Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro nono: O imperialismo e a queda do capitalismo
Capítulo XXV - A luta pelos mercados estrangeiros e o militarismo
128. A partilha do mundo - Agrupamentos internacionais e lutas pelos novos mercados


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A rivalidade feroz dos grupos capitalistas (e dos Estados que os representam) na conquista dos mercados e fontes de matérias primas, acarretou a partilha do mundo entre as grandes potências capitalistas. No momento atual, quase não há mais territórios que não pertençam a algum pirata capitalista (exceção da U. R. S. S.). Mesmo os países que não podem ser explorados atualmente por motivos técnicos, ou quaisquer outras razões, são, apesar disso, conquistados para o futuro.

Os grandes Estados capitalistas que, entre si, dividiram o mundo e submeteram os pequenos Estados, são, na realidade, tão poucos numerosos, que podemos contá-los pelos dedos.

Dos 140 milhões de quilômetros quadrados de terra da face do globo, 34 milhões pertenciam, desde antes da guerra, à Inglaterra.

O Império Britânico ocupava, assim, a quarta parte da superfície habitada do globo. Este imenso território era povoado por 400 milhões de habitantes, isto é, pela quarta parte da população do globo, mas a Inglaterra propriamente não ocupava senão 300.000 quilômetros quadrados, com 47 milhões de habitantes aproximadamente. A França, com um território de 530.000 quilômetros quadrados e com uma população de 39 milhões, tinha, antes da guerra, colônias com a superfície de 11 milhões de quilômetros quadrados, com 55 milhões de habitantes. O Império russo ocupava a sexta parte do globo e escravizava a décima parte da. humanidade.

A Inglaterra, a Rússia Imperial, a França, a Alemanha, os Estados Unidos e o Japão, reinavam em dois terços do globo aproximadamente e sobre a metade da humanidade. Grande parte dos outros países — a imensa China em primeiro lugar — encontravam-se na dependência destas seis grandes potências.

Os agrupamentos capitalistas podem contentar-se com o pedaço que lhes coube na partilha do mundo?

Não. Os progressos da acumulação e a sede de lucro levam o capitalista, invariavelmente, a ampliar a produção, a ampliar o mercado e a procurar esferas de influência onde colocar seus capitais crescentes. Os monopólios não conseguem renunciar a estender sua influência além do território de seus próprios Estados e de suas próprias colônias. Eles se esforçam, pelo contrário, por penetrar nas colônias estrangeiras e também nos países altamente desenvolvidos. A concorrência, que outrora punha em luta os capitalistas de um mesmo país, sobretudo no mercado nacional, atualmente cede o lugar em larga escala ao monopólio — traço característico da época do capital financeiro; no mercado mundial, porém, a concorrência dos monopólios entre si, e a dos Estados capitalistas, tornou-se, pelo contrário, de uma ferocidade sem igual.

O poderio dos concorrentes é suficiente para nos mostrar que o encarniçamento de suas lutas e as devastações que inevitavelmente provocam, devem sobrepujar em muito tudo o que vimos na época do desenvolvimento relativamente “pacífico” do capitalismo industrial.

Os processos menos “ofensivos” empregados na luta pelos capitalistas são: as altas tarifas alfandegarias, que arruínam as populações pela “guerra aduaneira”; a invasão dos países estrangeiros por mercadorias baratas, vendidas às vezes com prejuízo para derrotar o concorrente; a exploração desenfreada dos operários do país interessado; a exploração desenfreada das colônias afim de aumentar a capacidade de concorrência da metrópole no mercado mundial.

Estes processos “pacíficos” não são fatais senão aos Estados mais fracos que, cedo ou tarde, são levados a se submeterem à grandes potências capitalistas.

Estas, pelo contrário, por serem mais resistentes," podem ser levadas pelas lutas a concluírem acordos.

Vemos então criarem-se agrupamentos internacionais, que dividem entre si os mercados e as esferas de influência.

O sindicato internacional de trilhos, formado pela Inglaterra, Alemanha e Bélgica, e ao qual em seguida aderiram a França e os Estados Unidos, foi um dos primeiros agrupamentos capitalistas deste gênero. Em 1905, eles repartiram, as exportações da seguinte maneira: Inglaterra, 38 %; Estados Unidos, 26 %; Alemanha, 20 % Bélgica, 12,5 %; França, 3,5 %...O sindicato do trilho consumava, em 1905, a partilha do mundo(1).

Lenine citou n'O Imperialismo o acordo estabelecido entre os dois mais poderosos trustes do mundo, a Sociedade Geral de Eletricidade (A. E. G.), alemã, e a Companhia Geral de Eletricidade (americana).

Estas duas sociedades constituíam “duas potências de eletricidade. Não havia no mundo sociedade de eletricidade completamente independente delas”. Elas partilharam o mundo em 1907, e a livre concorrência desapareceu. A Companhia Geral de Eletricidade recebeu os Estados Unidos e o Canadá, enquanto a AEG obteve a Alemanha, Áustria, Rússia, Holanda, Dinamarca, Suíça, Turquia, Bálcãs. Os tratados particulares guardados, naturalmente em segredo, regulavam os estatutos das sociedades filiais, que penetravam nos novos ramos de indústria e nos países ainda não formalmente partilhados.

Já antes da guerra, duas grandes associações capitalistas internacionais tinham partilhado o mercado de petróleo do mundo.

Entre os acordos, concluídos depois da guerra, convem mencionar o que em 1926 o sindicato do trilho novamente firmou, desta vez, porém, já sem a participação dos Estados Unidos. A parte da Inglaterra, no sindicato, é de 43 %; as partes da França e da Alemanha são iguais: 19%; a da Bélgica eleva-se a 10,5%, etc. Citemos também o cartel internacional do aço criado em 1926, o truste de fósforos sueco-americano, o cartel ae potassa franco-alemão, etc...

Assinalemos, entretanto, que estes acordos não significam a reconciliação dos magnatas capitalistas.

A própria importância da parte que um agrupamento capitalista recebe, quando se faz a partilha das esferas de influência, depende de seu poderio. O menor abalo de uma das partes contratantes, o menor fortalecimento de uma ou outra, torna o acordo caduco e acarreta a necessidade de uma nova partilha das esferas de influência. Também os acordos entre os agrupamentos capitalistas, longe de eliminarem a tendência destes agrupamentos a um maior poderio, ao contrário, a estimulam. A paz baseada nestes acordos é precária e relativa.

A divisa da sociedade capitalista — “cada um por si” — continua em vigor. Os acordos apenas moderam temporariamente a luta, que continua sob as formas mais variadas: luta de tarifas alfandegárias, intrigas, corrupção. A preparação das guerras futuras é ativamente impulsionada, ainda que em segredo.

Estando a Terra dividida entre as potências capitalistas, estas só poderão desenvolver-se, de agora em diante, em detrimento de umas ou das outras, gracas à novas partilhas. Elas estão divididas por irredutíveis choques de interesses.


Nota de rodapé:

(1) E. B. PACHUKANIS: O Imperialismo. (retornar ao texto)

 

Inclusão 10/06/2023