MIA  >  Biblioteca  >  I. Lapidus > Novidades

<<< Índice

Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov

Livro oitavo: A acumulação do capital e a reprodução das relações capitalistas
Capítulo XXII - O equilíbrio da economia capitalista na reprodução simples e ampliada
110. O processo de reprodução e realização do produto

Até o presente, fizemos abstração de um fator de imensa importância: a realização das mercadorias. Sabemos que este fator constitue uma das cadeias mais importantes do movimento circulatório do capital e, portanto, da reprodução capitalista.

Na sociedade capitalista, é mais fácil vender uma mercadoria do que comprá-la. Que condições devem ser preenchidas para que uma mercadoria seja vendida?

Evidentemente, não basta que ela corresponda a uma necessidade, é preciso que ela possa ser paga logo ou depois;⁽¹⁾ é preciso que haja procura de compra.

O operário não se utiliza de tapetes, piano e belos moveis, porque não sinta a necessidade, mas porque este conforto está acima de suas posses.

O equilíbrio da sociedade capitalista e o processo de produção exigem uma certa correspondência entre a quantidade de mercadorias produzidas e a capacidade de compra dos que tem necessidade.

Como se estabelece esta correspondência? Ninguém se preocupa com o dinheiro de que as pessoas dispõem e com as mercadorias que vão adquirir. Devido ao caráter espontâneo, caótico da economia capitalista, é impossível levar em conta: os preços das mercadorias, a importância da produção de um produtor, as possibilidades de compra do comprador; tudo isto se define só depois que os possuidores individuais de mercadorias se tenham encontrado no mercado.

O equilíbrio entre as diversas partes da economia capitalista estabelece-se espontaneamente por meio de incessantes oscilações (que são rupturas do equilíbrio). Este equilíbrio espontâneo das partes da economia capitalista é antes de tudo o da produção e da procura de compra (ou consumo, achando-se este limitado, na sociedade capitalista, pela procura de compra).

Quando um capitalista tenha produzido mais mercadorias do que é preciso para satisfazer o pedido, é evidente que o erro de correspondência entre a produção e o pedido de compra se traduzirá por uma queda dos preços abaixo do valor, o que levará o capitalista cessar ou diminuir a sua produção enquanto os preços não se elevarem acima do valor, ou enquanto os aperfeiçoamentos técnicos não tenham diminuído suficientemente o valor das mercadorias para tornar vantajosa a venda aos preços do mercado.

Em consequência da divisão do trabalho e da interdependência das partes da economia capitalista, o ampliamento (ou restrição) da produção num domínio, tem repercussão imediata em todos os outros. Este ponto merece toda a atenção.

O inicio dos trabalhos de construção de uma via férrea tem como consequência imediata o desenvolvimento de diversos ramos da produção. As usinas metalúrgicas recebem encomendas de trilhos, de locomotivas, de vagões; as serrarias fornecerão os dormentes, as madeiras de construção, etc.; o emprego de numerosos operários aumenta o pedido de artigos de consumo. As usinas metalúrgicas, as serrarias e os estabelecimentos produtores de artigos de consumo dependem, por sua vez, de diversas outras empresas. O crescimento da atividade que lhe atinge transmite-se a estas empresas. As repercussões de qualquer restrição de produção também não são menores.

Todo ramo de produção que se amplia (ou se restringe) aumenta ao mesmo tempo (ou diminue) a procura de compra em relação aos demais ramos de produção; mas, provocando a ampliação de produção dos outros ramos, ele conduz por isto ao aumento da procura de compras em todos os outros ramos a ele relacionados. Assim, o desenvolvimento da industria metalúrgica não determina unicamente, em consequência disto o aumento de confecção de roupas para operários metalúrgicos, mas faz nascer na confecção uma necessidade de maquinas, isto é, de produtos da metalurgia.

Cada ramo de produção é um mercado para os outros, nos quais ele acha, por sua vez, um mercado para suas mercadorias.

Compreende-se, desde então, porque as questões referentes ao papel da realização das mercadorias e a relação entre a produção e o consumo na reprodução capitalista não passam ser resolvidas nem do ponto de vista do capitalista isolado, nem do ponto de vista de toda a sociedade.

Aliás, seria inteiramente estupido cair no erro contrario: para considerar a sociedade capitalista como um todo, precisar-se-ia não esquecer de que este todo é composto de partes entre as quais o equilíbrio se estabelece espontaneamente.

O ponto que nos interessa só pode ser resolvido se considerarmos a sociedade capitalista como um todo, cujas partes estão estreitamente ligadas entre si, ainda que espontaneamente, sem organização consciente.

continua>>>

Início da página

Nota de rodapé:

(1) Aquele que compra a crédito, cedo ou tarde pagará. O pedido de mercadorias a crédito pode ser, pois, considerado como um “pedido solvável”. (retornar ao texto)