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Primeira Edição: DER BANKROTT DES MIKRO-KAPITALISMUS in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 13.12.2010
Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Actualmente tanto a crise do sistema financeiro internacional como a quebra da economia global são consideradas dominadas, embora o problema apenas tenha sido deslocado para as finanças públicas. Mas nas últimas semanas, não por acaso, já outro pretenso modelo de sucesso do capitalismo de deficit anda nas bocas do mundo.
O projecto modelo do microcrédito, nas áreas de pobreza de todo o mundo e em muitos países ditos emergentes, era considerado não apenas um resistente às crises, mas também uma evidência da força elementar do pensamento da economia de mercado. Sob o signo da "responsabilidade pessoal" neoliberal, especialmente as mulheres pobres deviam transformar-se em pequenas empresárias do sector de serviços, capazes de tomar o seu destino capitalista nas próprias mãos, com a ajuda de pequenos empréstimos de 100 a 500 euros.
O inventor do modelo, Muhammad Yunus, do Bangladesh, foi premiado em 2006 com o Prémio Nobel, significativamente não da Economia, mas da Paz. O entusiasmo das elites era grande, porque a ideia parecia matar vários coelhos de uma cajadada, combinando uma redução da pobreza estritamente baseada na economia de mercado com uma emancipação das mulheres igualmente em estrita economia de mercado, de modo a obter uma pacificação social em completa conformidade com o sistema. As doações de capitalistas filantrópicos fluíram abundantemente, como foi o caso da fundação de Bill Gates.
A partir do Bangladesh e da Índia, surgiu assim em pouco tempo um novo mercado financeiro no valor de milhares de milhões de microcréditos predominantemente "femininos", na Ásia, na África e na América Latina. Os grandes bancos asiáticos e também instituições financeiras como o Deutsche Bank criaram sociedades de investimento nesta área. Na senda desta expansão os primeiros microbancos já cotaram em bolsa. Partindo da imagem da ética obrigatória, tem sido um negócio brutal. Grão a grão enche a galinha o papo. Oficialmente, os microcréditos vão sobretudo para apoiar grupos de auto-ajuda de mulheres e seus projectos de negócio. Mas aplica-se ao microendividamento o mesmo que aos grandes empréstimos: como antecipação de rendimentos reais futuros precisa de ser "servido", o que significa pagar juros e amortizações.
No entanto, as pequenas empresas femininas assim financiadas estão presas por um fio e rapidamente esbarram nas condições externas. Basta a doença de um familiar ou uma das inundações cada vez mais frequentes na sequência da mudança de clima induzida pelo capitalismo para levar a que o microcrédito desapareça nos custos "improdutivos" da economia de mercado. Com a expansão explosiva dos mercados de microcrédito, o patrocínio das microempresas tornou-se uma ilusão cada vez maior. Era apenas uma questão de crescimento a todo custo para estar lá. Na Índia, os grupos de auto-ajuda tornaram-se cada vez mais uma mera capa formal, enquanto o dinheiro era simplesmente desviado para a compra de alimentos.
Depois da crise dos mercados financeiros mais importantes chegou a vez da crise do microcrédito. No entanto, a questão agora é muito mais brutal do que nos corredores da alta finança. Os reescalonamentos das dívidas nos microbancos aumentam o montante dos pagamentos de juros semanais. Muitas mulheres são forçadas a prostituírem-se para continuarem solventes. Na Índia, aumentam os suicídios de devedoras que já não conseguem pagar as prestações de 5 ou 6 euros. Tanto para a filantropia da economia de mercado como para a libertação das mulheres. O estouro desta bolha financeira especial, que já não é assim tão pequena, não apenas se vai repercutir na economia de muitos países emergentes, mas também é um sinal de alarme para a crise do crédito no seu conjunto, que de modo nenhum está dominada.