Alguns problemas táticos dos partidos marxista-leninistas que precisam da nossa atenção

Enver Hoxha

31 de agosto de 1978


Fonte para a tradução: Ditar për Çeshtje Nderkombëtare, julho de 1978 - dezembro de 1978, volume 11, páginas 262-267; Casa de Publicações “8 Nëntori”, Tirana, junho de 1984.

Tradução: Thales Caramante.

HTML: Lucas Schweppenstette.


QUINTA-FEIRA,
31 de AGOSTO de 1978

Em Portugal, em um encontro recente chamado de “acampamento”, foram apresentadas algumas visões táticas, desta vez não habituais. O Partido Comunista Português (Reconstruído) (PCP-R) convidou representantes das juventudes de todos os partidos comunistas marxista-leninistas para este encontro. Este evento teria um significado fraterno e político, e poderia servir de contraponto ao encontro internacional da juventude, que se realizou em Cuba. No entanto, a direção do PCP(R) levantou uma questão perante os representantes das juventudes de outros partidos: não deveríamos falar sobre o imperialismo americano, o social-imperialismo soviético ou a reação mundial, mas falar em geral, sem mencionar especificamente esses inimigos.

Naturalmente, essa linha não era aceitável para todos os participantes, representantes das juventudes dos partidos comunistas marxista-leninistas. Nossa delegação também esteve presente, o que era muito esperado. Os portugueses apresentaram essa visão aos representantes da nossa juventude, a União da Juventude do Trabalho da Albânia (BRPSH), mas eles se opuseram, e disseram que não poderíamos concordar com essa linha. Pelo contrário, devemos falar abertamente sobre os problemas que preocupam a juventude dos nossos países e abrir uma perspectiva para mostrar-lhes o caminho a seguir. Antes de a nossa delegação ter ido para lá, os alemães, espanhóis, italianos e outros defenderam veementemente essa linha. Assim, os representantes da Albânia encontraram-se alinhados com os partidos marxista-leninistas, ou seja, em oposição aos representantes da juventude do PCP(R). Nas assembleias gerais, eram claramente visíveis as grandes contradições que existiam entre as opiniões desse partido, por um lado, e as massas dos seus simpatizantes, bem como representantes de outros partidos, por outro. Toda a multidão gritou: “Abaixo o imperialismo americano! Abaixo o social-imperialismo soviético! Abaixo o imperialismo chinês! Abaixo a burguesia reacionária!”. Isso significava que a massa estava à frente, enquanto o Partido Comunista Português (Reconstruído) estava atrás.

Mas uma coisa que me preocupa é que o representante da juventude do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) tentou convencer nossos camaradas de que “as orientações dadas pelos portugueses resultaram de uma análise da situação interna de Portugal, portanto, se possível, a delegação albanesa deveria apoiá-los”. É claro que nossa delegação contradisse essas opiniões aos camaradas brasileiros, que depois de dois dias retornaram aos nossos camaradas e tentaram se desculpar dizendo que suas palavras foram mal interpretadas, que não tinham esses pensamentos, etc. Em outras palavras, vendo nossa postura firme, que coincidia com as posições corretas de outros partidos marxista-leninistas, os camaradas brasileiros fizeram uma autocrítica estratégica.

Sabemos que o PCdoB exerce influência sobre o PCP(R). No entanto, não é certo que os camaradas do PCdoB tenham influenciado nessa visão tática dos portugueses, que consideram fecunda para a situação portuguesa, na qual o governo de Suárez caiu e outro será instalado. A tática não deve entrar em conflito com a estratégia, especialmente com as principais linhas da estratégia. Se não se falar contra o imperialismo americano, o social-imperialismo soviético e a política aventureira e antimarxista da China, isso se tornará em algo muito semelhante às táticas dos titoístas. Os portugueses também falam do imperialismo americano, do social-imperialismo, da hegemonia e dos grandes Estados capitalistas, mas sem definir claramente quais são esses Estados e quem são esses inimigos. Portanto, se os membros da delegação da juventude do PCdoB influenciaram nesse sentido, foi uma tática errada. Acredito que eles tenham de certa forma influenciado, pois o camarada Diógenes Arruda Câmara disse a um dos nossos camaradas que os camaradas espanhóis são mais rígidos em relação aos portugueses. Foi tudo o que ele disse.

Diógenes Arruda Câmara, que está na Albânia com um grupo de camaradas brasileiros, recentemente falou com o camarada Ramiz Alia sobre a importância internacional do livro O Imperialismo e a Revolução. Arruda disse que o livro é a única plataforma correta do movimento comunista marxista-leninista internacional e que o PCdoB concorda com as opiniões expressas no livro. Arruda também disse a Ramiz que o PCdoB acredita que seria benéfico para os partidos comunistas marxista-leninistas realizar uma assembleia geral para adotar o livro O Imperialismo e a Revolução como plataforma ideológica comum. Arruda pediu a Ramiz que mantivesse essa informação em segredo, pois o secretário-geral do PCdoB, João Amazonas, pretende levantar essa questão na assembleia.

Arruda também perguntou a Ramiz se os camaradas alemães haviam lido o livro O Imperialismo e a Revolução e qual havia sido a opinião deles. Nós o respondemos abertamente. Essa pergunta me deixou com algumas dúvidas. O PCdoB concorda com o nosso partido em todas as questões? Concorda com a nossa análise sobre o paradigma de Mao Zedong? Concorda com a nossa opinião de que Mao Zedong não era um marxista-leninista e que o socialismo não era edificado na China? A construção do socialismo na China foi deixada a meio caminho, deram alguns passos em frente, mas foram passos coxos e, como resultado, a China se transformou em um país revisionista e capitalista. Por que os camaradas brasileiros concordam plenamente conosco em outras questões? É possível que concordem conosco também no caso de Mao Zedong. Talvez concordem com nossos pontos de vista e argumentos, e até tenham argumentos próprios que complementam esta opinião. Arruda pode estar sendo completamente honesto ao dizer o que disse a Ramiz. No entanto, nossa opinião é que não devemos realizar uma reunião desse tipo, onde nosso livro seja discutido e adotado como plataforma.

É possível, e essa é uma opinião individual minha que pode estar errada, que os camaradas do PCdoB estejam propondo uma reunião de partidos para adotar como única plataforma as opiniões expressas no livro O Imperialismo e a Revolução. Eles podem estar fazendo isso taticamente, para não dizer abertamente que discordam da nossa posição sobre as concepções de Mao Zedong. Se tal assembleia for realizada, os pontos de vistas serão discutidos e os consensos serão expressos sobre todos os problemas levantados neste livro, de forma ampla, democrática e marxista-leninista. Entretanto, também aceitaremos as opiniões dos nossos camaradas, especialmente sobre os pontos principais, especialmente sobre a questão do maoísmo. Os chilenos, por exemplo, podem não concordar com a nossa posição sobre este assunto e defender a linha de que Mao Zedong e Zhou Enlai devem ser separados de Hua Guofeng e Deng Xiaoping. Eles podem dizer que a China embarcou no caminho revisionista e caminha para a sua restauração a um país abertamente capitalista apenas após a morte de Zhou Enlai e Mao Zedong, que “enquanto estavam vivos, Mao e Zhou estavam construindo o socialismo na China”. Eles também podem dizer que “o Partido Comunista da China (PCCh) e Mao Zedong cometeram alguns erros”, e pular de uma coisa para a outra, dizendo “mas Stálin também cometeu alguns erros”. Neste caso, diremos que a situação era bem diferente quando Stálin estava vivo, portanto, não acho que tal comparação é válida de qualquer forma. Avaliar esse problema dessa forma, ainda muito superficial, pode criar uma fissura.

Não acho que devemos realizar tal assembleia, pois não escrevemos este livro para impor nossas visões aos partidos marxista-leninistas do mundo como uma plataforma política. Expressamos nele uma série de verdades marxista-leninistas, mas pode haver outros partidos que tenham opiniões diferentes das nossas, alguns que tenham argumentos importantes que não expressamos. Até agora, apenas alguns camaradas dos partidos comunistas marxista-leninistas tomaram conhecimento do nosso material, seja diretamente, seja por meio de debates. No entanto, todas as direções dos partidos marxista-leninistas e todos os partidos ainda não têm conhecimento profundo dessa obra. Portanto, penso que devemos publicá-lo publicamente e observar as críticas da opinião dos comunistas e, junto, a de todos os povos internacionalmente. Se não tivermos analisado alguma questão adequadamente, devemos fazer a nossa autocrítica. Dessa forma, devemos deixar que outros julguem os princípios que são estabelecidos neste livro. Só então, se houver questões em que alguma ou algumas partes possam ter objeções aos nossos pontos de vista, uma reunião poderá ser realizada.

No entanto, no que diz respeito ao PCdoB, veremos mais claramente sua posição sobre essa questão. Sabemos que é um verdadeiro partido marxista-leninista, que ama o nosso partido porque nossas opiniões são completamente compatíveis nos problemas cardeais da teoria marxista-leninista. Os camaradas brasileiros têm estado, de forma sincera, entusiasmados com a construção do socialismo no nosso país e com a justa linha do nosso partido. No entanto, podemos estar errados em pensar que, nesta matéria, no lado tático, eles possam ter algumas dúvidas sobre a nossa falta de velocidade. Acho que podemos conversar e nos explicar a eles.


Inclusão: 29/12/2023