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Sabemos que o valor de cada mercadoria se determina pela quantidade de trabalho simples socialmente indispensável à sua produção. Mas sabemos também que não basta ter-lhe dedicado trabalho para que um produto tenha valor. Também é preciso que se encontre no mercado frente a outro produto e que este se transforme pela troca na encarnação material das relações de trabalho dos homens entre si, sem o que o produto do trabalho teria apenas um valor de uso e nenhum valor intrínseco. Se o camponês vai ao mercado com o seu centeio, este centeio só expressa o seu valor quando o camponês o troca por determinada quantidade de outras mercadorias, por exemplo fósforos. Além disso, se a outra mercadoria pela qual se expressa o valor do centeio não existisse, o problema do valor do centeio não se poria. Assim como o homem não conheceria o seu próprio aspecto se não se encontrasse com outros homens, seus semelhantes, ou se não se visse ao espelho, do mesmo modo nenhuma mercadoria pode determinar o seu valor se não se encontra com outras mercadorias.
A economia de troca é feita de tal modo que o valor de uma mercadoria que depende da quantidade de trabalho que esta materializa não pode expressar-se clara e directamente através da quantidade de horas e minutos que foram necessários para a produzir.
O valor de uma mercadoria só pode expressar-se através de uma determinada quantidade de outras mercadorias.
O camponês que vai vender o seu centeio ao mercado não pode saber antecipadamente quantos agricultores mais irão vender centeio e quanto trabalho individual gastaram na sua produção. Pois bem, a medida do trabalho socialmente necessário depende da quantidade de mercadorias produzidas e destinadas à troca, e do trabalho individual de todos os produtores.
Torna-se ainda mais difícil estabelecer o trabalho socialmente necessário quando se trata duma mercadoria que é o produto do trabalho de vários trabalhadores e em que cada um participou na formação do valor do produto. Recordemos o exemplo do fato, cujo preço não foi somente determinado pelo trabalho do alfaiate, mas também pelo do tecelão que fez o pano, pelo do camponês que cuidou das ovelhas, pelo do metalúrgico que fez a máquina de coser e pelo de muitos outros trabalhadores.
Finalmente, como já referimos, a economia baseada na troca é uma economia desorganizada que não tem nenhum regulador das relações sociais de produção e que não se preocupa, portanto, em anotar os gastos de trabalho.
Somente depois do encontro do centeio com os fósforos, no mercado; somente depois de a concorrência ter estabelecido, por exemplo, que uma libra de centeio pode trocar-se por duas caixas de fósforos se pode dizer que o centeio conheceu, por meio dos fósforos, como num espelho, o seu próprio valor e que o trabalho socialmente necessário materializado em duas caixas de fósforos e numa libra de centeio é equivalente.
Esta expressão do valor de uma mercadoria com a ajuda doutra mercadoria chama-se forma-valor. A mercadoria que tentar expressar-se noutra mercadoria, a libra de centeio do nosso exemplo, aparece sob a forma-valor relativa, a mercadoria que a reflecte de algum modo, que lhe serve de medida, constitui a chamada forma de equivalente. Esta forma de equivalente encontra-se, no nosso exemplo, representada pelas duas caixas de fósforos que equivalem a uma libra de centeio. A expressão do valor de uma mercadoria através de outra pode representar-se por uma equação:
libra de centeio = 2 caixas de fósforos.
As mercadorias que constituem os dois membros desta equação são dois valores de uso distintos, provindos de propriedades físico-químicas totalmente diferentes, e que satisfazem diferentes necessidades. É a condição necessária para que o valor encontre realmente a sua expressão, a sua forma. Se, de facto, pensássemos em determinar o valor do centeio com a ajuda de outro centeio parecido, o que obteríamos? Uma libra de centeio vale uma libra de centeio. Esta expressão não faria sentido e não poderia, de modo algum, expressar o valor do centeio.
Portanto, as formas relativa e de equivalente do valor têm de ser constituídas por valores de uso diferentes. Compreende-se que o trabalho concreto gasto para as produzir tem de ser diferente também.
Mas se assim é, se o centeio e os fósforos são valores de uso diferentes, para a produção das quais se gastaram diferentes formas de trabalho, então porque é que podemos colocar o sinal de equivalente entre eles? Porque apesar das maiores diferenças, estas duas mercadorias têm em comum uma certa quantidade de trabalho abstracto socialmente necessário. As duas mercadorias que dão origem à forma «valor» são simultaneamente distintas e parecidas. Se não fossem diferentes, a criação da forma-valor também seria impossível. Mas sem uma semelhança entre elas, a criação da forma-valor também não seria possível, pois não se podem comparar duas coisas que nada têm em comum. Podemos representar por libras e quilos todas as farinhas, porque as farinhas e as medidas que expressam o seu peso físico têm precisamente esta propriedade em comum: o peso. Do mesmo modo, o valor da farinha pode medir-se em caixas de fósforos, porque estas, tal como a farinha, têm um valor.
Existe, é certo, uma diferença fundamentalmente entre o peso e valor: o peso é uma propriedade natural inerente à farinha e aos fósforos, enquanto o que há de comum entre o centeio e os fósforos considerados como mercadorias e que nos permite comparar os seus valores, já o dissemos, não está neles mesmo, mas sim nas relações dos homens que os produziram e os trocam. Se estas relações não existissem, o próprio valor desapareceria, com todas as formas que o expressam.
Notemos também (o que está subentendido no que já dissemos) que a relação de quantidade pela qual uma mercadoria se considera equivalente a outra não é constante. Se, por exemplo, o rendimento do trabalho social das fábricas de fósforos duplica, o valor de uma libra de centeio já não será de duas caixas, como anteriormente, mas sim de quatro. Se, pelo contrário, a produção do centeio exige menos de metade do trabalho que exigia, o valor da libra de centeio seria equivalente a uma caixa de fósforos. Naturalmente, pode ocorrer que ambas as mercadorias sofram a mesma modificação de valor; neste caso a forma-valor que exprime de alguma maneira a relação entre os valores manter-se-á sem alteração.
Inclusão | 26/06/2018 |