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Primeira Edição: Original WETTERLEUCHTEN AM FINANZHIMMEL in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, Berlin, 09.03.2007
Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
O banho de água fria chegou mesmo no momento em que os mercados de acções pareciam acenar repetidamente com os maiores máximos desde o crash na passagem do século. Desde o princípio de Março de 2007 que novas turbulências nas bolsas tornaram inseguros os optimistas da conjuntura. Começando na bolsa de Xangai, ao longo de uma semana foram queimados em todo o mundo 1,5 biliões de dólares. Será apenas uma correcção pagável, não haverá razão para inquietação? Há 6 anos os bancos centrais evitaram o crash com uma corrida sem precedentes à baixa dos juros. Mas nos centros capitalistas o dinheiro barato flúi novamente em grande parte apenas para os mercados financeiros e para os arriscados financiamentos a crédito duma nova onda global de aquisições de empresas [Übernahme]. A política de juros baixos, particularmente extremada no Japão, numa conjuntura continuada de baixo curso do iene, permitiu aos investidores financeiros transnacionais obter aqui dinheiro em grande quantidade para aplicá-lo noutros lados, sobretudo nos Estados Unidos ("carry trade"). Assim foram alimentados a bolha do imobiliário e o mercado de acções, que está de novo a inflacionar.
Com os proventos monetários assim obtidos, a partir da subida das cotações e dos empréstimos hipotecários, em vez de salários reais e lucros reais, tem sido possível prolongar aparentemente sem fim a conjuntura do consumo nos Estados Unidos. A sua capacidade de absorção mais uma vez manteve em movimento a massa de exportações unilaterais a partir da Ásia. A qual em 2006 arrastou na sua dinâmica a conjuntura mundial, Alemanha incluída. Mas agora o boom financeiramente induzido poderá estar a esbarrar nos seus limites. A elevação dos juros que acaba de ocorrer no Japão levou à paragem da máquina de dinheiro que é o negócio da diferença de juros. Simultaneamente, o transbordante deficit da balança comercial dos Estados Unidos e a correspondente acumulação das reservas de divisas na Ásia criam uma pressão de desvalorização sobre o dólar e uma correspondente pressão de valorização sobre as moedas chinesa e japonesa, que dentro em pouco deixarão de ser estáveis. Porém, uma alteração drástica das paridades monetárias pararia a avalanche da exportação.
Entretanto, o ex-guru do Banco Central americano, Alan Greenspan, alerta para uma recessão nos Estados Unidos. A crise do mercado imobiliário americano já começou. Particularmente o sector das pequenas hipotecas com fraca solvência anuncia uma queda ameaçadora da sua existência, que poderia desencadear um efeito dominó. "O pior", segundo o economista-chefe do Banco de Investimento Merril Lynch, "ainda está para vir, considerando também o mercado de trabalho". Porém, se o milagre do consumo americano acabar, também o milagre de exportação da China e da Ásia exalará o último suspiro. Não é possível uma comutação para a conjuntura interna porque também esta (à semelhança da crise dos tigres asiáticos nos anos noventa) está dependente essencialmente das bolhas das acções e do imobiliário decorrrentes do boom da exportação. Não foi por acaso que a mais recente turbulência nas bolsas partiu de Xangai.
Agora todos põem as esperanças numa nova grande descida dos juros do banco central americano, qual deus ex machina, para aquecer novamente o circuito do deficit global. Mas tal medida poderia apenas pôr em perigo o financiamento do deficit externo americano, se não fosse acompanhada pelos bancos centrais japonês e europeu. Porém, se se chegar a uma nova corrida à baixa de juros movida pelo medo, esta poderia acordar o potencial inflacionário da conjuntura de bolhas financeiras, que há muito está à espreita. De uma maneira ou de outra rebentarão as contradições do famigerado "desequilíbrio global". Os relâmpagos no céu financeiro foram um aviso de que as forças portadoras da muito invocada retoma não são nada sólidas.