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Primeira Edição: Original FIEBERKAPITALISMUS. Stellenabbau und Fusionitis — zwei Seiten derselben Medaille in „Freitag", 18.08.2006
Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Uma dupla subida de temperatura grassa no panorama global das empresas. A um febril planeamento de redução de postos de trabalho em larga escala, corresponde, por outro lado, uma crescente "febre de aquisições". As duas realidades estão estreitamente relacionadas. A onda de racionalização da microelectrónica atingiu esferas até agora poupadas. Após os recém conhecidos despedimentos em massa nos sectores da banca e seguros, seguem-se novos processos de despedimento nas áreas administrativas das empresas industriais. Depois dos sectores "de fato-macaco", também os sectores "de gravata" foram apanhados por este desenvolvimento. Diz-se que se trata de uma industrialização das funções administrativas, que abrange não apenas a indústria automóvel, os serviços (energia, etc), mas também outros ramos. Com as infraestruturas de comunicação cada vez mais acessíveis, atingiu-se a "massa crítica" para a estandardização e automatização do processamento contabilístico-financeiro, gestão de pessoal e aprovisionamento. A consequência não é só uma crescente redução de centenas de postos de trabalho locais, mas até a deslocalização para países de baixos salários se torna um modelo descontinuado.
Esta nova qualidade de desemprego estrutural em massa que se avizinha vem de mãos dadas com novos recordes de fusões e aquisições, cujo volume, em 2006, será superior em 120% ao do ano anterior. Tal percentagem refere-se, quer às fusões e aquisições já concretizadas, quer às que estão na forja na Europa e fora dela, por firmas sediadas na RFA. Contudo, este facto nada tem a ver com uma nova "posição de vanguarda económica da Alemanha", como a esquerda tradicional quer fazer crer obstinadamente. Pelo contrário, trata-se, sim, de uma transnacionalização de capitais em estado avançado, que há muito saltou do enquadramento económico nacional e já não se encontra sob qualquer directiva estatal. Enquanto isto, a transnacionalização citada apenas numa pequena parte se desenrola ao nível da economia real. Com cada nova vaga de racionalização-eliminação de força de trabalho, desaparece o "trabalho abstracto" (Marx) como substância da acumulação real, o que se traduz, no mercado, numa redução do poder de compra. Os lucros são cada vez menos da produção e venda de mercadorias, e cada vez mais apenas do mercado de fusões e aquisições. Aquilo que é abatido por "caçadores de empresas" é desmanchado para ser vendido mais caro em partes separadas a sociedades de investimento, que tomam conta do crédito e dos activos em caixa, até que o residual desemboque num qualquer tribunal de falências.
O recorde de subida dos lucros, por exemplo no Deutscher Bank (32 %), Grupo-Allianz (64 %), BMW (44,5 %) ou BASF (17 %), na sua maioria já não provém da produção de mais valia real, mas sim dessas transacções na circulação, no "mercado empresarial". E estes lucros exorbitantes são canalizados, por um lado, para investimentos que, por sua vez, gerarão mais racionalizações e, por outro lado, para novos projectos de aquisição e desmantelamento de empresas. A redução de postos de trabalho já não é consequência de uma estratégia económica real; ela surge como um momento da precária autonomização do "capital fictício" (Marx). O embaratecimento das mercadorias, tendo como objectivo uma parte maior do mercado e um ganho extra, tornou-se um efeito secundário; aliás os custos com pessoal tornaram-se uma insignificante parte do capital investido. As novas racionalizações servem predominantemente para fazer subir o valor das acções ou o preço de venda das empresas. Perante a sociedade, este processo surge como uma crise social, que, todavia, é uma crise da própria acumulação de capital. Daí não fazer qualquer sentido armar um escândalo moral com a aparente desproporção entre ganhos elevados no mercado de fusões e aquisições (Mergers and Acquisitions) e, apesar disso, despedimentos em massa. Esta desproporção não provém de uma má vontade subjectiva, mas sim das condições reais do capitalismo de crise, desprovido da sua substância trabalho na terceira revolução industrial, que agora abrange novos sectores. Esta febre de redução de postos de trabalho e aquisição-desmantelamento de empresas segue a mesma lógica. A saudade dos investimentos em postos de trabalho torna-se uma ideologia perigosa; em vez disso, o próprio sistema do trabalho assalariado deveria ser deslegitimado.