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Primeira Edição: ENDE DES AUTOMÄRCHENS em www.exit-online.org. Publicado em “Neues Deutschland”, 22.08.2011
Fonte: http://obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Apesar de toda a conversa sobre a economia de serviços, a produção industrial continua a ser a base da valorização capitalista real. E a indústria automóvel ainda constitui o núcleo central. Uma vasta gama de fornecedores e prestadores de serviços depende dela. Por isso as empresas do ramo automóvel foram os destinatários preferenciais de auxílios estatais na grande crise de 2009, juntamente com o sistema bancário. Foram ajudadas com participações públicas directas (General Motors), resgates e garantias, bem como com apoios à venda de automóveis em todo o mundo. Neste país houve os infames prémios de abate. Isso era desesperadamente necessário, porque o maior excesso de capacidade global tinha sido construído justamente na indústria automóvel e ameaçava derreter como neve ao sol, após o colapso do poder de compra fictício alimentado a partir das bolhas financeiras.
Em pouquíssimo tempo por toda a parte as empresas do ramo automóvel foram salvas, como por milagre. As enxurradas de dinheiro dos bancos centrais fizeram o resto para impedir a economia de cair. E também com isso lucraram em grande parte as vendas de automóveis, pois neste mundo é precisamente a lata rolante que é o objecto preferido do desejo. Quem acaba de escapar da fome já sonha com um automóvel. Particularmente a China experimentou um boom automóvel com uma taxa de crescimento francamente fantástica. Alguns meses foram suficientes para fazer este país brilhar como o principal mercado de exportação para os construtores alemães de automóveis. Poderia ter sido um sinal de alerta o facto de o grosso do milagre da exportação não terem sido os carros pequenos e médios, mas os da classe Premium, extremamente caros. Aqui não amadurecia qualquer consumo de massas sólido, mas apenas a necessidade de dar nas vistas dos vencedores da crise, não em último lugar com base soprada pela bolha imobiliária chinesa que (a par dos programas públicos) tinha substituído a bolha imobiliária dos EUA como carga propulsora da conjuntura económica.
Entretanto, como é sabido, por todo o mundo está a faltar o ar às finanças públicas. As crises da dívida dos EUA e da UE já se repercutem na economia. Na China, a inflação galopante e as medidas de contenção do banco central, ainda insuficientes, indicam um arrefecimento. Como a indústria automóvel tinha sido um dos principais beneficiários dos pacotes de resgate, ela deverá ser agora a primeira afectada pelo regresso cada vez mais provável da recessão global. A retoma era demasiado rápida e exuberante para ser verdadeira. Já no segundo trimestre de 2011, o mercado mundial de automóveis de passageiros entrou em estagnação. As previsões são revistas em baixa para 2012, de 65 para 60 milhões de carros.
O fim da fábula do automóvel em breve colocará de novo em agenda o problema do excesso de capacidade global, substancialmente não resolvido. Os antigos candidatos à falência voltam a sê-lo e em primeiro lugar a General Motors. Se o negócio, simulado robusto com a ajuda de injecções estatais, se desfaz na antiga miséria, o destino da Opel, subsidiária alemã da GM, fica novamente numa situação delicada. Os rumores sobre uma possível venda da Opel de há uns meses para cá já falam mais alto do que todas as histórias de sucesso. Só que, perante uma nova depressão económica, a empresa não vai ter mais histórias de sucesso. A águia domada da retoma subsidiada em breve poderá voltar a transformar-se no abutre da crise. Em todo o caso, a evolução da indústria automóvel mostra exemplarmente a evolução da economia global.