MIA > Biblioteca > Kalinin > Novidades
Desejo dizer, camaradas, algumas palavras sobre a educação da juventude no exército.
Está claro para todos que a principal tarefa do Komsomol em todas as partes, inclusive no exército, é a educação da juventude. E a educação dos homens, particularmente a dos militares, é um trabalho complexo e delicado. Neste trabalho não se pode confiar em certas formas de organização de uso permanente, ou inventar formas novas de trabalho válidas para todos os casos que se apresentem na vida, pensando que com elas a educação marchará por si mesma. Com uma fórmula preparada de antemão, mesmo que seja perfeita, não se pode resolver todos os problemas da educação.
Tomemos, por exemplo, a influência que, dia a dia, o oficial Komsomol exerce sobre a massa de soldados komsomóis. Pode-se, nesta situação, inventar algo obrigatório e legitimado pelo Comitê Central do Komsomol? Creio que não. As próprias condições de existência, as relações que se vão estabelecendo na unidade e que se cristalizam em determinadas formas, arraigam-se na vida e servem à causa da educação.
Nossos soldados—komsomóis são pessoas instruídas que terminaram pelo menos o sétimo ano da escola intermediária. Mas trata-se de gente jovem e impulsiva. O oficial deve acostumá-los à disciplina. Ao mesmo tempo, deve-se distinguir entre as relações no serviço e fora dele. Durante o combate, quando o soldado está em seu posto, deve-se exigir dele que cumpra as ordens sem a menor discussão. A discussão durante o combate é fatal, pois o inimigo não espera que a gente acabe a discussão. Mas ao contrário, depois do combate, numa reunião do Komsomol, por exemplo, os soldados podem analisar abertamente seus próprios defeitos e os de seus camaradas.
O prestígio do oficial Komsomol não é determinado unicamente pela sua graduação. Aqui seu prestígio é de outra natureza. È preciso que o oficial Komsomol seja estimado não só por sua qualidade de tenente ou de capitão, mas por seu conhecimento da arte militar e por sua qualidade de pessoa sensata e de dirigente político. Em outros termos, o oficial Komsomol deve ganhar prestígio sobretudo com seus conhecimentos e sua experiência.
A própria conduta do oficial Komsomol constitui um exemplo educador, pois o que mais contribui para a completa educação do jovem soldado são as relações que se estabelecem entre os homens e, no caso presente, na vida de campanha, são principalmente as relações estabelecidas entre a oficialidade e os soldados.
Em nosso exército não existe essa situação em que só o oficial manda e o soldado apenas obedece. Quando o comandante do pelotão ou da seção é posto fora de combate, são simples soldados que assumem o comando, assim manifestando sua própria iniciativa. Casos assim no exército alemão podem ser contados nos dedos, mas em nosso exército são muito numerosos. Em nosso exército, os oficiais e soldados se identificam por seu espírito, por sua educação e por sua origem. Nosso soldado-Komsomol, que terminou a escola intermediária, e o jovem oficial komsomol não só são afins pelo seu espírito, não só pensam da mesma maneira, mas também são afins pelo seu desenvolvimento intelectual.
Nós exigimos uma disciplina rigorosa. E é natural, porque um exército só pode merecer esses nome se for disciplinado c mantiver coesas suas fileiras. Por isso deve-se frisar sempre a questão da disciplina. E ao mesmo tempo, os oficiais encarregados do trabalho político, sobretudo em campanha, prestam muita atenção à educação dos soldados, pois sem isto não será possível a disciplina consciente, traço característico de nosso exército. Eles ensinam aos soldados a ser valentes e honrados, a não enganar os camaradas, pois se devemos, sendo mesmo um dever, enganar o inimigo, tal é inadmissível em se tratando de companheiros de armas.
É neste ponto que tem grande importância o prestígio pessoal do oficial, que sempre deve ser mantido a uma grande altura. Se um oficial de reconhecida valentia, diligência e conhecimentos militares comete algum erro de expressão numa palestra Ou numa reunião, os soldados não o levarão a mal. Dirão que cometeu um equívoco, porém que, em compensação, trata-se de um valente no combate. O oficial ganha este prestígio no campo de batalha, no comando de sua unidade e no trabalho político, sendo que esses mesmo prestígio se refletirá na solução de todos os problemas que surgem ante a organização do Komsomol.
Naturalmente, seria de desejar que o oficial Komsomol tivesse melhor preparo político e fosse mais culto que o oficial não pertencente ao Komsomol. Embora tenham os mesmos conhecimentos militares, deve-se procurar sempre que o oficial komsomol tenha um nível cultural mais elevado. Isto, nada mais do que isto, pode assegurar-lhe uma influência maior entre os soldados. Para acumular conhecimentos é preciso estudar constantemente. Podereis dizer-me que já estais combatendo três anos sem descanso e que, nesta situação, é muito difícil estudar e aperfeiçoar qualquer espécie de conhecimentos e, em particular, os teóricos. Tudo isto é verdade, naturalmente. Compreendo ser difícil. Mas devo dizer-vos que aquele que não amplia seus conhecimentos nos momentos difíceis, em outra ocasião, quando tenha menos trabalho, dirá certamente que precisa repousar e que, de um modo geral, os conhecimentos não fazem tanta falta assim. (Risos).
Reconheço as dificuldades da situação. Mas estas mesmas dificuldades nos servem de incentivo para aperfeiçoar nossos conhecimentos e elevar nosso nível cultural. A aquisição de conhecimentos é mais difícil quando falta uma pressão exterior contínua. Julgo por mim mesmo: não escrevi um único artigo sem que me pressionassem. Mas quando me pedem o artigo e me apertam, não tenho outro remédio senão escrever. (Risos). A pressão exterior contribui para que o homem não estaque, para que não se detenha num ponto morto.
Breve completarei setenta anos e, apesar disso, não tenho outra saída senão estudar diariamente e estar em dia com a produção literária. Não se pode proceder de outro modo. Eis por que tenho mais experiência que vós e sou mais hábil em política, o que me permite sair de apuros com mais facilidade. Sois mais jovens, encontrais maiores dificuldades e somente os conhecimentos vos podem ajudar. Deveis estudar sem cessar. A própria vida o exige imperiosamente.
É claro que cada oficial e cada soldado se preocupam antes e acima de tudo com a honra de sua unidade.
Temos magníficas unidades militares, cujo nível geral é muito alto. Perguntais como se pode aproveitar sua experiência em outras unidades para torná-las tão boas como aquelas. Responderei com um exemplo. Suponhamos que existe um quadro maravilhoso do qual se fazem cópias, muito boas cópias. E, não obstante, essas cópias nunca deixarão de ser cópias e serão julgadas como de muito menos valor que o original. O mesmo ocorre com a educação das pessoas, que não tolera o clichê, mesmo sendo bom. Naturalmente, é preciso aproveitar a experiência dos demais, mas não se pode transplantar uma experiência alheia sem levar em conta as peculiaridades da situação, as pessoas e os objetivos. Toda experiência deve ser vivida, deve ser conquistada na luta, para que se torne carne e sangue do que passa por ela.
Imaginemos uma unidade que participou de operações de desembarque e passou por uma boa escola combativa. É claro que os marinheiros, infantes e artilheiros dessa unidade estão muito ligados; sua amizade, forjada na luta, tornou-se muito íntima. Qual é a origem de tudo isso? Quando iam para o combate, os marinheiros sabiam que todo o exército tinha os olhos postos neles, sabiam que muitas coisas dependiam deles. O perigo os espreitava a cada passo. Em cada um deles ardia o desejo de cumprir a ordem, de fazer o que lhes haviam determinado e, ao mesmo tempo, de salvar-se e a seus camaradas. Obtinham êxito à custa de enormes esforços. É claro que em semelhante situação o combatente amadurece com muito maior rapidez que, por exemplo, nas unidades que ocupam setores mais tranquilos da frente. Neste caso, é menor a tensão em que se encontram os homens e, ademais, a monotonia da situação influi negativamente sobre eles. Dir-se-ia que nessas unidades há mais tempo livre e, portanto, é mais fácil levar a cabo o trabalho educativo. Mas na realidade acontece precisamente o contrário. E mais fácil educar as pessoas numa situação em que a própria vida ajuda a educá-las. Resulta, portanto, ser mais complicado levar à prática um trabalho político e realizar uma obra de organização, agitação e propaganda quando a gente fica durante muito tempo num lugar fixo, metido nas trincheiras. Creio que nestas condições se deve conceder mais atenção ao trabalho das organizações do Komsomol.
O exemplo citado demonstra ser difícil dar uma receita para todos os casos da vida, uma receita do melhor modo de dirigir o trabalho educativo do Komsomol no exército.
Qual é a causa, digamos, de uma unidade ser melhor e outra pior? Verifica-se que na unidade melhor há um dirigente que sabe encaminhar melhor o trabalho. Devo dizer-vos que um homem pode estar muito bem informado e ser muito culto, mas se dirige a juventude sem ardor, se não põe a alma na educação e instrução da juventude, ela o perceberá logo e não o quererá. Ao contrário, se alguém põe a alma na sua tarefa e não poupa esforços para que sua organização figure entre as primeiras, se dedica a isso todas as suas energias e todo seu ardor, conquistará seguramente o carinho da juventude. Um homem assim não só será respeitado pela juventude, mas será querido por ela, o que tem mais valor.
Por isso julgo que se a organização é boa, isto se deve em grande parte ao fato de ela ser encabeçada por um bom dirigente. Quando um homem aspira realmente a organizar bem as coisas, quando possui um mínimo de cultura e não é um pateta, alcançará sempre êxito. A própria vida lhe sugerirá os meios para alcançá-lo. Quando falamos dessas relações cotidianas é preciso compreender que tais relações vão-se formando no processo da vida e são criadas pela própria vida, sem regras escritas, diferentemente das formas de organização cristalizadas historicamente e registradas nos estatutos. Depende de vós que sirvam as relações entre nossos oficiais e soldados komsomóis sempre e invariavelmente à causa da educação da juventude e ao fortalecimento do poderio de nosso exército.
Perguntais: que se deve fazer diante do fato da existência, nas unidades, de bons e maus komsomóis? Que remédio! Os komsomóis não caem do céu, mas saem do povo. E entre o povo há homens bons, muito bons, e há maus, covardes, charlatães e hipócritas. Não faz mais que vinte e seis anos que nosso povo se libertou do regime capitalista, cujos vestígios não desapareceram de todo. Seria de estranhar que o exército, saído do povo, fosse composto unicamente de santos. (Risos). Isto não é possível. O mesmo acontece com a organização do Komsomol, na qual há bons e maus komsomóis. Se todos os homens fossem honrados, valorosos, disciplinados, cultos e conhecedores de suas obrigações, não teríeis o que fazer. (Risos).
Entretanto, acredito não estar enganado ao dizer que, no fundamental, a massa Komsomol é composta de representantes avançados da juventude. Mas, naturalmente; há nessa massa uma porcentagem insignificante de jovens atrasados, que não devemos deixar escapar de nossa influência. Esta é nossa obrigação.
Um dos camaradas disse que no Komsomol do exército há muitos camaradas ótimos, mas, infelizmente, nem todos são dirigentes. Que se pode responder a isso? Se todo o povo fosse composto de dirigentes, então não haveria povo. (Risos). O número de dirigentes é sempre limitado, do contrário não seriam dirigentes, pois não teriam a quem dirigir. Se em vossa unidade há dois dirigentes, isto é ótimo, pois se um for posto fora de combate, haverá quem o substitua. Receio que se alguma unidade fosse composta unicamente de dirigentes faltar-lhe-ia capacidade combativa, porque todos se sentiriam aborrecidos por serem os dirigidos. (Risos). O importante é que haja pessoas dispostas a seguir o dirigente, a estar em estreito contato com ele. São elas que constituem o ativo e cumprem todas as tarefas. É nesse ativo que devemos apoiar-nos a todo instante.
Aqui foi formulada a pergunta sobre o que fazer com os komsomóis que não têm nenhuma incumbência social na organização.
Não se pode abordar a questão de modo formalista. Se ura membro do Komsomol não está incumbido de nenhum trabalho social na organização, mas tem outras obrigações importantes e necessárias, as cumpre bem e ajuda a conquistar a vitória, pode-se considerar que cumpre com honra suas obrigações de membro do Komsomol. E estará muito acertada a organização, se considerar que seu fundamental trabalho militar é de suficiente importância, que absorve todo seu tempo, e não lhe der uma ocupação adicional. Suponhamos que certo oficial, membro do Komsomol, realiza importante trabalho no Estado-Maior. Pode-se considerar que ele realiza uma tarefa de Komsomol ou não? Se ele ocupa um posto de responsabilidade no Estado-Maior, dedicando todo o seu tempo a essa missão militar, é justo censurá-lo por não ter nenhuma tarefa social do Komsomol? Entre nós costuma acontecer que a organização do Komsomol, apesar de ver que um homem está sobrecarregado de trabalho, apesar disso, trata de inventar um trabalhinho para ele. Não é justo. Vós, organizadores e dirigentes da atividade política dos komsomóis deveis saber como trabalha cada um deles. E se vedes que algum está sobrecarregado de trabalho, embora este não seja considerado como uma missão fundamental do Komsomol no sentido amplo da palavra, não deveis acreditar que ele evita o cumprimento de suas obrigações de membro do Komsomol. Há uma diferença essencial entre o homem sobrecarregado de trabalho e o homem que foge ao trabalho.
Para nós o trabalho do Komsomol jamais constituiu um objetivo em si. A juventude ingressa no Komsomol com o fim de ajudar o Partido em sua luta pelo bem-estar e a felicidade do povo trabalhador. O valor de um Komsomol não está em que ele faça brilhantes intervenções nas reuniões, em que seja um ativista da organização ou nela desempenhe algumas funções especiais. Seu valor é determinado, antes de tudo, pela forma pela qual realiza o trabalho fundamental — estatal, militar ou administrativo — que lhe tenha sido atribuído.
Do mesmo modo, os êxitos do Komsomol em seu conjunto são devidos ao trabalho socialmente útil de todos os rapazes e moças komsomóis. Acaso não vos sentis cheios de legítimos orgulho porque saíram tantos heróis e tantos condecorados do seio do Komsomol? Mas acontece precisamente que eles ganharam as condecorações mais pela sua atividade combativa do que por seu trabalho de komsomol.
Nas diferentes etapas de nossa história, o Partido visou objetivos concretos. Antes, o Partido reunia em seu redor as fôrças do povo para derrubar o tzarismo, organizar a sociedade socialista e consolidar o regime soviético. Hoje, todas as fôrças do Partido estão empenhadas na defesa do País Soviético. De jeito nenhum, o Partido traça a tarefa de converter todos os seus membros em homens lavadinhos, branquinhos e limpinhos. O Partido está dedicado à tarefa histórica de defender o Estado Soviético, sua independência e seu futuro; luta para que o mundo inteiro respeite a União Soviética como poderosa fôrça. Esta é a tarefa de hoje. 'Subentende-se que nesta gigantesca luta os homens se transformam e se definem seus conceitos ideológicos e seus caracteres. Com isso formamos uma geração de homens novos que põem acima de tudo o bem-estar da sociedade, a luta pelos ideais da nova sociedade e da humanidade inteira. É para estes objetivos que vive o Partido e de modo algum para ser simplesmente um Partido como tal. Cabe dizer exatamente o mesmo do Komsomol.
O valor de cada Komsomol deve ser interpretado não só do ponto de vista de como cumpre suas obrigações de membro do Komsomol, mas também da sua utilidade para a obra comum. E uma vez que luta e defende o Estado Soviético, já que o protege com todas as suas fôrças, com unhas e dentes e com seu próprio sangue contra os atentados dos inimigos, pode, acaso, deixar de ser considerado como trabalho de Komsomol o cumprimento de seu dever militar, cujo fim é defender o Estado Soviético? É claro que seu trabalho militar é um trabalho de Komsomol, é a tarefa principal e fundamental na qual põe em relevo seu patriotismo, sua capacidade e seu heroísmo.
Hoje, algumas de nossas unidades combatem fora das fronteiras da União Soviética, em terras estranhas, na Rumânia. Ali nos encontramos com outro mundo. As relações do Exército Vermelho com a população local são como devem ser. Mas não devemos intrometer-nos na vida dos romenos. É preciso dizer que foram difundidas muitas mentiras sobre a União Soviética no seio da população romena. Parte da população romena foge diante de nós, temerosa de que, quando chegarem, esses terríveis bolcheviques comecem a esfolá-los vivos. É preciso demonstrar-lhes até que ponto foram enganados. Sob este aspecto, nossa oficialidade e os soldados se mostram à altura das circunstâncias. Os romenos se vão convencendo de que chegou a seu país um exército culto de um povo culto. Devemos proteger-nos unicamente contra a espionagem e os atos de sabotagem. É preciso adotar medidas preventivas de caráter puramente militar.
Para terminar, quero desejar-vos de todo o coração muito êxito em vosso trabalho. Pelo visto, grandes combates serão travados neste verão. Vossa tarefa primordial consiste em preparar os homens para esses combates, prepará-los técnica, política e psicologicamente. Deveis subordinar todo o vosso trabalho ao cumprimento dessa tarefa. Desejo-vos muito êxito! (Atroadores aplausos. Exclamações: “Viva Mikhail Ivánovitch Kalínin! Hurra!”).
Inclusão | 07/03/2013 |