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Já estamos em condições de concluir que a renda territorial desempenha, no regime capitalista, papel de relevo, interessando poderosamente diversas classes da sociedade capitalista. A questão de suas tendências de desenvolvimento adquire desde então importância considerável. Quais são estas tendências no seio do desenvolvimento capitalista? Tende a renda territorial para a baixa ou para a alta? Para se perceber, é preciso apreciar com atenção as condições do desenvolvimento capitalista. O pedido de matérias primas (algodão, linho etc.), cresce com o desenvolvimento da indústria, e, em consequência do aumento do proletariado industrial, aumenta o pedido de artigos de consumo, manteiga, pão etc. Este aumento de pedidos de produtos agrícolas no regime da propriedade privada do solo tem por consequência a alta dos preços, que traz em si, por sua vez inevitavelmente, a alta da renda territorial sob todas as formas. A renda diferencial I (fertilidade) cresce em primeiro lugar porque o aumento dos pedidos de produtos agrícolas e o aumento dos preços que daí decorre autorizam a exploração de terras menos férteis, que antes não era vantajosa. A renda diferencial II (situação) cresce ainda mais. Já notamos que as despesas de transportes constituem uma considerável parte do valor dos produtos agrícolas. A distância tem mesmo, em numerosos casos, uma importância decisiva no caráter mais ou menos lucrativo de uma empresa agrícola. Entre as mais ricas regiões do globo, muitas não podem participar do mercado internacional devido ao seu afastamento. Os pedidos crescentes de produtos da agricultura, no curso do desenvolvimento capitalista, e a alta dos preços que o acompanham, levam os países mais longínquos a participar no comércio mundial, pois o aumento dos preços torna lucrativo até o transporte dos produtos daqueles países. A tendência ao crescimento da renda diferencial determinada pela situação é, na verdade, diminuída mas não entravada, pelo desenvolvimento das comunicações e pela barateza destes. É preciso, enfim, ter em conta a alta prodigiosa da renda diferencial (situação) nos grandes centros industriais comerciais superpovoados.
A renda diferencial II sofre uma alta maior ainda. Esta renda resulta, já o sabemos, das diferenças da produtividade das inversões de capitais nas melhores terras, ligando-se, portanto, diretamente ao desenvolvimento da técnica agrícola. De um lado, o pedido de produtos agrícolas acompanhados de uma alta dos preços, e, do outro lado, o fato de que o solo é sempre limitado, conduzem às inversões crescentes de capitais complementares na exploração das terras já cultivadas. Concluamos: no curso do desenvolvimento capitalista, a renda diferencial tende a crescer sob todas as suas formas.
E a renda absoluta? Ela resulta da propriedade privada do solo e da composição orgânica relativamente fraca (em comparação com a do capital industrial) do capital agrário.
Já constatamos que o desenvolvimento do capitalismo é acompanhado por um desenvolvimento técnico da agricultura, e, consequentemente, por uma elevação da composição orgânica do capital agrário. Parecerá, portanto, que a renda absoluta deve baixar em perfeita relação com o desenvolvimento capitalista e com o desenvolvimento da técnica. Isto só seria assim se o desenvolvimento da técnica industrial fosse mais lento. Neste caso, diminuiria a diferença de composição orgânica entre o capital agrícola e o capital industrial. O inverso, entretanto, é o que acontece. A marcha do desenvolvimento da técnica industrial - e por consequência da composição orgânica do capital - é muito mais rápida que a do desenvolvimento da técnica agrícola. Do ponto de vista da composição orgânica de capital, a separação entre a indústria e a agricultura tende a aumentar e não a diminuir, o que significa um aumento ininterrupto da renda territorial.
Resumamos: o desenvolvimento capitalista acompanha-se de uma sistemática e incessante alta da renda territorial sob todas as suas formas. O tributo pago pela sociedade capitalista à classe dos proprietários territoriais e agrários torna-se cada vez mais pesado.
continua>>>Inclusão | 14/10/2018 |