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Primeira Edição: Original FAULER ZAUBER in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, Berlin, 01.06.2007
Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
"Estava escuro como breu, a lua clara iluminava, quando à esquina surge, lentamente, um carro rápido como um raio". A transbordante euforia da retoma no circo mediático e político faz lembrar as velhas histórias impossíveis das rimas infantis. Os peritos, comentadores e pregadores dominicais do costume deleitam-se com a paisagem florescente dum novo milagre económico, como se lhes tivessem deitado qualquer coisa no café. Segundo se diz por todo o lado, as contra-reformas anti-sociais do Plano Hartz estariam agora a dar copiosos frutos. A maioria das pessoas na Alemanha tem que esfregar os olhos, pois a realidade quotidiana apresenta-se-lhes completamente diferente. Até parece que os propagandistas do boom vivem numa espécie de mundo paralelo, atrás da barreira de segurança de Heiligendamm, como os participantes na cimeira(1). Na realidade a crise estrutural do mercado de trabalho e da economia real está sem qualquer solução. Na actual conjuntura não estamos perante uma onda longa de prosperidade auto-sustentada como no pós-guerra, para a qual não existe nenhuma base, mas sim perante um movimento cíclico de curto prazo sem consistência.
Desde que nos anos oitenta começou a crise mundial da terceira revolução industrial têm surgido repetidamente tais fogos fátuos no interior da espiral descendente de longo prazo. E, tal como no passado mais recente, também desta vez a retoma relativa é sobretudo financeiramente induzida. Foi assim que a conjuntura da unificação alemã no início dos anos noventa foi financiada por um gigantesco endividamento estatal, enquanto simultaneamente a indústria da ex-RDA quase desaparecia do mapa. O também muito festejado mini-boom da new economy de 1998-2000 (com um crescimento nominal superior ao actual) foi ao ar juntamente com a respectiva bolha financeira. E a actual retoma é igualmente pouco sustentável a prazo, e de modo nenhum é o efeito das reformas Hartz, mas é apenas alimentada pelo completamente descontrolado circuito do deficit do Pacífico, no qual desde 2006 também foi fortemente abrangida a indústria de exportação alemã (sobretudo a construção de máquinas). A inevitável ruptura da conjuntura do consumo dos Estados Unidos, completamente endividada, e do superavit asiático com ela, fará parar também este volante.
A fraqueza estrutural revela-se, não em último lugar, no facto de o mercado interno não se mexer realmente, apesar da melhoria do ambiente mediaticamente manobrada. No sector chave da indústria automóvel o volume de vendas interno caiu cerca de 30 % de Janeiro a Maio de 2007. A imparável subida dos preços da energia absorve ainda mais poder de compra. A esperança do pequeno comércio não vai além da estagnação. Não admira, pois apesar dos novos contratos e da subida de salários nas indústrias metalúrgicas dependentes da exportação, na maioria dos outros sectores os postos de trabalho são destruídos ou "precarizados". Os bancos pretendem reduzir 8.000 lugares em breve, nos correios são considerados em perigo 32.000 empregos, face a ofertas baratas, após o fim do monopólio postal no final do ano. A Telekom, como é sabido, pretende obrigar quase metade dos empregados a mais trabalho com drásticas reduções salariais, deslocando-os para sociedades filiais. E a empresa de vendas por correspondência Quelle, no seu 80º aniversário, "ofereceu" aos empregados do serviço de clientes uma redução de salários de mais de 50 %, sob pena de todo o sector ser deslocalizado para a Europa Oriental. Podíamos continuar com os exemplos. Para a maioria, a gloriosa retoma revela-se uma conversa da treta.
Notas de rodapé:
(1) Cimeira do G-8 de 6 a 8 de Junho 2007 em Heiligendamm, topónimo que significa "dique sagrado", segundo a lenda surgido em resposta às preces dos monges cistercienses de Doberan, contra as violentas ressacas do Mar Báltico. Agora, para proteger os participantes na Cimeira contra os protestos anti-globalização, foi construída uma barreira com 2,5 m de altura e 13 km de comprimento, que custou 15 milhões de euros (N.T.). (retornar ao texto)