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O crescimento do capitalismo de monopólios, a agravação dos antagonismos de classe e a degenerescência da burguesia, opõem-se ao desenvolvimento das forças produtivas.
Pode-se dizer, então, que este desenvolvimento está completamente paralisado na sociedade capitalista? Pode-se dizer que o capitalismo de monopólios tenha chegado ao limite além do qual a reprodução ampliada se torna impossível e em que a reprodução diminuída, ou, no melhor dos casos, a reprodução simples é a única possível?
Os fatos parecem mostrar o contrário.
A guerra mundial de 1914-1918 foi a causa de enormes destruições de forças produtivas. A perda de forças de trabalho foi avaliada em 37 milhões de homens (mortalidade, invalidez e diminuição da natalidade); as destruições estão avaliadas em perto de 190 biliões de dólares, o que representa um terço, aproximadamente, dos haveres dos países beligerantes.(1)
Nos primeiros anos de após-guerra, a produção caiu sensivelmente e não atingiu em certos países senão um terço do que era antes da guerra.
Mas, na hora atual, “o capitalismo saiu, ou está em vias de sair, do domínio das indústrias, do comércio e das finanças, do caos em que se achou depois da guerra”. (Stalin). Em diversos países, a produção atingiu e, mesmo, ultrapassou, o nível de antes da guerra.
Nós assistimos, na época do imperialismo, a um desenvolvimento surpreendente da técnica nos domínios da química, da metalurgia, da construção de máquinas, da aviação. Uma das maiores conquistas da técnica moderna, a eletrificação, é fruto do século XX, isto é, do século do imperialismo. A imprensa dá-nos quase diariamente notícias de novas invenções e novas conquistas da técnica.
Não estarão estes fatos em contradição com o que dissemos mais atrás? Não estarão a mostrar que o poder criador do capitalismo ainda está longe de se esgotar e que é muito cedo para se falar em sua degenerescência?.
Este ponto merece ser examinado.
Na época da livre concorrência, o capitalismo era inegavelmente um fator de progresso. As forças produtivas cresciam.
Era igual e regular seu crescimento? Absolutamente não. O desenvolvimento de toda sociedade capitalista está precisamente caracterizado por se processar por quedas e saltos. Na época da livre concorrência, estes saltos, esta desproporção, traduziam-se principalmente pela desigualdade de desenvolvimento dos diversos ramos da economia. A indústria mais lucrativa via, num dado momento, afluir os capitais, adquirindo, então, enorme importância em detrimento de outras indústrias abandonadas; mas, depois de algum tempo, os capitais abandonavam, por sua vez, e dirigiam-se não menos febrilmente para uma outra indústria.
A desigualdade de desenvolvimento inerente ao capitalismo em todas as suas fases agrava-se na época do imperialismo e toma novas formas.
A desigualdade de desenvolvimento de países inteiros adquire, agora, em vez do desenvolvimento dos ramos de indústria, uma importância decisiva.
Não tendo entrado todos os países ao mesmo tempo na via do capitalismo e não sendo as proporções de seu desenvolvimento iguais, esta desigualdade de desenvolvimento, na verdade, já se fazia sentir antes.
Mas as relações internacionais eram relativamente fracas. Um pais capitalista representava, em certo sentido, um sistema econômico nacional fechado. A desigualdade de desenvolvimento econômico de diferentes países não podia, nestas condições, ter tanta importância como a dos diferentes ramos de indústria num mesmo país.
Na época do imperialismo, pelo contrário, os diferentes países constituem uma economia mundial única e a desigualdade de seu desenvolvimento interior condiciona a desigualdade do desenvolvimento da economia mundial em seu conjunto e nas suas partes componentes.
É verdade que as relações internacionais fazem, entrar, na via do capitalismo, os países atrasados e contribuem, parece, para atenuar a desigualdade, mas a tendência para a agravação da “desigualdade de desenvolvimento” (Stalin) permanece.
Que fatores a fazem prevalecer?
Eis o que diz Stalin:
Quais são os elementos essenciais da lei de desigualdade de desenvolvimento no seio do imperialismo?
1.º O fato de já estar o mundo repartido entre os grupos imperialistas; não há mais territórios livres, vagos, onde se possa encontrar novos mercados e fontes de matéria prima; é preciso. para se estender, arrancar pela força estes territórios dos outros;
2.º o desenvolvimento prodigioso da técnica e o nivelamento crescente do desenvolvimento dos países capitalistas permitem a certos países passar por saltos a outros, e permitem a países em vias de desenvolvimento rápido suplantar países mais poderosos.
3.º a antiga repartição das esferas de influência entre os grupos imperialistas entra em conflito com a nova correlação de forças no mercado mundial; o restabelecimento do equilíbrio torna necessário novas partilhas periódicas do mundo por guerras imperialistas. Dai a agravação da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo.(2)
Estando o mundo “já repartido entre os grupos imperialistas”, as novas partilhas não podem senão fortalecer um grupo em detrimento de outro (tal foi o resultado da última guerra imperialista), o que reforçará a desigualdade de desenvolvimento de diversos países.
Por outro lado, a técnica pode desenvolver-se em tais proporções que, em condições favoráveis, um pais pode bem rapidamente suplantar outros e ir, mesmo, muito além. O crescimento rápido da produção de petróleo nos Estados Unidos fez da Inglaterra (outrora a maior fornecedora de carvão — então base da indústria mundial —) que era o país industrial mais avançado, um país relativamente atrasado (em comparação com os Estados Unidos).
Tais saltos no desenvolvimento da técnica agravam a desigualdade. Mas eles criam, além disso, uma situação em que as situações resultantes da antiga partilha do mundo começam a descontentar os agrupamentos imperialistas, cujo poder e formação recente lhes faz desejar uma nova partilha correspondente às novas proporções das forças. Este processo conduz ao fortalecimento de uns em detrimento de outros e, por consequência, a uma agravação da desigualdade.
A “estabilização” do capitalismo, em outras palavras, a firmeza relativa deste modo de produção, exclui por si a decomposição do regime? O desenvolvimento da técnica contradiz a tese segundo a qual o capitalismo de monopólios tornou-se um obstáculo ao desenvolvimento das forças produtivas?
Seria um erro crer que a tendência para a decomposição exclui o rápido desenvolvimento do capitalismo. Certos ramos da indústria, certas camadas da burguesia, certos países, manifestam, na época do imperialismo, com maior ou menor intensidade, uma ou outra destas tendências. O capitalismo, em seu conjunto, cresce com uma rapidez incomparavelmente maior que antes, mas este crescimento torna-se cada vez mais desigual, e esta desigualdade traduz-se em particular na estagnação dos países mais fortes em capital (Inglaterra). (V. Lenine, “O Imperialismo”).
Pode, portanto, haver um crescimento parcial das forças de produção, mas fazendo-se sentir paralelamente a estagnação e a recomposição, como mostrou Lenine, precisamente nos países capitalistas mais fortes.
A desigualdade de desenvolvimento do capitalismo patenteia a importância e a gravidade das contradições do regime e a ameaça, que pesa sobre ele, de uma possível conflagração.
Notas de rodapé:
(1) Ter-se-á melhor ideia da extensão destas destruições se recordarmos que o patrimônio nacional da Alemanha estava avaliado, antes da guerra, em 50 biliões de dólares e que todas as riquezas da U. R., S. S. são atualmente calculadas em cerca de 10 biliões de dólares. (retornar ao texto)
(2) STALIN: Ainda o desvio social-democrata em nosso Partido. Livraria do Estado, Moscou, 1927. (retornar ao texto)
Inclusão | 10/06/2023 |