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Primeira edição: Publicado, pela primeira vez, em 21 de janeiro de 1935, Voljskaia Kommuna, nº 19. Assinado: N. Lênin. V. I. Lênin, Obras, 4ª ed. em russo, t. 11, págs. 359/362
Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 275-278
Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz
HTML: Fernando Araújo.
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A região do Volga é um importante centro do movimento camponês. Nela se coloca com particular insistência para o partido operário a tarefa de aplicar uma política independente, de classe, do proletariado, explicando constantemente à massa camponesa que só poderá conseguir a terra e a liberdade se romper com seus chefes habituais, surgidos dentre os latifundiários democratas constitucionalistas liberais; e se se unir ao proletariado revolucionário.
A esta tarefa deve estar subordinada também toda a campanha eleitoral do partido operário. Isto faz com que sejam particularmente prejudiciais na região do Volga os blocos com os democratas constitucionalistas, inadmissíveis em geral devido a toda posição de princípio da social-democracia como partido do proletariado que trava a luta de classes. Para mostrar este fato com maior clareza, tomaremos o exemplo de um deputado camponês à primeira Duma pela região do Volga. Este deputado é o senhor I. Jilkin, trudovique, eleito pela província de Saratov.
Ora, o trudovique Jilkin escreve no jornal democrata constitucionalista Tovarisch, de Petersburgo, e defende os blocos com os democratas constitucionalistas: vejam como defende estes blocos. No número de Tovarisch correspondente a 17 de dezembro, o sr. Jilkin fala das eleições para a primeira Duma na região de Saratov. Os camponeses elegeram homens seus, desconfiando por instinto — instinto “dedigno dos trabalhadores e espoliados — do latifundiário liberal e do advogado burguês. Quando todos os representantes se reuniram em Saratov para eleger os deputados à Duma, os camponeses constituíam cerca de dois quintos dos representantes da província.
(Recordemos que foram eleitos pela província de Saratov ao todo 150 representantes. Deles, 64 representavam os camponeses, 51, os proprietários agrários, e 35, a população urbana. O sr. Jilkin apresenta a cifra de 152 representantes, acrescentando, talvez, a cúria operária).
Os representantes camponeses defrontaram-se em Saratov com «destacados» democratas constitucionalistas como o sr. N. N. Lvov, «ligado ao Comitê Central do Partido Democrata Constitucionalista». Entre os representantes das cidades-sede de distritos apareceram homens mais esquerdistas do que os democratas constitucionalistas. E, muito rapidamente, quase por si mesmo, formou-se um bloco de esquerda, a «aliança dos trabalhadores», embrião do futuro grupo trudovique na Duma.
Começou, então, a disputa com os democratas constitucionalistas pelas cadeiras da Duma. Estes exigiam dois terços das credenciais para seu partido; e os «trabalhadores» faziam o mesmo. Não conseguiram entrar em acordo. Os democratas constitucionalistas subestimavam a força e a coesão da aliança dos trabalhadores. Contudo, na última assembleia eleitoral deu-se que, de 152 votos, os candidatos da aliança obtiveram de 78 a 89 sufrágios. «Os principais candidatos dos democratas constitucionalistas conseguiram de 50 a 67.»
Os democratas constitucionalistas capitularam então. Concordaram com que seu partido fosse representado na Duma pela minoria. «O Comitê da aliança dos trabalhadores concordou em incluir dois candidatos da bandeira democrata constitucionalista: N. N. Lvov e S. A. Kotliarevski. E é sintomático — escreve o sr. Jilkin — que estes candidatos, que acabavam de obter 59 e 67 votos, recebessem durante a votação 111 sufrágios.»
Sim, é sintomático, bastante sintomático. Só que o trudovique Jilkin não compreende, infelizmente, o significado dos fatos que narra.
Imaginem: a aliança esquerdista dos trabalhadores, que contava com 78/89 votos em 152, isto é, com a maioria, elegeu para a Duma N. N. Lvov. E, por isso, o sr. Jilkin, trudovique, defende o bloco com os democratas constitucionalistas.
Sabem, camponeses e operários, quem é N. N. Lvov? É um latifundiário, um dos fundadores da União da Libertação, isto é, um dos fundadores do Partido Democrata Constitucionalista. Foi durante sete anos marechal da nobreza. Na Duma figurava entre os democratas constitucionalistas mais direitistas. Em outras palavras: não só lutou contra os deputados operários da social-democracia e contra os trudoviques, como considerava mesmo que todo o Partido Democrata Constitucionalista se desviava para a esquerda! Achava que as leis draconianas democratas constitucionalistas sobre as reuniões e a imprensa eram demasiado liberais e que o ruinoso resgate que ofereciam os latifundiários democratas constitucionalistas aos camponeses era uma reforma excessivamente generosa para os camponeses. Os democratas constitucionalistas queriam vender a terra aos camponeses à base de uma taxação equitativa, com a condição de que esta fosse efetuada por igual número de representantes dos camponeses e dos latifundiários, acrescentando ainda representantes do governo. Um camponês, um latifundiário e um funcionário policial: não era, de fato, boa a equidade democrata constitucionalista? Para o sr. latifundiário Lvov parecia demasiadamente liberal. O sr. latifundiário desejaria, pelo visto, que nos comitês agrários locais fossem incluídos mais policiais.
E, por isso, o sr. Lvov se pronunciou na Duma contra a reivindicação camponesa da terra. Durante a existência da Duma, o sr. Lvov se aproximou, às pressas e pela porta dos fundos, dos que estavam no poder, com o objetivo de conseguir algumas pastas ministeriais para os latifundiários liberais, com a condição de «refrear» os trudoviques e os social-democratas na Duma. Assim é o latifundiário liberal Lvov, levado à Duma pelos trudoviques. E depois da dissolução da Duma, o latifundiário Lvov falava com Stolipin sobre a participação em seu ministério!!
Para poder falar mais livremente com Stolipin, Lvov abandonou as fileiras do Partido Democrata Constitucionalista e organizou o partido do saque pacífico.(1) E os democratas constitucionalistas passam agora a formar um bloco com este partido, que o jornal Tovarisch, onde escreve o sr. Jilkin, qualifica de progressista e não de ultrarreacionário!
Mas, para nós, o importante é que Lvov era democrata constitucionalista quando chegou à Duma. O importante é que um latifundiário democrata constitucionalista traiu os camponeses da maneira mais miserável, lutando contra suas reivindicações na Duma e regateando uma pasta ministerial, mesmo depois da dissolução da Duma, com pessoas que tinham metralhado e esmagado em massa os camponeses.
Estes são os latifundiários democratas constitucionalistas que os trudoviques levaram para a Duma!
Suponhamos que o sr. Jilkin e outros trudoviques ignoravam então que espécie de gente era Lvov. Suponhamos que o sr. Jilkin & Companhia se equivocaram. Por um erro não se pode condenar ninguém.
Está bem. E agora? Pode o sr. Jilkin ignorar que os latifundiários democratas constitucionalistas do tipo de Lvov se transferem da «liberdade popular» para o governo stolipmiano dos tribunais militares de campanha? O sr. Jilkin o sabe e, apesar disto, recomenda aos trudoviques e aos operários social-democratas o bloco com o partido dos latifundiários liberais e dos advogados burgueses, com o Partido Democrata Constitucionalista.
Lvov é um modelo de traidor democrata constitucionalista, um modelo do partido latifundiário dos liberais.
Jilkin é um modelo de trudovique inconsciente e vacilante, que se arrasta a reboque dos latifundiários «liberais», sem saber abrir os olhos do camponês, sem saber triunfar mesmo estando em maioria, sem saber chamar o campesinato à luta independente.
Que todos os operários conscientes, todos os social-democratas da região do Volga ensinem ao povo com o exemplo de Lvov e Jilkin.
Operários! Querem contribuir para que sejam eleitos para a Duma democratas constitucionalistas como o latifundiário Lvov, que discursa hoje sobre a liberdade popular e amanhã se colocará ao lado de Stolipin?
Se não querem isso, rechacem todo e qualquer bloco com os democratas constitucionalistas, esse partido dos latifundiários «liberais». Conclamem os camponeses a apoiar o Partido Operário Social-Democrata e não o Partido Democrata Constitucionalista.
Camponeses! Querem enviar uma vez mais à Duma os latifundiários «liberais» como o democrata constitucionalista Lvov, que antes da Duma lhes prometia mundos e fundos e na Duma propunha uma taxação equitativa das terras dos latifundiários através dos funcionários designados pelo governo latifundiário? Querem confiar a defesa das reivindicações camponesas aos latifundiários liberais ou aos advogados burgueses?
Se não querem isto, votem nos social-democratas, isto é, no partido operário. O Partido Operário Social-Democrata não traiu em lugar algum do mundo os interesses do campesinato arruinado, necessitado, trabalhador e explorado. Em todo o mundo a burguesia liberal enganou os camponeses que lutam pela terra e a liberdade da mesma forma que os Lvov democratas constitucionalistas os enganam em nosso país.
Contra a instabilidade dos trudoviques não há nem pode haver outro meio senão o partido operário forte, consciente e que não se afasta do ponto-de-vista de classe. Os camponeses podem conseguir a terra e a liberdade somente ombro a ombro com os operários conscientes.
28 de dezembro de 1906
Notas de fim de tomo:
(1) Partido do saque pacífico: denominação que Lênin dava ao “partido da renovação pacifica”, partido contrarrevolucionário burguês-latifundiário, fundado em 1906 mediante a unificação dos outubristas de esquerda e dos democratas constitucionalistas de direita. (retornar ao texto)