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Primeira Edição: SPARTERROR UND REVOLTE em www.exit-online.org. Publicado em “Freitag”, Berlin, 07.07.2011
Fonte: http://obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
O chauvinismo de exportador alemão imagina-se na ilha dos bem-aventurados, onde ninguém sabe o que é a crise. Ora o facto é que também neste país continuam a aumentar a pobreza em massa e os salários de miséria. Mas isso não interessa nada quando a economia de qualquer maneira está a crescer. A China e os Estados Unidos estão a comprar em grande na Alemanha graças a apoios públicos. Por enquanto a crise tem sido exportada sobretudo para as partes menos abençoadas da UE, juntamente com os automóveis e as máquinas-ferramentas. O euro torna isso possível, porque promove o rolo compressor da exportação de alta tecnologia. E, por isso, ele tem de ser salvo. A tertúlia habitual excita-se artificialmente com os pretensos presentes de milhares de milhões para os "gregos preguiçosos". Contudo, não há presentes nenhuns, mas sim mais empréstimos, para serem pagos em capital e juros, a bem ou a mal. Isso só pode acontecer se a Grécia poupar até à ruína e cortar literalmente do corpo dos seus cidadãos, incluindo a classe média, os custos do resgate do euro. Há muito que não são apenas jovens militantes que vão para a rua contra isso, mas também simples donas de casa, médicos e professores, avôs e avós.
O limiar de dor social foi ultrapassado como é sabido e não só na Grécia. O terror da poupança está a devastar por motivos semelhantes também a Espanha, Portugal, Irlanda e outros sítios; até a Grã-Bretanha, que nem sequer faz parte da zona euro, mas teve de salvar os próprios bancos e obriga agora as pessoas a pagar. Por toda a parte começa a aparecer uma revolta contra a venda dos últimos recursos públicos, revolta por enquanto ainda sem rumo político-social, mas que em breve só poderá ser sustida pela força. De repente, no meio da UE, estão iminentes "situações das arábias". Se os levantamentos por esses lados havidos foram até agora mediaticamente percebidos como "movimentos de democratização" muito correctos, agora vem à tona a miséria social como verdadeira causa, no próprio terreno das democracias europeias. Em foco, cá como lá, está o dramático desemprego em massa da juventude com formação académica, que de resto há muito se vem manifestando também na China e noutros países asiáticos em plena expansão.
A inundação de dinheiro dos bancos centrais e os programas de resgate públicos é que levaram a novas bolhas financeiras, inflação descontrolada e mesmo, como na zona euro, à beira do colapso da moeda. A política de austeridade extremista é a inversão de marcha para evitar tais consequências. Mas com isso apenas se revela a crise em toda a sua extensão. Depois dos países árabes, a Grécia, sendo o elo actualmente mais fraco, mostra o futuro da economia capitalista e do seu universo de Estados. Se, depois da geração jovem, também a geração mais velha é levada a bater no fundo pelas consequências da crise executadas pelo Estado, desfaz-se a legitimidade do sistema político no seu conjunto. Isto não é apenas um problema social e político, mas também afecta o capital em si. Pois a fúria da poupança contra as consequências da fúria dos resgates também acaba por estrangular de novo a conjuntura económica global. É uma ideia absurda pensar que a Alemanha poderá gozar duradouramente do fulgor da sua exportação de crise, enquanto todo o mundo está em chamas. Será interessante ver como os supostos ganhadores da crise responderão social e politicamente, quando a miséria finalmente chegar também a eles.