Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro décimo: A economia no período de transição
Capítulo XXVIII - O problema da reprodução na economia soviética
149. Os estimulantes do aumento do rendimento do trabalho na U. R. S. S.


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No regime capitalista, dois estímulos incitam o empregador a aumentar a intensidade do trabalho: 1.º, o super-lucro conseguido pelas empresas providas de uma técnica superior à média; 2.º, a concorrência.

Quais são, na indústria estatal da U. R. S. S., os estimulantes do aumento do rendimento do trabalho" .

Não existe completamente na U. R. S. S. o primeiro estímulo. O Estado soviético, longe de querer impedir que as melhorias técnicas de algumas de suas empresas se generalizem, está, pelo contrário, interessado na sua mais imediata generalização.

Ele não traça às suas empresas a tarefa de produzir o máximo de lucro, podendo mesmo, no interesse geral da economia, consagrar o produto de urnas à manutenção de outras.

A concorrência, considerada como um fator de aumento de rendimento do trabalho, existe, mas seu papel e sua importância são muito menores do que na economia capitalista. Ela, em grande parte, cede o lugar, na indústria estatal, à regulação planificada.

O Estado soviético pode, entretanto. servir-se dela como de um meio didático, em relação a indústria estatal, afim de obrigá-la a diminuir seus preços ou melhorar a sua técnica. Ele pode restringir ou suspender assim suas medidas protecionistas e permitir, por exemplo, a importação de mercadorias estrangeiras.

A concorrência não é, em todo caso, mais do que um meio auxiliar de aumentar o rendimento do trabalho. Mas, perguntar-se-á: nossa indústria estatal não corre, por sua situação privilegiada de monopólio, um risco de estagnação? Este perigo não pode, evidentemente, ser considerado como excluído completamente; pensamos, entretanto, que ele não pode, em caso algum, agravar-se ao ponto de ameaçar o organismo Industrial.

O próprio organismo da nossa indústria estatal traz em si as antitoxinas necessárias para vencer o mal: os estimulantes socialistas do aumento do trabalho.

No regime capitalista, o produto é o objetivo da produção. O consumidor, com suas necessidades, seus desejos e seus gostos é um mal inevitável ao qual é necessário adaptar-se. No regime socialista, as satisfações das necessidades do homem é o objetivo direto da produção.(1)

O maior estimulante do aumento do rendimento do trabalho na indústria estatal é a pressão exercida sobre a produção pela massa de consumidores, isto é, pelos trabalhadores da U. R. S. S.

Como centro dirigente do país, Partido Comunista, exprimimos e refletimos em primeiro lugar (regulando, controlando, orientando, etc.) éste au;nernte do consumo. das massas.(2)

O salário dos operários e empregados aumentará proporcionalmente ao nosso desenvolvimento econômico. A situação dos camponeses também melhorará. As necessidades de uns e de outros crescerão, assim como suas exigências quanto à qualidade e preços dos produtos.

O exemplo será dado pelo Estado. Os serviços de guerra exigirão, sem a menor indulgência, a estrita execução dos contratos. Eles já se tornaram mais exigentes atualmente. Os comissários da Viação e Comunicações, dos Correios e Telégrafos tornaram-se também mais exigentes.

Os dirigentes de nossas empresas queixam-se frequentemente das exigências excessivas do Estado consumidor. Mas isto é um detalhe. Um grande progresso realiza-se em conjunto: todo consumidor exige a melhoria da qualidade do produto. Vemos trustes tornarem-se exigentes uns para com outros. O Comissariado dos Correios e Telégrafos exerce pressão sobre o Truste das correntes de baixa tensão; este último exige, por sua vez, do Truste das correntes de alta tensão, cabos de boa qualidade. Os trustes que constroem máquinas exigem. ferro de boa qualidade; os trustes têxteis querem lá de carneiro, bom algodão, boas tintas, etc., etc.; os choques dos órgãos econômicos manifestarão, assim, inevitavelmente, a luta pela qualidade da produção.(3)

O aumento das necessidades e das exigências do consumidor torna-se um dos estímulos mais importantes para o aumento do rendimento de trabalho.

O Estado se esforçará em satisfazer o máximo da necessidade e o encontro dessas duas correntes constituirá um dos fatores fundamentais do crescimento incessante do rendimento do trabalho social.

Enfim, a elevação do nível de cultura geral e da consciência socialista da classe operária é também um imenso fator de aumento do rendimento de trabalho. Ford compreendeu sua importância.

A felicidade ou a desgraça de uma empresa depende, diz ele, da consciência de cada um de seus participantes. Cada um destes, qualquer que seja a sua função, deve saber que tudo o que pode contribuir para a prosperidade da empresa — embora seja o fruto de uma observação fortuita — é em alto grau uma contribuição pessoal.(4)

Graças a esta consciência e ao interesse pessoal que os operários têm no êxito da empresa, “as ideias, diz Ford, afluem de todos os lados”. Ele cita os melhoramentos da técnica e da organização da produção realizadas graças ao concurso dos operários.

Mas este fator não pode existir, no regime capitalista, senão em proporções bem restritas. O operário não se pode sentir interessado no progresso da técnica capitalista. Todo o benefício do progresso técnico vai, em virtude da lei da acumulação capitalista, ao capital.

Completamente diferente é a situação da classe operária na indústria estatal da U. R. S. S. O melhoramento da situação material da classe operária não encontra aqui outros obstáculos a não ser o rendimento insuficiente do trabalho e as deformações burocráticas do Estado.

Todo o progresso técnico, todo o melhoramento introduzido na nossa indústria, influe na situação material da classe operária e aproxima a aplicação do principio comunista: de cada um segundo sua capacidade, a cada qual segundo suas necessidades.

Os observadores estrangeiros, visitando nossas empresas, espantam-se de ver os operários portarem-se diferentemente do que nas empresas capitalistas. O operário soviético sente-se membro da vasta coletividade à que pertencem as fábricas e as oficinas, e que é a classe operária.

Todo operário da U. R. S. S. pode, se tem capacidade de organização, grau de consciência e desenvolvimento geral requerido, tornar-se o dirigente de um ramo de economia. O poder dos Soviets esforça-se por todas as maneiras em elevar o nível de cultura do operário e em elevar o trabalhador a uma participação consciente na produção. Com este objetivo, existem organizações especiais, tais como as conferências de produção, etc.(5)

A opinião do pais age no mesmo sentido, contribuindo, assim, por sua vez, para o aumento do rendimento do trabalho. Mencionemos a propaganda industrial, a ação da imprensa, os jornais murais das empresas, o papel dos correspondentes operários, etc., etc.

As invenções de operários, que adquirem uma importância cada vez maior, provam o desenvolvimento da consciência da classe operária.

Podemos, pois, concluir que a participação consciente da classe operária tem sido um dos fatores importantes do crescimento da nossa indústria. O poder deste fator aumentará com a cultura geral da classe operária e assegurará o aumento do rendimento de trabalho da nossa indústria estatal. Lenine tinha muita razão quando atribuía à consciência do operário uma enorme importância:

O comunismo, dizia ele, começa quando simples operários manifestam com abnegação, ao lado de um pesado trabalho, a vontade de aumentar o rendimento do trabalho, de velar por cada “pud” de trigo, tonelada de hulha, de ferro ou qualquer outro produto que não lhe é pessoalmente atribuído, que não é atribuído a “seus parentes”, mas pertence a “outrem”, isto é, à sociedade inteira, a dezenas e centenas de milhões de homens, unidos desde já em único Estado socialista, e, mais tarde na União das Repúblicas Soviéticas”.(6)


Notas de rodapé

(1) L. TROTZKI: A qualidade da produção e a economia socialista (em russo), 1925. (retornar ao texto)

(2) N. BUKHARINE: Sobre algumas questões de Economia Política, 1925. (retornar ao texto)

(3) L. TROTZKI: A qualidade da produção e a economia socialista, 1925. (retornar ao texto)

(4) H. FORD: Minha vida e minha obra. (retornar ao texto)

(5) As conferências da produção reúnem o pessoal das empresas industriais, diretores, administradores, técnicos e operários, no estudo das condições da produção e na procura dos melhoramentos suscetíveis de serem introduzidos. (retornar ao texto)

(6) V. LENINE: A grande iniciativa, 1919. (retornar ao texto)

 

Inclusão 15/06/2023