Continuar com firmeza a educação integral da classe operária

Debate realizado na reunião do Secretariado do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA)

Enver Hoxha

12 de setembro de 1969


Fonte para a tradução: Enver Hoxha: Obras Completas, v. 41 (maio de 1969 – setembro de 1969), p. 457-475, Casa de Publicações “8 Nëntori”; Tirana: 1984.

Tradução: Thales Caramante.

HTML: Lucas Schweppenstette.

Contexto: Nesta reunião foi debatido em coletivo o informe apresentado pela Coordenação Nacional da União dos Sindicatos da Albânia (BPSH) sobre alguns problemas do trabalho de formação ideológica nos sindicatos.


A cada dia que passa, testemunhamos resultados significativos e tangíveis no fortalecimento da classe operária, em sua formação ideológica e política, e no desenvolvimento técnico-profissional. Isso demonstra que o trabalho do partido, da União dos Sindicatos da Albânia (BPSH) e de outras organizações de massas agora está mais enraizado do que anteriormente. Contudo, isso não nega a existência de falhas e fraquezas ainda consideráveis em seu trabalho, as quais devemos analisar, criticar e corrigir.

A educação da classe trabalhadora é uma tarefa ampla e complexa, exigindo esforços diários, uma linha clara, e a aplicação de inúmeras formas e métodos que se adequem à situação concreta, considerando tanto o passado quanto a perspectiva futura. A combinação de diversas abordagens é essencial para realizar com êxito esse objetivo, que já caminha em grande e constante evolução, que engloba a ampla educação da classe operária e de todas as demais massas trabalhadoras.

Portanto, o partido e as organizações de massas, com uma clara compreensão dos métodos e formas de educação, devem, em constante diálogo entre si, aprimorar essas abordagens, substituindo-as por novas e mais revolucionárias conforme as situações concretas criadas pelo desenvolvimento econômico e cultural da coletividade. Manter métodos obsoletos e não adotar formas mais justas e modernas é prejudicial, indicando uma falta de adaptação às necessidades trazidas pelo tempo e pelo progresso. Da mesma forma, mudar constantemente de formas e métodos sem considerar o estado real da área em questão também seria errôneo.

Camaradas do BPSH, vocês compreenderam corretamente a importância da educação e promoção dos propagandistas, conforme a orientação do partido. Contudo, não se satisfaçam com o que já foi feito; encarem isso como apenas o início. Continuem de maneira constante e ininterrupta com essa tarefa. A educação dos propagandistas desempenha um papel crucial, seguindo com perseverança a trajetória estabelecida pelo partido, em sintonia com os princípios dos professores e pedagogos. Os propagandistas são os educadores da classe operária, e a seleção deles deve sempre considerar dois critérios fundamentais: convicção político-ideológica e habilidade no ofício da educação. O partido deve desenvolver um trabalho contínuo e coletivo com os propagandistas, assim como com todos os agitadores, baseado em distritos, centros de trabalho ou qualquer organização partidária a que esses camaradas pertençam como comunistas. Assim, mantenham-se atentos e persistam no aprimoramento dos propagandistas e agitadores. Para alcançar esse objetivo, é essencial fortalecer a disciplina de aprendizagem neles e garantir uma organização de estudos eficaz para que possam transmitir esses valores aos outros.

Vejo que estão sendo enfatizadas as formas de estudo coletivo, com discussões em busca de métodos mais eficientes. Isso é algo positivo que deve ser mantido. No entanto, é crucial compreender que o estudo individual é a base de todas as formas de aprendizado. Se este método não for aplicado adequadamente, ou se for negligenciado, qualquer forma de estudo estará comprometida. O estudo individual demanda uma vontade e um método específicos, adequados tanto para aqueles que necessitam de ajuda quanto para si próprio.

Não é correto pensar que o estudo individual seja adequado e mais viável apenas para aqueles que já possuem cultura e prática na aprendizagem. Mesmo aqueles sem essa prática podem adquiri-la e devem necessariamente fazê-lo, pois a educação coletiva ensina por meio do método de ensino, exigindo que registrem e expandam em casa o que ouviram e discutiram. Portanto, sem o estudo individual de cada um, não há estudo sério.

Também é equivocado pensar que pessoas cultas, que têm prática adquirida no estudo individual, não precisam de estudos coletivos e de discussões coletivas sobre diversas questões. O estudo individual dificilmente é controlado e pode ser negligenciado sob muitos pretextos, intencionalmente ou não. Portanto, é necessário concentrar-se nesse problema, recomendar formas e métodos para fortalecer esse estudo fundamental, superar as dificuldades e ganhar experiência prática.

Continuar estudando com grande atenção a História do Partido do Trabalho da Albânia e outros materiais, utilizando abordagens avançadas e sempre conectando e ilustrando com os problemas contemporâneos, bem como com os problemas e resultados da nossa prática passada.

O partido e as organizações de massas têm em suas mãos materiais fundamentais dos clássicos do marxismo-leninismo e de nosso partido, que são de extrema importância, incluindo leis e decretos para organizar e orientar a economia socialista, bem como as relações socialistas na produção. Não devemos esquecer ou subestimar o fato de que a elevação ideológica e política é fortalecida pelo trabalho, estudo e aprofundamento contínuo dessas leis e portarias. É imperativo aplicá-las corretamente, o que implica compreendê-las devidamente. É um equívoco pensar que apenas o Estado é o garantidor de sua implementação; da mesma forma, pensar que apenas os militantes do PTA e do BPSH são os únicos responsáveis por essa implementação é igualmente errôneo. Todos, incluindo o partido, o governo, a classe operária, os trabalhadores, os militantes do BPSH e todas as organizações de massas, são responsáveis por garantir sua implementação total. Portanto, essas leis e decretos devem ser compreendidos não apenas pelos dirigentes, mas também pelos trabalhadores; não só implementadas pelos trabalhadores, mas, principalmente, são eles que não permitem que ninguém, seja da direção do partido ou do governo, as desrespeite ou subverta. Qualquer ação fora dessas normas prejudica a linha do partido.

Ao abordar a questão das normas coletivas, levantada no Informe, caros camaradas do BPSH, notamos a preocupação legítima e aprofundamos a discussão por meio de um informe separado.

Essa questão tem sido uma experiência experimental. A orientação do Birô Político é clara, destacando tanto os lados positivos quanto os riscos possíveis. Identificamos a origem dos riscos, compreendemos como podem surgir, por que isso pode acontecer, e delineamos estratégias para combatê-los e superá-los. Nesta orientação, reforça-se a importância de determinar onde as normas coletivas devem ser estabelecidas, indicando claramente os locais adequados. Destaca-se que é essencial explicar profundamente essa questão, para que os trabalhadores a compreendam politicamente e ideologicamente, percebam o atual crescimento econômico do Estado e, também, seu próprio desenvolvimento, expressando livremente seus pensamentos com cautela. A orientação também ressalta que, mesmo se essas condições forem atendidas e esse tipo de norma for estabelecido, o trabalho político e ideológico com as massas é uma condição necessária e permanente.

Nas fábricas em que a direção do partido desempenhou um papel eficaz e os trabalhadores entenderam profundamente suas diretrizes, engajando-se em conversas e discussões, identificando setores nos quais uma norma coletiva poderia ser estabelecida com justeza, as coisas estão progredindo de maneira positiva. No entanto, mesmo nessas situações, o “zelo equivocado” de alguns dirigentes estendeu essa norma a áreas onde não era necessária e não permitida pelas orientações do Birô Político. Infelizmente, as justas críticas dos trabalhadores não foram consideradas. Essas pessoas distorceram as diretrizes do partido e abusaram de seu nome para impor práticas estranhas. Esses são os responsáveis, assim como aqueles que, através de uma “ordem deformada do partido”, contribuem para perpetuar essa deformação ao realizar ajustes adicionais no sistema organizacional da equipe. Quando o partido identifica essas distorções, as “razões” dos verdadeiros culpados são encontradas, enfatizando o “interesse pessoal” em certas categorias de trabalhadores, entre outras questões, enquanto suas falhas são minimizadas ou encobertas. Não se pode descartar a possibilidade de que, em alguns casos, prevaleça o “interesse pessoal”, mas mesmo nesses casos, os trabalhadores são prejudicados em relação aos outros.

A classe trabalhadora e seu Partido do Trabalho da Albânia (PTA) rejeitam veementemente o “igualitarismo” sob o pretexto da norma coletiva, uma visão equivocada adotada por alguns burocratas que buscam evitar os problemas e as preocupações dos trabalhadores. A classe trabalhadora e seu partido não toleram que os membros parasitas da equipe se escondam atrás da norma coletiva, persistindo em assegurar ganhos que não lhes pertencem, apesar dos esforços do coletivo. É inaceitável deixar de avaliar a qualificação de cada trabalhador e do local de trabalho, assim como as taxas individuais dentro da taxa coletiva ou do plano de tarefas. Acusar esses trabalhadores honestos, patriotas e dedicados de priorizar interesses pessoais sobre os nacionais quando expressam críticas é injusto. Na verdade, esses trabalhadores estão defendendo a ditadura do proletariado. Compartilhem essas palavras aos seus camaradas de trabalho e expliquem detalhadamente as decisões corretas do Birô Político sobre essa questão; então, vocês verão a posição firme da classe trabalhadora.

Os camaradas de trabalho têm o direito de considerar seus interesses individuais e os de suas famílias? Com certeza. E quem compreende melhor do que qualquer outra classe que esses interesses individuais devem estar intrinsecamente ligados ao interesse coletivo, e que o interesse individual não deve sobrepor o coletivo, senão a nossa heroica classe operária, que se lança ao fogo a cada momento em prol dos interesses do povo e do seu partido.

Portanto, sem menosprezar as tendências equivocadas em certos elementos da classe operária, do partido, do governo, do BPSH, etc., é dever corrigir e combater essas tendências. Ao mesmo tempo, é fundamental enfatizar que é inadmissível tanto para o partido na base quanto para os órgãos públicos distorcerem as diretrizes da direção, como é explicitamente o caso no problema das normas coletivas.

Portanto, é imperativo implementar rapidamente e sem demora a diretriz do Birô Político sobre este problema crucial. Nos casos em que foi corretamente aplicada e demonstrou resultados positivos, é essencial reforçar continuamente a educação político-ideológica dos trabalhadores. Onde foram cometidos erros, é crucial corrigi-los imediatamente, não apenas administrativamente, mas também explicar minuciosamente as falhas e distorções presentes. Além disso, nos casos em que as normas coletivas foram estabelecidas de forma distorcida em relação à diretriz original, elas devem ser removidas prontamente, sem hesitação, e a justificativa para tal remoção deve ser esclarecida às massas.

Damos uma ênfase maior e especial ao problema das taxas, considerando-o uma das políticas mais importantes do partido e do Estado. As normas não abordam apenas aspectos técnicos e econômicos, mas também têm dimensões políticas e ideológicas. Portanto, se houver um interesse superficial ou nenhum interesse na definição das normas, permitindo que “alguns especialistas” decidam, o problema não será resolvido de maneira adequada, criando uma fissura política em nosso meio.

Com satisfação, observamos que as normas estão sendo superadas pelos trabalhadores. Isso deve ser encarado como um êxito e um crédito para a nossa classe operária. Alguns se sentem ofendidos, alegando que isso implica que os operários são impulsionados pelo “interesse pessoal”. Isso não é verdade e é injusto para com os operários. O operário luta e ultrapassa as normas para construir o socialismo, para enriquecer a vida de seu povo, do qual faz parte. Dentro desse grande interesse, ele tem o direito de considerar seu interesse individual, respeitando as normas, leis, decretos e o modo de vida estabelecidos pela ditadura de sua classe e de seu partido. É exatamente porque a classe trabalhadora e todos os trabalhadores agiram e pensaram dessa maneira, sob a direção do partido, que foram realizadas e continuam a ser realizadas as colossais mudanças em nosso país e sociedade.

O operário, quando recebe explicações políticas, técnicas e organizacionais abrangentes, compreende não apenas a importância da norma e as razões reais para ultrapassá-la, mas também, quando a norma é alta ou baixa, compreende corretamente e, conforme o caso, exige seu ajuste para cima ou para baixo. Em situações em que o trabalho não é bem fundamentado ideológica e politicamente, pode haver trabalhadores que, embora as condições estejam favoráveis para aumentar as taxas, não apenas deixam de tomar a iniciativa, mas também se tornam obstáculos, tentando manter as taxas antigas, mais baixas, que são atingidas e superadas com mais facilidade. Quando se trata de aumentar as taxas, a voz dos trabalhadores deve ser ouvida, pois, quando as condições são propícias para ultrapassar amplamente a taxa estabelecida, essa questão não deve ser apenas um problema técnico-econômico da fábrica, mas, acima de tudo, um problema político-econômico da direção do distrito. A direção deve visitar a fábrica, dialogar aberta e livremente, apresentando fatos e discutindo com os trabalhadores, com o coletivo, em vez de se limitar a falar com uma ou duas pessoas. Caso contrário, acredito que conclusões errôneas podem surgir. Resolver problemas de forma unicamente técnica e, na pior das hipóteses, burocrática, leva a soluções unilaterais e estão mais propensas a erros.

Portanto, ao buscar elevar os padrões e reconhecendo que eles são frequentemente ultrapassados, além dos procedimentos técnicos, é crucial realizar um extenso trabalho político. Esse esforço visa explicar de maneira clara aos trabalhadores esse fenômeno comum em uma economia socialista, onde existem abundantes reservas. É essencial que compreendam os motivos e a necessidade de agir de determinada maneira. Gostaria de abordar brevemente duas outras questões:

Em primeiro lugar, é necessário reconhecer que, embora haja uma compreensão geral sobre o interesse coletivo, individual e geral, frequentemente observamos a elevação do interesse pessoal ou grupal, colocando-o acima do interesse coletivo. Esse fenômeno não se limita apenas a indivíduos, mas também é evidente entre os diretores de fazendas estatais ou cooperativas. Portanto, é imperativo que o partido intensifique ainda mais o trabalho de educação nesse sentido. Às vezes, a compreensão inadequada do interesse geral se reflete quando cooperativas agrícolas, ao priorizarem o interesse do grupo em detrimento do interesse geral, negligenciam o cultivo de plantas essenciais, como hortaliças, necessárias para a população. Isso ocorre sob o pretexto infundado de que tais cultivos não têm utilidade. Em vez de seguir esse caminho equivocado e negligenciar o interesse geral, os diretores dessas cooperativas devem concentrar-se em aprimorar seu trabalho, assegurando a produção de hortaliças para atender às necessidades das massas e aumentar os rendimentos, garantindo a rentabilidade da cooperativa.

Em segundo lugar, ao ultrapassar os planos, o partido tem reiterado constantemente a importância da ampla utilização de incentivos regionais. No entanto, é necessário destacar que, em alguns casos, seu uso não foi compreendido adequadamente. Quando incentivos morais, como condecorações, são concedidos em grande escala, a exemplo de campanhas envolvendo 200 pessoas de uma só vez, esses prêmios perdem seu valor. Por outro lado, ao reconhecer e premiar trabalhadores destacados por meio de incentivos morais, como cartas de elogio, em reconhecimento ao trabalho louvável, tal estímulo adequado tem um impacto significativo. Os resultados desse reconhecimento são evidentes no aumento da eficiência do trabalho e na promoção tanto do interesse geral quanto da vida pessoal.

Outro problema destacado no informe do BPSH, assim como no da Fábrica Têxtil de Berat, é a alocação e fixação da nova classe operária. Observamos um significativo desperdício de tempo de trabalho. É evidente que, onde esse fenômeno é mais grave, o partido, o governo e o BPSH devem realizar uma análise profunda desse problema, adotar medidas e eliminá-lo, pois, isso nos prejudica tanto economicamente quanto politicamente. A Fábrica Têxtil de Berat é um novo e amplo centro de emprego, abrangendo cerca de 7.000 trabalhadores, sendo a maioria deles mulheres e jovens. Essa combinação apresenta diversos desafios, especialmente nas áreas política, econômica e habitacional. Já discuti essas questões com o ministro e o secretário do Comitê Distrital do Partido em Berat. O problema habitacional para os trabalhadores dessa nova unidade, compreensivelmente, não pode ser resolvido em um ano, mas exige uma abordagem séria. No entanto, observa-se que, ao demolir um conjunto de lojas para embelezar a cidade e solicitar recursos para substituí-las por novas instalações, os apartamentos dos funcionários são negligenciados, a prioridade é perdida e itens essenciais, como creches, jardins e cantinas, não são construídos para atender às necessidades dessa enorme massa de trabalhadores.

Acima de tudo, como na Fábrica Têxtil de Berat e em qualquer local onde haja jovens operárias, é crucial intensificar o trabalho político. Uma das razões para a má utilização do tempo de trabalho, especialmente, acredito, é a falta de disciplina e uma compreensão inadequada tanto do aspecto político quanto da disciplina no Estado socialista.

A segunda razão para a má utilização adequada do tempo de trabalho reside na fraca organização estatal do trabalho e, por último, no liberalismo prejudicial por parte das direções, dos diretores e de todos que, sem serem liberais ou oportunistas, devem ser exemplos de justiça e compreensão na implementação da disciplina no trabalho. Em todos esses novos centros de trabalho, assim como nos antigos em todo o país, existem problemas sociais que geralmente são resolvidos com êxito.

No entanto, é imperativo que o partido e suas frentes de luta continuem o trabalho intensivo, especialmente para alcançar a plena igualdade entre mulheres e homens em todos os aspectos. O Estado deve prosseguir com medidas concretas para apoiar vigorosamente essa ação político-ideológica, especialmente nas relações das mulheres na produção.

Para conduzir uma educação diferenciada, o BPSH tem desempenhado um papel positivo ao delinear, em linhas gerais, as distinções nas condições culturais, especialmente no meio camponês. Isso é fundamental para implementar uma educação diferenciada que abranja desde as camadas mais baixas até as mais altas. É evidente que esse trabalho enfrenta obstáculos, principalmente do movimento camponês. Contudo, não podemos fazer nada a respeito neste momento. Com o aumento da população tanto nas áreas rurais quanto urbanas, espera-se uma redução desses movimentos, que ainda persistem atualmente. Essa mudança exige que as condições concretas do desenvolvimento econômico e as formas de educação se ajustem a esse desenvolvimento, e não o contrário, adaptando o desenvolvimento econômico às formas de educação.

Sobre o Caráter Ideológico dos Mexericos

De todo o nosso trabalho político-ideológico quotidiano, dos artigos que lemos constantemente na imprensa, tal como dos relatórios que nos são apresentados, destaca-se que o partido tem de enfrentar “mexericos”. Queria agora dizer algumas palavras sobre a natureza destas manifestações, das suas fontes, do que elas representam e qual é o seu objetivo, pensando que isso possa servir para as combater.

Os mexericos são um fenômeno típico da pequena-burguesia. Têm um caráter pequeno-burguês e são manifestações da ideologia burguesa. Os mexericos mal intencionados são produto do subjetivismo e não têm nada de comum com uma crítica sã, realista e construtiva. Bem pelo contrário, têm um caráter difamador, frequentemente calunioso, tanto com intenção como sem ela. Na maior parte das vezes, são mexericos sem fundamento e, quando, raramente, trata-se de um assunto que tenha qualquer fato concreto por base, transforma-se em ato denegridor por efeito da própria forma sob a qual se desenvolve e do juízo subjetivo daquele que interpreta o assunto. Mesmo neste caso, de interpretação em interpretação feita por indivíduos que se entregam à prática nociva dos mexericos, estes acabam por se tornar calúnia. Deve-se ver aí um método de crítica dos mais odiosos, próprio dos pequeno-burgueses. Não há nele qualquer atitude sã, de princípio, nem construtiva, porque ele deforma os fatos, inventa, intencionalmente ou não, circunstâncias não verificadas, porque procede de boca a ouvido pelas costas e em prejuízo do elemento que toma como alvo.

Os mexericos não têm nunca como objetivo a correção do elemento visado; fazem, pelo contrário, um grande dano tanto ao indivíduo como ao coletivo. Os que se entregam a esta prática se apresentam como moralistas, pois disfarçam sempre os seus propósitos maldizentes com uma “concepção moral elevada”, quando se trata, na realidade, de uma concepção amoral, quer pelo espírito subjetivista que inspira sua formação, quer pelos fundamentos em que repousa, quer pelas formas que toma e pelos objetivos que persegue. Os que recorrem, como a um método de conteúdo pretensamente político, a esses mexericos (que, de fato, podem florescer em domínios diversos), não podem estar eles próprios imbuídos de uma concepção política sã, pois as pessoas que têm os pontos de vista subjetivistas que a prática pequeno-burguesa dos mexericos pressupõe, nunca estão em condições de proceder a uma verdadeira análise da situação política mediante o estudo dos fatos reais de maneira objetiva. O método de organização do trabalho baseado em tagarelices não pode ser um método correto de análise política. Os que o empregam são, podemos dizer sem receio de nos enganarmos, ou oportunistas ou interesseiros ou sectários ou conservadores.

Além dos males que acabo de invocar, os mexericos suscitam querelas, disputas, rancores que podem ir até aos homicídios. Provocam uma perturbação na sociedade, na sua harmoniosa unidade ideológico-política, mas são também uma forma da luta de classe por parte da burguesia derrubada do poder, para criar dificuldades à ditadura do proletariado, para atormentar moralmente e nas coisas mais íntimas as pessoas sãs da nossa sociedade. Deve-se compreender bem que tal método, de conteúdo e de caráter reacionário, escolherá inevitavelmente como primeiro alvo, a fim de os desacreditar e de os desqualificar, precisamente os que combatem impiedosamente os “mexericos”.

Combater implacavelmente os “mexericos” sob as formas burguesas e pequeno-burguesas com que se apresentam, não significa dissimular os erros que se manifestaram em qualquer domínio político, ideológico, moral ou organizativo. Pelo contrário, a crítica destes erros deve ser feita, mas deve repousar sobre sólidas bases de princípio, apoiar-se bem sobre fatos, ser aberta, formulada cara a cara ou perante o coletivo, no momento em que é necessária e não ser baseada em simples suposições. A crítica deve, em todas as circunstâncias, caracterizar-se por um objetivo moral, político e ideológico, ter uma função educativa para o indivíduo ou para o coletivo criticados, nunca ter como objetivo esmagar moralmente o elemento em causa, mas, pelo contrário, elevar o seu moral para lhe permitir corrigir os seus erros. Enfim, a crítica dirigida a pessoas que cometem erros na sua vida privada ou no local onde trabalham não se deve transformar numa preocupação dominante que dissimule, obscureça e entrave a justa solução dos principais problemas que preocupam o Partido e o Estado. Sublinho-o porque, com muita frequência, nas organizações de base do Partido veem-se abrir debates que consistem em críticas individuais recíprocas sob formas que não só fazem desleixar os problemas principais e perturbam a vida da organização como, por vezes, rompem também a sua unidade.

Por vezes, consolamo-nos dizendo que estas críticas “não têm um caráter político”. Esta apreciação é errada. Elas têm um caráter político e ideológico, precisamente porque suscitaram a discórdia e a divisão no seio da organização. Não se trata aqui de não criticar os que cometem erros; eles devem ser criticados sem falta sob as formas e pelas razões que invoquei mais atrás, mas devemos precaver-nos cuidadosamente contra críticas baseadas em intrigas, de essência subjetivista, e os seus efeitos desmoralizantes e antieducativos.

Assim, o Partido deve compreender convenientemente o aspecto perigoso, nos planos político, ideológico e organizativo, dos “mexericos”, a fim de que eles possam ser combatidos com rigor, como é preciso que o sejam. Se o perigo que eles representam não for bem compreendido pelos comunistas, se estes, na vida, caem na prática deste método pequeno-burguês, “os mexericos” penetrarão de forma sorrateira dentro do Partido, que então não estará em condições de combater esta prática perniciosa entre as massas.

Por isso, agucemos a nossa vigilância e combatamos este hábito nocivo, por onde quer que ele se manifeste, em primeiro lugar em nós próprios, no Partido e entre as massas.

Em geral, são os ociosos que se entregam às maledicências, às tagarelices, mas não são os únicos a fazê-lo. Em primeiro lugar, encontraremos este hábito entre as pessoas de um nível de formação política e ideológica pouco elevada, entre os que se comprazem numa vida cultural oca, que não vivem como deve ser com as ideias novas que o Partido e as massas desenvolvem e que não combatem para as pôr em prática. Os portadores destas tagarelices são elementos apodrecidos com preconceitos atrasados, ou incapazes de romper com o modo e as formas arcaicas de vida, com os costumes do passado. Mas são iguais também os que se apresentam como elementos “modernizados”, mas nos quais esta espécie de modernização não passa de uma degenerescência do caráter e de um refinamento ainda mais perigoso da prática dos “mexericos”.

Outrora, o tempo passado no café ou as visitas de umas pessoas à casa das outras eram ocasião para longas conversas. “Mata-se o tempo”, dizia-se, mas isso se fazia falando de uns e de outros, passando a sua vida pelo crivo. Tal prática, embora consideravelmente emendada, prossegue ainda hoje. Há camaradas que se lamentam justamente da abertura de um número demasiado de cafés. Não foi dada qualquer ordem para abrir cafés a seguir uns aos outros; portanto, os únicos responsáveis por este estado de coisas são os próprios camaradas dos distritos, que se lamentam disso e que são os próprios a autorizá-lo. Se levanto este problema, não é para que se fechem todos os cafés, pois isso não seria uma medida judiciosa. Contudo, não se deve considerar este problema unicamente sob o seu aspecto comercial; deve-se ter igualmente em conta o descanso necessário dos trabalhadores. Que o café se torne efetivamente um lugar de ócios cultivados, isso depende, antes de mais, dos próprios clientes que o frequentam, da sua mentalidade, do nível da sua formação ideológica e política, da intenção com que vão para lá. Se uma pessoa frequenta o café até ao ponto de desleixar o seu lar e a sua família, se o frequenta para beber e se embriagar, para aí dizer mal de todos os que entram e saem ou para fazer escândalos, então o café torna-se um lugar de mexericos. É evidente que a responsabilidade não recai somente sobre o local, mas também sobre seus frequentadores. Assim, se é verdade que não devemos abrir cafés demais, é, antes de mais, necessário trabalhar para a educação das pessoas, porque se esta primeira condição não for cumprida, estas pessoas não educadas se dedicarão então aos seus desmandos, invadirão os nossos estabelecimentos culturais que não se chamam cafés, mas que facilmente podem vir a sê-lo.

Portanto, temos muito a fazer no domínio da direção e da educação da classe operária e dos trabalhadores. Como se enganam os camaradas que me escrevem nas suas cartas frases como estas: “Sepultamos para todo o sempre e profundamente as leis do cânone do Lek”(1), “a influência da religião foi suprimida” e outras afirmações deste gênero, que denotam uma falta de maturidade. Bem entendido, estes camaradas não têm dúvidas de que é difícil adormecer o Partido ou a mim próprio com tais afirmações retumbantes, mas não se trata aqui de uma tentativa, ainda que involuntária, de mentira, de mistificação ou de uma falta de aprofundamento da situação política, ideológica e social das regiões onde estes camaradas trabalham e vivem. Os grandes resultados obtidos não representam mais do que uma parte dos que devemos atingir, e, para fazê-lo, devemos saltar ainda muitos obstáculos, que não podemos vencer de outro modo senão lutando e ao preço de esforços, e não com palavras ocas e fanfarronices. A elevação político-ideológica, o trabalho bem organizado e a simplicidade comunista do caráter permitem vencer as dificuldades e obter os êxitos desejados.