Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro sexto: O capital emprestado e o crédito. Moeda e crédito e papel moeda
Capítulo XIV - A Taxa de Juros, o Crédito e o Papel-Moeda na URSS
75. O crédito na URSS


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Não temos que expor como se formam as disponibilidades que vão para os reservatórios dos estabelecimentos de crédito, e saem de lá, sob a forma de empréstimos, para os diversos ramos da economia e contribuem assim para seu desenvolvimento. Tudo o que dissemos em relação ao crédito capitalista, aplica-se ao crédito na URSS Não estudaremos senão o papel do crédito na edificação socialista e os caracteres particulares que distinguem o crédito soviético do crédito capitalista. A importância do crédito na edificação do socialismo, na URSS, já é grande e tende a aumentar ainda.

A URSS entra, como veremos mais adiante, numa fase de largo desenvolvimento socialista. Este desenvolvimento exige a organização de numerosas empresas novas, concebidas segundo a última palavra da técnica. No nível da técnica atingida pelos principais países capitalistas, não se pode imaginar a organização de uma empresa, por pouco importante que seja. sem a ajuda do crédito, exigindo cada empresa grandes inversões de capitais. As empresas privadas, capitalistas, dos países burgueses, têm sobre as empresas soviéticas, a vantagem de gorarem simultaneamente do crédito interior e exterior. A este respeito, a URSS está entregue a si mesma.

Nestas condições, toda quantidade de dinheiro tornada disponível, mesmo por pouco tempo, toda economia, deve ser canalizada para as reservas dos estabelecimentos de crédito da União e empregada na edificação do socialismo.

Estando nas mãos do Estado toda a grande indústria, salvo exceções insignificantes, e uma grande parte do comércio da URSS, a reunião de recursos disponíveis nos estabelecimentos de crédito, das empresas estatais e das cooperativas, não apresenta nenhuma dificuldade.

Em vigor, bastaria aos órgãos revolucionários dar, neste sentido, precisas diretivas. Os recursos das empresas e das instituições do Estado constituem neste momento a maior parte dos fundos de que dispõem os diversos estabelecimentos de crédito.

É bem diferente o que se passa com os recursos particulares e economias de nepmans, de camponeses, de operários e de empregados. Estes recursos não podem ser invertidos nos nossos estabelecimentos de crédito por nenhum decreto, por nenhuma medida imperativa. Não podem ser atraídos senão pelas vantagens comerciais e técnicas que os estabelecimentos de crédito oferecem aos seus depositantes. Ora, sendo insuficientes os recursos do Estado e não existindo créditos estrangeiros, a utilização das economias adquire uma importância bem particular. As economias de um camponês, de um operário, ou de um empregado podem parecer insignificantes, porém, reunidas umas às outras, constituem então uma quantia apreciável. A questão da utilização dos fundos reunidos por nossos estabelecimentos de crédito não é de menor importância.

A distinção entre o crédito soviético e o crédito capitalista, é justamente a possibilidade que tem o primeiro de utilizar-se dos recursos disponíveis a base de um plano. Os estabelecimentos de crédito dos países capitalistas baseiam toda sua política no calculo comercial. Eles não se inspiram, ao oferecer créditos, senão no seu interesse. O interesse geral, nacional ou social que pode ter uma empresa nunca é levado em conta. E como é sobretudo vantajoso fornecer crédito mais solvável, todas as vantagens do crédito vão em primeiro lugar para as grandes empresas capitalistas. A política de crédito da URSS é baseado na repartição racional concebido à base de um plano de conjunto dos recursos, no interesse da edificação socialista. A aplicação deste princípio tornou possível, na URSS, a existência de todos os estabelecimentos de crédito pertencentes ao Estado.

O Estado soviético dispõe, portanto, de somas consideráveis e pode, repartindo-as à sua vontade, contribuir numa medida inapreciável para o fortalecimento e para o desenvolvimento dos elementos socialistas da economia. Pode subsidiar as empresas cujo desenvolvimento é necessário ao desenvolvimento do socialismo, embora seja mais vantajoso, do ponto de vista comercial, consagrar os mesmos recursos a outras empresas.

Os Bancos do Estado Soviético sustentaram e sustentam, assim, a indústria pesada deficitária, enquanto do ponto de vista estritamente comercial seria mais vantajoso sustentar a indústria leve cujo lucro e relativamente grande.

Estado soviético, senhor dos estabelecimentos de crédito, pode simultaneamente exercer sua influencia nas empresas estatais e no capital privado. Pode utilizar este ultimo no interesse da edificação socialista O mesmo se pode dizer a respeito do comércio. Ninguém ignora a enorme importância do crédito na stockagem do trigo(1). A falta de crédito (ou mesmo um simples atraso) pode acarretar o fracasso de toda uma campanha de stockagem do trigo. Isto não é tudo, no entanto. O crédito está chamado a desempenhar um papel considerável na transformação, pela cooperação, da pequena cultura camponesa em grande cultura socialista. O Estado, atraindo e utilizando a pequena economia dos camponeses, sustentará, com a ajuda do crédito, os elementos socialistas da agricultura e contribuirá, por sua vez, para esta transformação. Numa palavra, o crédito pode fortalecer, em todos os ramos da economia soviética, os elementos socialistas.

A taxa de juros é bastante elevada na URSS É, porém, mais elevada ainda no mercado clandestino. É que faltam capitais de que a edificação socialista, em pleno desenvolvimento, tem grande necessidade.

O Banco do Estado, o estabelecimento central de crédito da URSS, dirige todo o novo sistema de crédito, composta de numerosos bancos, dos quais os mais importantes são os seguintes: Banco Industrial, Banco da Agricultura, Banco das Cooperativas, Banco Central da Edificação Comunal e da Construção de Habitações, Banco do Comércio Exterior, etc.

Cada um destes bancos, como seus nomes indicam, têm uma atividade especial: servem a cada um dos rumos da economia soviética.

Os bancos da URSS realizam as mesmas operações que os bancos capitalistas.

continua>>>


Notas de rodapé:

(1) Cada ano, na época da colheita, os estabelecimentos comerciais do Estado e as cooperativas – que às vezes sofrem a concorrência de particulares – compram o trigo do camponês tanto para o consumo interior como para o exterior, isto é, o que se chama na URSS a campanha da stockagem do trigo. (retornar ao texto)

Inclusão 03/10/2018