcionários públicos do Poder Soviético. Conservaram a sua organização de classe no estrangeiro como emigração, que conta provavelmente milhão e meio ou dois milhões de pessoas e tem mais de meia centena de jornais diários de todos os partidos burgueses e «socialistas» (isto é, pequeno-burgueses), restos do exército e numerosas ligações com a burguesia internacional. Esta emigração trabalha com todas as suas forças e por todos os meios para destruir o Poder Soviético e restaurar o capitalismo na Rússia.

4. O PROLETARIADO E O CAMPESINATO NA RÚSSIA

Dada esta situação interna da Rússia, a tarefa principal do momento do seu proletariado, como classe dominante, consiste em determinar e aplicar acertadamente as medidas necessárias para dirigir o campesinato, para estabelecer com ele uma firme aliança, para realizar uma longa série de transições graduais para a grande agricultura colectiva mecanizada. Esta tarefa é na Rússia particularmente difícil, tanto pelo atraso do nosso país como em consequência da sua extrema ruína depois de sete anos de guerra imperialista e de guerra civil. Mas, mesmo abstraindo dessa particularidade, esta tarefa pertence ao número das tarefas mais difíceis da construção socialista que se colocam perante todos os países capitalistas, talvez com excepção apenas da Inglaterra. Mas, mesmo no que se refere à Inglaterra, não se deve esquecer que, embora seja ali particularmente pouco numerosa a classe dos pequenos agricultores rendeiros, em contrapartida é excepcionalmente elevada a percentagem de operários e empregados que vivem como pequenos burgueses em consequência da escravidão de facto de centenas de milhões de pessoas nas colónias «pertencentes» à Inglaterra.

Por isso, do ponto de vista do desenvolvimento da revolução proletária mundial, como processo único, a importância da época que a Rússia atravessa consiste em experimentar e verificar na prática a política do proletariado, que detém o poder de Estado nas suas mãos, em relação à massa pequeno-burguesa.

5. ALIANÇA MILITAR DO PROLETARIADO E DO CAMPESINATO NA RSFSR

A base das relações justas entre o proletariado e o campesinato na Rússia Soviética foi criada pela época de 1917-1921, quando a invasão dos capitalistas e latifundiários, apoiados por toda a burguesia mundial e por todos os partidos da democracia pequeno-burguesa (socialistas-revolucionáríos e mencheviques), criou, consolidou e formalizou a aliança militar do proletariado e do campesinato em defesa do Poder Soviético. A guerra civil é a forma mais aguda da luta de classes, e quanto mais aguda é esta luta, com tanto maior rapidez se consomem nas suas chamas todas as ilusões e preconceitos pequeno-burgueses, com tanto maior evidência a própria prática mostra, mesmo às camadas mais atrasadas do campesinato, que só a ditadura do proletariado o pode salvar, que os socialistas-revolucionários e os mencheviques não são de facto mais do que lacaios dos latifundiários e dos capitalistas.

Mas se a aliança militar entre o proletariado e o campesinato foi — e não podia deixar de ser — a primeira forma duma aliança sólida entre eles, ela não teria podido manter-se nem mesmo algumas semanas sem uma certa aliança económica entre as referidas classes. O camponês obteve do Estado operário toda a terra e a protecção contra o latifundiário, o kulaque; os operários obtiveram dos camponeses víveres a título de empréstimo, até ao restabelecimento da grande indústria.

6. PASSAGEM A RELAÇÕES ECONÓMICAS JUSTAS DO PROLETARIADO E DO CAMPESINATO

Do ponto de vista socialista, a aliança entre os pequenos camponeses e o proletariado só pode ser totalmente justa e firme quando os transportes e a grande indústria, completamente restabelecidos, permitirem ao proletariado dar aos camponeses, em troca dos produtos agrícolas, todos os produtos industriais de que necessitam para si e para melhorar as suas explorações. Com a imensa ruína do país, isto de modo nenhum podia ser alcançado imediatamente. A requisição foi a medida mais acessível para um Estado insuficientemente organizado, para se manter numa guerra de incríveis dificuldades contra os latifundiários. A má colheita e a escassez de forragens em 1920 agravaram particularmente a já dura miséria dos camponeses, tornando absolutamente necessária a passagem imediata ao imposto em espécie.

Um imposto em espécie moderado introduz imediatamente uma grande melhoria na situação do campesinato, interessando-o ao mesmo tempo na extensão do cultivo e no aperfeiçoamento da agricultura.

O imposto em espécie é a passagem da requisição de todos os excedentes de cereais do camponês para uma troca socialista justa de produtos entre a indústria e a agricultura.

7. SIGNIFICADO E CONDIÇÕES DA ADMISSIBILIDADE DO CAPITALISMO E DAS CONCESSÕES PELO PODER SOVIÉTICO

O imposto em espécie, naturalmente, significa que o camponês tem a liberdade de dispor dos exce-dentes que lhe ficam depois de pagar o imposto. Enquanto o Estado não puder fornecer ao campo-nês produtos das fábricas socialistas em troca de todos esses excedentes, a liberdade de comerciar com os excedentes significa inevitavelmente liberdade de desenvolvimento do capitalismo.

No entanto, dentro dos limites indicados, isto não representa qualquer perigo para o socialismo, enquanto os transportes e a grande indústria continuarem nas mãos do proletariado. Pelo contrário, o desenvolvimento do capitalismo controlado e regulado pelo Estado proletário (isto é, neste sentido do termo capitalismo «de Estado») é vantajoso e necessário (naturalmente, só até certo ponto) num país de pequenos camponeses, extraordinariamente arruinado e atrasado, porque está em condições de acelerar um ascenso imediato da agricultura camponesa. Isto aplica-se mais ainda às concessões: sem fazer qualquer desnacionalização, o Estado operário concede de arrendamento determinadas minas, florestas, explorações petrolíferas, etc., a capitalistas estrangeiros, para obter deles instrumentos e máquinas suplementares que nos permitam apressar o restabelecimento da grande indústria soviética.

O pagamento aos concessionários sob a forma de uma parte desses produtos de alto valor é sem dúvida um tributo do Estado operário à burguesia mundial; sem de modo nenhum dissimular isto, devemos compreender claramente que nos convém pagar este tributo desde que se acelere o 'restabelecimento da nossa grande indústria e se consiga uma séria melhoria da situação dos operários e dos camponeses.

8. OS ÊXITOS DA NOSSA POLÍTICA DE ABASTECIMENTO

A política de abastecimento da Rússia Soviética em 1917-1921 foi sem dúvida muito rudimentar, imperfeita, deu lugar a muitos abusos. Cometeram-se muitos erros na sua aplicação. Mas ela era em suma a única possível naquelas condições. E cumpriu a sua missão histórica: salvou a ditadura proletária num país atrasado e em ruína. É um facto indiscutível que ela se aperfeiçoou gradualmente. Durante o primeiro ano em que tivemos todo o poder (1.VIII.1918-1.VIII.1919) o Estado recolheu 110 milhões de puds de cereais; no segundo, 220; no terceiro, mais de 285. Actualmente, contando já com uma experiência prática, propomo-nos a tarefa de recolher e contamos recolher 400 milhões de puds (o volume do imposto em espécie é de 240 milhões de puds). Só possuindo efectivamente um fundo de víveres suficiente o Estado operário poderá manter-se firmemente de pé no aspecto económico, assegurar um restabelecimento lento mas constante da grande indústria e criar um sistema financeiro adequado.

9. A BASE MATERIAL DO SOCIALISMO E O PLANO DE ELECTRIFICAÇÃO DA RÚSSIA

A base material do socialismo só pode ser a grande indústria mecanizada, capaz de reorganizar também a agricultura. Mas não devemos limitar-nos a esta tese geral. É preciso concretizá-la. Uma grande indústria ao nível da técnica mais moderna e capaz de reorganizar a agricultura supõe a electrificação de todo o país. Tínhamos de elaborar cientificamente o plano dessa electrificação da RSFSR, e fizemo-lo. Com a colaboração de mais de 200 dos melhores cientistas, engenheiros e agrónomos da Rússia, esta obra foi terminada, impressa num grosso volume e, no seu conjunto, foi ratificada pelo VIII Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia em Dezembro de 1920. Presentemente está já preparada a convocação de um congresso de electrotécnicos de toda a Rússia, que se realizará em Agosto de 1921 e examinará em pormenor este trabalho, depois do que ele será definitivamente ratificado pelo Estado(N265). Os trabalhos de electrificação estão calculados para dez anos na sua primeira fase; eles exigirão cerca de 370 milhões de jornadas de trabalho.

Enquanto em 1918 construímos 8 novas centrais eléctricas (com 4757 kW), em 1919 este número elevou-se para 36 (com 1648 kW) e para 100 em 1920 (com 8699 kW).

Por muito modesto que seja este princípio para o nosso enorme país, o essencial é que é um princípio, o trabalho começou e prossegue cada vez melhor. Depois da guerra imperialista, depois de um milhão de prisioneiros terem contactado na Alemanha com a técnica moderna, avançada, depois da dura experiência de três anos de guerra civil, dura mas que o temperou, o camponês russo não é já o que era antigamente. De mês para mês vê com maior clareza e evidência que só a direcção do proletariado pode arrancar a massa dos pequenos agricultores da escravidão do capital e conduzi-los ao socialismo.

10. O PAPEL DA «DEMOCRACIA PURA», DAS INTERNACIONAIS II E II ½, DOS SOCIALISTAS-REVOLUCIONÁRIOS E DOS MENCHEVIQUES COMO ALIADOS DO CAPITAL

A ditadura do proletariado não significa o fim da luta de classes, mas a sua continuação sob uma nova forma e com novas armas. Enquanto subsistirem as classes, enquanto a burguesia derrubada num país decuplicar os seus ataques contra o socialismo à escala internacional, essa ditadura é necessária. A classe dos pequenos agricultores não pode deixar de passar por uma série de vacilações na época de transição. As dificuldades da situação de transição e a influência da burguesia provocam inevitavelmente, de tempos a tempos, vacilações no estado de espírito dessa massa. O proletariado, enfraquecido e até certo ponto desclassificado pela destruição da sua base vital — a grande indústria mecanizada —, tem de assumir uma tarefa histórica muito difícil e importantíssima: manter-se firme apesar dessas vacilações e levar a cabo a sua obra de emancipação do trabalho do jugo do capital.

A expressão política das vacilações da pequena burguesia é a política dos partidos democráticos pequeno-burgueses, isto é, dos partidos das Internacionais II e II 1/2, como são na Rússia os partidos dos «socialistas-revolucionários» e dos mencheviques. Tendo actualmente os seus estados-maiores e os seus jornais no estrangeiro, estes partidos actuam de facto em bloco com toda a contra-revolução burguesa e são seus fiéis servidores.

Os chefes inteligentes da grande burguesia russa, e à sua frente Miliukov, chefe do partido dos «democratas-constitucionalistas», apreciaram com toda a clareza, exactidão e franqueza este papel da democracia pequeno-burguesa, isto é, dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques. A propósito da insurreição de Cronstadt, na qual mencheviques e socialistas-revolucionários e guardas brancos uniram as suas forças, Miliukov manifestou-se pela palavra de ordem «Os Sovietes sem os bolcheviques» (Pravda, n.° 64, 1921, citação do Poslédnie Nóvosti(N266) de Paris). Desenvolvendo esta ideia, escrevia: «honra e lugar» aos socialistas-revolucionários e aos mencheviques, porque lhes incumbe a tarefa de serem os primeiros a retirar o poder aos bolcheviques. Miliukov, chefe da grande burguesia, tem perfeitamente em conta as lições de todas as revoluções, que mostraram que a democracia pequeno-burguesa é incapaz de conservar o poder, servindo sempre apenas para encobrir a ditadura da burguesia, apenas como degrau para o poder absoluto da burguesia.

A revolução proletária na Rússia confirma uma e outra vez esta experiência de 1789-1794 e de 1848-1849, confirma as palavras de F. Engels, que, na carta a Bebel de 11.XII. 1884, escrevia:

«... A democracia pura ... em momentos de revolução adquire por breve período uma importância temporária ... no papel de última tábua de salvação de toda a economia burguesa e mesmo feudal... Foi precisamente assim que em 1848 toda a massa burocrático-feudal apoiou de Março a Setembro os liberais para manter submetidas as massas revolucionárias ... Em todo o caso, durante a crise e a seguir a esta, o nosso único adversário é toda a massa reaccionária, agrupada em torno da democracia pura, e creio que em caso nenhum se pode perder isto de vista» (publicado em russo no jornal Kommunistítcheski Trud(N267),1921, n.° 360, de 9.VI.1921, no artigo do camarada V. Adorátski: «Marx e Engels sobre a democracia». Em alemão, no livro: Friedrich Engels, Testamento Político, Berlim, 1920, n.° 12 da Biblioteca Internacional da Juventude, p. 19)(N268).

N. Lénine, Moscovo, Kremlin, 13.VI.1921.

Publicado em 1921, como brochura, em Moscovo, pela Secção de Imprensa da Internacional Comunista.

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OBSERVAÇÕES SOBRE OS PROJECTOS DE TESES SOBRE TÁCTICA PARA O III CONGRESSO DA INTERNACIONAL COMUNISTA
- CARTA A G. E. ZINÓVIEV(N269)

A essência da questão consiste no facto de que politicamente Levi tem razão em muita coisa. Infelizmente, ele cometeu uma série de actos que violam a disciplina, devido aos quais o partido o expulsou.

As teses de Thalheimer e Bela Kun são todas radicalmente falsas politicamente. Frases e jogo ao esquerdismo.

Rádek vacila e estragou o seu projecto inicial com várias cedências às asneiras dos «esquerdas». Mesmo a sua primeira «cedência» não podia ser mais característica: no § 1 das suas teses Umgrenzung derFragen(1*) ele tinha anteriormente: «conquistar a maioria da classe operária (para os princípios do comunismo)» (note bem). Está corrigido (verballhornt(2*)): «conquistar partes socialmente decisivas da classe operária».

Uma pérola! Enfraquecer aqui, neste contexto, a necessidade de conquistar precisamente a maioria da classe operária «para os princípios do comunismo» é o cúmulo do absurdo.

Para conquistar o poder é necessário, dadas certas condições (mesmo quando a maioria da classe operária já está conquistada para os princípios do comunismo), um golpe num lugar decisivo pela maioria das partes socialmente decisivas da classe operária.

Modificar, verballhornen, essa verdade de modo a enfraquecer a tese sobre a necessidade de conquistar a maioria da classe operária no § 1 das tarefas gerais da Internacional Comunista sobre a conquista da classe operáária para os princípios do comunismo, é um exemplo clássico de ingenuidade de Bela Kun e Thalheimer (tem uma aparência sólida, diabos o levem, mas de facto merece ser fustigado) e... de uma transigência apressada de Rádek.

Rádek teve teses excessivamente longas, invertebradas, sem nenhum ponto político central. E Rádek diluiu-as ainda mais, estragando-as por completo.

Que fazer? Não sei. Perdeu-se demasiado tempo e trabalho.

Se não quisermos um combate aberto no congresso, proponho:

  1. ainda hoje (já que Bukháríne assegura que é hoje e não mais tarde que se deve resolver o fundamental: mas seria melhor adiar) rejeitar radicalmente, através duma votação precisa, as teses de Thalheimer e B. Kun como basicamente falsas. Registar isto. Estragar-se-á tudo se não se fizer isto e se se manifestar aqui transigência.
  2. tomar como base o primeiro projecto de Rádek, sem ser «melhorado» com as emendas, das quais citei um exemplo.
  3. encarregar 1-3 pessoas de reduzir esse texto e corrigi-lo de modo a que deixe de ser (se isso é possível!) invertebrado, mas que seja realmente colocado na base, de maneira clara, precisa e inequívoca, como ideias centrais, o seguinte:

Os partidos comunistas não conquistaram ainda, em nenhuma parte, a maioria (da classe operária): não só para uma direcção organizativa, mas também para os princípios do comunismo. Isso constitui a base de tudo. «Enfraquecer» esse fundamento da única táctica razoável é uma leviandade criminosa.

Daí: as explosões revolucionárias são, no entanto, muito possíveis em breve, dada a abundância do material inflamável na Europa; é possível também — em casos excepcionais — uma vitória fácil da classe operária. Mas é absurdo basear agora a táctica da Internacional Comunista apenas nessa possibilidade; é absurdo e nocivo escrever e pensar que teria terminado o período da propaganda e começado o período das acções.

A Internacional Comunista deve basear a sua táctica no seguinte: conquistar incansável e sistematicamente a maioria da classe operária, em primeiro lugar dentro dos velhos sindicatos. Então venceremos sem dúvida com qualquer viragem dos acontecimentos. Mas «vencer» por um prazo breve, com uma viragem dos acontecimentos excepcionalmente feliz, fá-lo-á mesmo um tolo.

Daí: a táctica da «carta aberta»(N270) é obrigatória por toda a parte. É preciso dizê-lo de forma directa, precisa e clara, pois as vacilações em relação à «carta aberta» são arquinocivas e arquivergonhosas e arquidifundidas. É preciso confessá-lo. Todos os que não compreenderam o carácter obrigatório da táctica da «carta aberta», expulsá-los da Internacional Comunista dentro de um mês, e não mais tarde, a partir do III Congresso da Internacional Comunista. Eu vejo claramente o meu erro no facto de ter votado a favor da admissão do KAPD(N271), é preciso corrigi-lo de forma mais rápida e completa.

Em lugar de divagar como Rádek, melhor seria traduzir todo o texto (e em alemão: citar todo o texto) da «carta aberta» e mastigar o seu significado e ele próprio como modelo.

É a isso que eu limitaria a resolução geral sobre a táctica.

Só então é que será dado o tom. Será clara a ideia central. Não haverá divagações. Ninguém terá a possibilidade de ler o que quiser (como em Rádek).

Então o projecto inicial de Rádek reduzir-se-ia 4 vezes, não menos.

É já hora de deixar de escrever e de votar brochuras em vez de teses. Mesmo se não surgirem disputas entre todos nós, serão inevitáveis, com tal sistema, erros parciais. E se houver algo de invertebrado e discutível, deparam-se-nos erros grandes e estragaremos tudo.

Além disso, se houver muitos pruridos, pode-se acrescentar uma adenda: na base de tal táctica, em particular, a título de exemplo não como princípio, mas precisamente como exemplo, acrescentaremos ainda tal e tal coisa.

Continuemos.

Generalizar Serrati e Levi dentro de um só «oportunismo» é uma estupidez. Serrati é culpado; de quê? Deve-se dizer clara e precisamente, na questão italiana, mas não na questão da táctica geral. De se ter separado dos comunistas, de não ter expulso os reformistas, Turati e Cª. Enquanto o não fizerdes, camaradas italianos, estais fora da Internacional Comunista. Expulsamo-vos(N272) .

E aos comunistas italianos — um seriíssimo conselho e a exigência: enquanto não conseguirdes convencer, de forma persistente, paciente e hábil, e atrair para vós a maioria dos operários serratianos, não façais fanfarronadas, não jogueis ao esquerdismo. «Fall Levy»(3*) não na táctica geral, mas na apreciação da Märzaktion(4*), em relação à questão alemã(N273). Brandler diz: foi uma defensiva. O governo provocou.

Admitamos que isto é verdadeiro, que é um facto. Qual a conclusão daí?

  1. Que foram errados e absurdos todos os gritos sobre a ofensiva, e houve imensos;
  2. que foi errada a táctica de apelo a uma greve geral, uma vez que era uma provocação do governo, que desejava arrastar para a luta a pequena fortaleza do comunismo (aquela região do centro, onde os comunistas tinham já a maioria).
  3. É preciso evitar tais erros no futuro, porque na Alemanha há uma situação especial, depois do massacre de 20000 operários na guerra civil devido às manobras hábeis da direita.
  4. Chamar «golpe» e mais ainda «golpe bakuninista» à defensiva de centenas de milhares de operá-rios (Brandler diz: um milhão. Não está enganado? Não se deixa levar pelo entusiasmo? Porque não há dados segundo regiões e cidades???) é pior do que um erro, é infracção à disciplina revolu-cionária. Uma vez que Levi acrescentou a isso: tais e tais infracções (enumerá-las de uma maneira precisa e arquiprudente), ele mereceu o castigo e foi castigado, com toda a razão, com a expulsão.

É preciso marcar o prazo de expulsão, digamos, de meio ano. Depois é-lhe permitido pedir para ser admitido no partido, e a Internacional Comunista aconselha a admiti-lo, se durante esse período ele se portar com lealdade.

Ainda não li nada, além da brochura de Brandler, e escrevo isto apenas na base das brochuras de Levi e Brandler. Brandler provou, — se é que provou - só uma coisa: a Märzaktion não foi um «golpe bakuninista» (devia-se expulsar Levi por tal invectiva), mas sim uma defesa heróica dos operários revolucionários, de centenas de milhares; mas, por mais heróico que isso fosse, não se deve de futuro aceitar tal combate, provocado pelo governo, que já massacrou com provocações, a partir de I.1919, 20000 operários, enquanto a maioria não for pelos comunistas em todo o país, e não só numa pequena região.

(As jornadas de Julho de 1917 não foram um golpe bakuninista. Expulsaríamos do partido por tal apreciação. As jornadas de Julho foram uma ofensiva heróica. E eis a conclusão que tirámos: não empreenderemos a próxima ofensiva heróica prematuramente. Uma aceitação prematura dum combate geral: eis a essência da Märzaktion. Não um golpe, mas um erro atenuado pelo heroísmo da defensiva de centenas de milhares.)

Sobre Smeral. Não se pode arranjar pelo menos 2-3 documentos?

Não seria mau imprimir para a Internacional Comunista pelo menos 2 documentos (de 2 a 4 páginas cada um) sobre cada país.

Quais são os factos sobre Smeral? Sobre Strasser?

Não esquecer uma coisa fundamental: suprimir obrigatoriamente tudo o que se refere ao «partido da espera» e à reprovação disso, nas primeiras teses de Rádek. Tudo fora(N274) .

Quanto à Bulgária, à Sérvia (Jugoslávia?) e à Checoslováquia, colocar a questão sobre estes países de modo concreto, especial, claro e preciso.

Se não houver acordo entre nós sobre isto, proponho convocar o Bureau Político.

10/VI. 1921. Lénine .

Publicado pela primeira vez em 1965, na 5ª ed. em russo das Obras Completas de V. I. Lénine

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DISCURSO EM DEFESA DA TÁCTICA DA INTERNACIONAL COMUNISTA
1 DE JULHO

Camaradas! Lamento muito ter de limitar-me à autodefesa. (Risos.) Digo que lamento muito porque, depois de conhecer o discurso do camarada Terracini e as emendas apresentadas por três delegações, gostaria muito de passar à ofensiva, porque contra as concepções defendidas por Terracini e por essas 3 delegações são necessárias, propriamente falando, acções ofensivas(N275). Se o congresso não lançar uma ofensiva decidida contra esses erros, contra essas idiotices «de esquerda», todo o movimento está condenado a perecer. Tal é a minha profunda convicção. Mas nós somos marxistas organizados e disciplinados. Não podemos satisfazer-nos com discursos contra alguns camaradas. A nós, russos, essas frases de esquerda já nos provocam náuseas. Somos homens de organização. Ao elaborar os nossos planos, devemos actuar organizadamente e esforçar-nos por encontrar uma linha justa. Naturalmente, não é segredo para ninguém que as nossas teses são um compromisso. Mas por que não há-de ser assim? Entre os comunistas, que já convocaram o III Congresso e estabeleceram princípios básicos bem definidos, os compromissos, em determinadas condições, são necessários. As nossas teses, propostas pela delegação russa, foram estudadas e preparadas com o maior cuidado e são resultado de longas reflexões e reuniões com as diversas delegações. O seu objectivo é traçar a linha fundamental da Internacional Comunista, e elas são necessárias principalmente agora, depois de termos não só condenado formalmente os verdadeiros centristas, como de tê-los expulso do partido. Tais são os factos. Devo tomar a defesa destas teses. E quando agora aparece Terracini dizendo que devemos prosseguir a luta contra os centristas, e seguidamente escreve como se pretende conduzir essa luta, eu digo que se essas emendas denotam uma determinada tendência, é necessário lutar impiedosamente contra essa tendência, porque, caso contrário, não há comunismo nem Internacional Comunista. Espanta-me que o Partido Comunista Operário da Alemanha não tenha subscrito essas emendas. (Risos.) Ouvi, pois, o que defende Terracini e o que dizem essas emendas. Começam assim: «Na 1ª página, 1ª coluna, linha 19, é preciso cortar: 'A maioria ...'» A maioria! Isto é terrivelmente perigoso! (Risos.) E mais adiante: em vez das palavras «teses fundamentais» deve dizer-se «objectivos». As teses fundamentais e os objectivos são duas coisas diferentes: quanto aos objectivos, até os anarquistas estarão de acordo connosco, porque também eles são partidários da supressão da exploração e das diferenças de classe.

Ao longo da minha vida encontrei-me e falei com poucos anarquistas, mas vi-os o suficiente. Por vezes consegui pôr-me de acordo com eles quanto aos objectivos, mas nunca quanto aos princípios. Os princípios não são o objectivo, nem o programa, nem a táctica, nem a teoria. A táctica e a teoria não são os princípios. Que é que nos distingue dos anarquistas do ponto de vista dos princípios? Os princípios do comunismo consistem no estabelecimento da ditadura do proletariado e na aplicação da coacção pelo Estado durante o período de transição. Tais são os princípios do comunismo, mas este não é o seu objectivo. E os camaradas que fizeram semelhante proposta cometeram um erro.

Em segundo lugar, diz-se ali: « É preciso cortar a palavra 'maioria'». Lede tudo:

«O III Congresso da Internacional Comunista empreende a revisão das questões da táctica em condições em que, em toda uma série de países, a situação objectiva se agudizou no sentido revolucionário, e em que se organizou toda uma série de partidos comunistas de massas, que no entanto, em parte nenhuma tomaram nas suas mãos a direcção efectiva da maioria da classe operária na sua luta revolucionária real.»

Pois querem cortar a palavra «maioria». Se não podemos pôr-nos de acordo sobre coisas tão simples, não compreendo como podemos trabalhar juntos e conduzir o proletariado à vitória. Então não é de estranhar que também não possamos chegar a acordo na questão dos princípios. Indicai-me um partido que tenha ganho já a maioria da classe operária. Terracini não pensou sequer em citar qualquer exemplo. Semelhante exemplo não existe.

Assim: substituir a palavra «princípios» por «objectivos», e cortar a palavra «maioria». Muito obrigado! Não iremos nisso. Nem mesmo o partido alemão, que é um dos melhores, tem por si a maioria da classe operária. Isto é um facto. Nós, que temos pela frente a luta mais dura, não receamos dizer esta verdade, mas há aqui três delegações que querem começar por aquilo que não é verdade, porque se o congresso cortasse a palavra «maioria» demonstraria assim que quer aquilo que não é verdade. Isto é absolutamente claro.

Segue-se depois esta emenda: «Na 4ª página, 1ª coluna, linha 10, 'deve-se cortar' as palavras 'Carta Aberta', etc.» Já ouvi hoje um discurso no qual encontrei o mesmo pensamento. Mas ali isto era perfeitamente natural. Trata-se do discurso do camarada Hempel, membro do Partido Comunista Operário Alemão. Dizia ele: «A 'Carta Aberta' foi um acto de oportunismo.» Com infinito pesar e para minha maior vergonha, já tinha ouvido semelhantes concepções em privado. Mas quando no congresso, depois de debates tão prolongados, se qualifica a «Carta Aberta» de oportunista, isto é uma vergonha e uma infâmia! E eis que chega o camarada Terracini, em nome de três delegações, e quer cortar as palavras «Carta Aberta». Para quê, então, a luta contra o Partido Comunista Operário Alemão? A «Carta Aberta» é um passo político exemplar. Assim se diz nas nossas teses. E devemos defender isto incondicionalmente. Ela é exemplar como primeiro acto de um método prático para atrair a maioria da classe operária. Quem não compreender que na Europa - onde quase todos os proletários estão organizados — devemos conquistar a maioria da classe operária, está perdido para o movimento comunista, nunca aprenderá nada se em três anos de revolução ainda não aprendeu isto.

Terracini diz que na Rússia vencemos apesar de o partido ser muito pequeno. Está descontente com o facto de se dizer a propósito da Checoslováquia aquilo que se diz nas teses. Há aqui 27 emendas, e se me ocorresse criticá-las, teria de falar pelo menos três horas, como fizeram alguns oradores ... Declarou-se aqui que na Checoslováquia o partido comunista conta 300000 a 400000 membros, que é necessário atrair a maioria, criar uma força invencível e continuar a atrair novas massas operárias. Terracini está já pronto para o ataque. Diz ele: se o partido já tem 400 000 operários, por que havemos de querer mais? Cortar! (Risos.) Receia a palavra «massas» e quer fazê-la desaparecer. O camarada Terracini compreendeu muito pouco da revolução russa.

Na Rússia éramos um partido pequeno, mas connosco estava também a maioria dos Sovietes de deputados operários e camponeses de todo o país. (Uma voz: «É exacto!») Onde tendes vós isto? Connosco estava quase metade do exército, que contava então, pelo menos, 10 milhões de homens. Tendes vós a maioria do exército? Indicai-me um só país assim! Se estas concepções do camarada Terracini são partilhadas por mais três delegações, então alguma coisa não vai bem dentro da Internacional! Então devemos dizer: «Alto! Luta decidida! Se não a Internacional Comunista perecerá.» (Agitação na sala.)

Na base da minha experiência, devo dizer, embora ocupe uma posição defensiva (risos), que o objectivo do meu discurso e o seu princípio é a defesa da resolução e das teses propostas pela nossa delegação. Naturalmente seria pedantismo dizer que não se pode alterar nelas nem uma letra. Tive que ler um bom número de resoluções e sei bem que aí em cada linha se poderiam introduzir excelentes emendas. Mas isso seria pedantismo. E se agora declaro apesar de tudo que, no sentido político, não se pode alterar nem uma letra, é porque as emendas apresentam, como vejo, um carácter político perfeitamente definido, porque conduzem a um caminho nocivo e perigoso para a Internacional Comunista. Por isso, eu e todos nós, e a delegação russa, devemos insistir em que não se altere nas teses nem uma letra. Nós não condenámos apenas os nossos elementos direitistas — expulsámo-los. Mas se da luta contra os direitistas se faz um desporto, como Terracini, devemos dizer: «Basta! De outro modo o perigo será demasiado grave!»

Terracini defendeu a teoria da luta ofensiva(N276). As célebres emendas propõem a este respeito uma fórmula que ocupa duas ou três páginas. Não há necessidade de as ler. Sabemos o que lá está escrito. Terracini disse com toda a clareza qual é a questão. Defendeu a teoria da ofensiva, apontando as «tendências dinâmicas» e a «passagem da passividade à actividade». Nós na Rússia temos já suficiente experiência política de luta contra os centristas. Há já quinze anos lutámos contra os nossos oportunistas e centristas, assim como contra os mencheviques, e vencemos não só os mencheviques mas também os semianarquistas.

Se o não tivéssemos feito, não teríamos estado em condições de manter o poder nas nossas mãos, já não digo três anos e meio, mas nem sequer três semanas e meia, e não teríamos podido reunir aqui congressos comunistas. As «tendências dinâmicas» e a «passagem da passividade à actividade» não são mais que frases que os socialistas-revolucionários de esquerda lançaram contra nós. Agora eles estão nas prisões, defendem ali os «objectivos do comunismo» e pensam na «passagem da passividade à actividade». (Risos.) Não é possível argumentar como se argumenta nas emendas propostas, porque nelas não há nem marxismo, nem experiência política, nem argumentação. Desenvolvemos nós nas nossas teses a teoria geral da ofensiva revolucionária? Terá Rádek ou qualquer outro de nós cometido semelhante idiotice? Falámos da teoria da ofensiva em relação a um país bem determinado e a um período bem determinado.

Da nossa luta contra os mencheviques podemos citar casos que mostram que já antes da primeira revolução se encontravam pessoas que duvidavam que o partido revolucionário devesse lançar uma ofensiva. Se num qualquer social-democrata — então todos nós nos chamávamos assim — surgiam tais dúvidas, empreendíamos a luta contra ele e dizíamos que era um oportunista, que nada compreendia do marxismo nem da dialéctica do partido revolucionário. Pode o partido discutir se a ofensiva revolucionária é ou não admissível em geral? Para encontrar tais exemplos no nosso país, é preciso voltar quinze anos atrás. Se há um centrista ou um centrista disfarçado que conteste a teoria da ofensiva, é preciso expulsá-los imediatamente. Este problema não pode suscitar discussões. Mas é uma vergonha e uma ignomínia que agora, depois de três anos de existência da Internacional Comunista, ainda discutamos acerca das «tendências dinâmicas» e da «passagem da passividade à actividade».

Nós não discutimos sobre isto com o camarada Rádek, que elaborou juntamente connosco estas teses. Talvez não tenha sido de todo acertado iniciar na Alemanha debates sobre a teoria da ofensiva revolucionária, quando não estava preparada uma verdadeira ofensiva. Não obstante, a acção de Março é um grande passo em frente, apesar dos erros dos seus dirigentes. Mas isto não significa nada. Centenas de milhares de operários lutaram heroicamente. Por muita que tenha sido a coragem com que o Partido Comunista Operário Alemão tenha lutado contra a burguesia, devemos dizer o mesmo que disse o camarada Rádek num artigo russo referente a Hólz. Se alguém, mesmo que seja anarquista, luta heroicamente contra a burguesia, isso é evidentemente uma grande coisa, mas se centenas de milhares de homens lutam contra a infame provocação dos sociais-traidores e contra a burguesia, isso é um verdadeiro passo em frente.

É muito importante ter uma atitude crítica em relação aos seus próprios erros. Foi por aí que nós começámos. Se alguém, depois duma luta na qual participaram centenas de milhares de pessoas, se pronuncia contra essa luta e actua como Levi, é preciso expulsá-lo. E foi isto que se fez. Mas devemos retirar daí uma lição: preparámos nós a ofensiva? (Rádek: «Não preparámos sequer a defesa.») Sim, da ofensiva só se falava em artigos de jornais. Esta teoria, aplicada à acção de Março na Alemanha em 1921, foi errada, devemos reconhecê-lo; mas, em geral, a teoria da ofensiva revolucionária não é de modo nenhum falsa.

Vencemos na Rússia, e além disso com grande facilidade, porque preparámos a nossa revolução durante a guerra imperialista. Esta é a primeira condição. No nosso país estavam armados dez milhões de operários e camponeses, e a nossa palavra de ordem era: paz imediata a todo o custo. Vencemos porque as mais amplas massas camponesas estavam animadas de um espírito revolucionário contra os grandes latifundiários. Os socialistas-revolucionários, partidários das Internacionais II e II 1/2, eram em Novembro de 1917 um grande partido camponês. Exigiam meios revolucionários, mas, como verdadeiros heróis das Internacionais II e II 1/2, não tiveram coragem bastante para actuar revolucionariamente. Em Agosto e Setembro de 1917 dizíamos: «Teoricamente continuamos a lutar contra os socialistas-revolucionários, mas na prática estamos dispostos a adoptar o seu programa, porque só nós podemos realizar este programa.» E tal como o dizíamos, assim o fizemos. Ò campesinato, que, em Novembro de 1917, depois da nossa vitória, estava contra nós e enviou para a Assembleia Constituinte uma maioria de socialistas-revolucionários, foi conquistado por nós, se não em alguns dias — como erradamente supus e predisse —, pelo menos em algumas semanas. A diferença não é grande. Indicai-me na Europa um país onde possais atrair para o vosso lado a maioria do campesinato em algumas semanas. Talvez a Itália? (Risos.) Se se diz que vencemos na Rússia apesar de termos um partido pequeno, a única coisa que se demonstra com isso é que não se compreendeu a revolução russa e que não se compreende absolutamente como é preciso preparar a revolução.

O nosso primeiro passo foi a criação de um verdadeiro partido comunista para sabermos com quem falávamos e em quem podíamos ter plena confiança. A palavra de ordem do I e do II congresso foi: «Abaixo os centristas!» Se não nos desembaraçamos em toda a linha e em todo o mundo dos centristas e semicentristas, a que na Rússia chamamos mencheviques, ser-nos-á inacessível mesmo o á-bê-cê do comunismo. A nossa primeira tarefa é criar um verdadeiro partido revolucionário e romper com os mencheviques. Mas isto é apenas a escola preparatória. Estamos já a realizar o III Congresso, e o camarada Terracini continua a insistir em que a tarefa da escola preparatória consiste em expulsar, perseguir e desmascarar os centristas e semicentristas. Muito obrigado! Nós já nos ocupámos suficientemente disso. No II congresso dissemos já que os centristas são nossos inimigos. Mas é preciso avançar. O segundo grau consistirá em, depois de nos organizarmos em partido, aprender a preparar a revolução. Em muitos países nem sequer aprendemos como conquistar a direcção. Vencemos na Rússia porque tivemos ao nosso lado não só a maioria incontestável da classe operária (nas eleições de 1917, a esmagadora maioria dos operários estava connosco contra os mencheviques), mas também porque se passaram para o nosso lado metade do exército, imediatamente depois da conquista do poder por nós, e 9/10 da massa camponesa em algumas semanas; vencemos porque adoptámos, não o nosso programa agrário, mas o dos socialistas-revolucionários, e o aplicámos. A nossa vitória consistiu precisamente em que aplicámos o programa dos socíalistas-revolucionários; por isso esta vitória foi tão fácil. Será que nos vossos países, no Ocidente, se podem ter semelhantes ilusões? Seria ridículo! Comparai as condições económicas concretas, camarada Terracini e todos os que haveis subscrito a proposta de emendas! Apesar de que a maioria se colocou tão rapidamente ao nosso lado, foram muito grandes as dificuldades com que deparámos depois da vitória. Abrimos no entanto caminho porque não esquecemos nem os nossos objectivos nem os nossos princípios, e não tolerámos no nosso partido pessoas que se calavam quanto aos princípios e falavam dos objectivos, das «tendências dinâmicas» e da «passagem da passividade à actividade». Talvez nos acusem por preferirmos manter esses senhores na prisão. Mas doutro modo é impossível a ditadura. Devemos preparar a ditadura, e isto consiste na luta contra semelhantes frases e semelhantes emendas. (Risos.) Nas nossas teses fala-se a cada passo da massa. Mas, camaradas, é preciso compreender o que é a massa. O Partido Comunista Operário Alemão, os camaradas de esquerda, abusam demasiado desta palavra. Mas o camarada Terracini e todos aqueles que subscreveram estas emendas também não sabem o que se deve entender pela palavra «massa».

Já estou a falar há demasiado tempo; por isso, apenas quereria dizer algumas palavras sobre o conceito de «massa». O conceito de «massa» é variável, de acordo com a modificação do carácter da luta. No princípio da luta bastavam alguns milhares de verdadeiros operários revolucionários para que se pudesse falar de massa. Se o partido consegue levar à luta não só os seus próprios membros, se consegue erguer também os sem-partido, isso é já o começo da conquista das massas. Durante as nossas revoluções houve casos em que alguns milhares de operários representavam a massa. Na história do nosso movimento, na história da nossa luta contra os mencheviques, encontrareis muitos exemplos em que numa cidade bastavam alguns milhares de operários para tornar evidente o carácter de massas do movimento. Se alguns milhares de operários sem partido que habitualmente vivem uma vida pequeno-burguesa e arrastam uma existência miserável, que nunca ouviram falar de política, começam a actuar revolucionariamente, já tendes perante vós a masssa. Se o movimento se alarga e intensifica, transforma-se gradualmente numa verdadeira revolução. Isto vimo-lo em 1905 e em 1917, durante as três revoluções, e vós tereis também ainda de vos convencerdes disto. Quando a revolução está suficientemente preparada, o conceito de «massa» torna-se diferente: Alguns milhares de operários já não constituem a massa. Esta palavra começa a significar algo de diferente. O conceito de massa modifica-se no sentido de que por ela se entende a maioria, e além disso não apenas uma simples maioria de operários, mas a maioria de todos os explorados; para um revolucionário é inadmissível qualquer outra espécie de interpretação, qualquer outro sentido desta palavra se torna incompreensível. E possível que até um pequeno partido, por exemplo o inglês ou o americano, depois de estudar bem o curso da evolução política e de se ter familiarizado com a vida e os hábitos das massas sem partido, suscite num momento favorável um movimento revolucionário (o camarada Rádek indicou, como um bom exemplo, a greve dos mineiros)(N277). Se um tal partido intervém em tal momento com as suas próprias palavras de ordem e consegue que milhões de operários o sigam, tereis aí um movimento de massas. Não rejeito de forma absoluta que uma revolução possa ser iniciada também por um partido muito pequeno e levada até um final vitorioso. Mas é preciso saber com que métodos atrair para o seu lado as massas. Para isso é necessário preparar a fundo a revolução. Mas há camaradas que afirmam: renunciar imediatamente à exigência das «grandes» massas. É preciso lutar contra estes camaradas. Em nenhum país conseguireis a vitória sem uma preparação a fundo. Basta um pequeno partido para conduzir as massas. Em determinados momentos não há necessidade de grandes organizações.

Mas para ter a vitória é preciso ter a simpatia das massas. Nem sempre é necessário, a maioria absoluta; mas para a vitória, para conservar o poder, é necessário não só a maioria da classe operária — emprego aqui o termo «classe operária» no sentido usado na Europa Ocidental, isto é, no sentido de proletariado industrial —, mas também a maioria da população rural explorada e trabalhadora. Pensastes vós nisto? Encontramos nós no discurso de Terracini mesmo uma alusão a semelhante ideia? Nele só se fala da «tendência dinâmica», da «passagem da passividade à actividade». Toca-se nele nem que seja com uma só palavra na questão do abastecimento? E entretanto os operários exigem alimentação, embora possam aguentar muito e passar fome, como vimos, até certo ponto, na Rússia. Por isso devemos atrair para o nosso lado não só a maioria da classe operária, mas também a maioria da população rural trabalhadora e explorada. Preparastes isto? Quase em parte nenhuma.

Assim, repito: devo defender incondicionalmente as nossas teses, e considero-me obrigado a essa defesa. Não só condenámos os centristas como os expulsámos do partido. Agora devemos voltar-nos contra outro aspecto, que também consideramos perigoso. Devemos dizer a verdade aos camaradas da forma mais cortês (e nas nossas teses ela foi dita com amabilidade e cortesia), de maneira que ninguém se sinta ofendido: actualmente temos que enfrentar outras questões, mais importantes, do que a de atacar os centristas. Basta de nos ocuparmos dessa questão. Já estamos um pouco fartos dela. Em vez disso, os camaradas deveriam aprender a travar uma verdadeira luta revolucionária. Os operários alemães já começaram a fazê-lo. Centenas de milhares de proletários bateram-se com heroísmo nesse país. É necessário expulsar imediatamente todo aquele que se pronuncie contra esta luta. Mas, depois disso, não devemos ocupar-nos de perorações ocas, é necessário começar imediatamente a aprender, a aprender com os erros cometidos, a melhor maneira de organizar a luta. Não devemos esconder os nossos erros perante o inimigo. Quem o recear não é revolucionário. Pelo contrário, se declaramos abertamente aos operários: «Sim, cometemos erros», isso significa que de futuro eles não se repetirão e que saberemos escolher o melhor momento. E se durante a própria luta tivermos ao nosso lado a maioria dos trabalhadores — não só a maioria dos operários, mas a maioria de todos os explorados e oprimidos —, então venceremos realmente. (Aplausos prolongados e clamorosos.)

Publicado integralmente em 8 de Julho de 1921, no nº 11 do Boletim do III Congresso da Internacional Comunista.


Notas de rodapé:

(N262) O III Congresso da Internacional Comunista realizou-se em Moscovo, entre 22 de Junho e 12 de Julho de 1921. Nos trabalhos do congresso participaram 605 delegados (291 com voto deliberativo e 314 com voto consultivo) que representavam 103 organizações de 52 países, incluindo 48 partidos comunistas, 8 partidos socialistas, 28 uniões da juventude, 4 organizações sindicalistas e 2 partidos comunistas de oposição (Partido Comunista Operário da Alemanha e Partido Operário Comunista de Espanha), bem como 13 outras organizações. O Congresso examinou as questões da crise económica mundial e as novas tarefas da Internacional Comunista; o relatório sobre a actividade do CEIC; a questão do Partido Comunista Operário da Alemanha; a questão italiana; a táctica da Internacional Comunista; a posição do Conselho Internacional Vermelho dos Sindicatos para com a Internacional Comunista; a luta contra a Internacional de Amsterdão; a táctica do PCR(b); a Internacional Comunista e o movimento da juventude comunista; o movimento feminino; a questão do Partido Comunista Unificado da Alemanha, e outros. Todo o trabalho de preparação e realização do Congresso foi dirigido por Lénine. O III Congresso da Internacional Comunista desempenhou um importante papel na formação e no desenvolvimento de novos partidos comunistas. O congresso dedicou especial atenção à elaboração da táctica da Internacional Comunista e da sua organização, em ligação com as novas condições de desenvolvimento do movimento comunismo internacional. Além de lutar contra o perigo centrista, Lénine teve que prestar muita atenção à luta contra o «esquerdismo», a fraseologia esquerdista pseudo-revolucionária e o sectarismo. Em consequência de uma luta tenaz travada por Lénine contra o perigo de «esquerda», prevaleceu no congresso o marxismo revolucionário. (retornar ao texto)

(N263) A nova política económica do PCR(b) encontrou no Congresso oposição por parte de elementos anarco-sindicalistas, instáveis e alheios ao marxismo-leninismo, que declaravam que a NEP conduziria à restauração do capitalismo na Rússia Soviética e colocaria obstáculos ao desenvolvimento futuro da revolução mundial. O Congresso rejeitou estas concepções e aprovou as teses leninistas e uma resolução plenamente de acordo com a política do PCR(b). (retornar ao texto)

(N264) Em 13 de Abril de 1919, em Amritsar, importante centro industrial do Estado de Pendjab, as tropas inglesas dispararam sobre um comício de muitos milhares de trabalhadores que protestavam contra o terror dos colonizadores. Foram assassinadas cerca de mil pessoas e feridas cerca de duas mil. Em resposta ao massacre de Amritsar, desencadeou-se no Pendjab uma sublevação que se alargou a outras regiões da índia. A sublevação foi cruelmente esmagada pelos colonizadores ingleses. (retornar ao texto)

(N265) O VIII Congresso electrotécnico de toda a Rússia realizou-se em Moscovo, entre 1 e 9 de Outubro de 1921. (retornar ao texto)

(N266) Poslédnie nóvosti (Últimas Notícias): diário da emigração branca, órgão do partido democrata-constitucionalista contra-revolucionário; publicou-se em Paris entre Abril de 1920 e Julho de 1940. O seu director era P. N. Miliukov. (retornar ao texto)

(N267) Kommunistítcbeski Trud (Trabalho Comunista): diário, órgão do Comité de Moscovo do PCR(b) e do Soviete de Moscovo de deputados operários e camponeses. Publica-se desde Março de 1918. Depois Moskóvskaia Pravda. (retornar ao texto)

(N268) Lénine refere-se à carta de F. Engels a A. Bebel de 11 de Dezembro de 1884. (retornar ao texto)

(N269) A elaboração das teses sobre a táctica para o III Congresso da Internacional Comunista esteve a cargo da delegação do PCR(b). Em 1 de Junho de 1921, K. B. Rádek enviou a Lénine o projecto das teses sobre a táctica com as emendas feitas por proposta de A. Talheimer e B. Kun, assim como o projecto das teses redigido por eles. Sobre esses projectos Lénine escreveu as notas que se publicam. Com base nas indicações de Lénine, o projecto das teses sobre a táctica da Internacional Comunista foi reelaborado, examinado em reuniões preliminares, nas quais participaram várias delegações, e apresentado ao III Congresso em nome da delegação russa. Em 1 de Julho, Lénine pronunciou no congresso o discurso defendendo a táctica da Internacional Comunista. Em 10 de Julho, as teses foram aprovadas no congresso por unanimidade. (retornar ao texto)

(1*) Determinação do círculo de perguntas. (N. Ed.) (retornar ao texto)

(2*) Balhornizado: emendado para pior. (N. Ed.) (retornar ao texto)

(N270) Trata-se da «Carta Aberta» do Comité Central do Partido Comunista Unificado da Alemanha dirigida ao Partido Socialista da Alemanha, ao Partido Social-Democrata Independente da Alemanha, ao Partido Comunista Operário da Alemanha e a todas as organizações sindicais. Nessa carta, publicada em 8 de Janeiro de 1921 no jornal Die Rote Fahne (Bandeira Vermelha), o PCUA chamava todas as organizações operárias, socialistas e sindicais para a luta comum contra a reacção, que se tornava cada vez mais forte, e contra a ofensiva do capital contra os direitos vitais dos trabalhadores. (retornar ao texto)

(N271) KAPD (Kommunistische Arbeiter Partei Deutschlands): Partido Comunista Operário da Alemanha, formado em Abril de 1920 por comunistas «de esquerda» expulsos do Partido Comunista da Alemanha no congresso de Heidelberg em 1919. (retornar ao texto)

(N272) A questão italiana foi submetida ao exame do III Congresso da Internacional Comunista devido ao protesto do Partido Socialista Italiano contra a resolução do CEIC sobre a sua expulsão da Internacional Comunista e o reconhecimento do Partido Comunista Italiano como única secção da Internacional Comunista em Itália. Em 29 de Junho de 1921, o III Congresso da Internacional Comunista tomou a seguinte decisão sobre o PSI: «Enquanto o Partido Socialista Italiano não expulsar das suas fileiras os participantes da conferencia reformista em Reggio-Emilia e aqueles que os apoiam, o Partido Socialista Italiano não poderá pertencer à Internacional Comunista. Caso o PSI cumpra esta exigência prévia, o III Congresso incumbirá o Comité Executivo de empreender os passos necessários para a unificação do Partido Socialista Italiano, depurado dos elementos reformistas e centristas, com o Partido Comunista da Itália, visando a sua transformação numa secção única da Internacional Comunista.» No entanto, esta resolução do III Congresso da Internacional Comunista não foi posta em prática. Na Primavera de 1923, formou-se no seio do Partido Socialista Italiano a fracção de esquerda, os «terceirointernacionalistas» (G. M. Serrati, F. Maffi e outros), que se pronunciou a favor da fusão com o Partido Comunista da Itália. Em Agosto de 1924, os «terceirointernacionalistas» ingressaram no Partido Comunista da Itália. (retornar ao texto)

(3*) «Caso Levi». (N. Ed.) (retornar ao texto)

(4*) Acção de Março. (N. Ed.) (retornar ao texto)

(N273) Trata-se de uma acção armada do proletariado da Alemanha em Março de 1921. Aterrorizada pela influência cada vez maior dos comunistas sobre as massas, a burguesia alemã decidiu provocar a vanguarda revolucionária do proletariado para uma revolta armada prematura e mal preparada, para assim destruir as organizações revolucionárias da classe operária. A 16 de Março, sob o pretexto de lutar contra os criminosos de direito comum, que pretensamente provocavam greves, o chefe da polícia prussiana, o social-democrata Herzing, deu ordem para que nas empresas da Alemanha Central fossem introduzidos destacamentos da polícia. Essas acções provocatórias das autoridades originaram uma forte indignação entre os operários, e começaram os choques com a polícia. A maioria de esquerda do CC do Partido Comunista Unificado da Alemanha, partindo da chamada «teoria da ofensiva», empurrava os operários para o caminho de uma insurreição prematura. Em 17 de Março, o CC do PCUA adoptou uma resolução na qual se dizia que «o proletariado é obrigado a aceitar o combate», e apelou para o proletariado da Alemanha para uma greve geral com o objectivo de ajudar os operários da Alemanha Central. No entanto, a maioria da classe operária não estava preparada para a acção e não participou nos combates; só na Alemanha Central a acção tomou o carácter de luta armada. Durante a acção de Março, o jovem Partido Comunista da Alemanha cometeu uma série de erros. Apesar da luta heróica dos operários, a acção de Março foi esmagada; foi assestado um duro golpe no partido comunista e na classe operária. A política de traição visando dividir e dispersar as forças, política praticada pelos sociais-democratas e os dirigentes dos sindicatos reformistas, foi uma das principais causas do fracasso da insurreição. As acções oportunistas de P. Levi causaram grande dano à insurreição e ao partido comunista. (retornar ao texto)

(N274) Aparentemente Lénine refere-se ao seguinte texto inicial do projecto das teses sobre a táctica da Internacional Comunista, apresentado por K. B. Rádek: «Eles [os grupos centristas, segundo a definição de Rádek, nos partidos comunistas de uma série dos países (N. Ed.)], ao verem que a Internacional Comunista pretende criar partidos de massas verdadeiramente revolucionários, fizeram grande alarido, dizendo que a Internacional Comunista caía no sectarismo. Assim actua o grupo de Levi na Alemanha, o de Smeral na Checoslováquia, etc. O carácter desses grupos é bem evidente. São grupos centristas que encobrem a sua política de espera passiva da revolução com frases e teorias comunistas. O grupo de Smeral protelou a criação do Partido Comunista da Checoslováquia já na altura em que a maioria dos operários checoslovacos ocupava as posições do comunismo» (Arquivo Central do Partido do Instituto de Marxismo-Leninismo anexo ao CC do PCUS). (retornar ao texto)

(N275) Trata-se das emendas das delegações alemã, austríaca e italiana ao projecto das teses sobre a táctica apresentado pela delegação russa ao III Congresso da Internacional Comunista. (retornar ao texto)

(N276) A essência da teoria da luta ofensiva ou da «teoria da ofensiva» proclamada em Dezembro de 1920 no Congresso de Unificação do Partido Comunista da Alemanha e da ala esquerda do Partido Social-Democrata Independente da Alemanha consistia em que o partido devia aplicar uma táctica de ofensiva sem tomar em consideração a existência das premissas objectivas necessárias para intervenção revolucionária e o facto de o partido comunista ser ou não apoiado pelas amplas massas de trabalhadores. Esta linha foi uma das causas de derrota da acção do proletariado da Alemanha em Março de 1921. A «teoria de ofensiva» tinha também adeptos entre os elementos «de esquerda» da Hungria, da Checoslováquia, da Itália, da Áustria, da França. No III Congresso da Internacional Comunista os partidários da «teoria de ofensiva» procuravam que ela fosse colocada na base das resoluções sobre a táctica da Internacional Comunista. Lénine, nas suas intervenções no Congresso, revelou o carácter falso e aventureiro dessa «teoria»; o congresso aprovou as propostas de Lénine acerca da preparação paciente e da conquista da maioria da classe operária para o lado do movimento comunista. (retornar ao texto)

(N277) Trata-se da greve dos mineiros ingleses em Abril-Junho de 1921. A greve foi uma resposta à exigência dos proprietários das minas de reduzir consideravelmente os salários dos operários. Mais de um milhão de pessoas participaram nesta greve, que assumiu o carácter da greve geral dos mineiros. A federação dos mineiros do carvão propôs aos comités executivos das trade-unions dos transportes e dos caminhos-de-ferro que participassem numa greve de solidariedade, mas os dirigentes reformistas destes sindicatos não apoiaram os mineiros. Realizaram conversações de bastidores com o governo e os proprietários das minas, conseguindo um compromisso, e sabotaram a greve. Após três meses de luta heróica os mineiros ingleses foram obrigados a regressar ao trabalho. (retornar ao texto)

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Inclusão: 22/04/2020