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Primeira Edição: DIE CHINESISCHE BLASE in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 01.04.2010
Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Foi a bolha imobiliária nos países anglo-saxónicos e em partes da zona Euro, como se sabe, que primeiro alimentou a conjuntura económica global baseada no deficit e depois provocou, com o seu estouro, a maior crise financeira e económica há mais de meio século. Após o crash, o mercado da habitação depende agora da alimentação endovenosa do Estado. As garantias e apoios estatais é que travaram a iminente queda num poço sem fundo dos preços do imobiliário. Pretende-se assim evitar perdas mais dramáticas de activos e a falência dos bancos. Mas, enquanto o saneamento do mercado for adiado artificialmente, todo o sector pesa como uma pedra de moinho no pescoço da economia mundial. Em qualquer caso, não se vê donde possa surgir um novo propulsor para futuras conjunturas económicas baseadas no deficit. Como os preços dos imóveis, devido à intervenção do Estado, ainda não desceram à terra, a política dos bancos centrais de taxa de juro de facto zero também não serve de nada. Tão depressa não voltará a haver novo milagre do consumo de qualquer dos lados do Atlântico a partir de um boom imobiliário financiado a crédito.
As esperanças viram-se agora para a China. Lá, os enormes programas públicos de apoio à conjuntura económica a crédito compensaram temporariamente a queda das exportações. Também contribuiu para isso a política de baixas taxas de juro do banco central que, por imposição governamental, teve de ser repassada pelos bancos comerciais às empresas e particulares (ao contrário do que se passou na Europa e nos E.U.A.). Assim foram perigosamente financiados investimentos futuramente ruinosos, como capacidades industriais excedentárias e infra-estruturas. Uma parte cada vez maior do dinheiro barato flui para as bolsas de Shenzhen e Xangai, mas sobretudo para a especulação imobiliária. Segundo dados oficiais, os preços da habitação subiram 10,7 por cento num ano. O economista de Xangai Wang Jianmao disse mesmo que as “harmoniosas estatísticas" estariam falsificadas. Segundo os seus próprios cálculos, a taxa de aumento já estaria de facto em 23,5 por cento. Na China incha a olhos vistos a próxima grande bolha do imobiliário. O crescimento record da China, supostamente nada influenciado pela crise económica mundial, poderá vir a revelar-se uma prosperidade ilusória. Pois a economia interna da China está agora a repetir o mesmo mecanismo da conjuntura económica das bolhas financeiras, que já antes tinha conduzido a economia mundial e a exportação da China até à queda inevitável.
No entanto, existem diferenças significativas. A classe média envolvida na especulação imobiliária está longe de ser tão grande como nos E.U.A. Não existem aqueles grupos da população que, perante os preços crescentes do imobiliário, hipotecam as casas adquiridas de facto sem capital próprio, convertendo o valor dos empréstimos em consumo. Da bolha chinesa não surgirá, portanto, qualquer milagre de consumo. E muito menos de tal magnitude que pudesse agora absorver os excedentes de exportação do próprio país e, além disso, também o excedente de mercadorias do mundo (como acontecia antes com os E.U.A.). Com a ajuda de um aumento especulativo dos preços das casas surgiu, sim, um boom na indústria da construção, que suporta uma parte cada vez maior da conjuntura económica. Mas assim estão a ser erguidos apenas bairros fantasmas desabitados. Não chega a ser activado o segundo impulso à conjuntura económica através do consumo de massas feito a partir de empréstimos hipotecários sobre as minúsculas casinhas. Portanto, é de esperar que o estouro da bolha chinesa seja muito mais rápido do que o da americana. Se a massa admitida de crédito mal parado se mantiver, as enormes capacidades excedentárias de produção já não poderão ser financiadas. Então também o milagre chinês terá de expirar.