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N. Iguassu, 25de outubro de 1953.
Meu caro Eusínio Lavigne:
Paz e alegria, extensivas a todos os seus.
Principalmente PAZ. Essa paz que todos a desejam, mas que só pode existir quando cada espírito se desarmar contra seu irmão, na consciência de que é do particular que se chega ao geral; essa paz por que todos lutam, até os comunistas, que a querem, que a pregam, que a desejam, mas que a insuflam, aqui e ali, provocando guerrinhas e guerrilhas.
Como vê, começo contrariando-o, opondo-me a seus pontos-de-vista.
Li sua carta admirável, enlevado e deliciando-me, sem, entretanto, de modo algum, deixar contagiar-me de seus argumentos. Tanto mais admirável, se se levar em conta que se trata de uma carta elaborada por um cérebro de 70 anos, a serviço de um corpo que foi recém-operado, aliás, com a interferência de Espíritos amigos. Admirável por seus argumentos, refertos de cultura e precisão, embora coloque, já não direi a mim, que nada valho, mas, ao Kardec e ao Emmanuel em plano inferior aos doutrinários comunistas; encontrando até no Emmanuel e no Kardec ausência de lógica, e contradições. E no Espiritismo, senão semelhança, inferioridade à doutrina comunista.
Porque não conheço o comunismo?
Engano. Conheço-o bastante para sentir que, na hora presente, só duas doutrinas interessam fortemente o povo, à humanidade: o Comunismo e o Espiritismo. O Comunismo mais do que o Espiritismo, porque o homem continua, ainda, muito escravo à objetividade imediata da Vida, aos sentidos humanos. Ao passo que o Espiritismo, dando mais, muito mais do que o comunismo, prepara mais o espírita para “viver no mundo sem ser do mundo”. Ora, se eu não fosse espírita, creia que só seria comunista, que se me afigura mais lógico do que os fascismos. Mas, comunista mais no sentido político, simplesmente. Leio o que posso do seu comunismo sem me deixar contagiar por sua doutrina. Agora mesmo, acabo de ler JUÍZES BRASILEIROS ATRÁS DA CORTINA DE FERRO, de Osny Duarte, prefaciado por Sady Cardoso de Gusmão.
Muita coisa bonita, que serve como meios. E o Espiritismo ensinou-me a ver que o Fascismo, o integralismo inclusive, transmite uma noção exagerada de pátria. A pátria acima de tudo. O comunismo contagia de exagerado fanatismo, a preocupação do bem-estar humano.
Seu humanidadismo acima de tudo. O Espiritismo, que não desmerece o amor à Pátria (e eu gosto tanto do Brasil!) nem se opõe ao humanidadismo do comunismo (e as obras de assistência social, que o comunismo acha só o governo deve delas cuidar, ai estão a atestá-lo!) abre-nos a cortina de uma vida eterna, que o fascismo não leva a sério e o comunismo nega. Assim, seus horizontes são amplos e vastíssimos. Por isso é que já escrevi, uma feita, que o Espiritismo é tudo, dá tudo, prepara-nos à solução de todos os problemas, dispensa muletas de comunismo, de fascismos, de democratismos. O espírita, assim não precisa de ser outro ista qualquer para vencer...
Já chegou, então, aos setenta?
Meus parabéns. Eu já passei dos 62. Mas, já me sinto mole, abatido, fisicamente arriado, com a consolação de dizer apenas: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”, (Lucas 17.10).
Aqui vão os prospectos do CARAVANA. Os últimos. E você está, inteirinho, dentro dele, já pela gentileza com que nos hospedou, já pela grande e bela página que, com a sua carta extraordinária ao Júlio Abreu, autorizada por você a transcrição...
E escreva-me sempre que suas cartas são lições magníficas, que a gente pode não aceitar, mas nunca deixa de admirá-las, creia.
Recomendações a todos os seus, Exma. Esposa e filhos
Cordialmente,
LEOPOLDO.
Inclusão | 15/08/2018 |