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Camaradas: Eu não tinha a intenção de falar, mas o camarada Mikháilov diz que não escaparei. Que posso dizer-vos com relação à presente reunião? Parece-me que em vossos informes faltam vários elementos muito substanciais.
Sois os secretários dos comitês regionais do Komsomol encarregados do trabalho entre os escolares e os pioneiros. Quisera compreender o que isto quer dizer. Recio aplicar-me o qualificativo de velho, mas apesar de tudo já estou próximo de sê-lo e por isso recorro a comparações de velho tipo. Que posto poderíeis ocupar no antigo Ministério da Instrução Pública? Por mais que eu tenha estado procurando, não pude encontrar algo que fosse mesmo remotamente adequado.
É de supor que vossa missão, que vossa missão fundamental é a penetração política na escola e no seio do magistério para ajudar o Partido e o Poder Soviético na educação comunista dos meninos soviéticos. Aqui falaram muitos camaradas que informaram sobre seu trabalho. Percebe-se que pessoas cultas e instruídas acorreram a esta reunião. Posso dizer que fazeis bem vossos informes. O informe mais brilhante foi feito pela secretaria do Comitê Central do Komsomol da Bielorrússia. Mas creio que teria podido fazer outro tipo de informe se não temesse atuar com independência. Seu informe, no fundo, não difere dos demais. Pelo conteúdo todos os vossos informes foram iguais. Por que foram iguais? Porque têm, por assim dizer, um caráter organizativo-administrativo-disciplinar. Todos falaram aqui num plano de inspeção e com certo tom de autoridade. Este é o primeiro de vossos grandes defeitos.
É bastante eloquente o fato de que nenhum de vós se tenha detido no método de ensino, que ninguém tenha dito uma palavra sobre o nível cultural geral dos professores soviéticos e em particular, dos professores que pertencem ao Komsomol, que devem ser a figura dirigente na escola. Pergunto: encontrastes professores pertencentes ao Komsomol que sejam os melhores em pedagogia ou em qualquer outra esfera do trabalho escolar? Se isto ocorreu deveríeis ter falado neles. E se não os encontrastes, é uma vergonha para vós, pois é indubitável que tais homens existem em nossas escolas, sendo impossível que não existam. Esta é uma questão de muita importância. Não obstante, ela parece achar-se fora de vosso campo visual. E uma vez que não prestastes atenção a este problema, quer dizer que ainda não foi compreendido de todo qual deve ser o vosso papel.
Ser secretário duma organização do Komsomol para o trabalho entre a juventude escolar e os pioneiros significa ser um modelo para centenas e milhares de professores. Vós mesmos dissestes aqui que trinta por cento dos professores estão em idade de Komsomol. E se eles seguem vosso exemplo, seguramente farão os mesmos informes de tipo organizativo-administrativo-disciplinar. Por desgraça, nenhum de vós nos disse como vivem e trabalham os professores pertencentes ao Komsomol. Este é o segundo de vossos grandes defeitos.
Prossigamos. Se aspirais a pôr ordem e estabelecer a disciplina na escola — é imprescindível que aspireis a isso — é preciso antes de tudo elevar o prestígio do professor. Não me refiro àqueles casos isolados em que os professores carecem de prestígio porque conhecem mal sua matéria ou porque, apesar de conhecê-la bem, não sabem ensiná-la, ou então porque, em geral trabalham rotineiramente. Refiro-me àqueles casos em que estão presentes as condições objetivas e subjetivas necessárias para uma elevação do prestígio do professor. E eu vos pergunto, que fizestes para elevar e fortalecer esse prestígio? Por desgraça, não vos detivestes em nada quanto a esta questão, inclusive nada foi dito sobre se o prestígio dos professores, em geral, se eleva ou não se eleva, e se se eleva, de que maneira, por que meios. Este é o terceiro de vossos grandes defeitos.
Prossigamos. Considero que os secretários dos comitês do Komsomol encarregados do trabalho entre os escolares e os pioneiros devem ser pessoas duma grande cultura. Com isso não quero dizer de forma nenhuma que deveis ser única e exclusivamente pedagogos especializados. Não, não se trata disso. Creio, inclusive, que se fosseis única e exclusivamente pedagogos especializados poderíeis prejudicar em algo vosso trabalho. Deveis ser pessoas duma elevada cultura no sentido duma erudição geral, isto é, deveis conhecer a fundo as obras de tipo geral e de tipo especializado sobre as questões fundamentais em matéria escolar, sobre os ramos fundamentais da ciência, da arte e da técnica, deveis conhecer bem a literatura, etc., porque sois um modelo para os professores pertencentes ao Komsomol. Deveis possuir uma elevada cultura no sentido de saber manter uma atitude correta ante os professores, no sentido de saber tratar as pessoas em geral, no sentido de proceder com tato. Se chegais a adquirir estes elementos de cultura, conhecereis antes e mais facilmente as exigências espirituais e os interesses do magistério soviético, vos inteirareis sem dificuldade do que leem as pessoas, que obras preferem, qual sua atitude diante da literatura em geral e, por último, vos será mais fácil conhecer o estado de ânimo dos professores e dos alunos. Só então chegareis a ser verdadeiros auxiliares do Partido e do Poder Soviético na educação comunista dos escolares. Lamentavelmente, tampouco foi dito nada a respeito. Este é o quarto de vossos grandes defeitos.
Parece-me que deveis fazer vossos informes de modo completamente diferente. A julgar por muitos dados e, em particular, pelo fato de que não careceis de eloquência, isto encaixa perfeitamente dentro de vossas possibilidades. Claro que para isso tereis que trabalhar seriamente, meditar sobre muitas coisas, pois aqui vos ameaçam vários perigos, podeis ter falhas e cometer erros. Mas não é próprio de membros do Komsomol temer as dificuldades e retroceder diante dos perigos. Vossas intervenções devem ser um manancial de iniciativas e de ideias criadoras. Naturalmente, quando é preciso, pode-se dar-lhes um matiz organizativo-administrativo-disciplinar, mas ainda assim, o informe deve encher-se de conteúdo político e é preciso fazer com que nele se destaquem os valores culturais que crescem e se desenvolvem entre os alunos e entre os professores.
Quero dirigir-me em particular às mulheres do Komsomol. Camaradas: entre os membros do Komsomol dedicados a trabalhar na esfera da instrução pública, vós sois as mais cultas, porque nós levamos os jovens cultos a muitos outros lugares, começando pela aviação e terminando pela mineração. Na esfera da instrução pública trabalham mais que ninguém mulheres do Komsomol. Na realidade, a instrução pública vos foi entregue “em concessão”, a vós mulheres do Komsomol, e sois principalmente vós que respondeis pela escola. Por isso, sois vós quem, em primeiro lugar, deve elevar o nível cultural dos professores em idade de Komsomol, como já há tantos entre os nossos professores.
Falou-se aqui duma professora que não soube resolver um problema, pelo que é considerada má professora. Isso é abordar a questão dum modo mecânico e totalmente errôneo. Onde poderemos encontrar essas luminosidades capazes de resolver qualquer problema? Um de meus filhos era professor dum centro de ensino secundário. Certa ocasião perguntei-lhe:
És capaz de responder a todas as perguntas que te possam fazer os alunos sobre tua disciplina?
Ele me respondeu:
— Como poderei responder a todas as perguntas? Quando me perguntam algo que não posso responder, digo-lhes: “Agora não posso responder-lhes esta pergunta: fá-lo-ei na próxima vez”.
É claro que a coisa não é fácil para o professor quando quarenta olhos infantis o fitam com malícia e nesses olhos brilha a ideia maliciosa: “Até que enfim te metemos num aperto”. Não obstante, o professor tem a obrigação de dizer francamente aos alunos: “Agora não posso responder a esta pergunta porque não sei como fazê-lo, mas na próxima vez procurarei esclarecer tudo”. Em meu modo de ver essa será uma atitude honrada do professor ante seus alunos. E é preciso acostumar os alunos com a honradez.
Em minha casa tenho seis pessoas com instrução superior, em sua maioria engenheiros, que por conseguinte devem conhecer bem matemática. Na época em que minha filha menor estudava ainda na escola secundária, quando preparava suas lições e tratava de resolver algum problema, os maiores porfiavam em ajudá-la cada qual melhor. Imaginai que às vezes não podiam resolver o problema de saída: tinham esquecido. Pareceria lógico que aquilo fosse para eles a coisa mais corriqueira, pois são engenheiros e conhecem bem matemática. E apesar de tudo falhavam. Isto indica que não se pode julgar por alguns casos isolados se uma pessoa sabe ou não sabe sua disciplina, se é bom ou mau professor.
Não se pode elevar o prestígio do professor somente com medidas administrativas. Mas quando vedes que tal ou qual professor é maltratado, então deveis intervir, pois assim não só se quebra o prestígio desse professor, mas em geral de todo o magistério. Se quisermos elevar o prestígio do professor, devemos tratar dessa questão com muito cuidado. Claro que é um mal que o professor diga que não vê sem óculos, quando em realidade não usa óculos. Mas ao mesmo tempo devemos recordar que no mundo não existiu nem existe um sábio que possa responder a todas as perguntas. Para elevar o prestígio do professor deve-se cultivar nas pessoas de todas as idades um sentimento de profunda estima para com ele, para o que se deve cercar o professor duma auréola de respeito geral.
Isto é o que, segundo me parece, deve ser feito através da atuação do Komsomol, não em forma duma circular oficial, e sim como lei não escrita que deve converter-se em tradição de todo o nosso Komsomol. E vós, secretários dos comitês do Komsomol para o trabalho entre a juventude escolar e os pioneiros, deveis ser os primeiros e mais zelosos executores dessa lei, pois a elevação do prestígio do professor é uma linha comum de nosso Partido e do Komsomol.
Aqui se falou muito do aproveitamento dos escolares e foram citadas diferentes porcentagens. É claro que as porcentagens têm importância para uma visão de conjunto da situação. Mas vós não sois os chefes das Seções de Instrução Pública. Além disso, conseguis essas porcentagens sem grandes esforços pedindo-as aos professores ou diretores de escolas, que as entregam já calculadas. Por conseguinte, nem sequer tendes que realizar um elementar trabalho de estatístico. Para ser sincero, direi que esperava muito mais. Esperava que falásseis do que encerram essas porcentagens. Deveríeis ter feito uma análise da situação, mesmo que fosse somente do ponto de vista pedagógico. Mas nada disso ouvi dizer aqui.
Sabemos muito bem que alguns professores dão notas altas com grande facilidade, ao passo que é muito difícil obtê- las com outros. Existem mesmo professores que não conferem graus de distinção pôr princípio, dizendo que só eles mesmos merecem essa classificação. Mas também aqui é preciso saber distinguir. Temos magníficos pedagogos, sobretudo entre os velhos, que devotam profundo carinho á sua disciplina, apaixonam-se por ela e a ensinam bem. Os alunos amam e respeitam profundamente a tais professores e, por causa deles, também gostam da matéria. Ainda que esses professores sejam condescendentes em suas notas, podemos afirmar a priori que seus alunos conhecem a matéria muito melhor que as disciplinas explicadas por professores que consideram que somente eles mesmos são merecedores duma nota de distinção. Não prestastes atenção tampouco a este aspecto do problema.
De modo geral, causa-me certa estranheza o fato de vos terdes limitado a fazer informes de tipo formal.
Expressando-me na linguagem de nossos críticos, direi que vossos informes têm mais um caráter formalista e não um caráter de realismo socialista. Creio que foi Briúsov quem disse: “Gosto da juventude porque é um bom ponto de apoio para marchar para diante”. É certo. Não obstante, não se percebe que marcheis para a frente, ainda que tenhais muitas possibilidades para isso. Pois não sois uns chefes de Seções de Instrução Pública, abafados pelos assuntos administrativos, desde a reparação da escola até a disciplina na mesma. Tendes relativamente mais liberdade que o chefe de uma Seção de Instrução Pública. Sois os auxiliares do Partido e do Poder Soviético, não tanto no que tange à reparação das escolas — ainda que nisso também deveis ajudar quando se torne necessário — como no tocante à tarefa de organizar e assegurar uma educação comunista da jovem geração.
Por último, não sois observadores imparciais, mas, como suponho, ardentes patriotas soviéticos. Em vós deve borbulhar a energia, e se não é assim, que espécie de patriotas soviéticos sois vós? Deveis aspirar a marchar sempre para a frente, deveis recolher todas as questões novas e de atualidade. Mas para isso, repito, deveis possuir uma grande cultura. Se estivesse em minhas mãos, eu vos obrigaria a dedicar pelo menos cinco horas diárias a ler literatura (belas letras e obras consagradas aos diversos problemas da arte, da ciência, da técnica, etc.) para que fosseis pessoas preparadas, cultas, instruídas; então, quando surgisse qualquer questão prática e de princípio, o professor diria com seus botões: parece uma enciclopédia! É assim que vosso prestígio crescerá rapidamente aos olhos dos professores.
Pelo que compreendi, do ponto de vista formal careceis de poder sobre a escola, mas podeis exercer uma enorme influência sobre ela, e neste sentido o Partido espera de vós um grande e frutífero trabalho. Para tanto, insisto nisso mais uma vez, os secretários do comitê do Komsomol encarregados do trabalho entre a juventude escolar e os pioneiros devem ser pessoas dum alto nível cultural e os mais destacados por este conceito no meio pedagógico.
E com a cultura deveis levar à escola o espírito bolchevique de partido. Que quer dizer ser portador do espírito de partido? Agora a questão parece ter-se simplificado consideravelmente: temos a “História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS”; estudando-a, assunto concluído. Não obstante, camaradas, um manual não é mais do que isso: um manual; e o espírito de partido não deve inculcar-se somente através de um manual. Claro está que a “História do P.C. (b) da URSS” é uma arma poderosa para o desenvolvimento da ideologia marxista-leninista. Mas é que não se exige que as pessoas se orientem somente na história do Partido de acordo com o ponto de vista marxista, mas que o façam também em seu trabalho, na vida cotidiana e na vida em geral, que focalizem os problemas concretos que surgem cada dia e a cada passo com um espírito de partido, à maneira bolchevique.
Mas quando vos dedicais a estudar a fundo o manual, às vezes temeis sair do marco de alguns de seus parágrafos. E se vos limitais a esse marco, sereis uns maus marxistas, pois cada parágrafo não é um dogma, mas um guia para a ação. Ao estudar a História do Partido bolchevique é conveniente que esses parágrafos sejam ilustrados não somente com fatos do passado, mas que se lhes dê um conteúdo atual, esclarecendo sua essência com exemplos tomados da vida contemporânea.
Por exemplo, aqui se falou de um suicídio. Se eu me dedicasse a ensinar a História do Partido talvez fosse um mau professor dessa disciplina, mas em compensação não teria deixado passar por alto esse acontecimento sem desenvolver o parágrafo correspondente. Demonstraria que esse comunista não procedeu de modo marxista, que no fundo não era comunista, que só o era no nome, pois um comunista não pode proceder dessa maneira. Se é assim que ides estudar a História do Partido, então vos desenvolvereis de verdade, isto é, não só consolidareis o conhecimento da História de nosso Partido, mas também reafirmareis em vossa consciência os princípios comunistas, e no caso presente, a ética proletária, a ética comunista.
E se vós, secretários dos comitês regionais do Komsomol encarregados do trabalho entre a juventude escolar e os pioneiros, temerdes, como dirigentes, estas questões, topareis com muitas dificuldades. Deveis levantar com audácia estas questões entre os professores e procurar fazer com que sejam resolvidas do ponto de vista marxista.
Como vedes, camaradas, coloquei muito alto vosso papel e a importância de vosso trabalho, o que supõe para vós uma grande responsabilidade. Em particular, isso exige de vós o que já disse a princípio: que vossos informes tenham um grande conteúdo político, que sejam de fato informes com espírito de partido. Essa será para vós a primeira lição de marxismo, de verdadeiro marxismo. E se assim for, se conseguirdes superar os lugares-comuns e o dogmatismo em vossos informes, vereis como isto se refletirá inevitavelmente em todo o vosso trabalho. (Atroadores aplausos)
Inclusão | 30/10/2012 |