Uma Grande Iniciativa
(Sobre o Heroísmo dos Operários na Retaguarda. A Propósito dos «Sábados Comunistas»)

V. I. Lénine

28 de Julho de 1919

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Publicado: em Julho de 1919 em brochura separada, editada em Moscovo pela Gossudárstvennoe Izdátelstvo
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Edições "Avante!", 1979, t3, pp 141-160.
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t.39, pp. 5-29.
Transcrição e HTML: Manuel Gouveia
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo.

A imprensa comunica muitos exemplos de heroísmo dos soldados vermelhos. Na luta contra as tropas de Koltchak, Deníkine e outras tropas dos latifundiários e capitalistas, os operários e os camponeses dão frequentemente provas de milagres, de coragem e tenacidade, defendendo as conquistas da revolução socialista. Lenta e difícil é a eliminação da anarquia, a superação do cansaço e do desleixo, mas, apesar de tudo, avança. O heroísmo das massas trabalhadoras, que se sacrificam conscientemente pela causa da vitória do socialismo, constitui a base da disciplina nova, fraterna, do Exército Vermelho, do seu renascimento, fortalecimento e crescimento.

Não menos digno de atenção é o heroísmo dos operários na retaguarda. Neste aspecto tem uma importância verdadeiramente gigantesca a organização pelos operários, por sua própria iniciativa, dos sábados comunistas. Evidentemente, trata-se apenas de um começo, mas de um começo de excepcional importância. E o começo de uma revolução mais difícil, mais essencial, mais radical e mais decisiva do que o derrubamento da burguesia, pois é uma vitória sobre a própria rotina, o desleixo, o egoísmo pequeno-burguês, sobre todos esses hábitos que o maldito capitalismo deixou em herança ao operário e ao camponês. Quando esta vitória estiver consolidada, então e só então se criará a nova disciplina social, a disciplina socialista, então só então será impossível voltar para trás, para o capitalismo, e o comunismo se tornará verdadeiramente invencível.

O Pravda publicou em 17 de Maio o artigo do camarada A. J. «O trabalho à maneira revolucionária. (Um sábado comunista)». Este artigo é tão importante que o reproduzimos na íntegra:

O TRABALHO À MANEIRA REVOLUCIONÁRIA

(UM SÁBADO COMUNISTA)

A carta do CC do PCR acerca do trabalho à maneira revolucionária deu um forte impulso às organizações comunistas e aos comunistas. Um entusiasmo geral levou para a frente muitos ferroviários comunistas, mas a maioria deles não pôde abandonar os postos de responsabilidade nem descobrir novos métodos de trabalho à maneira revolucionária. As notícias procedentes das localidades acerca da lentidão no trabalho de mobilização e da morosidade burocrática obrigaram o subdistrito do caminho-de-ferro Moscovo-Kazán a dar atenção ao mecanismo da gestão da rede ferroviária. Verificou-se que, pela insuficiência de mão-de-obra e pela fraca intensidade do trabalho, se atrasavam as encomendas urgentes e as reparações rápidas de locomotivas. Em 7 de Maio, numa assembleia geral de comunistas e de simpatizantes do subdistrito da linha Moscovo-Kazán, foi colocada a questão de passar das palavras aos actos em relação à ajuda à vitória sobre Koltchak. A proposta apresentada dizia:

«Em vista da grave situação interna e externa, e a fim de conseguir a superioridade sobre o inimigo de classe, os comunistas e simpatizantes devem fazer um novo esforço e tirar ao seu descanso mais uma hora de trabalho, isto é, aumentar uma hora ao seu dia de trabalho, somá-las e no sábado dar duma só vez seis horas de trabalho físico, a fim de produzir imediatamente um valor real. Considerando que os comunistas não devem poupar nem a sua saúde nem a sua vida para assegurar as conquistas da revolução, o trabalho será feito gratuitamente. O sábado comunista será introduzido em todo o subdistrito até a vitória completa sobre Koltchak.»

Depois de algumas vacilações, esta proposta foi aprovada por unanimidade.

No sábado, 10 de Maio, às 6 horas da tarde, os comunistas e simpatizantes, como soldados, apresentaram-se ao trabalho, formaram filas, e os chefes de oficina distribuíram-nos, na melhor ordem, pelos postos .de trabalho.

Os resultados do trabalho à maneira revolucionária estão à vista. O quadro seguinte mostra as empresas e o carácter do trabalho.

O valor total do trabalho ascende, segundo a tarifa normal, a 5 milhões de rublos, e segundo a tarifa das horas extraordinárias, a mais 50%.

A intensidade do trabalho de carga foi superior em 270 % à dos operários normais. Nos restantes trabalhos, a intensidade foi aproximadamente igual.

Suprimiu-se o atraso de sete dias a três meses que existia no cumprimento das encomendas (urgentes) como resultado da insuficiência de mão-de-obra e da morosidade burocrática.

O trabalho foi efectuado apesar do mau estado (fácil de eliminar) das ferramentas, o que atrasou certos grupos 30 a 40 minutos.

A administração que ficara para a direcção dos trabalhos mal tinha tempo de preparar novas tarefas, e talvez não seja muito exagerada a reflexão, feita por um velho contramestre, de que no sábado comunista foi realizado um trabalho no qual operários inconscientes e desleixados teriam gasto uma semana.

Como também participaram nos trabalhos pessoas que são simplesmente adeptos sinceros do Poder Soviético, como se espera a afluência de grande número deles nos sábados futuros e como também outros distritos desejam seguir o exemplo dos ferroviários comunistas da linha Moscovo-Kazán, deter-me-ei mais pormenorizadamente no aspecto organizativo, utilizando os dados provenientes das localidades.

Cerca de 10 % dos participantes nestes trabalhos são comunistas que trabalham permanentemente nas localidades. Os restantes ocupam postos electivos e de responsabilidade, desde o comissário da linha até ao comissário de diferentes empresas, e também do sindicato, e trabalhadores da direcção e do Comissariado das Vias de Comunicação.

Nunca se viu tanto entusiasmo e harmonia no trabalho. Quando os operários, empregados de escritório e funcionários da direcção, depois de terem levantado o aro de quarenta puds de uma roda para uma locomotiva de comboio de passageiros, a fizerem rolar para o seu lugar sem palavras grosseiras nem discussões, como formigas laboriosas, nascia no fundo do coração um fervoroso sentimento de alegria pelo trabalho colectivo e fortalecia-se a fé em que a vitória da classe operária é inabalável. Os abutres mundiais não conseguirão estrangular os operários vitoriosos, a sabotagem interna não verá a vitória de Koltchak.

Terminado o trabalho, os presentes foram testemunhas duma cena jamais vista: uma centena de comunistas, fatigados mas com os olhos brilhantes de alegria, saudaram o êxito do trabalho com o canto solene de A Internacional. E parecia que as notas triunfais do hino triunfal atravessavam os muros para se irem espalhar pela Moscovo operária e, como as ondas formadas por uma pedra atirada à água, propagar-se pela Rússia operária c despertar os cansados e desleixados.

A. J.

Local de trabalhoDesignação dos trabalhosNúmero de operários Número de horas - Unidade de tempoNúmero de horas - TotalTrabalho efectuado
Moscovo. Oficinas principais de locomotivas.Carregamento de materiais para a linha, de ferramentas para a reparação de locomotivas e peças de vagões para Perovo-Múrom-Alatír e Sízran48
21
5
5
3
4
240
63
20
Carregados 7500 puds.
Descarregados 1800 puds.
Moscovo. Depósito de comboios de passageiros.Reparação corrente complexa de locomotivas.26 5130No total, um trabalho equivalente à reparação de 1,5 locomotiva.
Moscovo. Estação de triagem.Reparação corrente de locomotivas.24 6144Postas em serviço 2 locomotivas, em 4 desmontadas as peças para reparação.
Moscovo. Secção de carruagens.Reparação corrente de carruagens de passageiros12 6722 carruagens de 3ª classe
«Peroyo». Oficinas principais de vagõesReparação corrente de vagões e pequenas reparações realizadas no sábado e no domingo46
23
5
5
230
115
12 vagões de mercadorias cobertos e 2 abertos
 Total.............205 1014 Postos em serviço 4 locomotivas e 16 vagões e descarregados e carregados 9300 puds.

Apreciando este magnífico «exemplo digno de ser imitado», o Pravda de 20 de Maio, num artigo do camarada N. R. com esse título, escrevia:

«Não são raros os casos de trabalhos do mesmo tipo realizados pelos comunistas. Conheço casos semelhantes na central eléctrica e em diversas vias férreas. Na linha Nikolaevskaia os comunistas contribuíram com várias noites de trabalho suplementar para levantar uma locomotiva que tinha caído numa placa giratória; na linha do Norte, no Inverno, todos os comunistas e simpatizantes trabalharam vários domingos para limpar a neve das vias, as células de muitas estações de mercadorias fazem rondas nocturnas nas estações com o objectivo de lutar contra os ladrões de mercadorias. Mas este trabalho era ocasional, não sistemático. Os camaradas da linha de Kazán introduziram um elemento novo que dá a este trabalho um carácter sistemático e permanente. 'Até à vitória completa sobre Koltchak', decidiram os camaradas da linha de Kazán, e nisso reside toda a importância do seu trabalho. Eles prolongam em uma hora a jornada de trabalho dos comunistas e simpatizantes durante toda a duração do estado de guerra; ao mesmo tempo, dão o exemplo do trabalho produtivo.

Este exemplo foi já imitado e deve continuar a ser imitado. A assembleia geral de comunistas e simpatizantes da linha de caminho-de-ferro Alexandrovskaia, depois de discutir a situação militar e a decisão dos camaradas da linha de Kazán, decidiu: 1) Introduzir os 'sábados' para os comunistas e simpatizantes da linha Alexandrovskaia. O primeiro sábado foi fixado para 17 de Maio. 2) Organizar os comunistas e simpatizantes em brigadas modelo, exemplares, que deverão mostrar aos operários como é preciso trabalhar e o que se pode fazer na realidade com os materiais, ferramentas e alimentação actuais.

Segundo os camaradas da linha de Kazán, o seu exemplo causou grande impressão e esperam que no próximo sábado participará no trabalho um número considerável de operários sem partido. No momento em que escrevemos estas linhas, ainda não começou nas oficinas da linha Alexandrovskaia o trabalho extraordinário dos comunistas; apenas correu o rumor sobre os trabalhos projectados, mas já a massa sem partido se pôs em movimento e comenta: 'Não sabíamos ontem, senão ter-nos-íamos preparado e teríamos trabalhado também', 'no próximo sábado virei sem falta', ouve-se por todos os lados. A impressão produzida por este género de trabalho é muito grande.

O exemplo dos camaradas da linha de Kazán deve ser seguido por todas as células comunistas da retaguarda. Não apenas as células comunistas do nó ferroviário de Moscovo, mas todas as organizações do partido na Rússia devem imitar este exemplo. E no campo as células comunistas devem, em primeiro lugar, cultivar as terras dos combatentes do Exército Vermelho, ajudando as suas famílias.

Os camaradas da linha de Kazán acabaram o seu trabalho no primeiro sábado comunista cantando A Internacional. Se a organização comunista de toda a Rússia seguir este exemplo e o aplicar firmemente, os duros meses próximos serão vividos pela República Soviética da Rússia aos poderosos acordes de A Internacional, cantada por todos os trabalhadores da República ...

Ao trabalho, camaradas comunistas!»

O Pravda informava em 23 de Maio de 1919 que

«em 17 de Maio teve lugar o primeiro sábado comunista na linha Alexandrovskaia. De acordo com a decisão da assembleia geral, 98 comunistas e simpatizantes trabalharam gratuitamente cinco horas extraordinárias, recebendo apenas o direito a comprar uma segunda refeição, e para essa refeição paga foi-lhes dada, como operários manuais, meia libra de pão».

Apesar de o trabalho estar insuficientemente preparado e insuficientemente organizado, apesar disso a produtividade do trabalho foi duas ou três vezes superior ao habitual.

Eis alguns exemplos:

Cinco torneiros fizeram em 4 horas 80 eixos pequenos. A produtividade, em comparação com a habitual, foi de 213%. Vinte serventes recolheram em 4 horas 600 puds de material velho e 70 molas de vagão de 31 puds de peso cada uma, num total de 850 puds. A produtividade, em comparação com a habitual, foi de 300%.

«Os camaradas explicam isto dizendo que em tempo normal o trabalho é fastidioso e aborrece, mas aqui se trabalhou com gosto, com entusiasmo. Mas agora será vergonha fazer menos tempo normal do que nos sábados comunistas.»

«Agora muitos operários sem partido expressam o desejo de participar nos sábados. As brigadas de locomotivas oferecem-se para retirar no sábado uma locomotiva do 'cemitério', repará-la e pô-la em circulação.

Recebemos notícias de que na linha de Viazma se estão a organizar sábados semelhantes.»

O camarada A. Diatchenko escreve no Pravda de 7 de Junho como decorre o trabalho nestes sábados comunistas. Reproduzimos a parte principal do seu artigo, intitulado «Notas de um sábado comunista»:

«Foi com grande alegria que, acompanhado de um camarada, fui fazer o meu 'estágio' de sábado, por decisão do comité do partido do subdistrito ferroviário, e dar durante algum tempo, durante algumas horas, descanso à cabeça, fazendo trabalhar os músculos... Fomos destacados para trabalhar na carpintaria da linha. Chegámos, vimos os nossos camaradas, saudámo-nos, gracejámos, e contámos as forças: éramos 30... E à nossa frente tínhamos um 'monstro', uma caldeira de peso bastante respeitável, uns 600 ou 700 puds, que tínhamos que 'deslocar', isto é, fazer rolar 1/4 ou 1/3 de versta até uma plataforma. A dúvida insinuou-se nos nossos espíritos... Mas metemos mãos à obra: muito simplesmente os camaradas colocaram sob a caldeira uns rolos de madeira, ataram duas cordas e começou o trabalho... A caldeira não queria ceder, mas finalmente cedeu. Estávamos contentes, éramos tão poucos... porque durante duas semanas operários não comunistas em número três vezes superior ao nosso tinham estado a puxar aquela mesma caldeira, mas ela não se deixou convencer até que nós chegássemos... Trabalhámos uma hora, intensamente, todos à uma, ao som compassado da ordem - 'um, dois, três' - do nosso camarada capataz, e a caldeira avança, avança. Mas, de repente, que aconteceu? Subitamente toda uma fila de camaradas caiu por terra comicamente: uma das cordas 'tinha-nos atraiçoado' ... Mas a interrupção não durou mais que uns minutos: substituí-mo-la imediatamente por um cabo. À tarde, anoitecia já visivelmente, tínhamos ainda de vencer uma pequena encosta para que o trabalho estivesse pronto. Doíam-nos os braços, as palmas das mãos ardiam-nos, transpirávamos, fazíamos todos os esforços - mas o trabalho avançava. Os 'administrativos' confusos perante o nosso êxito, acabaram por decidir-se a deitar as mãos ao cabo: ajudem-nos que já é tempo: um soldado vermelho, com um acordeão nas mãos observava o nosso trabalho. Que pensa ele? Que gente é esta? Porque trabalham assim a um sábado, quando toda a gente está em casa? Eu respondo às suas conjecturas e digo: 'Camarada! Toca-nos qualquer coisa alegre, não somos uns trabalhadores quaisquer, mas verdadeiros comunistas; vês como trabalhamos rapidamente, não preguiçamos, trabalhamos a sério'. O soldado vermelho pousou cuidadosamente o seu acordeão e apressou-se a deitar uma mão ao cabo...

— 'Que esperto é o inglês!' - entoou com a sua bela voz de tenor o camarada U. Fizemos coro com ele, e ressoou surdamente a letra da canção operária Dubínuchka.

Por falta de hábito, cansaram-se-nos os músculos, curvaram-se-nos os ombros e as costas, mas... tínhamos à nossa frente um dia livre, o nosso dia de descanso, e poderemos dormir bem. O objectivo estava próximo, e depois de pequenas vacilações o nosso 'monstro' estava já quase em cima da plataforma: ponham-lhe umas tábuas por baixo, empurrem-na para a plataforma, e que esta caldeira faça o trabalho que há muito se espera dela. Caminhámos em grupo para a casa que serve de 'clube' à célula local, que, coberto de cartazes e cheio de espingardas, estava muito iluminado, e depois de A Internacional bem cantada deleitámo-nos com chá com 'rum' e até pão. Esta bebida, preparada pelos camaradas locais, vinha muito a propósito depois do nosso duro trabalho. Despedimo-nos fraternalmente dos camaradas e alinhámos em filas. Os cantos revolucionários ressoavam no silêncio da noite na rua adormecida, e o ruído cadenciado dos passos acompanhava a canção. 'Marchemos ousadamente, camaradas'. 'De pé, ó vítimas da fome', dizia o hino de A Internacional e do trabalho.

Passou uma semana. Os nossos braços e os nossos ombros tinham descansado, e fomos para um 'sábado', agora já a nove verstas, para fazer vagões. Foi em Perovo. Os camaradas subiram para o tecto de um 'americano', e com voz sonora e bela cantaram A Internacional. Os viajantes escutavam, ao que parecia, assombrados. As rodas batiam cadenciadamente, e nós, não conseguindo trepar até ao tecto, pendurámo-nos à volta do 'americano', sobre os degraus, parecendo passageiros 'temerários'. Eis a paragem; tínhamos chegado. Atravessámos um longo pátio e encontrámos o cordial comissário camarada G.

— Trabalho há, gente é que há pouca! No total, 30 homens, e em 6 horas é preciso fazer reparações correntes em treze vagões. Assim estão os jogos de rodas já marcados; não há apenas vagões vazios, mas também uma cisterna cheia ... mas não importa, 'desenrascar-nos-emos', camaradas!

O trabalho avança rápido. Cinco camaradas e eu trabalhamos com alavancas. Sob a pressão dos nossos ombros e de duas alavancas, sob a direcção do camarada 'capataz', fazemos saltar rapidamente de uma para outra via estes pares de rodas, que pesam entre 60 e 70 puds. Mal se tirou ainda um par de rodas quando já outro ocupa o seu lugar. Quando já estão todas no lugar, fazemos rodar rapidamente pelos carris este ferro-velho até um barracão. Uma, duas, três - uma alavanca de ferro giratória levanta as rodas no ar, e ei-las que já não estão nos carris. Ali, na obscuridade, ouve-se o bater dos martelos; são os nossos camaradas que trabalham, diligentes como abelhas, nos seus vagões 'doentes'. Trabalham de carpinteiro, pintam, arranjam os tectos - O trabalho avança, para alegria nossa e do camarada comissário. Ali os ferreiros pediram a nossa ajuda. Na forja portátil estava, aquecida ao rubro, uma barra de engate de vagão com o gancho dobrado por um choque. Branca, faiscante, passou para a bigorna e com os nossos golpes certeiros, sob o olhar de um camarada experiente, recupera a sua forma normal. Estava ainda rubra quando a levámos sobre os ombros, com toda a rapidez, para o seu lugar. Despedindo faíscas, introduzimo-la no alvéolo de ferro: uns quantos golpes e ficou no lugar. Metemo-nos sob o vagão. Aí a estrutura destes engates e barras não é tão simples como parece, porque há todo um sistema de rebites e uma mola em espiral…

O trabalho avança, a noite torna-se cada vez mais escura e é mais viva a luz das tochas. Em breve terminaremos. Uma parte dos camaradas, encostados a um montão de jantes, bebem chá quente a pequenos goles. É uma fresca noite de Maio, e a Lua no quarto crescente recorta-se bela no céu. Gracejos, risos, humor são.

— Camarada G., deixa o trabalho, já tens 13 vagões!

Mas para o camarada G. isto é pouco.

Acabado o chá, entoámos as nossas canções de triunfo e dirigimo-nos para a saída ...»

O movimento em prol de organização dos «sábados comunistas» não se limita a Moscovo. O Pravda de 6 de Junho informava:

«Em 31 de Maio teve lugar em Tver o primeiro sábado comunista. Cento e vinte e oito comunistas trabalharam na linha férrea. Em três horas e meia carregaram e descarregaram 14 vagões, repararam três locomotivas, serraram 10 braças de lenha e executaram outros trabalhos. A intensidade do trabalho dos operários comunistas qualificados ultrapassou em 13 vezes a produtividade normal.»

Seguidamente, no Pravda de 8 de Junho lemos:

OS SÁBADOS COMUNISTAS

«Sarátov, 5 de Junho. Os ferroviários comunistas, correspondendo ao apelo dos seus camaradas de Moscovo, decidiram, numa assembleia geral do partido, trabalhar gratuitamente aos sábados cinco horas extraordinárias para apoiar a economia nacional.»

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Reproduzi com o máximo pormenor e inteiramente as informações relativas aos sábados comunistas porque observamos aqui, sem dúvida, um dos aspectos mais importantes da edificação comunista, ao qual a nossa imprensa dedica insuficiente atenção e que nós todos apreciamos ainda insuficientemente.

Menos palavreado político e maior atenção aos factos mais simples, mais vivos, tomados da vida e verificados na vida, da edificação comunista; tal é a palavra de ordem que todos nós, os nossos escritores, agitadores, propagandistas, organizadores, etc., devemos repetir constantemente.

É natural e inevitável que durante os primeiros tempos depois da revolução proletária nos preocupe acima de tudo a tarefa principal e fundamental: superar a resistência da burguesia, vencer os exploradores, reprimir as suas conspirações (como a «conspiração dos escravistas» para entregar Petrogrado, na qual participaram todos, desde os cem negros e os democratas-constitucionalistas até aos mencheviqucs e os socialistas-revolucionários(N108)). Mas, ao lado desta tarefa, surge também inevitavelmente - e cada vez com maior força - a tarefa mais essencial da edificação comunista positiva, da criação das novas relações económicas, da nova sociedade.

A ditadura do proletariado - como já tive ocasião de indicar mais de uma vez e, entre outras, também no meu discurso de 12 de Março na reunião do Soviete de deputados de Petrogrado - não é só a violência sobre os exploradores, nem sequer é principalmente a violência. A base económica dessa violência revolucionária, a garantia da sua vitalidade e do seu êxito, está em que o proletariado representa e realiza um tipo mais elevado de organização social do trabalho em comparação com o capitalismo. Isto é o essencial. Nisto reside a fonte da força e a garantia da vitória inevitável e completa do comunismo.

A organização feudal do trabalho social assentava na disciplina do cacete, na ignorância e no embrutecimento extremos dos trabalhadores, espoliados e escarnecidos por um punhado de latifundiários. A organização capitalista do trabalho social assentava na disciplina da fome, e a massa enorme dos trabalhadores, apesar de todo o progresso da cultura e da democracia burguesa, continuou a ser, mesmo nas repúblicas mais avançadas, mais civilizadas e mais democráticas, a massa ignorante e embrutecida dos escravos assalariados ou dos camponeses esmagados, espoliados e escarnecidos por um punhado de capitalistas. A organização comunista do trabalho social, de que o socialismo constitui o primeiro passo, assenta e assentará cada vez mais na disciplina livre e consciente dos próprios trabalhadores, que derrubaram o jugo tanto dos latifundiários como dos capitalistas.

Esta nova disciplina não cai do céu nem nasce de votos piedosos, mas decorre das condições materiais da grande produção capitalista, e apenas delas. Sem elas é impossível. E o portador ou veículo dessas condições materiais é uma classe histórica determinada, criada, organizada, unida, instruída, educada e temperada pelo grande capitalismo. Essa classe é o proletariado.

A ditadura do proletariado, se traduzirmos esta expressão latina, científica, histórico-filosófica, para uma linguagem mais simples, significa o seguinte: só uma classe determinada, a saber os operários urbanos e em geral os operários das fábricas, os operários industriais, está em condições de dirigir toda a massa de trabalhadores e explorados na luta para derrubar o jugo do capital, no processo do próprio derrubamento, na luta para manter e consolidar a vitória, na obra da criação do novo regime social, do regime socialista, em toda a luta pela completa supressão das classes. (Notemos entre parênteses: a diferença científica entre o socialismo e o comunismo consiste apenas em que a primeira palavra designa a primeira fase da sociedade nova que nasce do capitalismo, e a segunda palavra designa uma fase superior e mais avançada dessa sociedade.)

O erro da Internacional amarela «de Berna» consiste em que os seus chefes só em palavras reconhecem a luta de classes e o papel dirigente do proletariado, receando levar as suas ideias até ao fim, receando precisamente a inevitável conclusão que causa particular horror à burguesia e que é absolutamente inaceitável para ela. Receiam reconhecer que a ditadura do proletariado é também um período de luta de classes, que é inevitável enquanto as classes não tiverem sido suprimidas e que muda as suas formas, tornando-se particularmente encarniçada e particularmente específica durante os primeiros tempos após o derrubamento do capital. Uma vez conquistado o poder político, o proletariado não cessa a sua luta de classe, antes a continua até a supressão das classes, mas naturalmente noutras condições, sob outras formas e com outros meios.

E que quer dizer «supressão das classes»? Todos aqueles que se dizem socialistas reconhecem este objectivo final do socialismo, mas nem todos, longe disso, reflectem no seu significado. Chama-se classes a grandes grupos de pessoas que se diferenciam entre si pelo seu lugar num sistema de produção social historicamente determinado, pela sua relação (as mais das vezes fixada e formulada nas leis) com os meios de produção, pelo seu papel na organização social do trabalho e, consequentemente, pelo modo de obtenção e pelas dimensões da parte da riqueza social de que dispõem. As classes são grupos de pessoas, um dos quais pode apropriar-se do trabalho do outro graças ao facto de ocupar um lugar diferente num regime determinado de economia social.

É claro que, para suprimir por completo as classes, é preciso não só derrubar os exploradores, os latifundiários e capitalistas, não só abolir a sua propriedade, é preciso abolir ainda toda a propriedade privada dos meios de produção, é preciso suprimir tanto a diferença entre a cidade e o campo, como a diferença entre os trabalhadores manuais e intelectuais. É uma obra muito longa. Para a realizar, é necessário um gigantesco passo em frente no desenvolvimento das forças produtivas, é necessário superar a resistência (frequentemente passiva, que é particularmente tenaz e particularmente difícil de superar) das numerosas sobrevivências da pequena produção, é preciso superar a enorme força do hábito e da rotina ligadas a estas sobrevivências.

Supor que todos os «trabalhadores» são igualmente capazes de realizar este trabalho seria uma frase vazia e uma ilusão de um socialista antediluviano, pré-marxista. Porque essa capacidade não se dá por si mesma, antes nasce historicamente e nasce apenas das condições materiais da grande produção capitalista. No principio do caminho do capitalismo para o socialismo, só o proletariado possui essa capacidade. Ele está em condições de cumprir a gigantesca missão que lhe incumbe, primeiro porque é a classe mais forte e mais avançada das sociedades civilizadas; segundo, porque nos países mais desenvolvidos constitui a maioria da população; terceiro, porque nos países capitalistas atrasados, como a Rússia, a maioria da população é composta por semiproletários, isto é, por homens que regularmente vivem uma parte do ano como proletários, que procuram regularmente a subsistência, em certa medida, no trabalho assalariado em empresas capitalistas.

Aqueles que tentam resolver os problemas da transição do capitalismo para o socialismo com generalidades sobre a liberdade, a igualdade, a democracia em geral, a igualdade da democracia do trabalho, etc. (como o fazem Kautsky, Mártov e os outros heróis da Internacional amarela de Berna), apenas revelam desta maneira a sua natureza de pequenos burgueses, de filisteus, de espíritos mesquinhos, que se arrastam servilmente atrás da burguesia no plano ideológico. Este problema só pode ser resolvido de um modo acertado por um estudo concreto das relações específicas existentes entre a classe específica que conquistou o poder político, ou seja, o proletariado, e toda a massa não proletária e também semiproletária da população trabalhadora, e estas relações não se estabelecem em condições fantasticamente harmoniosas, «ideais», mas nas condições reais de uma raivosa e multiforme resistência por parte da burguesia.

Em qualquer país capitalista, incluindo a Rússia, a imensa maioria da população - e mais ainda a imensa maioria da população trabalhadora - sentiu mil vezes sobre si e os seus familiares a opressão do capital, a sua pilhagem e toda a espécie de vexames. A guerra imperialista - isto é, o assassínio de dez milhões de homens para decidir se a primazia na pilhagem de todo o mundo devia pertencer ao capital inglês ou alemão - agudizou, ampliou e aprofundou extraordinariamente estas provações, forçando as massas a tomar consciência delas. Daí a inevitável simpatia da imensa maioria da população, particularmente da massa dos trabalhadores, pelo proletariado, pelo facto de ele, com uma audácia heróica com implacabilidade revolucionária, derrubar o jugo do capital, derrubar os exploradores, reprimir a sua resistência e, derramando o seu próprio sangue, abrir o caminho que conduz à criação duma sociedade nova, na qual não haverá lugar para os exploradores.

Por maiores e inevitáveis que sejam as hesitações pequeno-burguesas, a tendência para voltar para trás, para o lado da «ordem» burguesa, para debaixo da «asa» da burguesia, por parte das massas não proletárias e semiproletárias da população trabalhadora, elas não podem deixar de reconhecer a autoridade moral e política do proletariado, que não só derruba os exploradores e reprime a sua resistência, mas que também estabelece um vínculo social, uma disciplina social novos e mais elevados: a disciplina dos trabalhadores conscientes e unidos, que não conhecem nenhum jugo e nenhum poder além do poder da sua própria união, da sua própria vanguarda, mais consciente, audaciosa, unida, revolucionária e firme.

Para vencer, para criar e consolidar o socialismo, o proletariado tem que realizar uma tarefa dupla, ou melhor, com dois aspectos: primeiro, arrastar, com o seu heroísmo abnegado na luta revolucionária contra o capital, toda a massa de trabalhadores e explorados, arrastá-la, organizá-la, dirigi-la para o derrubamento da burguesia e o esmagamento completo de toda a resistência por parte desta; segundo, conduzir atrás de si toda a massa de trabalhadores e de explorados, assim como todas as camadas pequeno-burguesas, para a via da nova construção económica, para a via da criação do novo vínculo social, da nova disciplina do trabalho e da nova organização do trabalho, que combina a última palavra da ciência e da técnica capitalista com a união maciça dos trabalhadores conscientes, que criam a grande produção socialista.

Esta segunda tarefa é mais difícil que a primeira, porque não pode ser realizada em caso algum pelo heroísmo de um impulso isolado, mas exige o heroísmo mais prolongado, mais perseverante, mais difícil do trabalho de massas e quotidiano. Mas esta tarefa é também mais essencial que a primeira, porque no fim de contas, a fonte mais profunda da força para as vitórias sobre a burguesia e a única garantia de solidez e inalienabilidade destas vitórias reside unicamente num modo novo e superior da produção social, na substituição da produção capitalista e pequeno-burguesa pela grande produção socialista.

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Os «sábados comunistas» têm uma imensa importância histórica precisamente porque nos mostram a iniciativa consciente e voluntária dos operários no desenvolvimento da produtividade do trabalho, na passagem a uma nova disciplina do trabalho e na criação de condições socialistas na economia e na vida.

J. Jacoby, um dos poucos, ou mais exactamente um dos raríssimos democratas burgueses da Alemanha que, depois das lições de 1870-1871, não passaram para o chauvinismo nem para o nacional-liberalismo, mas para o socialismo, dizia que a fundação de uma só associação operária tinha mais importância histórica do que a batalha de Sadowa(N109). E tinha razão. A batalha de Sadowa decidiu qual de duas monarquias burguesas, a austríaca ou a prussiana, teria a supremacia na criação de um Estado capitalista nacional alemão. A fundação de uma associação operária representava um pequeno passo para a vitória mundial do proletariado sobre a burguesia. Do mesmo modo, nós podemos dizer que o primeiro sábado comunista, organizado em 10 de Maio de 1919 em Moscovo pelos operários ferroviários da linha férrea Moscovo-Kazán, tem mais importância histórica do que qualquer vitória de Hindenburgo ou de Foch e dos ingleses na guerra imperialista de 1914-1918. As vitórias dos imperialistas são o massacre de milhões de operários para aumentar os lucros dos milionários anglo-americanos e franceses. São a bestialidade do capitalismo agonizante, empanturrado, que apodrece em vida. O sábado comunista dos operários ferroviários da linha Moscovo-Kazán é uma das células da sociedade nova, socialista, que traz a todos os povos da terra a emancipação do jugo do capital e das guerras.

Os senhores burgueses e os seus lacaios, incluindo os mencheviques e socialistas-revolucionários, habituados a considerarem-se representantes da «opinião pública», troçam, naturalmente, das esperanças dos comunistas, chamando a estas esperanças «embondeiro num vaso de reseda» e riem-se do ínfimo número de sábados, em comparação com os inumeráveis casos de roubo, ociosidade, redução de produtividade, deterioração das matérias-primas, deterioração dos produtos, etc. Nós respondemos a esses senhores: se a intelectualidade burguesa tivesse ajudado com os seus conhecimentos os trabalhadores e não os capitalistas russos e estrangeiros para a restauração do poder, a revolução seria mais rápida e mais pacífica. Mas isso é uma utopia, pois a questão é decidida pela luta de classes, e a maioria da intelectualidade inclina-se para a burguesia. O proletariado triunfará não com a ajuda da intelectualidade, mas apesar da sua oposição (pelo menos na maior parte dos casos), afastando os intelectuais burgueses incorrigíveis, transformando, reeducando e submetendo os vacilantes, conquistando gradualmente para o seu lado um número cada vez maior deles. Regozijar-se maldosamente a propósito das dificuldades e insucessos da revolução, semear o pânico, fazer propaganda do regresso ao passado - tudo isto são armas e processos da luta de classe da intelectualidade burguesa. Mas o proletariado não se deixará enganar com isso.

Mas se abordarmos a questão a fundo, será possível encontrar na história um único exemplo de um modo de produção novo que se tenha implantado de repente, sem uma longa série de reveses, de erros e de recaídas? Meio século depois da queda do regime de servidão, persistiam ainda na aldeia russa muitas sobrevivências da servidão. Meio século depois da abolição da escravidão dos negros na América, a situação dos negros continuava a ser, em muitos casos, de semiescravidão. A intelectualidade burguesa, incluindo os mencheviques e socialistas-revolucionários, é fiel a si mesma servindo o capital e mantendo uma argumentação totalmente falsa: antes da revolução proletária acusavam-nos de utopismo, e depois dela exigem que eliminemos fantasticamente depressa as sobrevivências do passado!

Mas nós não somos utopistas e conhecemos o verdadeiro valor dos «argumentos» burgueses, sabemos também que as sobrevivências do passado nos costumes predominarão inevitavelmente durante um certo tempo, depois da revolução, sobre os rebentos do novo. Quando o novo acaba de nascer, tanto na natureza como na vida social, o velho permanece sempre mais forte do que ele durante um certo tempo. Os sarcasmos a propósito da debilidade dos rebentos do novo, o cepticismo barato dos intelectuais, etc., são, no fundo, processos da luta de classe da burguesia contra o proletariado, da defesa do capitalismo perante o socialismo. Devemos estudar minuciosamente os rebentos do novo, dispensar-lhes a maior atenção, ajudar por todos os meios o seu crescimento e «cuidar» desses débeis rebentos. E inevitável que alguns deles pereçam. Não se pode assegurar que precisamente os «sábados comunistas» desempenharão um papel de particular importância. Não se trata disso. Trata-se de que é preciso apoiar todos e quaisquer rebentos do novo, entre os quais a vida seleccionará os mais vivazes. Se um cientista japonês, para ajudar os homens a vencer a sífilis, teve a paciência de experimentar 605 preparações antes de elaborar a 606ª, que satisfaz determinadas exigências, quem quiser resolver um problema mais difícil, vencer o capitalismo, deverá ter perseverança para experimentar centenas e milhares de novos processos, métodos e meios de luta até elaborar os mais úteis.

Os «sábados comunistas» têm tanta importância porque foram iniciados não por operários que se encontram em condições excepcionalmente favoráveis, mas por operários de diversas especialidades, incluindo também operários não especializados, serventes que se encontram nas condições habituais, isto é, as mais duras. Todos conhecemos muito bem a condição fundamental da queda da produtividade do trabalho que se verifica não apenas na Rússia, mas em todo o mundo: a ruína e a miséria, a exasperação e o cansaço provocados pela guerra imperialista, as doenças e a subalimentação. Pela sua importância, esta última ocupa o primeiro lugar. A fome - eis a causa. E para suprimir a fome é necessário elevar a produtividade do trabalho tanto na agricultura como nos transportes e na indústria. Encontramo-nos, por conseguinte, perante uma espécie de círculo vicioso: para elevar a produtividade do trabalho é preciso escapar à fome, e para escapar à fome é preciso elevar a produtividade do trabalho.

É sabido que semelhantes contradições se resolvem na prática pela ruptura deste círculo vicioso, por uma viragem no estado de espírito das massas, pela iniciativa heróica de alguns grupos, que no quadro de tal viragem desempenha frequentemente um papel decisivo. Os serventes de Moscovo e os ferroviários de Moscovo (tendo em vista naturalmente a maioria, e não um punhado de especuladores, funcionários e outros guardas brancos) são trabalhadores que vivem em condições desesperadamente difíceis. Sofrem de subalimentação crónica, e agora, antes da nova colheita, quando a situação do abastecimento piorou em toda a parte, sofrem de verdadeira fome. E estes operários famintos, cercados pela maldosa agitação contra-revolucionária da burguesia, dos mencheviques e dos socialistas-revolucionários, organizam os «sábados comunistas», trabalham horas extraordinárias sem qualquer remuneração e conseguem um aumento enorme da produtividade do trabalho, apesar de se encontrarem cansados, atormentados e extenuados pela subalimentação. Não será isto um heroísmo grandioso? Não será o começo duma viragem de importância histórica universal?

A produtividade do trabalho é, em última análise, o mais importante, o principal para a vitória do novo regime social. O capitalismo criou uma produtividade do trabalho nunca vista sob o feudalismo. O capitalismo pode ser definitivamente vencido e será definitivamente vencido porque o socialismo cria uma nova produtividade do trabalho muitíssimo mais elevada. É uma tarefa muito difícil e muito longa, mas já começou, e isso é o principal. Se na Moscovo faminta do Verão de 1919, operários famintos, que viveram quatro duros anos de guerra imperialista, depois de ano e meio de uma guerra civil ainda mais dura, puderam iniciar esta grande obra, que desenvolvimento atingirá ela quando vencermos na guerra civil e conquistarmos a paz?

O comunismo é uma produtividade do trabalho mais elevada que a do capitalismo, obtida voluntariamente por operários conscientes e unidos que utilizam uma técnica avançada. Os sábados comunistas têm um valor excepcional como começo efectivo do comunismo, e isto é extremamente raro, pois nos encontramos numa etapa na qual «se dão apenas os primeiros passos na transformação do capitalismo para o comunismo» (como diz, com toda a razão, o programa do nosso partido(N110)).

O comunismo começa lá onde dos operários de base surge uma preocupação abnegada, que supera a dureza do trabalho, pelo aumento da produtividade do trabalho, pela salvaguarda de cada pud de trigo, de carvão, de ferro e de outros produtos que não se destinam pessoalmente aos que trabalham nem aos seus «próximos», mas a pessoas «alheias», isto é, a toda a sociedade no seu conjunto, a dezenas e centenas de milhões de homens, unidos primeiro num Estado socialista, e depois numa união de Repúblicas Soviéticas.

Karl Marx, em O Capital, troça da pomposidade e grandiloquência da grande parte democrático-burguesa das liberdades e direitos do homem, de toda essa fraseologia sobre a liberdade, a igualdade e a fraternidade em geral, que deslumbra os pequenos burgueses e filisteus de todos os países, incluindo os vis heróis actuais da vil Internacional de Berna. Marx contrapõe a essas pomposas declarações de direitos a maneira simples, modesta, prática e corrente com que o proletariado apresenta a questão: redução da jornada de trabalho pelo Estado, eis um exemplo típico(N111). Toda a justeza e toda a profundidade da observação de Marx nos aparece com tanto maior clareza e evidência quanto mais se desenvolve o conteúdo da revolução proletária. As «fórmulas» do verdadeiro comunismo distinguem-se da fraseologia pomposa, artificiosa e solene dos Kautsky, dos mencheviques e dos socialistas-revolucionários, bem como dos seus queridos «irmãos» de Berna, precisamente em que elas reduzem tudo às condições de trabalho. Menos palavreado acerca da «democracia do trabalho», acerca da «igualdade liberdade, fraternidade», a «soberania do povo» e outras coisas semelhantes: o operário e o camponês conscientes dos nossos dias distingue nestas frases ocas a fraude do intelectual burguês tão facilmente como qualquer pessoa com experiência da vida que, ao ver a fisionomia irrepreensivelmente cuidada e o aspecto de uma «pessoa distinta», afirma imediatamente e sem se enganar: «E de certeza um trapaceiro.»

Menos frases pomposas e mais trabalho simples, quotidiano, mais preocupação por cada pud de trigo e por cada pud de carvão! Mais preocupação porque esse pud de trigo e esse pud de carvão, indispensáveis ao operário faminto e ao camponês esfarrapado e descalço, lhes cheguem não por traficâncias, não à maneira capitalista, mas pelo trabalho consciente, voluntário, abnegadamente heróico de simples trabalhadores, como os serventes e os ferroviários da linha Moscovo-Kazán.

Todos devemos reconhecer que a cada passo, em toda a parte, e também nas nossas fileiras, se revelam vestígios da abordagem charlatanesca, intelectual burguesa, da questão da revolução. A nossa imprensa, por exemplo, não luta o suficiente contra estes restos putrefactos do apodrecido passado democrático-burguês e apoia pouco os rebentos simples, modestos, quotidianos, mas vivos, do verdadeiro comunismo.

Tomemos a situação da mulher. Nenhum partido democrático do mundo, em nenhuma das repúblicas burguesas mais avançadas, faz, neste aspecto, em dezenas de anos, nem a centésima parte daquilo que nós fizemos no primeiro ano do nosso poder. Não deixámos, no sentido literal da palavra, pedra sobre pedra das infames leis da desigualdade de direitos da mulher, das restrições ao divórcio, das ignóbeis formalidades que o rodeiam, sobre o não reconhecimento dos filhos naturais, a investigação da paternidade, etc. - leis de que subsistem em todos os países civilizados numerosos vestígios, para vergonha da burguesia e do capitalismo. Temos mil vezes razão para nos sentirmos orgulhosos do que fizemos neste domínio. Mas quanto mais limpámos o terreno da cangalhada de velhas leis e instituições burguesas, tanto mais claro se tornou para nós que isto foi apenas a limpeza do terreno para a construção, mas ainda não a própria construção.

A mulher continua a ser escrava do lar, apesar de todas as leis libertadoras, porque está oprimida, sufocada, embrutecida, humilhada pelos pequenos trabalhos domésticos, que a amarram à cozinha e aos filhos, que malbaratam a sua actividade num trabalho improdutivo, mesquinho, enervante, embrutecedor e opressivo. A verdadeira emancipação da mulher e o verdadeiro comunismo só começarão ali e onde começar a luta em massa (dirigida pelo proletariado, detentor do poder do Estado) contra esta pequena economia doméstica, ou, mais exactamente, quando começar a sua transformação em massa numa grande economia socialista.

Concedemos nós na prática suficiente atenção a esta questão, que, do ponto de vista teórico, é indiscutível para qualquer comunista? Certamente que não. Preocupamo-nos suficientemente com os rebentos do comunismo que já existem neste domínio? Uma vez mais, não e não. As cantinas públicas, as creches e os jardins infantis - eis exemplos destes rebentos, eis meios simples, correntes, sem pompa, grandiloquência nem solenidade, de facto capazes de emancipar a mulher, de facto capazes de minorar e suprimir a sua desigualdade em relação ao homem pelo seu papel na produção social e na vida social. Estes meios não são novos. Foram criados (como, em geral, todas as premissas materiais do socialismo) pelo grande capitalismo, mas neste eles têm sido, em primeiro lugar, uma raridade, e em segundo lugar – o que tem particular importância -, ou eram empresas mercantis, com todos os piores aspectos da especulação, do lucro, do engano, da falsificação, ou então uma «acrobacia da caridade burguesa», odiada e desprezada, com toda a razão, pelos melhores operários.

É indubitável que estas instituições são já muito mais numerosas no nosso país e começam a mudar de carácter. É indubitável que entre as operárias e camponesas há muito mais talentos organizativos do que os que nós conhecemos, pessoas que sabem organizar o trabalho prático, com a participação de um grande número de trabalhadores e de um número muito maior de consumidores, sem a abundância de frases, a futilidade, as brigas e a charlatanice sobre planos, sistemas, etc., da que «padece» a «intelectualidade», sempre demasiado presumida, ou os «comunistas» precoces. Mas não cuidamos como devíamos desses rebentos do novo.

Vejamos a burguesia. Como sabe admiravelmente dar publicidade àquilo que lhe é necessário! Como exalta as empresas «modelo» (na opinião dos capitalistas) nos milhões de exemplares dos seus jornais, como sabe fazer de instituições burguesas «modelo» objecto de orgulho nacional! A nossa imprensa não se preocupa, ou quase não se preocupa, em descrever as melhores cantinas ou as melhores creches, em conseguir, com uma insistência diária, a transformação de algumas delas em instituições modelo, em fazer propaganda delas, em descrever pormenorizadamente a economia de esforço humano, as vantagens para os consumidores, a poupança de produtos, a libertação da mulher da escravidão doméstica, a melhoria das condições sanitárias que se conseguem com um exemplar trabalho comunista e que se podem alcançar, que se podem alargar a toda a sociedade, a todos os trabalhadores.

Uma produção exemplar, sábados comunistas exemplares, um cuidado e uma honestidade exemplares na obtenção e distribuição de cada pud de trigo, cantinas exemplares, a limpeza exemplar duma habitação operária, de um bairro, tudo isto deve tornar-se, dez vezes mais do que agora, objecto de atenção e cuidado tanto por parte da nossa imprensa como por parte de cada organização operária e camponesa. Tudo isto são rebentos de comunismo, e cuidar destes rebentos é uma obrigação primordial de todos nós. Por muito difícil que seja a situação do abastecimento e da produção, o avanço em toda a frente em ano e meio de poder bolchevique é indubitável: o aprovisionamento de cereais subiu de 30 milhões de puds (de 1.VIII.1917 a 1.VIII.1918) para 100 milhões de puds (de 1.VIII.1918 a 1.V.1919); cresceu a horticultura, diminuiu a extensão dos campos não semeados, começou a melhorar o transporte ferroviário, apesar das gigantescas dificuldades com o combustível, etc. Sobre este fundo geral, e com o apoio do poder de Estado proletário, os rebentos de comunismo não estiolarão, mas crescerão e florescerão, transformando-se em comunismo pleno.

★ ★ ★

É necessário reflectir sobre o significado dos «sábados comunistas» para retirar desta grande iniciativa todas as lições práticas, de grande importância, que dela decorrem.

O apoio por todos os meios a esta iniciativa é a primeira e principal lição. Começou-se a usar entre nós a palavra «comuna» com excessiva ligeireza. Qualquer empresa fundada por comunistas ou com a sua participação recebe a cada passo e imediatamente o nome de «comuna»; e com isto esquece-se frequentemente que essa denominação tão honrosa deve ser conquistada por um trabalho prolongado e perseverante, conquistada por êxitos práticos comprovados na edificação verdadeiramente comunista.

Por isso é inteiramente justa, na minha opinião, a decisão, que amadureceu na maioria do CEC, de anular um decreto do Conselho de Comissários do Povo no que se refere à denominação «comunas de consumo»(N112). Não importa que a denominação seja mais simples; a propósito, as lacunas e os defeitos das primeiras etapas do novo trabalho de organização não serão atribuídos às «comunas», mas imputados (e é justo que assim seja) aos maus comunistas. Seria muito útil eliminar do uso corrente a palavra «comuna», impedir que a primeira pessoa que aparece possa apossar-se desta palavra, ou reconhecer esta denominação unicamente às verdadeiras comunas, que demonstraram verdadeiramente na prática (e confirmaram pelo reconhecimento unânime de toda a população local) que podem e sabem organizar as coisas à maneira comunista. Primeiro demonstra a tua capacidade de trabalhar gratuitamente no interesse da sociedade, no interesse de todos os trabalhadores, a capacidade de «trabalhar à maneira revolucionária», a capacidade de elevar a produtividade do trabalho, de organizar as coisas de modo exemplar, e depois estende a mão para o honroso título de «comuna»!

Neste aspecto, os «sábados comunistas» constituem uma excepção do mais alto valor. Porque aqui os serventes e os operários ferroviários da linha Moscovo-Kazán primeiro mostraram de facto que são capazes de trabalhar como comunistas, e depois deram à sua iniciativa a denominação de «sábados comunistas». É preciso procurar e conseguir que se proceda também assim no futuro, que todos aqueles que chamem comuna à sua empresa, instituição ou obra sem o demonstrar com o trabalho duro e os êxitos práticos de um trabalho prolongado, com uma maneira exemplar e realmente comunista de organizar as coisas, sejam impiedosamente ridicularizados e cobertos de vergonha como charlatães ou fanfarrões.

A grande iniciativa dos «sábados comunistas» deve ser aproveitada também noutro sentido, a saber: para depurar o partido. Era absolutamente inevitável, nos primeiros tempos depois da revolução, quando a massa das pessoas «honestas» e de espírito pequeno-burguês estava particularmente amedrontada, quando a intelectualidade burguesa, incluindo, claro está, os mencheviques e os socialistas-revolucionários, sabotava sem excepção, como lacaios da burguesia, era absolutamente inevitável que aderissem ao partido dirigente aventureiros e outros elementos nocivos. Não houve nem pode haver nenhuma revolução sem isto. O importante é que o partido dirigente, apoiando-se na classe avançada, sã e forte, saiba depurar as suas fileiras.

Já há muito tempo que começámos o trabalho neste aspecto. É preciso continuá-lo sem desfalecimento e sem descanso. A mobilização dos comunistas para a guerra ajudou-nos: os cobardes e os canalhas fugiram do partido. Bons ventos os levem! Esta diminuição do número de membros do partido significa um enorme crescimento da sua força e peso. É preciso continuar a depuração, utilizando a iniciativa dos «sábados comunistas»; admitir no partido apenas depois de meio ano, digamos, de «prova» ou «estágio», que consistam em «trabalho à maneira revolucionária». A mesma prova deve ser exigida a todos os membros do partido que tenham entrado depois de 25 de Outubro de 1917 e que não tenham demonstrado com trabalhos ou méritos especiais a sua absoluta firmeza, lealdade e capacidade de ser comunistas.

A depuração do partido, ligada à inflexível elevação do seu grau de exigência em relação a um trabalho autenticamente comunista, melhorará o aparelho do poder de Estado e aproximará dum modo gigantesco a passagem definitiva dos camponeses para o lado do proletariado revolucionário.

Os «sábados comunistas», entre outras coisas, projectaram uma luz extraordinariamente clara sobre o carácter de classe do aparelho do poder de Estado sob a ditadura do proletariado. O CC do partido escreve uma carta acerca do «trabalho à maneira revolucionária»(1*). A ideia foi lançada pelo Comité Central de um partido que conta entre 100 000 e 200 000 membros (suponho que serão os que ficarão depois duma depuração séria, pois agora são mais).

A ideia é retomada pelos operários sindicalizados. O seu número na Rússia e na Ucrânia é de 4 milhões. Eles são, na sua gigantesca maioria, favoráveis ao poder de Estado proletário, à ditadura do proletariado. 200 000 e 4 000 000 - eis a proporção das «rodas dentadas», se me é permitido expressar-me assim. Vêm a seguir dezenas de milhões de camponeses, que se dividem em três grupos principais: o semiproletariado ou camponeses pobres, o grupo mais numeroso e mais próximo do proletariado; depois o campesinato médio; por último, um grupo muito reduzido, o dos kulaques ou burguesia rural.

Enquanto subsistir a possibilidade de comerciar com o trigo e especular com a fome, o camponês continuará a ser (e isto é inevitável durante um certo período de tempo sob a ditadura do proletariado) semitrabalhador e semiespeculador. Como especulador é-nos hostil, hostil ao Estado proletário, e inclina-se para o entendimento com a burguesia e os seus fiéis lacaios, incluindo o menchevique Cher ou o socialista-revolucionário B. Tchernenkov, partidários do comércio livre dos cereais. Mas como trabalhador, o camponês é amigo do Estado proletário, é o aliado mais fiel do operário na luta contra o latifundiário e contra o capitalista. Como trabalhadores, os camponeses, na sua imensa massa de milhões de pessoas, apoiam a «máquina» de Estado, que é dirigida por cem ou duzentos mil homens da vanguarda proletária comunista e que consiste em milhões de proletários organizados.

Jamais houve no mundo um Estado mais democrático, no verdadeiro sentido da palavra, mais estreitamente ligado às massas trabalhadoras e exploradas.

É precisamente este trabalho proletário, que os «sábados comunistas» representam e levam à prática, que traz consigo a consolidação definitiva do respeito e do amor do campesinato pelo Estado proletário. Este trabalho, e só ele, convence definitivamente o camponês de que temos razão, de que o comunismo tem razão, e faz do camponês um nosso partidário sem reservas. E isto significa: conduzirá à superação completa das dificuldades do abastecimento, à vitória completa do comunismo sobre o capitalismo na questão da produção e da distribuição de cereais, conduzirá à consolidação absoluta do comunismo.

28 de Junho de 1919.

Assinado: N. Lénine.


Notas de rodapé:

(N108) Lénine alude à conspiração para a entrega de Petrogrado, dirigida pela organização contra-revolucionária «centro nacional», que unificava a actividade duma série de grupos anti-soviéticos e dos espiões que actuavam na clandestinidade. Na noite de 12 para 13 de Junho de 1919, os conspiradores começaram um motim no forte de Krásnaia Gorka, que era um dos acessos de maior importância a Petrogrado. Para derrotar os amotinados foram enviadas tropas do grupo de defesa de costa, navios da Esquadra do Báltico, forças aéreas, destacamentos de voluntários. Na noite de 15 para 16 de Junho as unidades do grupo de defesa de costa apoderaram-se do forte. A organização contra-revolucionária que dirigiu a conspiração foi descoberta e liquidada.Cem-negros: bandos monárquicos criados pela polícia tsarista para combater o movimento revolucionário. (retornar ao texto)

(N109) A batalha de Sadowa teve lugar em 3 de Julho de 1866. Essa batalha, que terminou com a vitória total da Prússia e a derrota da Áustria, decidiu o desenlace da guerra entre a Áustria e a Prússia. (retornar ao texto)

(N110) Trata-se do programa do partido aprovado pelo VIII Congresso do PCR (b). (retornar ao texto)

(N111) Ver Karl Marx/Friedrich Engels, Werke Bd. 23, S. 320. (retornar ao texto)

(N112) O Decreto sobre as comunas de consumo foi aprovado pelo Conselho de Comissários do Povo em 16 de Março de 1919 e publicado no jornal Izvéstia VTsIK em 20 de Março de 1919. Segundo o decreto, todas as cooperativas existentes nas cidades e no campo seriam unificadas numa só comuna de consumo. Todas as comunas de consumo locais deviam formar uniões de gubérnia, com um só centro: a União Central das Cooperativas de Consumo. Devido ao facto de que a nova denominação das cooperativas levou nalguns lugares à falsa interpretação do decreto, o CECR, na resolução de 30 de Junho de 1919 «Sobre as sociedades de consumo operárias e camponesas», decidiu substituir a denominação «comuna de consumo» pela denominação «sociedade de consumo», a que a população estava habituada. (retornar ao texto)

(1*) Ver o Obras Escolhidas de V.I. Lénine em 3 tomos, III Tomo, pp. 131-133. (N. Ed.) (retornar ao texto)

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Inclusão 07/06/2019