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Primeira Edição: Rabotchaia Gazeta, n.° 9, de Julho (12 de Agosto) de 1912. Encontra-se in Obras, t. XVIII, pp. 213-217.
Fonte: Os Comunistas e as Eleições, Edições Maria da Fonte, 1975. Colecção «LUTA OPERÁRIA» Dirigida por: Manuel Quirós. Editor: Maria Isabel Pinto Ventura Tradutor: José Olivares Capa: Maria José Sacadura.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Apesar das perseguições, das prisões em massa, o Partido Operário Social-Democrata da Rússia apresenta-se às eleições com um programa, uma táctica e uma plataforma mais claros, definidos e exactos do que qualquer outro partido.
A conferência do POSDR, celebrada em Janeiro de 1912, fez o balanço do trabalho ideológico e político realizado nos anos difíceis da contra-revolução. As decisões da conferência responderam plenamente a todas as questões essenciais do movimento. A plataforma eleitoral, baseada nestas decisões, não foi mais do que um simples coroamento da conferência. O CC publicou na Rússia a plataforma, logo reeditada por diversas organizações locais. Toda a imprensa burguesa informou a respeito da conferência e reproduziu algumas das suas decisões.
No meio ano transcorrido depois da conferência foram explicadas e postas em prática as suas decisões na imprensa do Partido e em dezenas de informes, em centenas de discursos pronunciados em círculos fabris e nos comícios das jornadas de Abril e Maio. As palavras de ordem do Partido — República, jornada de oito horas e confiscação das terras dos latifundiários — foram divulgadas em toda a Rússia e aceites pelos proletários avançados. O ascenso revolucionário das massas, começando pelas greves e comícios e terminando nas sublevações no exército, demonstrou a justeza e a viabilidade destas palavras de ordem.
As eleições têm sido utilizadas, e utilizadas amplamente, pelo nosso Partido. Nem as «interdições» da polícia nem as manobras ilícitas (dos cavernícolas, etc.) da IV Duma anularão este resultado. A agitação, na base de um estrito espírito de partido, tem sido realizada em toda a parte e tem dado o tom a toda a campanha eleitoral social-democrata.
Os partidos burgueses escreveram superficialmente, a toda a pressa, «plataformas para as eleições», para fazer falsas promessas e enganar os eleitores. Os líquidacionistas, a exemplo dos liberais, também preparam agora uma «plataforma para as eleições», uma plataforma legal. Os líquidacionistas fazem alarido sobre as plataformas na imprensa legal, submetida à censura, dispondo-se a encobrir a sua plena decomposição, a sua desorganização e a sua falta de ideologia numa «plataforma para as eleições» decorosa, censurada.
Não queremos uma plataforma «para as eleições», mas umas eleições para aplicar a plataforma social-democrata revolucionária! Assim vê as coisas o partido da classe operária. Já utilizámos as eleições e continuaremos a utilizá-las com este objectivo; utilizaremos inclusive a Duma czarista mais reaccionária para preconizar a plataforma, a táctica e o programa revolucionários do Partido Operário Social-Democrata da Rússia. Só têm valor as plataformas que coroam um prolongado trabalho de agitação revolucionária, que tenham dado plena resposta a todas as questões do movimento, e não as plataformas (especialmente as ilegais!) escritas apressadamente, para tapar buracos, para apresentar cartazes berrantes, como fazem os líquidacionistas.
Passou meio ano desde que se restaurou o Partido, que, vencendo incríveis dificuldades, sofrendo raivosas perseguições e conhecendo aqui ou ali interrupções no trabalho dos centros locais e do centro geral, do CC, continua a avançar, desenvolvendo o seu trabalho e a sua influência entre as massas. Este trabalho efectua-se de um modo novo: às células ilegais, secretas, estreitas, mais retraídas do que antes, alia-se uma propaganda marxista legal mais ampla. Precisamente esta peculiaridade da nova preparação da revolução nas novas condições foi assinalada e reconhecida há tempo pelo Partido.
Agora podemos dar completa resposta aos explosivos discursos dos líquidacionistas, que ameaçam com «candidaturas dúplices». Vãs ameaças, que a ninguém comovem! Tão desconcertados estão os líquidacionistas, são tão impotentes, que nenhuma ajuda poderá reanimá-los. Não podem pensar sequer em apresentar «candidaturas dissimuladas»: se o fizessem, os líquidacionistas obteriam um número insignificante e irrisório de votos. Eles sabem disso e não farão esta tentativa. Se fazem barulho é para desviar a atenção, para ocultar a verdade.
«Nenhuma ajuda», dissemos. Os líquidacionistas. confiam na ajuda do exterior. Os seus amigos — sobretudo os letões, o Bund(1) e Trotsky — anunciaram a reunião de dez «centros organizações e facções»! Não é uma pilhéria! As organizações do exílio são ricas, grandes e exuberantes. Nada menos que «10 centros»!! São os mesmos métodos a que recorre o governo na IV Duma: preparação de um sistema representativo e conversão de uma soma de zeros numa aparência de «grandes números». Em primeiro lugar, Trotsky (na Rússia é um zero à esquerda, não é mais que colaborador de Zhivoe Dielo(2), os seus agentes só defendem os «grupos preparadores» líquidacionistas). Em segundo lugar. Golos Sotsial-Demokrata, isto é, esses mesmos líquidacionistas. impotentes. Em terceiro lugar, o «Comité Regional do Cáucaso», também um zero, de terceira ordem. Em quarto lugar, o «Comité de Organização»(3), um zero de quarta ordem desses mesmos líquidacionistas. Em quinto e sexto lugares, os letões e o Bund, hoje totalmente liquidacionista... Basta!
Não é necessário dizer que o nosso Partido acolhe com gargalhadas esse jogo das nulidades do exílio. Não_ poderão ressuscitar os mortos, e os líquidacionistas na Rússia não são senão um cadáver.
Estes são os factos.
Há meio ano que os líquidacionistas e todos os seus amigos realizam uma luta desesperada contra o Partido. Existe uma imprensa marxista legal. Está terrivelmente rolhada, não pode fazer alusão nem à República, nem ao nosso Partido, nem à insurreição, nem ao lado czarista. É ridículo pensar em defender as palavras de ordem do POSDR por meio desta imprensa.
Mas os operários na Rússia já não são o que eram no terreno teórico o marxismo.
Têm a sua imprensa, rolhada, mas a sua, e que defende antes. Converteram-se numa força. Abriram caminho.
Neste debate público toda a gente pode ver os «êxitos» da luta dos líquidacionistas contra os antiliquidacionistas(4). S. V., colaborador de Vperiod, já assinalou estes êxitos na Pravda de Viena, liquidacionista, redigida por Trotsky (5): as colectas dos operários — escreveu — são feitas quase exclusivamente a favor dos antiliquidacionistas. E consolava-se dizendo: isso não é porque os operários simpatizem com os «leninistas».
Ah, claro, «não é por isso», estimável amigo dos líquidacionistas!
Mas vejamos os factos.
Meio ano de luta aberta por um diário operário.(6)
Desde 1910, os líquidacionistas vêm falando dele. Quais os seus êxitos? Em meio ano, de 1 de Janeiro a 1 de Julho de 1912, os seus jornais Zhivoe Dielo e Nevski Golos publicaram as relações de 15 (quinze) colectas de grupos operários em favor do diário operário!! Quinze grupos operários em meio ano!
Examinemos os jornais dos antiliquidacionistas. Vejamos as relações das colectas em favor do diário operário durante esse meio ano. Contemos o número de subscrições feitas pelos grupos operários. Resultam 504 colectas de grupos operários!
Eis os dados exactos por meses e por zonas da Rússia:
Número de colectas de grupos operários em favor do diário operário
durante o primeiro semestre de 1912 |
||
Para os jornais anti-liquidacionistas |
Para os jornais liquidacionistas |
|
Janeiro | 14 | 0 |
Fevereiro | 18 | 0 |
Março | 76 | 7 |
Abril | 227 | 8 |
Maio | 135 | 0 |
Junho | 34 | 0 |
Total | 504 | 15 |
Petersburgo e seus arredores | 415 | 10 |
Sul | 51 | 1 |
Resto da Rússia | 38 | 4 |
Total | 504 | 15 |
Os líquidacionistas. parecem migalhas frente aos grupos operários da Rússia. Os líquidacionistas são um cadáver, em que não poderão reanimar as ameaçadoras (oh, que ameaçadoras!) «uniões de grupos, centros, fracções, correntes e tendências» do exílio.
Os retumbantes manifestos do exílio e as conferências arranjadas por «grupos preparadores», com os líquidacionistas, não impedirão nem atenuarão esta completa derrota dos líquidacionistas. perante centenas de grupos operários da Rússia.
A unidade da campanha eleitoral dos operários social-democratas na Rússia está assegurada. Está assegurada não por «acordo» com os líquidacionistas, mas pela vitória completa sobre os líquidacionistas, que já se viram reduzidos ao seu verdadeiro papel, ao papel de intelectuais liberais. Vede como o liquidacionista esserrista Savine se sente comodamente em Nasha Zaria(7). Vede como, em Listok Golosa Sotsial-Demokrata, L. M. louva a «iniciativa» dos esserristas que caíram (depois da embriagues otzovista!) num isolacionismo reincidente. Pensai na significação do facto de que neste mesmo jornaleco o conhecido «dirigente» esserrista Avxentiv, é apresentado como modelo a Plekhanov. Vede como todos os líquidacionistas beijam repetidamente a «Lewica»(8) não-social-democrata do PSP(9). Liquidacionistas de todos os partidos, uni-vos!
Todos encontraram, por último e finalmente, a sua ocupação. Os grupos de líquidacionistas intelectuais ex-marxistas e ex-liberais dinamiteiros(10)unem-se e com dificuldade no decorrer dos acontecimentos.
Entretanto, o partido da classe operária, o POSDR, meio ano após ver-se livre daqueles que o haviam liquidado, fez — como se vê pelos exemplos citados — enormes progressos.
Notas de rodapé:
(1) Refere-se aos sociais-democratas do território letão que mantinham as posições do liquidacionismo. Bund: União Geral de Operários Judeus da Lituânia, Polónia e Rússia, organizada em 1897, que agrupava de preferência os artesãos judeus das regiões ocidentais da Rússia. O Bund seguiu uma política oportunista, menchevique; depois da derrota da revolução de 1905/1907 aderiu aos liquidacionistas. (retornar ao texto)
(2) Zhivoe Dielo: jornal dos liquidacionistas, editado em Petersburgo em 1912. «Os grupos preparadores de militantes social-democratas do movimento operário legal», criados pelos liquidacionistas em oposição às organizações clandestinas do Partido, eram considerados pelos liquidacionistas como células de um novo partido legal amplo, adaptado ao regime stolypiniano. Os «grupos preparadores» eram pouco numerosos, compunham-se de intelectuais e não mantinham ligação alguma com a classe operária; eram contrários à luta grevista e às manifestações revolucionárias dos operários; nas eleições à IV Duma lutaram contra os bolcheviques. (retornar ao texto)
(3) Comité de Organização: foi constituído em Janeiro de 1912 numa reunião de liquidacionistas representantes do Bund, do Comité Regional do Cáucaso e da social-democracia do território letão com o propósito de convocar uma conferência de liquidacionistas. (retornar ao texto)
(4) Antiliquidacionistas: sociais-democratas revolucionários bolcheviques, encabeçados por Lenine. Vperiod: denominação de um grupo de «otzovistas». (retornar ao texto)
(5) Refere-se ao jornal menchevique liquidacionista Pravda, editado por Trotsky em Viena, de 1908 a 1912. (retornar ao texto)
(6) O diário legal bolchevique Pravda começou a circular em Petersburgo a 22 de Abril (5 de Maio) de 1912. (retornar ao texto)
(7) Nasha Zaria (Nossa Aurora): revista dos liquidacionistas. (retornar ao texto)
(8) Lewica: fracção esquerdista do Partido Socialista Polaco. (retornar ao texto)
(9) PSP: Partido Socialista Polonês. (N. T.) (retornar ao texto)
(10) Liberais dinamiteiros: socialistas-revolucionários. (retornar ao texto)
Inclusão | 04/10/2018 |