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Primeira publicação: Excerto do artigo A demagogia dos revisionistas soviéticos não esconde a sua face traidora, publicado no jornal Zëri i Popullit, número 7 (6359), de 10 de janeiro de 1969.
Fonte: Revizionistët kundër revizionizmit!?, Obras, volume XL, 1983, edição albanesa, págs. 35-45, Editora “8 Nëntori”, e edição inglesa do artigo, 1969, págs. 28-39, Editora “Naim Frashëri”.
Tradução e HTML: L. C. Friederich.
O revisionismo, corrente ideológica burguesa, antimarxista e contrarrevolucionária, está tão desmoralizado que até os próprios cabeças do revisionismo, especialmente os da União Soviética, estão usando o termo “revisionista” para criticar os seus aliados mais descontrolados e liberais. De tempos em tempos, dizem que, hoje, o revisionismo é o maior dos perigos e que a luta contra ele é a tarefa principal. Isso é necessário para justificar a sua invasão à Tchecoslováquia e para uso doméstico próprio. A tática dos revisionistas soviéticos é a do ladrão gritando “pega ladrão!”. Acusam os outros de tudo aquilo que fizeram e seguem fazendo.
O revisionismo moderno nasceu após a Segunda Guerra Mundial. Seus primeiros representantes foram Browder nos Estados Unidos e Tito na Europa. Mas, graças à luta dos partidos marxista-leninistas, encabeçados pelo Partido Bolchevique dirigido por Stálin, nem o browderismo nem o titismo puderam ir muito longe; foram isolados e completamente desmascarados. O revisionismo moderno só se transformou numa corrente internacional após o 20.º Congresso do PCUS e graças a esse infame congresso. Após esse congresso, o revisionismo khrushchovista se desenvolveu e foi elevado a todo um sistema de visões políticas, ideológicas e econômicas burguesas. Embora, hoje, se façam passar por “antirrevisionistas”, os revisionistas soviéticos seguem com a linha totalmente revisionista dos seus vigésimo e vigésimo segundo congressos. Isso mostra que toda essa sua agitação atual contra o “revisionismo” não passa de um grande blefe.
Os dirigentes soviéticos acusam os revisionistas tchecoslovacos de “sob a bandeira da luta contra o dogmatismo, terem abandonado a lealdade aos princípios e defenderem a liquidação das convicções revolucionárias, das bases da ideologia socialista”, etc. Mas não são os próprios revisionistas soviéticos os que até ontem declaravam que o “dogmatismo” (referindo-se ao marxismo-leninismo) era o maior dos perigos? Não foram eles que, sob a bandeira da luta contra o dogmatismo, traíram o marxismo-leninismo, disseminaram amplamente o revisionismo e atacaram furiosamente a linha revolucionária de Stálin, o Partido do Trabalho da Albânia e os demais partidos marxista-leninistas? Não são os revisionistas soviéticos que, enquanto lançam fogos de artifício contra o “revisionismo”, prosseguem furiosamente com sua luta contra os partidos que realmente estão em posições marxista-leninistas, estes que têm travado uma luta consistente, de princípios e inflexível contra o revisionismo? Esta é outra prova que desmascara a demagogia “antirrevisionista” da direção soviética.
Quando eram os revisionistas tchecoslovacos que usavam por toda parte os lemas falsos de “liberdade”, “democracia”, “liberalização” e “humanismo” para alcançarem os seus objetivos contrarrevolucionários, esses lemas eram, segundo a direção soviética, uma máscara “para encobrir a atividade contrarrevolucionária”. Mas quando são usados pela direção soviética, que é tão contrarrevolucionária quanto a tchecoslovaca, esses lemas são supostamente revolucionários! Na boca dos revisionistas, quer khrushchovistas, titistas, novotnistas ou dubčekistas, “liberdade e democracia” quer dizer liberdade e democracia para os revisionistas, para os traidores e contrarrevolucionários; “liberalização” quer dizer liquidação da ditadura do proletariado; “humanismo” quer dizer substituir a luta de classes por paz e amor cristãos aos inimigos de classe.
Quando os revisionistas tchecoslovacos falam de “erros graves do passado” e “distorções da democracia e violações da legalidade” e usam isso para sujar e minar as vitórias do socialismo, os dirigentes soviéticos chamam isso de “táticas diabólicas” dos inimigos do socialismo. Mas por acaso a camarilha khrushchovista não usou essas exatas “táticas diabólicas” na União Soviética? Os ataques e calúnias dos khrushchovistas contra o passado heróico da União Soviética superam até mesmo os dos mais ferozes inimigos imperialistas da União Soviética. Ninguém descreditou mais a União Soviética do que a camarilha khrushchovista. O relatório “secreto” do 20.º Congresso é um documento conhecido por todos, e os sucessores de Khrushchov jamais o questionaram por um segundo sequer. Sua manobra de publicar um ou outro texto ou produzir um ou outro filme mostrando o grande papel histórico de J. V. Stálin durante a Grande Guerra Patriótica não é capaz de esconder sua enorme traição às ideias e à atuação de Stálin; é um testemunho do fato de que Stálin está sempre vivo nas mentes e corações dos soviéticos, tem o objetivo de turvar a visão e acabar com a resistência do povo soviético à camarilha khrushchovista, que enterrou o glorioso período histórico da direção de Stálin.
Igualmente demagógicas na boca dos renegados revisionistas soviéticos são as suas palavras sobre a necessidade da luta contra a ideologia burguesa e os esforços desta pela “erosão da ideologia socialista”, “contra a pluralidade” de ideologias socialistas e do socialismo como ordem social. Hoje eles acusam os revisionistas tchecoslovacos de terem aberto os portões para a ideologia ocidental, de se esforçarem para liquidar as bases da ideologia socialista, de defenderem um novo modelo de socialismo que não se baseia no marxismo-leninismo, etc. Erguendo-se contra esses “pecados” dos revisionistas tchecoslovacos, o jornal soviético Pravda “descobriu a América pela segunda vez” ao dizer que “não existe e nem pode existir socialismo sem o papel dirigente do Partido Comunista, armado com a ideias do marxismo-leninismo”, que “não pode existir outra forma de socialismo desde o surgimento e desenvolvimento do socialismo científico, não pode existir nestes tempos outra ideologia socialista que não se baseie no marxismo-leninismo”.(1)
Como podem os revisionistas soviéticos falar de luta contra a ideologia burguesa se o próprio revisionismo não passa de uma manifestação da ideologia burguesa na teoria e na prática; se florescem na União Soviética o egoísmo e o individualismo, a busca pelo dinheiro e por outros benefícios materiais; se o carreirismo, o burocratismo, o tecnocratismo, o economismo e o intelectualismo se desenvolvem; se o ideal supremo do homem se tornou ter dachas, carros e mulheres bonitas; se a literatura e as artes atacam o socialismo e tudo o que é revolucionário e defendem o pacifismo e humanismo burgueses e a vida vazia e desregrada das pessoas que só pensam em si mesmas; se as centenas de milhares de turistas ocidentais que visitam a União Soviética todo ano disseminam a ideologia e o modo de vida burguês; se os filmes ocidentais tomam as telas dos cinemas soviéticos, se as orquestras e bandas de jazz americanas e de outros países capitalistas se tornaram as orquestras favoritas da juventude; se os desfiles de moda ocidental estão em voga na União Soviética? Se até ontem as variadas manifestações de ideologia burguesa eram resquícios do passado, hoje a ideologia burguesa se tornou uma parte constituinte da superestrutura capitalista assentada sobre a base capitalista-estatal que se estabeleceu na União Soviética.
Em relação às críticas à “pluralidade de ideologias socialistas e da ordem socialista”, são os próprios dirigentes soviéticos que, na teoria e na prática, apagam toda e qualquer distinção entre a ideologia socialista e a ideologia burguesa, entre a ordem socialista e a ordem capitalista. São precisamente os revisionistas soviéticos que têm declarado que muitos países recém libertos do domínio colonial do imperialismo e nos quais reina a burguesia, os latifundiários e sua ideologia reacionária embarcaram no caminho do socialismo ou estão construindo o socialismo. Isso por acaso não demonstra que os próprios dirigentes soviéticos defendem a possibilidade da transição ao socialismo sem a direção da classe operária, do seu partido revolucionário e da ideologia do marxismo-leninismo, isto é, em outras palavras, a possibilidade da transição ao socialismo sob a direção de classes e partidos não proletários, e que existem, portanto, vários tipos de socialismo e vários tipos de ideologia socialista?
Mais, tomemos o caso da Iugoslávia. Ao “criticar” os titistas iugoslavos, que apoiaram a camarilha de Dubček e se opuseram à invasão soviética à Tchecoslováquia, os revisionistas soviéticos pensaram em acusar o programa da Liga dos Comunistas da Iugoslávia de ser a plena encarnação da ideologia do revisionismo. Mas como isso se encaixa com as outras declarações dos dirigentes soviéticos que, tendo beijado e abraçado a camarilha titista, declararam que a Iugoslávia é um país “socialista” e seguem até hoje chamando-a disto? Que socialismo é esse que supostamente se constrói na Iugoslávia com base na ideologia revisionista, que não passa de uma variante da ideologia burguesa? Não é a própria direção soviética que admite com isto que o socialismo também pode supostamente ser construído na base do revisionismo, isto é, do antimarxismo e da ideologia burguesa?
Demonstrando insatisfação com a atitude da camarilha titista em relação aos acontecimentos na Tchecoslováquia, a propaganda soviética acusa os titistas de serem “inspiradores e apoiadores dos contrarrevolucionários tchecoslovacos”. Mas e a direção soviética em si — que, de maneira completamente arbitrária, reabilitou a camarilha titista como “vítima inocente”, introduziu-a no movimento comunista, declarou-a uma “combatente pelo socialismo” e mantém laços estreitos com ela —, não é ela própria uma inspiradora e apoiadora dos inspiradores e apoiadores dos contrarrevolucionários? Desta maneira, ela é tão contrarrevolucionária quanto a camarilha titista. Também após os acontecimentos na Hungria em 1956, a camarilha khrushchovista da União Soviética promoveu uma campanha de críticas aos revisionistas iugoslavos, mas somente pelas aparências, pois havia colaborado com eles por baixo dos panos para trazer o contrarrevolucionário Kadar ao poder; assim que baixaram as tensões, a sua lua de mel recomeçou. Isto certamente vai acontecer de novo desta vez. Aliás, o tom da propaganda anti-iugoslava na União Soviética já baixou muito. A camarilha de Brejnev-Kosygin não engana ninguém com sua falsa crítica à camarilha de Tito. São duas camarilhas revisionistas que, apesar das contradições que possuem sobre as questões das vias de desenvolvimento do revisionismo e das relações entre os países e partidos revisionistas, pertencem a uma só corrente contrarrevolucionária — o revisionismo moderno.
Os revisionistas soviéticos supostamente descobriram na Tchecoslováquia uma “nova” forma “desconhecida” de contrarrevolução: a contrarrevolução pacífica, silenciosa. O erro dos que denunciaram a intervenção soviética na Tchecoslováquia como invasão, dizem os soviéticos, é o suposto “profundo desconhecimento da essência deste novo fenômeno histórico”, já que as pessoas estavam acostumadas até agora a “imaginar a contrarrevolução somente na sua forma armada, pela violência”.
Sintetizando a experiência da tragédia revisionista que ocorreu na União Soviética e em outros países socialistas em que as camarilhas revisionistas estão poder, os marxista-leninistas tiraram há muito a conclusão de que o perigo aos destinos do socialismo não vem somente da invasão imperialista externa, nem somente da contrarrevolução armada das classes exploradoras e seus sobreviventes, mas também da degeneração pacífica burguesa-revisionista, que é resultado da influência interna da ideologia burguesa e das pressões externas do imperialismo.
O primeiro exemplo de contrarrevolução pacífica foi dado pelos titistas, depois esse caminho foi trilhado pela camarilha khrushchovista da União Soviética e sucessivamente pelas camarilhas de outros países ex-socialistas da Europa. A tentativa dos revisionistas soviéticos de apresentar a contrarrevolução pacífica como um “novo fenômeno histórico” que ocorreu somente nos acontecimentos da Tchecoslováquia é, na verdade, uma tentativa de, por um lado, justificar a sua invasão contra o povo tchecoslovaco e, por outro lado, esconder a contrarrevolução pacífica que eles mesmos realizaram na União Soviética.
Embora os ideólogos dos revisionistas soviéticos falem muito sobre a contrarrevolução pacífica, são sempre muito vagos sobre esse fenômeno, apresentando-o de maneira muito simples, como algo diretamente instigado e organizado pelos resquícios de classes exploradoras e pelas agências do imperialismo. Na verdade, a contrarrevolução pacífica é uma contrarrevolução realizada de cima, pelos quadros degenerados e burocratizados da própria classe e partido que estão no poder. Esse processo de degeneração tem suas próprias causas internas e externas profundamente socioeconômicas, da mesma maneira que também tem suas próprias fontes históricas e ideológicas. Os revisionistas soviéticos não fazem e nem podem fazer qualquer análise dessas causas e fontes, porque para isso teriam que fazer uma autópsia de si mesmos. A autópsia do nascimento do revisionismo foi feita e será feita cada vez mais completa somente pelos marxista-leninistas, pelos revolucionários bolcheviques, que irão jogar fora a carniça revisionista e limpar toda a atmosfera do seu mau cheiro.
Com suas próprias palavras, os revisionistas khrushchovistas expõem a si mesmos, porque, se admitem o perigo de contrarrevolução pacífica até mesmo após a liquidação das classes exploradoras, como podem proclamar que “a vitória do socialismo está completa e é final”, como podem dizer, como disseram no programa do PCUS aprovado pelo 22.º Congresso, que “nos países de democracia popular, as possibilidades socioeconômicas de restauração do capitalismo foram extintas”? Ou um, ou outro: ou a tese da contrarrevolução pacífica é um blefe, ou a outra tese de que todos os perigos aos destinos do socialismo foram extintos é uma mentira, uma tentativa de legalizar a traição revisionista, baixar a guarda e a ação revolucionária dos comunistas e dos trabalhadores.
Em contraste com o que defendiam anteriormente — que, com a liquidação das classes exploradoras, a luta de classes supostamente chega ao fim e seu lugar é ocupado pela unidade política e socioeconômica da sociedade —, atualmente os revisionistas soviéticos não são contra admitir a luta de classes até mesmo após a liquidação das classes exploradas propriamente dita e contra a “unidade nacional abstrata”. É demagogia sem fim. Falam de luta de classes, mas somente em outros países, enquanto não dão um pio sobre a luta de classes na União Soviética, como se ali reinassem a harmonia e a paz perpétua. Mas, e a luta que os próprios revisionistas khrushchovistas promoveram na União Soviética após a morte de J. V. Stálin? Não é uma expressão aberta da luta dos inimigos de classes que abriram alas para a restauração do capitalismo na União Soviética, para a sua transformação de um Estado proletário socialista em um novo Estado burguês e imperialista? Esta luta de classes, porém das posições da nova burguesia e dos seus interesses, é promovida furiosamente pela direção revisionista soviética contra as forças revolucionárias sãs tanto do seu próprio país quanto da arena internacional, recorrendo a todos os meios da ditadura militar fascista.
A vida, os fatos e a própria experiência da traição revisionista mostram que a luta de classes continua não somente após a liquidação das classes exploradoras em si, não somente após a vitória do socialismo, mas, também, por algum tempo, até mesmo após a vitória do comunismo numa escala internacional, enquanto existirem influências da ideologia burguesa. Portanto, a vitória total do socialismo e do comunismo só pode ser alcançada e garantida quando, entre outros, tiver sido alcançada a vitória completa da ideologia socialista sobre a ideologia burguesa em cada um dos países e em escala global. Enquanto continuar esta luta de classes, a existência da ditadura do proletariado é imprescindível, como principal arma da luta de classes do proletariado pela destruição de todos os inimigos de classe e pela construção do socialismo e do comunismo.
Toda a demagogia da suposta luta contra o revisionismo e do suposto retorno às posições leninistas-stalinistas é necessária à direção revisionista soviética para esconder a sua completa transformação em uma camarilha social-fascista.
Mas os dirigentes soviéticos, dada a sua própria posição como camarilha revisionista, não podem ir muito longe na dita “luta contra o revisionismo”, porque isso carrega consequências extremamente perigosas, inesperadas e indesejadas para eles. Por isso, continuam furiosamente, ao mesmo tempo, com a sua luta contra o marxismo-leninismo revolucionário e os partidos que permanecem fiéis a ele. Isso demonstra claramente a falsidade da sua agitação demagógica sobre a “luta contra o revisionismo”.
Precisamente para esconder o seu blefe, a direção soviética se esforça para criar a ilusão de que supostamente está na posição leninista da luta de duas frentes, que supostamente luta contra os direitistas, os revisionistas, e contra os “esquerdistas”, “dogmáticos”, “aventureiros”, entre outros. Essa perigosa manobra deve ser denunciada por completo, e as características verdadeiramente social-fascistas da camarilha dominante soviética devem ser postas à nu.
Referência:
(1) Pravda, 19 e 22 de setembro de 1968. (retornar ao texto)