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Primeira Edição: Original DEPRESSION UND POLITIK in www.exit-online.org . Publicado no semanário "Freitag“ em 21.11.2008.
Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Os governos ainda se encontram na pose de gestores de sucesso da crise. A fusão nuclear do sistema financeiro global é considerada sob controlo, com garantias estatais “pouco ortodoxas”. Supostamente falta apenas um programa “certeiro”, para que, com medidas praticamente sem custos, se evite uma profunda queda da conjuntura. Oficialmente trata-se ainda, apenas e só, de uma recessão ligeira, definida por um crescimento zero ou negativo ao longo de dois ou três trimestres. Na realidade, o Estado nada tem feito a não ser promessas. A expectativa de que desta forma se possa usar essa “imagem de confiança” para tornar a breve trecho todos os avales supérfluos é inverosímil. As garantias serão executadas após as datas de vencimento. Mas também a chamada economia real já há muito que se tornou parte integrante do capital financeiro. A actual crise da Opel, que deveria a sua situação às dificuldades da empresa-mãe, a General Motors, de modo nenhum pode ser considerada um caso isolado. A verdade é que todos os balanços da indústria automóvel foram “retocados” pelos respectivos bancos. Agora, o que se tornou precário para os bancos da indústria automóvel não foi só o negócio de leasing de viaturas, mas também a sua participação na economia das bolhas financeiras.
Isto aplica-se a todos os grupos industriais. Já na década de 80, a Siemens foi ironicamente apelidada de “banco com departamento eléctrico conectado”. Embora o crash do crédito no sistema bancário ainda não esteja realmente financiado, a crise financeira também já abrange uma série de grupos industriais. O Estado tem de chegar aos limites da sua capacidade de crédito, apenas para equilibrar os balanços. Mas isso não adianta nada para a venda de um único automóvel, central eléctrica ou computador. A passada conjuntura do deficit alimentava-se justamente das bolhas de crédito, ora a estourar em série. Se o Fundo Monetário Internacional prevê, por isso, a maior queda do crescimento global desde 1945, a situação desemboca numa depressão tal que rebenta com o paradigma de recessão suave, tornando o pensar por trimestres bastante ridículo. Por conseguinte, já não chega que o dinheiro de crédito do keynesianismo de saneamento do capitalismo financeiro seja derramado no buraco negro da insolvência dos grupos bancários e industriais.
Os pareceres outonais dos “sábios da economia” vão no sentido de fazer crer que a reabilitação do sistema financeiro é um facto consumado. Por outro lado, o governo é veementemente criticado, de forma pouco habitual, pela insuficiência do seu programa de conjuntura. Os investimentos e ajudas estatais para investimentos privados devem ser mobilizados sem olhar ao deficit. Perante os factos reais recalcados, tal só seria possível através de uma política aberta de inflação. Mas não é só por isso que a esperança de um regresso à política social keynesiana dos anos 70 não passa de uma ilusão. De modo algum é por acaso que, ao mesmo tempo, os “especialistas” pretendem agravar a política neoliberal do mercado de trabalho. Querem reduzir ainda mais a protecção no desemprego e acabar com a já de si mísera base para o salário mínimo, reduzir o direito ao subsídio desemprego e reduzir a sua duração para os empregados mais antigos. O apostar simplesmente nas ajudas ao capital está em conformidade com a exigência das associações patronais, de cortar os objectivos climáticos da União Europeia. Em vez de se aumentar a massa salarial, teima-se na desregulação e em financiamentos estatais para investimentos, como forma animar a conjuntura interna.
Assim se faz agulha para o prolongamento estatal do neoliberalismo, doa a quem doer. Se já não se pode evitar uma política financeira aventureira, então, em nome da estabilização, esta que seja à custa da já ampla “pobreza empregada”. A classe política também é confrontada com problemas de legitimação, tendo em conta que esta catastrófica quebra de crescimento acontece logo em 2009, ano de eleições por excelência. Sob as condições de depressão, as clássicas concessões ao clientelismo já não serão possíveis. Daí não ser difícil de imaginar que os “partidos do povo” se refugiem cada vez mais num imaginário “centro”, do qual se espera que, de dentes cerrados, assuma a administração de crise anti-social rígida, para bem da sua própria sobrevivência política. O descalabro de Hessen mostrou que o SPD está definitivamente em decomposição. Se isto valeu ou não a pena é, na “consciência” dos dissidentes, perfeitamente irrelevante. Eles já eram o reflexo de uma mudança radical no panorama político, onde os salvadores do sistema a qualquer preço formam uma coligação de emergência “de direita” transversal aos partidos, que levará até às últimas consequências o paradoxo do “keynesianismo financeiro neoliberal”.