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Já vimos o capitalista adquirir a possibilidade de aumentar sua produção, empregando os capitais disponíveis. Sem esta forma de crédito, o processo de transformação do capital dinheiro em capital produtivo se faria por sobressaltos e não sem interrupções. Uma parte do dinheiro permaneceria muito tempo inativa antes de se poder transformar em máquinas, construções, etc. O crédito não permite que o dinheiro durma. Se não pode ser transformado imediatamente em capital produtivo em determinada empresa, é empregado em outra.
Sem o crédito, o movimento circulatório do capital poderia encontrar obstáculos, não somente por efeito da impossibilidade momentânea de transformar o capital dinheiro em capital produtivo, mas ainda pelo fato de que o capital deveria, depois do processo de produção, imobilizar-se durante certo tempo sob a forma de mercadoria. Em outros termos, a transformação do capital mercadoria em capital dinheiro não se faria sem encontrar obstáculos.
Ora, sabemos que, para a continuação ininterrupta do movimento circulatório do capital, é preciso que o capitalista, tendo obtido, no final do processo da produção, mercadorias acabadas, possa vendê-las imediatamente, com o produto dinheiro da venda, o que lhe é necessário para o ciclo seguinte da produção. Se tal não é possível, se um certo tempo decorre entre o fim do período de produção das mercadorias e o final do processo da transformação das mercadorias em dinheiro, o capitalista deve ter, para assegurar a continuidade da produção, um capital dinheiro complementar que lhe permita iniciar de novo o ciclo da produção, antes de ter realizado a negociação das mercadorias produzidas durante o ciclo precedente. A mercadoria não realizada toma-se um capital morto. Quanto mais cedo for realizada, tanto menor será o capital complementar necessário e maiores possibilidades terá o capitalista de criar a mais-valia por meio dos capitais de que dispõe.
É aqui que o crédito lhe vem em auxílio, mais uma vez, abreviando o período de circulação das mercadorias e apressando a realização destas.
De que maneira?
Um capitalista, proprietário de uma indústria têxtil, tem um stock de tecidos. Por que não pode realizar este stock imediatamente?
Inúmeras razões se apresentam. A fábrica trabalha o ano todo com maior ou menor regularidade ou intensidade. Por outro lado, a procura de tecidos está muito longe de ser a mesma o ano todo. A procura de tecidos de algodão, pouco importante no inverno, aumenta no principio do verão; pode ser grande nos campos, no outono, depois da venda da colheita feita pelos camponeses. São flutuações, sujeitas às estações, da procura das mercadorias. Estas precisam frequentemente, além disso, viajar muito tempo para atingir o mercado onde serão vendidas. Outros obstáculos podem contrariar sua realização imediata. Suponhamos que o industrial tenha acumulado, durante o inverno, uma certa quantidade de tecidos de algodão, que não possa realizar senão pela primavera. Ora, é preciso que ele compre carvão no inverno, para continuar a produção. Todo o seu dinheiro disponível está empregado na mercadoria que não pode ser realizada no momento; não lhe é possível comprar o carvão pagando à vista. Por sua vez, o proprietário do carvão não pode vender seus stocks porque os capitalistas das indústrias têxteis não têm dinheiro disponível. Ha nos dois polos mercadorias M1 e M2 que não podem ser trocadas, parece, porque falta o elo intermediário D.
E não é que o capitalista dos tecidos não tenha dinheiro de um modo geral; venderá o stock na primavera, obterá dinheiro, poderá pagar o carvão. O negocio pode, pois, ser feito imediatamente, desde que o proprietário do carvão possa esperar para ser pago até à primavera.
O pagamento à vista é substituído, neste caso, pelo pagamento a prazo, o que abrevia o tempo de circulação das mercadorias e afasta a necessidade do capital complementar, do qual, faltando o crédito, o capitalista dos tecidos teria necessidade para assegurar a continuidade de sua produção.
Esta forma de crédito, que facilita a circulação das mercadorias e afasta os obstáculos do movimento circulatório do capital, que poderiam resultar da imobilização do capital sob a forma de mercadoria, é chamado o crédito comercial.
A forma de crédito, que já examinamos mais acima e que elimina a imobilização do capital sob a forma dinheiro e transforma o capital disponível em capital ativo, é chamada, por sua vez, o crédito bancário.(1)
Notas de rodapé:
(1) No texto francês, do qual fazemos esta tradução, usa-se a expressão effete de commerce, o que significa um título comercial de caráter geral. Usamos neste ponto a expressão duplicata por ser realmente a forma de título comercial que aqui se aplica. Adiante, porém, preferimos quase sempre a expressão genérica de título comercial. (N. do T.) (retornar ao texto)
Inclusão | 03/10/2018 |