Camaradas operários! À luta final, à luta decisiva!

Vladimir Ilitch Lênin

7 Agosto de 1918


Primeira edição: Escrito na primeira quinzena de agosto de 1918. Publicado pela primeira vez em 1925. V. I. Lênin, Obras 4.ª ed. em russo, t. 28. págs. 37/40

Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 387-390

Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

A República soviética está rodeada de inimigos. Mas vencerá tanto os inimigos externos como os internos. Entre as massas operárias observa-se já o entusiasmo que garantirá o triunfo. Vê-se já que na Europa ocidental tornaram-se mais frequentes as chispas e explosões do incêndio revolucionário, dando-nos a certeza da vitória próxima da revolução operária internacional.

Na atualidade, o inimigo externo da República Socialista Soviética da Rússia é o imperialismo anglo-francês e nipo-norte-americano. Este inimigo ataca hoje a Rússia, saqueia nossa terra, ocupou Arkhanguelsk e (a acreditar-se nos jornais franceses) avançou de Vladivostok a Nikolsk-Usuriiski. Este inimigo subornou os generais e oficiais do exército tchecoslovaco.(1) Ataca a Rússia pacífica com a mesma ferocidade e idênticos objetivos de saque com que atacavam os alemães no mês de fevereiro, com a diferença, entretanto, de que os anglo-japonêses precisam não só ocupar e saquear o solo russo, mas também derrubar o Poder Soviético para «restabelecer a frente», isto é, para arrastar novamente a Rússia à guerra imperialista (mais simplesmente: a guerra de rapina) da Inglaterra contra a Alemanha.

Os capitalistas anglo-japonêses querem restaurar o poder dos latifundiários e capitalistas na Rússia para repartir entre si a presa de guerra, para submeter os operários e camponeses russos ao capital anglo-francês, para arrancar-lhes juros por empréstimos de muitos e muitos bilhões, para extinguir o incêndio da revolução socialista, que se iniciou em nosso país e ameaça cada vez mais estender-se ao mundo inteiro.

As feras do imperialismo anglo-japonês não terão forças suficientes para ocupar e subjugar a Rússia. Não as tem sequer nossa vizinha, a Alemanha, como demonstrou sua «experiência» com a Ucrânia. Os anglo-japonêses esperavam pegar-nos desprevenidos. Não o conseguiram. Os operários de Petrogrado, depois os de Moscou e, atrás dos de Moscou, os de toda a região industrial do Centro, levantam-se com crescente unanimidade, com maior tenacidade e abnegação, em massas cada vez maiores. Nisso reside a garantia de nossa vitória.

Ao se lançarem contra a Rússia pacífica, os tubarões capitalistas anglo-japonêses confiam ainda em sua aliança com o inimigo interior do Poder Soviético. Sabemos muito bem quem é esse inimigo interior. São os capitalistas, os latifundiários, os culaques e seus sequazes, que odeiam o poder dos operários e camponeses trabalhadores, dos camponeses que não sugam o sangue de seus semelhantes.

Uma onda de sublevações de culaques percorre toda a Rússia. O cúlaque odeia furiosamente o Poder Soviético e está disposto a estrangular, degolar centenas e milhares de operários. Sabemos perfeitamente que se os culaques conseguissem triunfar, assassinariam, sem piedade, centenas de milhares de operários, aliar-se-iam aos latifundiários e aos capitalistas, restabeleceriam os trabalhos forçados para os operários, aboliriam a jornada de 8 horas e colocariam as fábricas novamente sob o jugo dos capitalistas.

Isso é o que sucedia em todas as revoluções europeias precedentes, quando os culaques, por debilidade dos operários, conseguiam dar marcha à ré, voltar da república à monarquia, do poder dos trabalhadores ao poder ilimitado dos exploradores, dos ricos, dos parasitas. Assim ocorreu, diante dos nossos próprios olhos, na Letônia, na Finlândia, na Ucrânia e na Geórgia. A matilha sedenta, gulosa e feroz dos culaques uniu-se em toda parte aos latifundiários e aos capitalistas contra os operários e os pobres em geral. Em toda parte, os culaques vingaram-se com ferocidade selvagem sobre a classe operária. Em toda parte, aliaram-se com os capitalistas estrangeiros contra os operários de seu país. Assim procederam e procedem os democratas constitucionalistas, os esserristas de direita e os mencheviques: basta recordar suas façanhas na Tchecoslováquia. Assim procedem, também, por sua extrema estupidez e pusilanimidade, os esserristas de esquerda, os quais, com sua sublevação em Moscou prestaram ajuda aos guardas brancos em Yaroslavl e aos tchecoslovacos e aos brancos em Kazan. Não foi em vão que esses esserristas de esquerda mereceram os elogios de Kerenski e de seus amigos, os imperialistas franceses.

É impossível qualquer dúvida: os culaques são inimigos furiosos do Poder Soviético. Não há meio termo: ou os culaques exterminam um número infinito de operários, ou os operários sufocam sem piedade as sublevações dos culaques que formam dentro do povo uma minoria de bandidos — contra o poder dos trabalhadores. A paz é impossível: o cúlaque pode reconciliar-se, facilmente, com o latifundiário, o tsar e o padre, ainda que tenham brigado, mas jamais se reconciliará com a classe operária.

Por isso dizemos que a luta contra os culaques é a luta final e decisiva. Isto não quer dizer que não possa haver numerosas sublevações de culaques ou reiteradas campanhas expedicionárias do capitalismo estrangeiro contra o Poder Soviético. As palavras «luta final» significam que dentro do país sublevou-se contra nós a última e a mais numerosa das classes exploradoras.

Os culaques são os mais ferozes, os mais brutais e mais desenfreados exploradores, os que, na história de outros países, restauraram mais de uma vez o poder dos latifundiários, dos reis, dos padres e dos capitalistas. Há mais culaques do que latifundiários e capitalistas. Mas, apesar disso, os culaques formam uma minoria dentro do povo.

Suponhamos que haja na Rússia uns 15 milhões de famílias camponesas que se dedicam a atividades agrícolas, considerando a Rússia tal como era antes de os bandidos lhe arrebatarem a Ucrânia e outras regiões. Desses 15 milhões, cerca de 10 milhões são, com toda certeza, famílias pobres, que vivem da venda de sua força de trabalho, se vêem obrigadas a submeter-se à escravidão dos ricos, ou não têm reservas de trigo e foram particularmente arruinadas pelo peso da guerra. Uns 3 milhões são de camponeses médios, e apenas se terá mais 2 milhões de culaques de ricos, de especuladores com cereais. Estes vampiros aproveitaram a miséria do povo durante a guerra e juntaram milhares e milhares de rublos, encarecendo os cereais e outros produtos. Estas aranhas engordaram à custa dos camponeses, arruinados pela guerra, e à custa dos operários famintos. Estas sanguessugas esgotaram os trabalhadores, aumentando suas riquezas à medida que aumentava a fome dos operários nas cidades e nas fábricas. Estes polvos acumulavam e continuam acumulando em suas mãos a terra dos latifundiários, continuam subjugando os camponeses pobres.

Guerra sem quartel aos culaques! Morram os culaques! ódio e desprezo aos partidos que os defendem: aos esserristas de direita, aos mencheviques e aos atuais esserristas de esquerda! Os operários devem subjugar com mão de ferro as sublevações dos culaques, que se aliam aos capitalistas estrangeiros contra os trabalhadores de seu próprio país.

Os culaques aproveitam-se da ignorância, da divisão, da dispersão dos camponeses pobres. Açulam estes contra os operários e os subornam, às vezes, deixando que «ganhem» centena de rublos com a venda de cereais a preços especulativos (enquanto lhes roubam milhares e milhares). Os culaques tratam de conquistar os camponeses médios e, às vezes, o conseguem.

Mas a classe operária não é obrigada, de modo algum, a viver em desacordo com os camponeses médios. A classe operária não pode reconciliar-se com os culaques, mas pode tratar e trata de chegar a um acordo com os camponeses médios. O governo operário, isto é, o governo bolchevique, o demonstrou, com fatos e não com palavras.

Demonstramo-lo promulgando e aplicando rigorosamente a lei de «socialização da terra», que contém muitas concessões aos interesses e opiniões dos camponeses médios.

Demonstramo-lo triplicando (há alguns dias) os preços que pagamos pelo trigo, pois reconhecemos plenamente que o que ganha o camponês médio não corresponde, frequentemente, aos preços atuais dos produtos industriais, motivo pelo qual deve ganhar mais.

Todo operário consciente explicará isto ao camponês médio e lhe demonstrará com paciência, perseverança e constância, que o socialismo lhe convém infinitamente mais do que o poder dos tzares, latifundiários e capitalistas.

O poder operário nunca prejudicou nem prejudicará o camponês médio. Ao contrário, o poder dos tzares, latifundiários, capitalistas e culaques não só prejudicou sempre o camponês médio, como o massacrou, o saqueou e o levou à ruína em todos os países, em todos sem exceção, inclusive a Rússia.

A mais estreita aliança e uma fusão completa com os pobres do campo; concessões ao camponês médio e acordos com ele; liquidação implacável dos culaques, esses parasitas, vampiros e saqueadores do povo, esses especuladores que acumulam lucros com a fome: este é o programa de todo operário consciente. Esta é a política da classe operária.


Notas de fim de tomo:

(1) Trata-se da sublevação contrarrevolucionária do corpo de exército tchecoslovaco, organizada pelos imperialistas da Inglaterra e da França com a participação ativa dos mencheviques e dos social-revolucionários.O corpo tchecoslovaco, integrado por prisioneiros de guerra capturados durante a primeira conflagração mundial, foi formado em 1917 pelo governo provisório para fazer guerra à Alemanha. Depois da Grande Revolução Socialista de Outubro, sua oficialidade contrarrevolucionária foi utilizada pela contrarrevolução russa e pelo imperialismo anglo-francês para lutar contra o Poder Soviético. A sublevação começou em maio de 1918 em Tcheliabinsk. Com ajuda do corpo tchecoslovaco, a contrarrevolução conseguiu ocupar os Urais, a região do Volga e, mais tarde, a Sibéria. Protegidos pelos tchecoslovacos, os mencheviques e os social-revolucionários formaram em Samara um governo de guardas brancos e social-revolucionários e, em Omsk, um governo siberiano de guardas brancos. Em outubro de 1918, o Exército Vermelho libertou a região do Volga. A sublevação contrarrevolucionária do corpo tchecoslovaco foi esmagada por completo em fins de 1919, ao ser derrotado Koltchak. (retornar ao texto)

Inclusão: 11/02/2022