Do Comité Central do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (bolchevique)
A Todos os Membros do Partido e a Todas as Classes Trabalhadoras da Rússia

V. I. Lénine

5-6 (18-19) de Novembro de 1917

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Escrito: a 5-6 (18-19) de Novembro de 1917
Publicado: a 7 (20) de Novembro de 1917 no nº 182 do Pravda
Fonte: Obras Escolhidas em seis tomos, Edições "Avante!", 1977, t2, pp 418-421.
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t.35, pp. 72-76.
Transcrição e HTML: Manuel Gouveia
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" — Edições Progresso Lisboa — Moscovo.

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Camaradas!

Toda a gente sabe que o Segundo Congresso dos Sovietes de deputados operários e soldados de toda a Rússia deu a maioria aos delegados do partido bolchevique.

Este facto é um facto essencial para compreender a revolução que acaba de ter lugar e de vencer tanto em Petrogrado e Moscovo como em toda a Rússia. É precisamente este facto que constantemente esquecem e eludem todos os partidários dos capitalistas e os seus cúmplices inconscientes, que minam o princípio básico da nova revolução, a saber: todo o poder aos Sovietes. Na Rússia não deve haver outro governo senão o Governo Soviético. Conquistou-se na Rússia o Poder Soviético, e a passagem do governo das mãos de um partido soviético para as mãos de outro partido está assegurada sem qualquer revolução, por uma simples decisão dos Sovietes, por uma simples reeleição dos deputados aos Sovietes. O Segundo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia deu a maioria ao partido bolchevique. Por isso, só o governo formado por este partido é um Governo Soviético. E toda a gente sabe que, umas horas antes da formação do novo governo e antes de se propor a lista dos seus membros ao Segundo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, o Comité Central do partido bolchevique convidou para a sua reunião três membros destacados do grupo dos socialistas-revolucionários de esquerda, os camaradas Kamkov, Spiro e Karéline, e propôs-lhes a participação no novo governo. Lamentamos muitíssimo que os camaradas socialistas-revolucionários de esquerda tenham recusado, consideramos a sua recusa inadmissível para um revolucionário e partidário dos trabalhadores, estamos dispostos a todo o momento a incluir na composição de governo os socialistas-revolucionários de esquerda, mas declaramos que como partido da maioria do Segundo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, temos o direito e a obrigação perante o povo de formar o governo.

Toda a gente sabe que o Comité Central do nosso partido propôs ao Segundo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia uma lista puramente bolchevique de comissários do povo e que o congresso aprovou essa lista de um governo puramente bolchevique.

Por isso são absolutamente mentirosas, e só de inimigos do povo, só de inimigos do Poder Soviético vêm e podem vir as enganadoras declarações de que o governo bolchevique não é um governo soviético. Pelo contrário, só um governo bolchevique pode ser agora, depois do Segundo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, até à convocação do terceiro, até à reeleição dos Sovietes ou até à formação de um novo governo pelo Comité Executivo Central — só o governo bolchevique pode ser reconhecido como Governo Soviético.

Camaradas! Alguns membros do Comité Central do nosso partido e do Conselho de Comissários do Povo, Kámenev, Zinóviev, Noguine, Ríkov, Miliútine e mais alguns, saíram ontem, 4 de Novembro, do CC do nosso partido e — os três últimos — do Conselho de Comissários do Povo. Num partido tão grande como o nosso não podia deixar de se encontrar, apesar da orientação proletária revolucionária da nossa política, alguns camaradas isolados insuficientemente firmes e perseverantes na luta contra os inimigos do povo. As tarefas que hoje se colocam ao nosso partido são verdadeiramente imensas, as dificuldades são enormes, e alguns membros do nosso partido, que antes ocupavam cargos responsáveis, cederam perante a investida da burguesia e fugiram das nossas fileiras. Toda a burguesia e todos os seus cúmplices rejubilam com isto, exultam maldosamente, gritam sobre a derrocada, profetizam a morte do governo bolchevique.

Camaradas! Não acrediteis nestas mentiras. Os camaradas que saíram portaram-se como desertores, não só abandonando os postos que lhes tinham sido confiados como também violando a resolução expressa do CC do nosso partido que lhes recomendava que esperassem antes de saírem pelo menos até às decisões das organizações do partido de Petrogrado e de Moscovo. Nós condenamos energicamente esta deserção. Estamos profundamente convictos de que todos os operários, soldados e camponeses conscientes, pertencentes ao nosso partido ou que simpatizam com ele, condenarão com idêntica energia a conduta dos desertores.

Mas declaramos que a conduta de desertores de alguns homens da direcção do nosso partido não abalará nem por um momento nem minimamente sequer a unidade das massas que seguem o nosso partido e, consequentemente, não abalará o nosso partido.

Recordai, camaradas, que dois dos desertores, Kámenev e Zinóviev, já antes da insurreição de Petrogrado tinham actuado como desertores e como fura-greves, pois não só votaram na reunião decisiva do Comité Central de 10 de Outubro de 1917 contra a insurreição, como também depois da decisão adoptada pelo CC realizaram agitação entre os funcionários do partido contra a insurreição. Todos sabem que jornais que temem colocar-se ao lado dos operários e se inclinam mais para o lado da burguesia (por exemplo, o Nóvaia Jizn) levantaram então juntamente com toda a imprensa burguesa um barulho e uma gritaria sobre a «derrocada» do nosso partido, sobre o «fracasso da insurreição», etc. Mas a vida depressa desmentiu as mentiras e calúnias de uns, as dúvidas, as vacilações e a cobardia de outros. A «tempestade» que queriam levantar a propósito dos passos de Kámenev e Zinóviev para sabotar a insurreição de Petrogrado, revelou-se uma tempestade num copo de água, e o grande ímpeto das massas, o grande heroísmo de milhões de operários, soldados e camponeses em Petrogrado e Moscovo, na frente, nas trincheiras e nos campos afastou os desertores tão facilmente como um comboio afasta aparas de madeira.

Que se envergonhem pois todos os incrédulos, todos os vacilantes, todos os que duvidam, todos os que se deixaram intimidar pela burguesia ou submeter pelos gritos dos seus cúmplices directos ou indirectos. Entre as massas de operários e soldados de Petrogrado, de Moscovo e de outros, não há nem sombra de vacilações. Unânime e firme como um só homem, o nosso partido vela pelo Poder Soviético, pelos interesses de todos os trabalhadores, em primeiro lugar dos operários e camponeses pobres!

O coro dos escribas burgueses e das pessoas que se deixaram assustar pela burguesia acusa-nos de obstinação, de intransigência, de não querermos partilhar o poder com outro partido. Isto é falso, camaradas! Propusemos e propomos aos socialistas-revolucionários de esquerda que partilhem connosco o poder. Não temos culpa de que se tenham recusado. Começámos negociações, e depois do encerramento do Segundo Congresso dos Sovietes fizemos nestas negociações toda a espécie de concessões, indo até ao acordo condicional em admitir representantes de uma parte da Duma urbana de Petrogrado, desse covil de kornilovistas, que será o primeiro a ser varrido pelo povo se os canalhas kornilovistas, se os filhinhos dos capitalistas e latifundiários, os cadetes, tentarem novamente opor-se à vontade do povo, como tentaram fazer no domingo passado em Petrogrado, como querem fazer de novo (isto foi provado pela descoberta da conjura de Purichkévitch e pelos papéis apreendidos em casa dele ontem, 3 de Novembro). Mas os senhores que se encontram por detrás dos socialistas-revolucionários de esquerda e actuam através deles no interesse da burguesia interpretaram a nossa transigência como fraqueza e aproveitaram-na para nos apresentarem novos ultimatos. Os senhores Abramóvitch e Mártov apareceram na reunião de 3 de Novembro e apresentaram um ultimato: nenhumas negociações enquanto o nosso governo não puser fim às prisões e ao encerramento dos jornais burgueses.

Tanto o nosso partido como o CEC do Congresso dos Sovietes se recusaram a aceitar este ultimato, vindo claramente dos partidários de Kalédine, da burguesia, de Kérenski e de Kornílov. A conjura de Purichkévitch e o aparecimento em Petrogrado em 5 de Novembro da delegação de uma parte do 17° Corpo de Exército, que nos ameaça com uma marcha sobre Petrogrado (ameaça ridícula, pois os destacamentos avançados destes kornilovistas foram já derrotados e fugiram perto de Gátchina e a maioria recusou-se a marchar contra os Sovietes), todos estes acontecimentos mostraram de quem de facto vinha o ultimato dos senhores Abramóvitch e Mártov, quem serviam de facto estes indivíduos.

Que todos os trabalhadores permaneçam tranquilos e firmes! Nunca o nosso partido cederá a ultimatos da minoria dos Sovietes, minoria que se deixou assustar pela burguesia e que, na realidade, de facto, apesar das suas «boas intenções», se comporta como um fantoche nas mãos dos kornilovistas.

Somos firmes partidários do princípio do Poder Soviético, isto é, do poder da maioria obtida no último Congresso dos Sovietes, estávamos de acordo e permanecemos de acordo em partilhar o poder com a minoria dos Sovietes, com a condição de que esta minoria se comprometa leal e honestamente a submeter-se à maioria e a aplicar o programa aprovado por todo o Segundo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, e que consiste em dar passos graduais mas firmes e persistentes para o socialismo. Mas não nos submeteremos a nenhuns ultimatos de grupinhos de intelectuais, que não tem as massas consigo, que de facto só têm consigo os kornilovistas, os savinkovistas, os cadetes, etc.

Que todos os trabalhadores permaneçam tranquilos e firmes! O nosso partido, o partido da maioria nos Sovietes, vela unânime e coeso pelos seus interesses e tem a seu lado, como antes, milhões de operários nas cidades, de soldados nas trincheiras e de camponeses nos campos, decididos a alcançar, custe o que custar, a vitória da paz e a vitória do socialismo!


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Inclusão 24/07/2018