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Nosso país do socialismo em construção vive, entretanto, num envoltório capitalista que lhe é hostil. O curso da revolução mundial moderou-se. O capitalismo atravessa um período de estabilização temporária. Podemos, nas condições criadas pelo retardamento da revolução mundial, acabar a edificação do socialismo começado com tão belos triunfos? Esta pergunta reduz-se, na verdade, a uma outra mais ampla: é possível a edificação do socialismo num só país? O problema tem dois aspectos: um prende-se às condições primordiais do socialismo no interior do pais, e outro, às relações internacionais. Pode-se muito bem imaginar que um país que realiza todas as condições primordiais do socialismo seja vencido pela intervenção armada do mundo capitalista. Pode-se também dar o contrário. Um país pode deixar, de realizar todas as condições primordiais do socialismo, mas, não obstante, sustentado a tempo pela revolução socialista mundial, construir o socialismo. Qual foi o pensamento de Lenine a este respeito? A questão reteve a sua atenção em plena guerra imperialista (1915).
Lenine escrevia então, num artigo consagrado à critica da palavra de ordem de “Estados Unidos da Europa” preconizado por Trotski:
“A desigualdade de desenvolvimento econômico e político é a lei absoluta do capitalismo. Decorre daí que a vitória do socialismo é possível a princípio num pequeno número de países capitalistas, e mesmo num só país. O proletariado vitorioso deste país, tendo expropriado os capitalistas e organizado em seu país a produção socialista, lançar-se-á contra o resto do mundo capitalista, unindo em torno de si as classes oprimidas dos outros países, combatendo os capitalistas e mesmo intervindo, em caso de necessidade, de armas na mão, contra as classes exploradoras e seus Estados.”(1)
Lenine considerava, pois, a vitoria do socialismo num só país capitalista isolado como possível; e ele não via somente a tomada do poder, a expropriação da burguesia, mas sim precisamente a edificação da economia socialista: “ tendo organizado em seu país a produção socialista...”
Esta convicção foi-lhe ditada pela lei da desigualdade do desenvolvimento do capitalismo. Estudamos esta lei no capítulo do imperialismo. Assim, limitar-nos-emos aqui a lembrar a definição que dela dá Stalin:
A lei da desigualdade do desenvolvimento significa, no período do imperialismo, o desenvolvimento por saltos de certos países em relação a outros, a eliminação rápida de certos países por outros no mercado mundial, novas repartições periódicas do mundo já repartido por conflitos armados e guerras catastróficas, a agravação e o aprofundamento dos conflitos entre imperialistas, o enfraquecimento da “frente” do capitalismo mundial, a possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente.(2)
A desigualdade do desenvolvimento do capitalismo explica as sinuosidades complicadas do caminho da revolução proletária mundial. A vitória da revolução proletária num país depende da reunião de uma porção de fatores diversos: do grau do desenvolvimento das forças produtivas, do grau da consciência e de organização do proletariado, de seu espírito revolucionário, da força ou da fraqueza da burguesia, do conservantismo ou da mentalidade revolucionária dos camponeses, da vitória ou da derrota do país na guerra mundial e de outros numerosos fatores.
Um país pode colocar-se num nível muito alto do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas e realizar, por isso, todas as condições da edificação do socialismo, e não estar todavia pronto para a revolução proletária por causa da má organização do proletariado e dos camponeses, por causa da falta de espírito revolucionário ou da boa organização da burguesia. Pode-se dar o caso contrário. Um país atrasado do ponto de vista técnico, principalmente em comparação com os países capitalistas avançados, pode ter, em consequência de situações históricas, um proletariado revolucionário bem organizado, uma burguesia fraca e mal organizada, um campesinato revolucionário. Este concurso feliz dos fatores revolucionários lhe permitirá realizar, antes de outros, a revolução proletária e começar, apesar de sua técnica atrasada, a transição para o socialismo. Seria necessário, para que a revolução proletária pudesse vencer de um só golpe na maioria dos países, ou pelo menos em muitos deles, que estes fatores revolucionários fossem mais ou menos semelhantes, o que só seria possível se o desenvolvimento desses países fosse mais ou menos igual. Mas não é isto o que vemos na realidade. A possibilidade da vitória do socialismo “a principio num pequeno número de países capitalistas”, diga-se num só, não sendo este país necessariamente o mais avançado sob o ponto de vista técnico, decorre dai. É suficiente que as condições primordiais da edificação do socialismo estejam, numa certa medida, realizadas neste pais.
Notas de rodapé
(1) V. LENINE: Obras completas, ed. russa, t. XIII. (retornar ao texto)
(2) I. STALIN: Ainda o desvio social-democrata em nosso Partido, 1927. (retornar ao texto)
Inclusão | 15/06/2023 |