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Primeira Edição: O original encontra-se na revista Utopie Critique.
Fonte: http://resistir.info/
Tradução MJS
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Uma obra já antiga(1) dava projecções em números para o ano de 2000, relativamente às religiões: 1.132.541.500 de católicos, 1.071.888.400 de agnósticos e 262.447.600 de ateus. Com 1.334.336.000, o número de não-crentes vinha, assim, largamente em primeiro lugar, à frente da primeira religião do mundo, o islão, estimada em 1.200.653.000, a exceder os católicos em mais de 200 milhões.(2) Além disso, estes últimos representavam apenas menos de um terço de todos os crentes das outras religiões, numa relação de 1,1 mil milhões para mais de 2,5 mil milhões. A diferença, desde então, não deixou de crescer. Todas as estatísticas, entre as quais as da igreja, testemunham a carência de vocações eclesiásticas, a queda das práticas rituais (baptismos, casamentos) e a desertificação dos locais de culto. No Brasil, "o maior país católico do mundo", como insistentemente nos repetem, os fiéis passaram de 88%, em 1980, a 73,8%, em 2000, e os pentecostistas, em particular, continuam a ganhar terreno.(3) Na Alemanha, a Igreja perdeu 1/10 dos seus adeptos e as igrejas são vendidas a particulares, que as transformam em apartamentos...
Ora, desde a hospitalização de João Paulo II, nós encontramo-nos na presença e, na realidade, como vítimas de um tsunami mediático ainda mais incrível que aquele que cobriu recentemente a catástrofe do sudeste asiático.(4) Os delírios verbais e gesticulatórios atingem níveis inigualáveis. O país de Descartes situa-se, infelizmente, na dianteira. Os tempos de antena explodem, reduzindo "o resto da actualidade", no melhor dos casos, às proporções mais ínfimas. Até a agonia de uma outra vedeta, Rainier, o incomparável soberano monegasco, viu-se quase sacrificada, pelo menos a princípio, já que a seguir o interessado remediou a sua desvantagem, chegando mesmo a compensar a enorme relação desfavorável de 30.000 indivíduos para mil milhões de fiéis (incluídos, todavia, os 30.000 em questão) e gratificando cada habitante do Rochedo com o privilégio de reclamar, além do seu próprio progenitor, um par de pais, o de Roma, o Santo Padre, e o seu, o Pai-de-Todos. Mas esclareçamos, com a devida vénia a Prévert, é muito pouco provável que o novo papa venha a chamar-se A. Rainier. Um outro falecido nestes dias, que já não ousamos dizer ter sido célebre, Saül Below, simples Nobel da literatura e talvez nem sequer cristão, esse, foi esquecido. A boa nova, em todas estas infelicidades, que está à altura de uma magnanimidade lendária, é a reabertura do casino a servir de contraponto, a alguns milhares de quilómetros dali, à reinstalação das cadeiras de encosto onde nos bronzeamos e pranchas de surf nas praias ("de sonho") indonésias, apesar de alguns sobressaltos telúricos residuais.
Quanto a nós, pobres pecadores, estávamos condenados a prosseguir o nosso empanturramento comunicacional. Incansavelmente, doença, sofrimento, morte, cadáver passam e repassam em directo. Incansavelmente, vamos e vimos de catedral em igreja, de convento em sacristia, de Notre-Dame a Lyon, de Lyon a Lourdes, de Lourdes a Cracóvia, de Cracóvia a Jerusalém, de Plan de Cuges a Moscovo, do Rio a Havana, com todos os caminhos levando, evidentemente, a Roma. Tudo é dado, do peregrino lacrimoso ao pároco órfão, da devota do país profundo à citadina descarada-que-já-não-é, do bispo ao arcebispo e vice-versa, até ao nosso sempre verde cardeal Lustiger, que confessa, c'os diabos!, que ele faz contratos directamente com Deus.(5) Prioritários: os jovens, os jovens, os jovens. Desinibidos de qualquer comedimento ou "desinibindo-se", como elegantemente se diz, a tribu dos mikeys televisivos entrava em órbita. As irmãs Gessler e Schönberg, indiferentes aos reparos do apresentador, no sábado anterior, enchiam a boca com o "Santo Padre", a segunda a evocar despudoradamente "a Virgem Maria"; a madre Lucet, pura e simplesmente, vestia-se de preto (dia 3, às 19h); o bem-aventurado Grizbec, tocado pela graça (outra que não a do Mónaco), a quem nada se perguntava, ia revirando os olhos ao relatar a sua conversa com o "sucessor de Pedro"; o reverendo Harrouard, do alto da sua ciência vaticanesca, esclarecia, a propósito do conclave: "É o Espírito Santo que decide"; e o oblato Duquesne apresentava-se, desta vez, de gravata, preta naturalmente, em honra do "Bom Pastor" (sic).
Mas, posto de lado o maralhal das ovelhas, é a vez dos nossos maganões políticos, confundindo descaradamente função e unção, se precipitarem para acolitar esta missa desmesurada, onde qualquer antigo menino de coro se alça a pastor oficiante, qualquer velho escuteiro se sente paramentado e mitrado. E todos a meter a sua colherada para ganharem o prémio do mais bem-dizente. Chirac, na sua qualidade presidencial, e a sua diaconisa apresentam-se no super show da Notre-Dame, acompanhados por uma chusma de ministros e todos eles nessa qualidade. As bandeiras são postas a meia haste em todo o território nacional. Gaudin, o autarca eleito, concede meio dia de tolerância aos empregados da Câmara, como se eles tivessem sido recrutados pela sua religiosidade. De Villepin, tomado por qualquer nostalgia do Antigo Regime, recomenda aos prefeitos da República que assistam às missas em favor de "Sua Santidade" (sic). A Assembleia Nacional, imediatamente seguida pelo Senado, toda ela de pé, observa um minuto de silêncio (o que em si não é nenhum mal). O humorista Goasguen quer dar sem tardança o nome de João Paulo II à Praça do Município. E por que não à Praça da Bastilha, para acabar de vez com a Revolução? Já agora, eu proponho, por meu lado, que a Praça da Concórdia se passe a chamar Praça do Presidente Gnassingbé Eyadéma, outro falecido recente e, também, grande amigo da França e dos seus últimos monarcas. Isso corroboraria o argumento, defendido até por um Max Gallo, das honras devidas aos chefes de Estado mortos.(6) Salvo que, com o Papa, nunca se sabe com que função estamos a lidar, se a das carnavaladas do Vaticano ou a da Igreja universal, o que é verdadeiramente cómodo, para não dizer hipócrita. Portanto, consenso, consenso e consenso, do abade Pierre a M. Cuckierman, com todas as clivagens abolidas. Por isso, os irmãos Hollande e Delanoë mandam calar as suas ovelhas laicais com um "o momento é de recolhimento", que equivale a uma trégua geral, nacional, europeia, decerto, e mundial, como se fosse esse o fim em vista...
Efectivamente, do lado estrangeiro, é o mesmo. "Eles vieram, eles estão todos lá", como canta Aznavour. Os rabinos, os imans, mesmo os ayatolas, os bangladesh, os emiratos, os pigmeus e os pigmaleões (de Chipre, evidentemente), os dalais e os lamas, o Katami e o Lula, Mazen Abou e Buda, até aquel valente Ali Aksa, ex-braço de Moscovo, que ora pelo "seu irmão, do fundo do seu cárcere... já que nos dizem para parar tudo e que o ecumenismo dirige o mundo. O príncipe Carlos, esse São Sebastião de Windsor, adia de novo o seu casamento, como o nosso bem-amado Jacquou, que deixará a juventude à espera das suas santas palavras sobre o referendo, e como os partidos políticos italianos, que suspendem a sua campanha eleitoral para as regionais. No entanto, perante a impossibilidade de tudo cobrir, há que correr o risco de inscrever no palmarés de uma competição acirrada de cálices sagrados dois campeões imprevisivelmente reunidos. Fidel, entre os fiéis, decreta, do seu genuflexório, três dias de luto em Cuba, como agradecimento, sem dúvida, às admoestações engolidas aquando da viagem pontifical. Mas o óscar vai, incontestavelmente, para a Santa Família de Washington, pela primeira vez reunida na Praça de São Pedro: o Pai, o Filho, o Espírito Santo (conhecido familiarmente por "Bill") e Maria, nas suas duas encarnações de Virgem Branca (Laura B.) e de Virgem Negra (Condoleeza R.), sendo esta última, como toda a gente sabe, a preferida do desaparecido Soberano Pontífice. Reservar-se-á, por fim, a menção especial da Emoção e do Fervor para os polacos, inumeráveis milhões de inconsolados Agni Dei. Com entusiasmo, gritar-se-á, como Ubu, que foi seu rei: "Para a frente, meus amigos! Viva a Polónia!... Se não houvesse Polónia, não haveria polacos!". 200 chefes de Estado! Permitam-me uma confissão pessoal. Na realidade, eu não estava tanto a pensar em Jarry, mas na proeza do célebre tio habilidoso de Boris Vian, na sua "Java das bombas atómicas": "... de todas estas personagens, já nada resta". E não me venham mais falar de Ben Laden. É que eu, a par disto, embora asfixiado por um milhão aqui, mais quatro milhões acolá, ainda tive forças para especular acerca da altura da montanha de spaghetti e do comprimento do rio de mozzarella consumidos por aquelas multidões nos poucos dias de recolhimento.
Eis o filme. Começou com a personagem engomada de fresco atrás duma janela de hospital e acabará (??) em fumo de conclave. Numa encenação demencial de coscuvilhice masoquista e de parada hollywoodesca. Agonia em ecrã panorâmico, sofrimento em grande plano e um indivíduo, em êxtase, sente-se mesmo testemunha da crucificação (sic). Os mickeys iam comentando esta "passagem" da "páscoa", assim desejada, certamente, por Deus, e as "mãos" prontas a acolhê-lo. Sofrimento? Eu estava a ver o meu pai (o meu, Marcel) que, na sua dor, mal conseguia pestanejar antes de se afundar no nada.
E, ENTÃO, NÓS? Nós, que não contamos, que não somos sequer contados, quando somos e porque somos mais numerosos do que todos esses milhões arbitrariamente aglomerados. Arbitrariamente, sim, por uma insistência contundentemente desfechada e sabiamente repetida: "luto mundial" por uma "morte excepcional", "acontecimento planetário", "todas as civilizações, todos os sistemas políticos sem distinção" (sic). Dado que não contamos, somos anexados à contabilidade geral, isto é, vampirizados pela muito bem designada Igreja Universal. E o anátema perdura desde o padre Platão, que preconizava a pena de morte para o simples crime de ateísmo. É a treta das "comunidades" indefinidamente renovada. Exemplos em França, com a "comunidade muçulmana" estimada, por alto, em 6 milhões: 10% frequentam, ocasionalmente, uma mesquita, mais de 25% declaram-se não religiosos ou ateus; a "comunidade judaica", confiscada pelo CRIF (63 associações), vale no máximo 100 mil crentes e simpatizantes, ou seja, 17%.(7) Pense-se na homenagem prestada na Praça do Trocadéro aos monges de Tibérine cobardemente assassinados por "fanáticos religiosos", na Argélia: os jornalistazecos viram representantes das "Três Grandes Religiões" + budistas + Adventistas do 7º dia e, suponho, mesmo, do 5º e de anteontem, mas não nos viram a nós, sacanas ateus, agnósticos, pagãos, fremendo também de indignação laica.
E então? Vejamos o que subjaz a este terreno humorístico.
A diplomacia é a motivação das entidades oficiais? Com certeza, porque ninguém quer fazer-se notar pela sua ausência. Há que ocupar a tribuna ecuménica e consensual da espiritualidade, que não se alimenta nem de pão, nem de conflitos. Estamos em comunhão, neste momento de embuste paparrotão, em celebração de um herói da paz e do amor sem fronteiras, de "carisma excepcional, que vai para além da morte" (sic). Por esse facto, somos obrigados a engolir o nosso bilhete de identidade?
O macaréu multitudinário dos anónimos? Como atribuir as culpas aos meios de comunicação que se defendem, dizendo não serem senão o reflexo disso? João Paulo II não era, por sua vontade, "o grande comunicador", o infatigável viageiro, o beijocador de todos os solos, o mediatizador "mais mediatizado"? Esta cavalgada post-mortem revelou-se adequada ao seu nomadismo existencial, ajudada, é preciso dizê-lo, pelos holofotes concorrenciais das televisões de todo o mundo, Al Jazeera e Hezbollah incluídos, também eles encostados ao poder, duas vezes milenário, dos happenings, com som, luz, sotainas e incenso, da instituição eclesiástica. A aflição e o luto das massas não devem ser menosprezados e o respeito que nos inspira a sua sinceridade, apesar da sua parte de espantosa credulidade, não é incompatível, para quem está de fora, com a ideia de que o bom velho ópio do povo aquieta e é uma afirmação, simultaneamente.
A estatura do próprio homem, a quem toda a gente, por razões da sua causa (cautela oportunista, no topo, fé e esperança, na base), elogia à compita as incomparáveis virtudes? Rebusquemos aqui e ali na apologética de uma canonização anunciada. À paz urbi et orbi e ao amor do próximo, já destacados, acrescentemos a exaltação da liberdade e a aproximação entre os povos e religiões (NB: connosco nunca). Do "Não tenham medo", tão celebrado, que teria contribuído para o derrube do muro de Berlim mais eficazmente que as trombetas de Jericó, ao "As relações sexuais são o que há de mais belo no mundo", que se discute se vem da sua experiência "de atleta" ou da penetração divina, o que é que não se louvou deste apóstolo, poeta, filósofo, poliglota, ensaísta, dramaturgo, desportista e muitíssimas mais coisas? Dá-se uma importância particular à defesa da paz na Palestina e à denúncia da guerra na Iraque. Mas, para além do facto de ser difícil a uma consciência cristã não se sentir chocada com os odiosos crimes que flagelam dois povos, não consta que o "Santo Padre" tenha ido a qualquer dos campos, nem a Gaza, ou que tenha dinamitado o muro sionista com o mesmo ardor com que dinamitou o muro soviético, nem tão-pouco tenha exortado a comunidade dos fiéis a apoiar a resistência iraquiana. A condenação do imperialismo estadunidense continua à espera e não são nem Bush nem Sharon quem se queixará.
E a sua Igreja? Compreende-se que ela tenha aproveitado a ocasião para uma grande campanha publicitária, que lhe permitisse, durante algum tempo, exorcizar os demónios da sua decadência. Mas de que Igreja se trata? De que crentes? Quando se ouve o Monsenhor Barbarin, arcebispo de Lyon, cardeal e primaz dos gauleses, proclamar que João Paulo II foi um "extraordinário servidor dos pobres", a nossa vontade é gritar de indignação, tão evidente é a mentira. O falecido Papa serviu a Igreja dos poderosos, dos ricos e seus privilégios de poder e dinheiro. O valente destruidor do "totalitarismo" era um cruzado da velha escola e o mais obstinado, aferrado à Doutrina, em luta contra tudo o que fosse progressista, contra tudo o que tentasse ultrapassar e pôr em causa a ordem estabelecida dos dominantes. Por isso, incansavelmente, fez e refez a volta ao mundo, indo a todas as frentes onde pressentia uma ameaça. Ao lado de Pinochet e dos hierarcas romanos enfeudados às ditaduras militares, condenou os padres sandinistas, brandiu o estandarte da heresia contra os teólogos da libertação, solidários com as comunidades de base e os camponeses sem terra do Brasil e de toda a América Latina.(8) Ele preferia-lhes, sem dúvida, o intransigente purismo da Opus Dei. Recordemos que, na própria França, ele castigou Jacques Gaillot, culpado de se ter comportado como prelado dos sem-abrigo, dos sem-papéis, sem recear o ridículo da invenção de Parthénia, pondo a Filha mais velha da Igreja a salvo de qualquer contágio.
E as mulheres? Que solicitude, cheia de caridade para com elas, na violência das proibições respeitantes ao aborto e à contracepção, isto para não falar do seu afastamento, constantemente reiterado, do sacerdócio. E os jovens, que ele tentou ganhar aos milhares para os seus valores medievais e que, de hóstia no bico, secavam à espera, durante horas, para se aproximarem do caixão? De que benefício seu são eles devedores? Do apelo à castidade e à resignação ao HIV que dizima igualmente aos milhões esses infiéis fornicadores africanos? A escolha sórdida, por outras palavras, entre a calota e a camisinha, entre a bolsa ou a vida. E os próprios padres, cujo celibato não é muitas vezes senão a muralha hipócrita da homossexualidade ou da pedofilia?
A catolicidade ávida de abertura, esquecida e rejeitada, mas na realidade maioritária, multitudinária, ninguém a encontrou nos ouros e brocados de Roma. Essa, continuou lá onde João Paulo II a acantonara, nas suas frustrações, na sua pobreza, na sua miséria. E na sua revolta, que há-de ser ela a ganhar.(9)
O "Papa da mundialização", como se disse e, até, como acrescentou o virtuoso J. Attali, da face do que há de positivo, da "imagem do Bem" da mundialização.(10) Ele foi, de facto, um Papa combatente, militante no plano ideológico da luta de classes internacional a que se reduz, digam o que disserem, a mundialização. Esta atitude, na função que era a sua, nada tem de muito original. O progresso nunca abriu as pesadas portas da basílica de São Pedro, que não tem feito senão confiscar as esperanças goradas e anestesiar as feridas populares. Àqueles que acreditavam, apesar de tudo, que Cristo poderia voltar de tiara na cabeça ou que a sua inocência convenceria a esperar o sucessor que eles tanto desejam, temos infelizmente de remetê-los para a opinião de Giancarlo Zizola, consagrado observador dos segredos da Cúria. Este especialista declarava, num jornal informativo da Antenne 2 (abençoada seja a ocorrência) que João Paulo II nomeara praticamente todos os cardeais encarregados da eleição do próximo Papa e que eles eram tão "reaccionários" (sic) que nem a ele o teriam eleito no conclave a que deveu a sua investidura.
Quanto a nós, cujas fileiras, como se vê, estão destinadas a crescer constantemente, nós não estamos recolhidos. Já fomos colhidos por um bom golpe de direita e não há forma de recomeçar, pois não contamos com ninguém, nem Deus, nem mestre, para nos acolher. Pelo, contrário, para colher, temos a nossa pequena foice. E, essa, está bem afiada.
Adenda (20/Abril/05).
Duas observações: a) não só o matraqueamento indecente não parou até ao fumo branco e depois dele, mas ainda o luto menor pelo Príncipe do Rochedo, que abrilhantou as exéquias de Franco, ao lado de Pinochet, valeu-nos, na Antenne 2, 5 horas consecutivas de padralhice; b) a eleição do cardeal Ratzinger, o Grande Ideólogo, espécie de Souslov ou, melhor, de Tourabi do fundamentalismo católico, se não faz de João Paulo II um esquerdista, não deixa de confirmar os prognósticos mais pessimistas. Decididamente, os desígnios de Deus são sondáveis.
Notas de rodapé:
(1) L'Etat des Religions, Paris, La Découverte, 1987 ; os dados numéricos foram tirados de International Bulletin of Missionary Research, World Christian Encyclopaedia. (retornar ao texto)
(2) Um inquérito, vindo não se sabe donde, realizado por ocasião da defesa pro domo organizada pela Antenne 2 sobre a cobertura das exéquias, contradiz estes dados, particularmente o primeiro lugar atribuído à religião muçulmana (9 de 2005, Médiateur das 13h30). (retornar ao texto)
(3) Ver "Les indigènes équatoriens face au défi évangélique », in Le Monde Diplomatique de Abril de 2005. (retornar ao texto)
(4) Ver o meu artigo em Utopie Critique, nº 32, Março de 2005 (retornar ao texto)
(5) Em directo num jornal televisivo, o tema era: deixem-me morrer antes dele ou esperem que eu ultrapasse os 80 anos. Desconhece-se a segunda parte do diálogo. (retornar ao texto)
(6) Esta pretensa regra teve, como já fez notar um outro desmancha-prazeres, algumas excepções: Hassan II, embora "o nosso amigo rei", foi privado das bandeiras a meia haste, de que beneficiou um Reagan, morto fora da Casa Branca. (retornar ao texto)
(7) Cf. Denis Porthault, do Observatoire du Communautarisme, "Communautarisme, mode d'emploi", in Utopie Critique, nº 31, Nov/04. (retornar ao texto)
(8) Um canal público (não levei os outros em consideração) teve a originalidade de apresentar uma reportagem sobre dois padres belgas que exercem o seu apostolado numa favela do Rio. Destes homens, bem dignos de respeito, o jornalistazeco apressou-se a esclarecer que eles não pertenciam à teologia da libertação. (retornar ao texto)
(9) Se se quiser mais amplos detalhes sobre esta versão que não é a da Igreja, poderá consultar na net a Rede de informação e solidariedade com a América Latina (RISAL: http://risal.collectifs.net/article.php3?id_article=1322 ), em particular o artigo de Leonardo Boff, "Jean-Paul II, La grande restauration" e a Déclaration de Combat, "La nation française ne porte pas ce deuil" ( combat.94@wanadoo.fr ). Espera-se também a saída do próximo número da revista Golias. (retornar ao texto)
(10) Convidado por B. Duquesne no jornal televisivo das 13h, de 07/Abr/05 (retornar ao texto)