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Discurso pronunciado em nome do CC do PTA na Conferência dos 81 Partidos Comunistas e Operários realizada em Moscovo
Primeira edição: Dokumente kryesore të PPSH, volume III, 1970, pág. 441.
Tradução: A Luta do Partido do Trabalho da Albânia contra o Revisionismo Kruchoviano, Edições «Bandeira Vermelha», Lisboa, 1976, págs. 231-300.
Suplementos: A edição portuguesa de 1976, base desta transcrição, omite trechos do discurso. Estes trechos, destacados em itálico, foram suplementados a partir da edição inglesa pelo transcritor.
Transcrição e HTML: L. C. Friederich.
Fonte: <www.enverhoxha.ru>
Queridos camaradas.
Esta Conferência dos partidos comunistas e operários reveste-se de grande importância histórica para o movimento comunista internacional, pois está a fazer uma análise detalhada da situação política internacional e um balanço dos êxitos e erros que tenham sido observados no nosso caminho, ajudando-nos a definir mais claramente a linha que deveremos seguir de agora em diante para alcançar novos êxitos no sentido do socialismo, do comunismo e da paz.
A existência do campo socialista, com a União Soviética à frente, é hoje uma realidade mundial. O movimento comunista em geral ampliou-se, fortaleceu-se e desenvolveu-se. Os partidos comunistas e operários de todo o mundo transformaram-se numa força colossal, que conduz a humanidade avante, na direcção do socialismo e da paz.
Como também acentua o projecto de declaração da Conferência, o nosso campo socialista é muito mais forte do que o campo imperialista. Enquanto o socialismo cresce e se fortalece de dia para dia, o imperialismo enfraquece e decompõe-se. Nós devemos acelerar esse processo por todos os meios e com todas as forças. E só o conseguiremos se nos mantivermos inabalavelmente fiéis ao marxismo-leninismo e o aplicarmos correctamente. Caso contrário, acabaremos por refrear tal processo, pois temos pela frente ferozes inimigos que é preciso derrotar e destruir: o imperialismo mundial, tendo à sua frente o imperialismo norte-americano.
Nós queremos a paz. Mas o imperialismo não a deseja, estando em preparativos para uma terceira guerra mundial. Assim, devemos lutar com todas as nossas forças para evitar uma nova guerra e fazer triunfar uma paz justa e democrática no mundo. E isto só será alcançado quando obrigarmos o imperialismo a desarmar-se. Mas o imperialismo não ensarilha as armas por sua própria vontade; quem acreditar nessa possibilidade está a iludir-se a si próprio e a enganar os outros. Desta maneira, devemos pôr o imperialismo perante a colossal força económica, militar, moral, política e ideológica do campo socialista, juntamente com a força unida dos povos de todo o mundo, a fim de impedir por todas as formas a guerra que ele está a preparar.
O Partido do Trabalho da Albânia nunca escondeu nem esconderá ao seu próprio povo tanto esta situação como a ameaça lançada pelos imperialistas à humanidade amante da paz. E podemos assegurar-lhes que o povo albanês, que odeia a guerra, não se atemorizou com esta justa atitude do seu partido: ele não se tornou pessimista, nem deixou de avançar na construção do socialismo. Tendo uma clara visão das perspectivas do futuro, o nosso povo trabalha com plena confiança e mantém-se sempre vigilante, com a picareta numa mão e a espingarda na outra.
Somos de opinião que o imperialismo mundial, tendo à frente o imperialismo norte-americano, deve ser desmascarado sem piedade, tanto política quanto ideologicamente. Não devemos permitir jamais que se lhe façam bajulações, rodeios e elogios. E tão-pouco devemos fazer qualquer concessão de princípios ao imperialismo. As tácticas e compromissos, para serem admissíveis, devem contribuir para a nossa causa e não para a causa do inimigo.
A nossa unidade total constitui a garantia para o triunfo da nossa causa sobre esse feroz inimigo. Mas só asseguraremos a unidade eliminando as profundas divergências ideológicas surgidas entre nós e alicerçando-a no marxismo-leninismo, na igualdade, na fraternidade, no espírito de camaradagem e no internacionalismo proletário. O nosso Partido considera que não deve haver nenhum atrito ideológico no nosso seio e que, além do mais, também devemos manter uma posição política única sobre todas as questões. A nossa táctica e estratégia em relação aos inimigos devem ser elaboradas por todos os nossos partidos, com base nos princípios marxistas-leninistas e em justos critérios políticos, devendo-se adequar ás situações concretas e reais.
Nosso campo socialista, liderado pela gloriosa União Soviética, tornou-se uma força colossal em todos os pontos de vista, quer seja econômico, cultural ou militar. No centro desses sucessos, no centro da força do nosso campo está a força moral, política, econômica, cultural e militar da União Soviética. Os sucessos na indústria, agricultura, educação e cultura, na ciência e na área militar da União Soviética são extremamente grandes. Ao mesmo tempo, são de imensurável assistência para o alcance de maiores sucessos em outros países do campo socialista.
Ressalta-se corretamente no projeto desta declaração que a enorme e incansável força do campo socialista, liderado pela União Soviética, é o fator decisivo no triunfo da paz mundial e a força moral, política e ideológica que inspira os povos do mundo todo que lutam para libertar-se do jugo dos parasitas colonialistas e das garras do imperialismo e do capitalismo, e são a sua força de exemplo e ajuda econômica que inspiram e ajudam outros povos a vencer a batalha pela libertação total dos capitalistas exploradores.
E é por essa rezão que a União Soviética e o campo socialista se tornaram o centro e a esperança dos povos do mundo todo, bem como seu apoio moral político e econômico, seus firmes e leais defensores contra as ameaças dos belicistas agressores americanos, britânicos, franceses e seus aliados. (1)
Todos os povos do mundo lutam pelas suas aspirações de liberdade, independência, soberania, justiça social, cultura e paz. Estes sagrados anseios sempre foram e continuam a ser sufocados pelo capitalismo, o feudalismo e o imperialismo. Nestas condições, é perfeitamente natural que a luta desses povos se dirija com todo o rigor contra os capitalistas, os senhores feudais e os imperialistas. E também é perfeitamente natural que os povos do mundo procurem aliados nesta verdadeira luta pela existência que eles travam contra os seus carrascos. Apenas a União Soviética e o campo socialista são seus grandes, poderosos e leais aliados.(2) Assim, o campo socialista não se encontra só diante do campo imperialista na luta pela paz, o desarmamento e o progresso social em todo o mundo, pois está estreitamente aliado a todos os povos progressistas do mundo. São os imperialistas que se encontram isolados diante do campo socialista.
Estamos numa época em que se observa a total derrocada do colonialismo, com o desaparecimento dessa peste que dizimava os povos sobre a face da Terra. Nascem novos Estados na África e na Ásia. Países antes dominados pelo capital, o chicote e a espingarda estão sacudindo o jugo da escravidão e os povos tomam os seus destinos nas próprias mãos. E isto deve-se à própria luta dos povos e à ajuda moral a eles prestada pela União Soviética, a China Popular e os demais países do campo socialista.
Os traidores do marxismo-leninismo, agentes do imperialismo e intriguistas do tipo de Josip Broz Tito lançam mão de todos os meios e tramam planos diabólicos para desorientar os povos e os novos Estados, afastá-los dos seus aliados naturais e vinculá-los directamente ao imperialismo norte-americano. Nestas condições, devemos lutar com todas as nossas forças para liquidar os planos desses servidores do imperialismo.
Actualmente, estamos a testemunhar a desagregação, a decomposição e a agonia do imperialismo. Vivemos e lutamos numa época que se caracteriza pela irrefreável transição do capitalismo ao socialismo. Estão a comprovar-se todos os geniais ensinamentos de Karl Marx e Vladimir Ilitch Lenine, ensinamentos que não estão ultrapassados, como pretendem os revisionistas.
O imperialismo mundial tem sido duramente flagelado, facto claramente revelador de que já não se encontra na sua «idade de ouro», época em que ditava a lei quando e como bem entendia. A iniciativa escapou-lhe das mãos, e contra a sua vontade. Mas a iniciativa não lhe foi tomada simplesmente com palavras ou discursos, mas sim através de um longo processo de sangrentas lutas e revoluções, provocadas pelo próprio capitalismo contra o proletariado e os povos, que se levantavam para destruir o mundo da fome, da miséria e da escravidão. E esta gloriosa página foi aberta pela grande Revolução Socialista de Outubro, pela grande União Soviética, pelo grande Lenine.
Mas, mesmo agora, ao ver que a sua morte se aproxima e defrontando-se com poderosos e decididos adversários como o campo socialista e a sua grande aliança com todos os povos do mundo, o imperialismo mundial, chefiado pelo imperialismo norte-americano, não deixa de concentrar, organizar e armar as suas forças de choque, preparando-se para a guerra. Quem não vê isto é cego. E quem vê, mas o dissimula, é traidor ao serviço do imperialismo.
O Partido do Trabalho da Albânia considera que não há razão para se ser pessimista, apesar das grandes dificuldades que se nos antepõem na luta pela instauração da paz mundial, pelo desarmamento e pela solução dos demais problemas internacionais. São precisamente os nossos inimigos que, sofrendo derrotas e mais derrotas, devem ser pessimistas. Nós sempre vencemos, estamos a vencer e continuaremos a vencer; é por isto que sempre fomos e continuamos a ser optimistas, convencidos que estamos de que os nossos esforços se coroarão de êxitos.
Pensamos, porém, que o optimismo exagerado e carente de uma visão realista, longe de ser benéfico, é prejudicial. Aquele que nega, minimiza ou não acredita na nossa grande força económica, política, militar e moral é um derrotista, não merecendo a designação de comunista. Mas tão-pouco é realista aquele que, inebriado pela nossa força, considera o adversário insignificante como uma mosca e imagina que o inimigo perdeu qualquer esperança, tomou-se inofensivo e encontra-se inteiramente à nossa mercê. Quem assim pensa não faz mais do que iludir e entorpecer as pessoas e os povos diante das situações complexas e prenhes de perigo que estamos a viver, as quais exigem de todos uma vigilância muito grande e impõem a elevação do ímpeto revolucionário das massas e não o seu decréscimo, a desagregação, a decomposição e o acomodamento. Como diz correctamente o nosso povo sofredor, «até a água dorme; só o inimigo é que não».
Vejamos os factos bem de frente. O imperialismo mundial, encabeçado pelo seu destacamento mais agressivo, o imperialismo norte-americano, está a orientar a sua economia no sentido da preparação da guerra e arma-se até aos dentes. O imperialismo norte-americano está a equipar a Alemanha de Bonn, o Japão e todos os seus aliados e satélites com toda a espécie de armamentos. Organizou e está a aperfeiçoar pactos militares agressivos, criou e continua a criar bases militares em volta de todo o campo socialista, aumenta os seus stocks de armas nucleares, recusa desarmar-se, nega-se a cessar as experiências nucleares e trabalha febrilmente na invenção de novas armas de extermínio em massa. E por que razão fará o imperialismo norte-americano tudo isto? Para ir a alguma festa? Não, mas para lançar-se em guerra contra nós, para liquidar o socialismo e o comunismo, para escravizar os povos!
O Partido do Trabalho da Albânia considera que pensar e falar de maneira diferente significa enganar-se a si próprio e aos outros. Não mereceríamos o nome de comunistas se tremessemos diante das dificuldades da vida. Nós, comunistas, odiamos a guerra e lutaremos até ao fim para aniquilar os planos diabólicos e belicistas que estão a ser tramados pelo imperialismo norte-americano. Mas, se ele nos declarar guerra, então devemos assestar-lhe um golpe definitivo, de modo que o imperialismo desapareça para sempre da face da terra.
Diante das ameaças de guerra atómica do imperialismo mundial, tendo à frente o imperialismo ianque, devemos estar inteiramente preparados tanto do ponto de vista económico, político e moral como do ponto de vista militar para enfrentar qualquer eventualidade. Devemos lutar para evitar a guerra mundial, pois ela não é fatalmente inelutável. Mas ninguém nos perdoará jamais se vivermos de sonhos e nos deixarmos surpreender pelo inimigo. E isto porque jamais existiu um ini migo que pudesse ser chamado de loyal(3), caso contrário não seria inimigo. O inimigo é sempre inimigo e, além do mais, pérfido. Quem nele deposita confiança, mais cedo ou mais tarde acaba por perder.
Devemos fazer tudo e agir com todos os nossos meios para evitar a guerra. A política da União Soviética e do nosso campo socialista tem sido e segue sendo uma política de paz. Todas as propostas soviéticas e dos governos dos nossos países de democracia popular feitas na arena internacional têm como objetivo a redução de tensões entre nações e a solução de problemas candentes através de negociações, e não de guerra.(4)
A política pacífica dos países do campo socialista influiu grandemente no desmascaramento dos objectivos agressivos do imperialismo, na mobilização dos povos contra os fomentadores de guerra e no desenvolvimento da sua gloriosa luta contra os opressores imperialistas e seus lacaios. Os exemplos da heroica Cuba, da luta do povo japonês e dos atuais eventos na Coreia do Sul e na Turquia são a maior prova disso.(5) Mas, apesar disso, continuam sem solução muitos problemas concretos colocados na ordem do dia, como as propostas sobre o desarmamento, a Conferência Cimeira de Paris e outros, cujo encaminhamento tem sido sistematicamente sabotado pelos imperialistas norte-americanos.
Que conclusões devemos extrair disto? O Partido do Trabalho da Albânia considera que o imperialismo — especialmente o imperialismo norte-americano — não mudou de pele nem de natureza. Ele é agressivo e assim continuará enquanto lhe restoar um só dhente na boca, e é bem capaz de precipitar o mundo numa guerra. Por isso, como já ressaltámos na Comissão de Redacção, continuamos a insistir na necessidade de explicar claramente aos povos que só poderemos ter uma garantia absoluta de que não haverá mais guerras mundiais quando o socialismo tiver triunfado em todo o mundo ou na maior parte dos países do mundo. Os norte-americanos dizem abertamente que não aceitam o desarmamento; pelo contrário, intensificam o seu armamento e preparam a guerra. Portanto, devemos manter-nos vigilantes.
Não devemos fazer nenhuma concessão de princípios ao inimigo. E tão-pouco podemos alimentar qualquer ilusão em relação ao imperialismo, pois, pensando arriscar apenas um dedo, poderemos perder a mão. O inimigo não só se arma e prepara a guerra contra nós, como também está a promover uma desenfreada propaganda para envenenar as consciências e confundir os espíritos. Além disso, ele gasta milhões e milhões de dólares na compra de agentes e espiões e na organização de actos de espionagem, subversão e atentados nos nossos países. O imperialismo norte-americano já deu e continua a dar biliões de dólares aos seus fiéis agentes do bando traidor de Tito. E, se faz tudo isto, é precisamente para debilitar a nossa frente interna, para nos dividir, para enfraquecer e desorganizar a nossa retaguarda.
Muito se tem discutido sobre a questão da coexistência pacífica. Alguns chegam mesmo a dizer absurdos como o de que a China Popular e a Albânia seriam contra a coexistência pacífica. Parece-me ser preciso desmentir de uma vez por todas tais afirmações falsas e prejudiciais. Nenhum comunista ou Estado socialista pode estar contra a coexistência pacífica e a favor da guerra. Foi o grande Lenine quem primeiro definiu o princípio da coexistência pacífica entre países de diferentes sistemas sociais como uma necessidade objectiva, enquanto houver países capitalistas e socialistas no mundo. Permanecendo fiel a este grande princípio de Lenine, o nosso Partido do Trabalho sempre considerou que a política de coexistência pacífica corresponde aos interesses fundamentais de todos os povos e conduz ao maior fortalecimento das posições do socialismo. Por isso, o nosso Partido sempre colocou este princípio de Lenine na base da política externa do nosso Estado popular. A coexistência pacífica entre dois sistemas opostos não significa, porém, que se deve perder de vista a luta de classes, como pretendem os revisionistas contemporâneos. Pelo contrário, a luta de classes deve prosseguir, com a crescente intensificação da luta política e ideológica contra o imperialismo e da luta contra as ideologias burguesa e revisionista. Ao mesmo tempo que se luta com coerência pela instauração da coexistência pacífica leninista — sem fazer a mínima concessão de princípios ao imperialismo — é necessário que se desenvolvam ainda mais a luta de classes nos países capitalistas e o movimento de libertação nacional dos povos nos países coloniais e dependentes.
Somos de opinião que os partidos comunistas e operários dos países socialistas devem lutar pelo estabelecimento da coexistência pacífica entre os seus países — que ainda se encontram sob o sistema capitalista — e os nossos países socialistas. Isso fortalece as posições de paz e enfraquece as posições do capitalismo naqueles países e ajuda a luta de classes naqueles países em geral.(6) Mas a sua tarefa não acaba aí. Ê necessário que a luta de classes se desenvolva, cresça e se fortaleça nesses países: é preciso que, dirigidas pelo proletariado de cada país, tendo à frente o partido comunista e em aliança com todo o proletariado mundial, as massas trabalhadoras tomem a vida impossível ao imperialismo, desmantelem as bases da sua economia e da sua máquina de guerra, lhe arranquem das mãos o poder económico e político e marchem em direcção à destruição do velho poder do imperialismo e à instauração do novo poder do povo. Mas de que forma as massas alcançarão esse objectivo: através da violência ou do caminho pacífico e parlamentar?
Esta questão estava clara, era desnecessário que o camarada Kruchov viesse complicá-la inutilmente no XX Congresso, e complicá-la precisamente num sentido que, de facto, muito agradou aos oportunistas. Qual o interesse de fazer tantos rodeios em torno das teses cristalinas de Lenine e da Revolução Socialista de Outubro? O Partido do Trabalho da Albânia sempre teve claros os ensinamentos de Lenine sobre esta questão e deles não se afasta. Até hoje, nenhum povo, nenhum proletariado e nenhum partido comunista ou operário tomou o poder sem derramamento de sangue e sem violência. Portanto, é injusta a atitude de alguns camaradas, que pretendem ter tomado o poder sem efusão de sangue, esquecendo-se de que o glorioso Exército Soviético por eles derramou rios de sangue na Segunda Guerra Mundial.
No que se refere a esta questão, o nosso Partido considera que devemos preparar-nos para as duas situações, principalmente para a tomada do poder através da violência, pois, se estivermos prontos para este caso, a outra possibilidade também terá maiores condições de êxito. A burguesia pode muito bem deixar-te fazer discursos, mas depois lança-te um golpe fascista sobre a cabeça e arrasa-te, porque não preparaste nem quadros de choque, nem trabalho ilegal, nem locais para te resguardar e trabalhar, nem meios para combater. E é para esta eventualidade trágica que devemos estar precavidos.
O Partido do Trabalho da Albânia sempre foi favorável à paz e à coexistência pacífica, tal como nos ensina Lenine, e por elas continuará a lutar com base no marxismo-leninismo e na Declaração de Moscovo. Da mesma forma, o nosso Partido sempre foi favorável ao desarmamento geral, estando disposto a lutar activamente pela sua concretização. Mas, aconteça o que acontecer, o Partido do Trabalho da Albânia jamais abdicará do combate político e ideológico contra as manobras do imperialismo e do capitalismo e contra a ideologia burguesa, nem deixará de travar uma luta dura, incessante e intransigente contra o revisionismo contemporâneo, particularmente contra o revisionismo titista jugoslavo. Pode ser que certos camaradas acusem os albaneses de teimosos, exaltados, irascíveis, sectários, dogmáticos e do que quiserem. Mas nós refutamos todas essas falsas acusações e declaramos que não nos afastaremos das nossas posições, que são marxistas-leninistas.
Dizem que nós queremos a guerra e somos contra a coexistência. O camarada Kozlov chegou inclusivé a pôr-nos — a nós, albaneses — diante da seguinte alternativa: ou a coexistência como ele a concebe ou uma bomba atómica dos imperialistas, que transformaria a Albânia em cinzas e não deixaria vivo nenhum albanês. Até hoje, o povo albanês ainda não teve nenhuma ameaça atómica como esta da parte de qualquer representante do imperialismo norte-americano. Eis, porém, que ela é feita por um membro do Presidium do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética. E a quem faz ele esta ameaça? A um pequeno e heróico povo que lutou durante séculos contra incontáveis e ferozes inimigos, mas nunca se dobrou. A um pequeno povo que lutou com incomparável heroísmo contra os hitlerianos e os fascistas italianos. A um partido que demonstra uma fidelidade consequente e total ao marxismo-leninismo. Mas bateste na porta errada, camarada Frol Kozlov, pois não nos amedrontas de maneira alguma e tão-pouco és capaz de fazer com que nos curvemos à tua errada vontade. Nós, porém, jamais confundimos o glorioso Partido de Lenine convosco, que vos comportais tão mal e tão desavergonhadamente com o povo albanês e o Partido do Trabalho da Albânia. Assim, o Partido do Trabalho da Albânia continuará a apoiar todas as propostas justas e pacíficas da União Soviética e dos outros países do campo socialista, bem como dos demais países amantes da paz, estando decidido a lutar pela sua concretização.
O Partido do Trabalho da Albânia empenhará todas as suas forças, lançará mão de todos os seus direitos e cumprirá todas as suas tarefas em prol do fortalecimento da unidade do campo socialista, mas de uma unidade marxista-leninista. É absurdo pensar que a pequena Albânia socialista queira desligar-se do campo socialista e viver fora dele, à margem da fraternidade dos nossos povos socialistas. Ninguém deu de presente à Albânia a sua condição de membro do campo socialista; essa posição foi conquistada pelo nosso próprio povo e pelo Partido do Trabalho da Albânia com sangue, trabalho, sacrifício e suor, com o sistema de governo por eles instaurado e com o caminho marxista-leninista por eles sempre seguido. Mas que não passe pela cabeça de ninguém que, sendo a Albânia um pequeno país e o Partido do Trabalho da Albânia um pequeno partido, devam obedecer a quem quer que seja, quando estiverem convencidos de que este «quem quer que seja» esteja errado.
Como já ressaltei, o Partido do Trabalho da Albânia considera que o campo socialista, possuindo um objectivo único e guiando-se pelo marxismo-leninismo, também deve contar com uma estratégia e uma táctica próprias, elaboradas conjuntamente pelos nossos Partidos e Estados. Criámos algumas formas de organização do trabalho no seio do nosso campo, mas pode mos dizer com razão que elas se mantiveram até certo ponto formais — melhor dizendo, elas não funcionam de maneira colectiva. Exemplos disso são os órgãos do Tratado de Varsóvia e o Conselho de Ajuda Económica Mútua(7). Compreendamo-nos bem: aqui não se trata da questão de também sermos ou não consultados. Naturalmente, ninguém nos nega esse direito; mas, para sermos consultados, é necessário que nos reunamos. Estamos a levantar a questão no plano dos princípios, para dizer que estas formas de organização devem funcionar regularmente, pois é lá que têm de ser apresentados os problemas, tomadas as decisões e controlada a sua aplicação.
O maior desenvolvimento e fortalecimento da economia dos países socialistas sempre foi uma questão de primeiro plano para os nossos Partidos e Governos, constituindo-se num dos factores determinantes da invencível força do campo socialista. Os nossos países avançam impetuosamente na construção do socialismo e do comunismo. E isto deve-se aos grandes esforços dos nossos povos e à ajuda mútua que nos prestamos. Até este momento, a República Popular da Albânia não concedeu ajuda económica a ninguém; por um lado, porque somos pobres e, por outro, porque ninguém necessita da nossa ajuda económica. Mas, atendo-nos às justas normas, temos feito e continuaremos a fazer todos os esforços para ajudar os países amigos e irmãos, por pouco que seja, através das nossas exportações. Por outro lado, fomos ajudados pelos nossos amigos, em primeiro lugar pela União Soviética. Ajudam-nos com créditos e especialistas, sem os quais teria sido muito difícil para o nosso país e a nossa economia se desenvolverem no ritmo em que se desenvolveram.(8)
O Partido do Trabalho da Albânia e o Governo da República Popular da Albânia souberam aproveitar o melhor possível a ajuda da União Soviética e dos restantes países de democracia popular, em benefício do seu povo. E o nosso povo estará eternamente grato aos povos soviéticos e aos povos dos países de democracia popular por essa ajuda. Sempre a entendemos e sempre a conceberemos como uma ajuda fraternal e internacionalista, e não como uma esmola.
O nosso povo, que conheceu uma miséria extrema, que lutou com heroísmo, que foi massacrado e martirizado, tinha pleno direito de pedir ajuda aos seus amigos e irmãos maiores e economicamente mais fortes. E os seus amigos tinham e têm o dever internacionalista de conceder essa ajuda. Por isso, é necessário refutar qualquer concepção obscura e antimarxista que se possa manifestar por parte de quem quer que seja em relação ao carácter e ao objectivo dessa ajuda. Jamais terá êxito qualquer pressão económica sobre o Partido do Trabalho da Albânia, o Governo albanês e o nosso povo.
A propósito, quero levantar aqui a questão da ajuda dos países mais fortes aos países economicamente mais fracos, como é o caso do nosso país. Consideramos que essa ajuda deve ser maior. O povo albanês não pensa de maneira nenhuma ficar de braços cruzados, esperando, de boca aberta, que outros o venham alimentar. Não é esse o nosso hábito. O nosso povo tão-pouco pretende elevar imediatamente o seu nível de vida ao ponto alcançado por muitos países de democracia popular. O nosso país necessita de uma maior ajuda para o mais rápido desenvolvimento das suas forças produtivas. Pensamos que os países economicamente fortes do campo socialista também devem conceder créditos aos países capitalistas não-alinhados e aos povos recém-libertos do colonialismo, quando os governantes desses países se colocam contra o imperialismo, apoiam a política pacífica do campo socialista e não entravam nem se opõem à legítima luta das forças revolucionárias. Mas, antes do mais, é preciso considerar com maior atenção e atender melhor às necessidades dos países do campo socialista. É certo que a Índia necessita de ferro e aço, mas a Albânia socialista precisa mais do que ela e antes do que ela. Também é certo que o Egipto necessita de irrigação e energia eléctrica, mas a Albânia socialista precisa mais do que ele e antes do que ele.
O nosso campo socialista tem tido pontos de vista únicos no que se refere a inúmeros problemas políticos de primordial importância. Mas, na medida em que não se realizam consultas colectivas regulares, acontece por vezes que países do campo socialista tomam iniciativas políticas que muitas vezes prejudicam outros países do nosso campo. Em princípio, nós não somos contra a tomada de iniciativas, mas o facto é que algumas delas não são correctas, o que acontece sobretudo quando a sua adopção não é feita colectivamente pelos membros do Tratado de Varsóvia.
Um exemplo disso foi a iniciativa do Governo búlgaro que, sem a mínima consulta à Albânia, comunicou ao Governo grego que os países de democracia popular dos Balcãs aceitariam desarmar-se se a Grécia fizesse o mesmo. Quanto a nós, tratou-se de uma iniciativa errada, pois, mesmo que a Grécia aceitasse tal proposta, o Governo albanês não aceitaria. A Albânia concorda com a proposta soviética feita por Nikita Kruchov em Maio de 1959(9), mas não com a proposta búlgara, que prevê o desarmamento dos países balcânicos excluindo a Itália. Ou será que os camaradas búlgaros se esqueceram de que a Itália burguesa e fascista já atacou várias vezes a Albânia durante este século? Ou ainda — como sucedeu noutra ocasião — pode-se permitir que os camaradas búlgaros, sem a mínima consulta ao Governo albanês, ao qual estão ligados por um tratado de defesa mútua, proponham ao Governo grego um tratado de amizade e não-agressão, sabendo que a Grécia se considera em estado de guerra com a Albânia e alimenta pretensões ter ritoriais em relação à nossa pátria? Parece-nos perigoso tomar iniciativas deste tipo de maneira unilateral. Esta nossa justa e legítima posição pode ter levado os camaradas búlgaros a concluir que os albaneses não compreenderiam bem a coexistência, estariam interessados na guerra, e assim por diante. Mas tais conclusões são falsas.
Iniciativas deste género também foram tomadas pelos camaradas polacos nas Nações Unidas: o camarada Gomulka declarou unilateralmente perante a Assembleia Geral das Nações Unidas que a Polónia propunha «a manutenção do actual status quo da distribuição das forças militares no mundo e, concretamente, que não sejam criadas novas bases militares, mantendo-se as já existentes; que não sejam instaladas novas rampas de lançamento de mísseis, mantendo-se as já existentes; e que os países que possuam a bomba atómica guardem o seu segredo, não o transmitindo a outros países». Nós consideramos que tal proposta é contrária aos interesses do nosso campo. Quem é que não deve instalar novas rampas de lançamento de mísseis e onde é que não deve instalá-las? Todos os membros da NATO estão equipados com mísseis, inclusivé a Itália, a Alemanha Ocidental e a Grécia. E a quem é que não se deve transmitir o segredo da bomba atómica? Ele já é conhecido pela Inglaterra, pela França e até mesmo pela Alemanha Ocidental. Está claro que esta proposta teria como único resultado obrigar os países de democracia popular a não instalarem novas rampas de lançamento de mísseis ou, então, fazer com que nenhum outro país do campo socialista possuísse a bomba atómica, além da União Soviética.
Nestas condições, perguntamos: por que motivo a China comunista não deveria possuir a bomba atómica? Pensamos que a China deve possuí-la. E quando ela contar com a bomba atómica e com mísseis, então veremos com que linguagem falará o imperialismo norte-americano, então veremos se os direitos da China na arena internacional continuarão a ser negados, então veremos se os imperialistas norte-americanos ousarão brandir as suas armas como hoje o fazem. Alguém poderia perguntar: será que é possuindo e lançando a bomba atómica que a China forçará os Estados Unidos a reconhecerem os seus direitos? Não, a China jamais recorrerá à bomba atómica se não formos atacados por aqueles que têm a agressão e a guerra no sangue. Se a União Soviética não possuísse a bomba, o imperialismo usaria uma outra linguagem para com ela. Jamais seremos os primeiros a utilizar a bomba atómica, pois somos contra a guerra e estamos prontos a destruir as armas nucleares. Mas a bomba é necessária à nossa defesa. Como diz o nosso povo, «o medo guarda a vinha». E os imperialistas devem ter medo de nós, muito medo mesmo.
Com base no marxismo-leninismo, na Declaração de Moscovo de 1957 e no Manifesto da Paz de Moscovo, o Partido do Trabalho da Albânia tem seguido uma justa linha marxista-leninista no que se refere à política internacional e às questões fundamentais da construção do socialismo. No que respeita às relações internacionais, a linha do nosso Partido tem estado de acordo com a política do campo socialista e tem seguido a direção da política pacífica da União Soviética.
O Partido do Trabalho da Albânia considerou, considera e considerará a União Soviética como um salvador do nosso povo e sua grande experiência como universal, muito necessária e indispensável para todos. O Partido do Trabalho da Albânia tem seguido, implementado e adotado essa grande experiência sem ressalvas em todos os campos e tem tido sucesso. Temos tido sucesso na construção da base e no fortalecimento da nossa indústria, na coletivização da agricultura, no desenvolvimento da educação e cultura, as quais têm feito grandes progressos, e na construção do nosso Estado e nosso Partido. Nosso Partido adquiriu maturidade e uma rica experiência em trabalho nessa direção.
Nosso Partido tem educado, educa e continuará educando nosso povo com um grande amor e lealdade para com os povos e o Partido Comunista da União Soviética. Este amor tem sido temperado e se temperará com o passar de cada dia, porque foi forjado com sangue, porque se desenvolveu na base do marxismo-leninismo e do internacionalismo proletário. Temos amado e ainda amamos o povo soviético do fundo dos nossos corações, e o povo soviético, por sua vez, tem amado e ama o povo e o Partido do Trabalho da Albânia da mesma maneira. Esta é a amizade entre os povos e a amizade entre partidos marxistas-leninistas e, sendo assim, florescerá por séculos e jamais morrerá. Esta é a convicção inabalável dos comunistas albaneses, uma convicção que têm semeado e continuarão e semear entre o nosso povo. Temos dito e repetimos agora que, sem essa amizade, não poderia haver liberdade para o nosso povo. Este é o fruto do leninismo. (10)
Os grandes problemas da nossa época também preocupam o Partido do Trabalho da Albânia e o nosso pequeno povo. A nossa República Popular sempre esteve e continua geograficamente cercada por países capitalistas e pelos revisionistas jugoslavos. Nestas condições, tivemos de nos manter muito vigilantes e empenhar consideráveis recursos humanos e financeiros na protecção das nossas fronteiras e na defesa da liberdade e da independência da pátria, contra as incontáveis ameaças dos imperialistas, seus satélites e servidores. Somos um pequeno país e um pequeno povo; temos sofrido grandemente, mas também temos lutado muito. A liberdade de que hoje desfrutamos não nos foi dada de presente por quem quer que seja, mas conquistada com o nosso próprio sangue. Já aprendemos a conhecer e conhecemos melhor, a cada dia que passa, os inimigos imperialistas e as suas manobras contra o campo socialista em geral e contra o nosso país em particular. Portanto, nunca tivemos nem teremos a mínima ilusão de que eles possam mudar de natureza e modificar os seus objectivos contrários aos povos, ao nosso campo em geral e à Albânia socialista em particular. Nosso Partido sempre foi e permanece sendo pela paz e lutará incessantemente ao lado da União Soviética, da China Popular, dos outros países do campo socialista e de todos os povos progressistas do mundo todo para defender a paz. Por este sagrado propósito, o Partido do Trabalho da Albânia e o nosso Governo têm apoiado com toda sua força a política pacífica do Partido Comunista e do Governo da União Soviética e de todos os países do campo socialista. Em cada questão e em cada proposta nós temos sido solidários com eles.(11)
Os imperialistas norte-americanos e ingleses sempre acusaram e ainda hoje acusam os albaneses de «selvagens» e «belicistas». E isto é perfeitamente compreensível, já que o povo albanês sempre lutou com unhas e dentes contra todos os seus esforços para escravizá-lo, bem como aniquilou os seus agentes, que tramavam complots contra o Partido do Trabalho da Albânia e o nosso regime de democracia popular. A gangue de Tito, a gangue dos chauvinistas monarco-fascistas gregos e os mandantes de Roma têm nos acusado de sermos “fomentadores de guerra e perturbadores da paz nos Balcãs”. Isto porque temos as atacado incessantemente e sempre atacaremos, pois suas intenções têm sido e sempre serão dividir a Albânia entre eles e escravizar o nosso povo.(12) Aliás, parece-nos inteiramente desnecessário tratar de comprovar nesta Conferência que a guerra é algo estranho aos países socialistas e aos nossos partidos marxistas-leninistas. A questão reside em saber por que razão os imperialistas e seus agentes acusam a China e a Albânia de serem belicistas e estarem contra a coexistência pacífica.
Tomemos o caso da Albânia: contra quem e com que objectivo a Albânia se lançaria na guerra? Seria ridículo procurarmos uma resposta a esta pergunta. O facto é que quem nos faz tais acusações são precisamente aqueles que delas precisam para encobrir os seus objectivos agressivos em relação à Albânia. Rankoviç, por exemplo, desejaria muitíssimo que transformássemos as nossas fronteiras em albergues com duas portas, para que os agentes jugoslavos, italianos e gregos pudessem entrar e sair com inteira liberdade e sem o menor controlo para infiltrar as suas armas e a sua cultura de piratas no nosso país, para que Tito pudesse realizar o seu sonho de fazer da Albânia a sétima república da Jugoslávia, para que a burguesia reaccionária italiana tentasse pela terceira vez concretizar os seus objectivos de rapina em relação à Albânia ou ainda para que os monarco-fascistas gregos procurassem materializar o insensato sonho de usurpar o sul da Albânia. Será que somos «belicistas» justamente porque nunca permitimos e jamais permitiremos que isso aconteça? Os nossos inimigos sabem muito bem que, se tocarem nas nossas fronteiras, aí sim é que terão guerra, connosco e com todo o campo socialista.
Assim, o objectivo inimigo tem sido e continua a ser o de isolar-nos do nosso campo e dos nossos amigos, acusando-nos de «belicistas», «selvagens» e contrários à coexistência precisamente porque não abrimos as fronteiras para que eles venham pastar livremente no nosso território. Mas, por ironia do destino, há camaradas que acreditam nessas manobras dos revisionistas e dirigem tais calúnias contra o Partido do Trabalho da Albânia. Naturalmente, somos contrários a uma coexistência em nome da qual os albaneses tenham que fazer concessões territoriais e políticas a Sófocles Venizelos. Não, já passou para sempre o tempo em que o território da Albânia era objecto de transacção! Somos contrários a uma coexistência com o Estado jugoslavo que tenha como condição a extinção da luta ideológica e política contra os revisionistas jugoslavos, estes agentes do imperialismo internacional e traidores do marxismo-leninismo. Somos contrários a uma coexistência com os ingleses ou norte-americanos, em nome da qual, conforme as suas exigências, tenhamos de reconhecer as velhas concessões políticas, diplomáticas e comerciais que lhes foram feitas pelo regime do rei Zog.
Como conclusão geral, o Partido do Trabalho da Albânia está totalmente convencido do triunfo final da nossa grande causa, a causa do socialismo e da paz. As forças unidas do campo socialista — tendo à frente a União Soviética —, do movimento comunista e operário internacional e de todas as pessoas e povos amantes da paz, com as suas acções firmes e decididas, estão em condições de obrigar os imperialistas a aceitarem a coexistência pacífica e são capazes de evitar a guerra mundial. Mas, ao mesmo tempo, devemos aumentar cada vez mais a nossa vigilância revolucionária, de modo a nunca sermos colhidos de surpresa pelos inimigos. Anima-nos a convicção de que, nesta nobre luta pela paz mundial e o triunfo do socialismo, a vitória pertencer-nos-á. Como sempre, o povo albanês e o Partido do Trabalho da Albânia envidarão todos os esforços e contribuirão com todas as suas forças para o triunfo da nossa causa comum. E, como até agora, continuaremos a marchar adiante, em férrea unidade com todo o campo socialista, com a União Soviética, com todo o movimento comunista e operário internacional.
Queridos camaradas.
A unidade do movimento comunista e operário internacional é o factor decisivo para a concretização do nobre objectivo da luta pela conquista da paz, da democracia, da independência nacional e do socialismo. E esta questão é destacada com particular força pela Declaração de Moscovo de 1957 e também pelo projecto de declaração preparado para esta Conferência. A Declaração de 1957 ressalta: «Os partidos comunistas e operários têm uma responsabilidade histórica particularmente séria para com os destinos do sistema socialista mundial e do movimento comunista internacional. Os partidos comunistas e operários presentes à Conferência declaram que fortalecerão incansavelmente a sua unidade e a sua colaboração fraternal, em proveito da maior união da família dos Estados socialistas e no interesse do movimento operário internacional e da causa da paz e do socialismo»(13). É um facto, porém, terem surgido profundas divergências políticas e ideológicas no movimento comunista internacional e nas relações entre alguns partidos, especialmente nos últimos tempos. E a acentuação dessas divergências não poderá trazer senão prejuízos à nossa grande causa. Portanto, o Partido do Trabalho da Albânia considera que devemos condenar e corrigir as manifestações negativas e os erros observados até agora, a fim de que possamos marchar adiante, unidos, em direcção a novas vitórias.
Queremos deter-nos um pouco na questão da Reunião de Bucareste, na qual, como se sabe, o nosso Partido não manifestou a sua opinião sobre as divergências surgidas entre o Partido Comunista da União Soviética e o Partido Comunista da China, reservando-se desde então o direito de fazê-lo na presente Conferência de representantes dos partidos comunistas e operários. Naquela ocasião, os camaradas soviéticos e certos camaradas de outros partidos irmãos acusaram o Partido do Trabalho da Albânia de tudo o que se possa imaginar. Mas não passou pela cabeça de ninguém meditar um momento sequer sobre as razões pelas quais este Partido assumia tal posição contra toda a corrente; quais os motivos pelos quais este Partido, que sempre se manteve coerentemente fiel ao marxismo-leninismo e à Declaração de Moscovo, de repente passava a ser acusado de estar «contra o marxismo-leninismo e a Declaração de Moscovo»; por que razão este Partido, tão estreitamente ligado à União Soviética e ao Partido Comunista da União Soviética, aparece abertamente opondo-se à direcção da União Soviética. Agora, tendo na sua posse os materiais informativos soviéticos e os do Partido Comunista da China, que todos os camaradas reflictam por si mesmos. Da nossa parte, lemos e estudámos os documentos soviético e chinês, discutindo-os atentamente nos activos do Partido. Deste modo, o que trazemos à Conferência é o ponto de vista unânime de todo o Partido.
Como se sabe, em 24 de Junho deste ano, por ocasião do III Congresso do Partido Operário da Roménia, os camaradas da direcção do Partido Comunista da União Soviética tomaram a iniciativa de organizar a Reunião de Bucareste, inesperadadamente e sem o menor aviso prévio, pelo menos no que se refere ao nosso Partido. Ao invés de «trocar opiniões» e fixar a data da Conferência que agora estamos a realizar — conforme o combinado através das cartas de 2 e 7 de Junho —, aquela reunião ocupou-se de uma questão inteiramente diferente, a acusação ideológica e política contra o Partido Comunista da China, com base no «material informativo soviético». Tendo por base esse documento, inteiramente desconhecido até poucas horas antes da reunião, os delegados dos partidos comunistas e operários irmãos presentes em Bucareste tiveram de se pronunciar a favor dos pontos de vista do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética. E isto muna situação em que aqueles delegados lá se encontravam para tratar de outra questão e — pelo menos a delegação do nosso Partido — não possuiam nenhum mandato dos seus partidos para discutir e menos ainda para decidir sobre uma questão tão importante do comunismo internacional. Nem sequer se poderia pensar num debate sério daquele documento, que continha tão grandes acusações contra um outro partido marxista-leninista. E isto por duas razões: por um lado, não se permitiu que os delegados e — sobretudo — as direcções dos partidos comunistas e operários estudassem o documento em todos os seus aspectos; por outro lado, não se deixou à parte acusada o tempo necessário para que ela também apresentasse os seus pontos de vista em tempo oportuno e da forma utilizada pela parte acusadora.
O facto é que a única preocupação da direcção soviética era fazer a reunião aprovar rapidamente as suas acusações contra o Partido Comunista da China, condenando-o custasse o que custasse. Foi esta a preocupação do camarada Kruchov e dos restantes camaradas soviéticos em Bucareste, e não as questões de política internacional derivadas do fracasso da Conferência de cúpula de Paris, que nessa altura preocupava o nosso campo e o mundo em geral.
O nosso Partido teria concordado inteiramente com a realização de uma conferência internacional dos partidos comunistas e operários ou com qualquer outra conferência, com qualquer ordem do dia que pudesse ser estabelecida, mas com a condição de que ela fosse regular, contasse com a aprovação de todos os partidos e tivesse uma ordem do dia definida com clareza e antecedência. Além disso, deveriam ser dados aos partidos comunistas e operários os materiais necessários, dando-se-lhes tempo adequado para estudar os documentos e preparar a sua participação, bem como para que os bureaux políticos, se fosse caso disso, obtivessem a aprovação dos comités centrais para as decisões que eventualmente pudessem ser tomadas. Ou seja, as conferências devem realizar-se em conformidade com as normas leninistas que regem as relações entre os partidos comunistas e operários, bem como em completa igualdade entre os partidos, num espírito de camaradagem comunista e internacionalista e de acordo com as elevadas normas da moral comunista.
A Reunião de Bucareste não correspondeu a tais condições. Foi por isso que, apesar de ter participado dela, o nosso Partido condenou-a e condena-a como uma reunião irregular, que infringiu as normas leninistas. Consideramos que a Reunião de Bucareste prejudicou muito a causa do movimento comunista internacional, da solidariedade internacional dos trabalhadores, do fortalecimento de unidade do campo socialista e da exemplar solução marxista-leninista das divergências ideológicas, políticas e organizativas que possam surgir no seio dos partidos comunistas e operários e que prejudiquem o marxismo-leninismo. E a responsabilidade disso recai sobre os camaradas da direcção do Partido Comunista da União Soviética, que organizaram a reunião, conceberam-na daquela maneira e aplicaram tais normas não-marxistas.
O Comité Central do Partido do Trabalho da Albânia está profundamente convencido de que o objectivo dos promotores da reunião era forçar o movimento comunista internacional a condenar o Partido Comunista da China por erros e falhas infundados e inexistentes. Esta convicção tem por base o estudo dos factos, o documento soviético, o material chinês de que o nosso Partido já dispõe e uma análise detalhada do desenvolvimento da situação internacional e das posições oficiais do Partido Comunista da União Soviética e do Partido Comunista da China.
O Partido do Trabalho da Albânia considera unanimente que os camaradas soviéticos cometeram um grave erro em Bucareste ao denunciarem injustamente o Partido Comunista da China de ter-se desviado do marxismo-leninismo, de ter violado e abandonado a Declaração de Moscovo de 1957, de ser «dogmático» e «sectário», de ser «favorável à guerra», de estar «contra a coexistência pacífica», de «querer um lugar privilegiado» no campo socialista e no movimento comunista internacional e de outras coisas mais. Os camaradas soviéticos também erraram gravemente ao aproveitarem-se do grande carinho e confiança dos comunistas em relação à União Soviética e ao Partido Comunista da União Soviética para tentar impor aos demais partidos comunistas e operários os seus pontos de vista incorrectos acerca do Partido Comunista da China.
Desde os primeiros momentos, quando os camaradas soviéticos começaram febrilmente e de maneira inadmissível a tentar manipular os camaradas da nossa delegação em Bucareste, o Partido do Trabalho da Albânia viu claramente que, com argumentos infundados e pressões, eles desejavam atrair a delegação do nosso Partido para a armadilha que estavam a preparar, levando-a a alinhar nos seus pontos de vista errados. O importante para o camarada Kruchov era se nós «alinhariamos ou não com a posição soviética» — e isso foi dito pelo próprio camarada Andropov ao camarada Hysni Kapo. O camarada Kruchov também manifestou essa preocupação de outras formas, no decorrer das suas intervenções contra o nosso Partido na Reunião de Bucareste. E isto ficou comprovado ainda melhor depois da Reunião de Bucareste por muitas atitudes incorrectas e inamistosas da direcção soviética e do pessoal da Embaixada soviética em Tirana, questão sobre a qual falarei mais adiante. Para os camaradas soviéticos, o ponto de vista de um partido marxista-leninista como o nosso não tinha a mínima importância; a única coisa que importava para eles era fazer com que o nosso Partido adoptasse em Bucareste a mesma posição do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética.
O Partido Comunista da União Soviética, que organizou a Reunião de Bucareste, nem sequer preveniu o Partido do Trabalho da Albânia de que, por ocasião do Congresso do Partido Operário da Roménia, o Partido Comunista da China seria acusado de graves erros de carácter programático. Tais acusações surgiram de maneira totalmente inesperada para o Partido do Trabalho da Albânia. Agora, porém, tomamos conhecimento de que, à excepção do Partido do Trabalho da Albânia, do Partido Comunista da China, do Partido do Trabalho da Coreia e do Partido dos Trabalhadores do Vietname, todos os demais partidos do campo socialista tinham conhecimento de que seria organizada uma reunião em Bucareste para acusar a China. Se é que assim aconteceu, então fica bem claro que o caso se torna ainda muito mais sério, assumindo o carácter de uma fracção à escala internacional.
Mas, apesar disso, o nosso Partido não foi colhido de surpresa nem manifestou pouca vigilância. Isto, porque o nosso Partido sempre respeitou as normas leninistas nas relações com os demais partidos, porque tem um grande respeito marxista pelo Partido Comunista da União Soviética, pelo Partido Comunista da China e por todos os outros partidos comunistas e operários e porque respeita o princípio da igualdade entre os partidos, preceito que todos os partidos também devem respei tar em relação ao Partido do Trabalho da Albânia, independentemente dele ser numericamente pequeno.
O nosso Partido viu desde o início que todas essas normas estavam a ser violadas na Reunião de Bucareste. Foi por isso que ele assumiu a posição de todos conhecida, considerando-a naquele momento e ainda hoje como a única posição correcta diante das circunstâncias em que se desenvolveram os acontecimentos. Mas alguns dirigentes de partidos irmãos classificaram-nos de «neutralistas» e outros ainda acusaram-nos de nos termos «afastado da justa linha marxista-leninista». Esses dirigentes chegaram até ao ponto de começarem a desacreditar o nosso Partido no seio dos seus próprios partidos. Rechaçamos com desprezo todas essas calúnias e práticas desonestas, incompatíveis com a moral comunista. E perguntamos àqueles que empreenderam tais actos condenáveis contra o Partido do Trabalho da Albânia: será que um partido não tem o direito de exprimir livremente a sua própria opinião, a maneira como pensa?
E qual foi a opinião manifestada pelo Partido do Trabalho da Albânia em Bucareste? Manifestámos fidelidade ao marxismo-leninismo, e isto é comprovado pela vida inteira e por toda a luta do Partido do Trabalho da Albânia; manifestámos fidelidade ao conteúdo da Declaração de Moscovo e do Manifesto da Paz de 1957, e isto é comprovado pela linha coerente seguida pelo Partido do Trabalho da Albânia; manifestámos fidelidade à unidade do campo socialista e defendemos essa unidade, e isto é comprovado por toda a luta do Partido do Trabalho da Albânia; manifestámos fidelidade ao Partido Comunista da União Soviética e aos povos soviéticos e o nosso carinho para com eles, e isto é comprovado por toda a vida do Partido do Trabalho da Albânia. Naquela ocasião, não aceitámos julgar os «erros» do Partido Comunista da China e muito menos «condenar» este Partido sem examinar também os seus pontos de vista sobre as questões levantadas contra ele de maneira tão incorrecta, apressada e antimarxista. E, finalmente, aconselhámos que todos nós nos mostrássemos ponderados, agíssemos com serenidade e actuássemos num espírito de camaradagem na solução dessa questão vital e extremamente séria para o comunismo internacional. Foi este todo o «crime» pelo qual nos atiram tanta pedra. Mas pensamos que as pedras erguidas para serem lançadas contra nós acabaram por cair nas próprias cabeças dos que as lançavam. Os dias que passaram já demonstraram e os tempos que virão comprovarão ainda melhor a justeza da posição do Partido do Trabalho da Albânia.
Por que razão o camarada Kruchov e os outros camaradas soviéticos se apressaram tanto em acusar o Partido Comunista da China sem factos nem fundamentos? Pode-se permitir que comunistas, particularmente dirigentes máximos de um grande partido como o da União Soviética, realizem actos tão infames? Que eles próprios respondam a estas questões. Mas o Partido do Trabalho da Albânia também tem o pleno direito de dar a sua opinião a este propósito. E o Partido do Trabalho da Albânia não só considera que a Reunião de Bucareste foi um grande erro, como também acha que este erro foi conscientemente aprofundado. Não se pode de maneira alguma deixar a Reunião de Bucareste no esquecimento. Pelo contrário, ela deve ser duramente condenada como uma mancha na vida do movimento comunista internacional.
Não há a menor dúvida de que são grandes as divergências ideológicas existentes, nem de que foi entre o Partido Comunista da União Soviética e o Partido Comunista da China que elas surgiram e se desenvolveram. E essas divergências já deveriam ter sido resolvidas entre os dois partidos, em tempo oportuno e de forma marxista-leninista. No seu documento, o Partido Comunista da China afirma que as divergências de princípios surgiram imediatamente após o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, que elas foram logo levantadas pelos camaradas chineses e que algumas foram levadas em consideração, mas outras foram rechaçadas pelos camaradas soviéticos.
O Partido do Trabalho da Albânia é de opinião que, na medida em que as divergências não foram solucionadas pelos dois partidos, então deveria ter sido solicitada a convocação de uma reunião dos partidos comunistas e operários que delas tomasse conhecimento, discutisse e adoptasse uma posição. Não foi justo pôr essas questões de lado. E a responsabilidade disso recai sobre os camaradas soviéticos, que sabiam das divergências e não faziam caso delas, convencidos que estavam da justeza e da «intocabilidade» da sua linha, o que, para nós, é uma concepção idealista e metafísica.
Se os camaradas soviéticos estavam efectivamente convencidos da justeza da sua linha e da sua táctica, porque não organizaram em tempo útil uma reunião desse tipo para que as divergências fossem solucionadas? Será que eram insignificantes os problemas que foram levantados, como, por exemplo, a questão da condenação de J. V. Staline, o grande problema da contra-revolução húngara e a questão das formas de tomada do poder, para não se falar das inúmeras outras importantes questões levantadas depois? Não, não se trata de forma alguma de questões insignificantes! E todos nós temos os nossos pontos de vista sobre esses problemas, que nos interessam como comunistas, na medida em que os nossos partidos são responsáveis perante os seus próprios povos, mas também respondem diante do comunismo internacional.
O camarada Kruchov e os demais dirigentes soviéticos estavam muito interessados em apresentar a questão como se as divergências fossem entre a China e todo o movimento comunista internacional, a fim de obter a condenação do Partido Comunista da China por culpas e pecados imaginários. Mas foram o camarada Kruchov e a gente do seu círculo que apreciaram e decidiram sozinhos as questões a que antes me referi, pois julgaram desnecessários discuti-las colectivamente numa reunião de representantes de todos os partidos, apesar delas possuirem um importante carácter internacional. Houve a contra-revolução húngara, por exemplo, mas as questões relacionadas com ela ficaram encobertas. Por que razão os camaradas soviéticos lançam mão desta táctica de enterrar as coisas que não lhes interessam ao passo que, em caso contrário, não se limitam a organizar reuniões como a de Bucareste, como ainda fazem tudo para impor aos outros o ponto de vista de que a China «tem uma linha oposta à de todos os partidos comunistas e operários do mundo»?
E os camaradas soviéticos também levaram a efeito uma tentativa deste género connosco. Em Agosto deste ano, a direcção soviética enviou uma carta ao nosso Partido, propondo um encontro entre representantes dos nossos dois partidos para que «a centelha das divergências» não se transformasse em chamas, a fim de que o nosso Partido alinhasse ao lado da União Soviética contra o Partido Comunista da China e os nossos dois partidos viessem a esta Conferência como uma frente única. Naturalmente, o Comité Central do nosso Partido não aceitou tal proposta, considerando-a, na sua resposta oficial, como uma atitude que nada tinha de marxista e como uma acção fraccionista voltada contra um terceiro partido irmão, o Partido Comunista da China. E a justa posição de princípios do nosso Partido certamente não agradou à direcção do Partido Comunista da União Soviética.
Que essas questões têm uma importância primordial, disso não há dúvida; que elas interessam grandemente a todos nós, disso também não há dúvida; mas tão-pouco há a mínima dúvida para o Partido do Trabalho da Albânia de que havia segundas intenções nas questões levantadas contra a China em Bucareste, com o objectivo de condenar o Partido Comunista da China e isolá-lo de todo o movimento comunista internacional. Para o Partido do Trabalho da Albânia, isto era uma coisa terrível e inaceitável. Não só porque o nosso Partido dela não estava convencido, mas também porque suspeitava com plena razão que se estava a organizar, à margem do marxismo, uma acção contra um grande e glorioso partido irmão como o Partido Comunista da China e que, sob o pretexto da acusação de dogmatismo contra a China, se estava a preparar um ataque contra o marxismo-leninismo.
O Partido Comunista da China foi acusado de muitas falhas naquela reunião, o que deveria ter-se reflectido no comunicado final. E porque não sucedeu isto? Se é que as acusações tinham fundamento, porque houve hesitações, saindo um comunicado que não correspondia aos objectivos da reunião? E por que razão o comunicado não mencionou o «grande perigo do dogmatismo» que pretensamente ameaçava o comunismo internacional? Não, camaradas, a Reunião de Bucareste é indefensável: não foi uma reunião de princípios; pelo contrário, foi uma reunião organizada com má fé, tendo em vista alcançar objectivos bem determinados. E, para o Partido do Trabalho da Albânia, o principal objectivo era utilizar a acusação de dogmatismo contra o Partido Comunista da China para encobrir alguns graves erros que os camaradas dirigentes soviéticos tinham permitido cometer em questões de carácter programático.
Mas, para tanto, os camaradas soviéticos necessitavam do apoio dos restantes partidos. Daí terem tentado claramente apanhá-los de surpresa. Com isso, os camaradas soviéticos alcançaram parcialmente o seu objectivo, obtendo o direito de apresentar aos demais partidos a condenação da China como se fosse fruto de uma «conferência internacional do comunismo». À excepção do Partido do Trabalho da Albânia e de alguns outros partidos, as bases dos partidos comunistas e operários foram informadas dos «graves erros do Partido Comunista da China em questões programáticas» e foram informadas a respeito da condenação «unânime» feita à China em Bucareste, ao mesmo tempo que se tratava de fazer valer essa opinião no seio desses partidos e dos seus respectivos povos. E o Partido do Trabalho da Albânia também foi condenado em algumas dessas reuniões partidárias.
Da nossa parte, depois da Reunião de Bucareste, o Comité Central do Partido do Trabalho da Albânia decidiu — e decidiu correctamente — que só levaria às bases partidárias o comunicado final da reunião, informando ainda o conjunto do Partido de que existiam divergências de princípios entre o Partido Comunista da União Soviética e o Partido Comunista da China, as quais deveriam ser examinadas e solucionadas na Conferência convocada para Novembro, em Moscovo. Foi isto o que fizemos.
Mas esta posição do nosso Partido não agradou aos camaradas da direcção do Partido Comunista da União Soviética, e começámos a senti-lo logo. Após a Reunião de Bucareste, teve início um ataque inesperado e estranho a qualquer princípio contra o nosso Partido e o seu Comité Central, sob a forma de brutais ingerências e de pressões multilaterais. Iniciado pelo camarada Kruchov em Bucareste, esse ataque foi retomado pelo camarada Kozlov em Moscovo. Os camaradas do Bureau Político que passavam casualmente pela capital soviética eram intensamente trabalhados para se voltarem contra a direcção do nosso Partido, dizendo-se-lhes que «a direcção do Partido do Trabalho da Albânia traiu a amizade com a União Soviética», que «a linha seguida pela direcção do Partido do Trabalho da Albânia se caracteriza pela sinuosidade», que «a Albânia deve decidir se fica com os 200 milhões (ou seja, com a União Soviética) ou se vai com os 650 milhões (ou seja, com a China Popular)» e, finalmente, que, «isolada, a Albânia está em perigo, pois basta que os norte-americanos lancem uma bomba atómica para que ela e toda a sua população desapareçam do mapa», além de outras ameaças deste género. Está bem evidente que o objectivo era criar divisões na direcção do Partido do Trabalho da Albânia e eliminar do seu seio os elementos considerados pelos dirigentes soviéticos como obstáculos ao seu tortuoso e desonesto empreendimento.
O resultado deste trabalho divisonista foi a capitulação de Liri Belishova, ex-membro do Bureau Político do Comité Central do Partido do Trabalho da Albânia, que cedeu às bajulações, chantagens e intimidações dos dirigentes soviéticos, colocando-se abertamente contra a linha do Partido. É falaciosa a tentativa dos camaradas soviéticos, na sua carta ao Comité Central do Partido Comunista da China, no sentido de apresentar a questão como se a Albânia estivesse a condenar os amigos da União Soviética. Amigos eternos dos povos soviéticos são o milhão e meio de albaneses e o Partido do Trabalho da Albânia, que construiram, cimentaram e forjaram essa amizade com sangue, e não o são os diversos capitulacionistas, divisionistas e desviacionistas.
Mas não se limitaram a Moscovo os esforços dos camaradas soviéticos para criar dúvidas em relação à justa posição assumida pelo nosso Partido em Bucareste. Esforços ainda mais intensos e prementes foram feitos também em Tirana por parte dos funcionários da Embaixada soviética, tendo à frente o próprio embaixador.
Como já disse anteriormente, antes da Reunião de Bucareste não se poderia imaginar laços mais estreitos, sinceros e fraternais do que os que nos ligavam aos camaradas soviéticos. Não tínhamos nenhum segredo para os camaradas soviéticos, fossem eles segredos de Partido ou de Estado. Era uma decisão do Comité Central do nosso Partido. Tais laços reflectiam o carinho e a fidelidade do povo albanês para com o povo soviético, sentimentos forjados, com o próprio sangue, pelo nosso Partido.
Mas esses sagrados sentimentos do Partido do Trabalho da Albânia e do nosso povo foram espezinhados por alguns elementos maldosos, com o embaixador soviético à frente. Aproveitando-se desses laços de amizade e da boa fé dos nossos quadros, começaram intensa e febrilmente a atacar a linha marxista-leninista do Partido do Trabalho da Albânia, tentando dividir o Partido, criar o pânico e confusão nas fileiras partidárias e separar o Partido da sua direcção. E a coisa foi tão longe que o embaixador soviético em Tirana chegou ao ponto de tentar incitar os nossos generais a levantarem o Exército Popular Albanês contra a direcção do Partido do Trabalho da Albânia e do Estado albanês. Mas tais elementos encontraram um osso duro de roer, pois é férrea a unidade do nosso Partido. Forjados na Luta de Libertação Nacional e na dura luta de vida ou morte contra os revisionistas jugoslavos, os nossos quadros defenderam de maneira marxista o seu heróico Partido, eles sabem perfeitamente fazer a distinção entre os divisionistas e o Partido da União Soviética, o Partido de Lenine. E, de facto puseram esses difamadores no seu devido lugar.
Entretanto, utilizando-se de métodos inadmissíveis e antimarxistas, os funcionários da Embaixada soviética em Tirana, tendo à frente o embaixador, conseguiram fazer com que o presidente da Comissão Central de Verificação do Partido do Trabalho da Albânia, que quinze dias antes se havia mostrado solidário com a linha seguida em Bucareste pelo Comité Central do Partido, caísse nas garras desses intriguistas, se afastasse inteiramente do caminho marxista-leninista e se colocasse em flagrante oposição à linha do Partido. É evidente que esses condenáveis esforços dos referidos camaradas soviéticos visavam dividir a direcção do Partido do Trabalho da Albânia e afastá-la das massas do Partido. E isto como punição pelo nosso «crime» de Bucareste, por termos ousado manifestar livremente o nosso ponto de vista da forma que considerávamos correcta.
Mas os funcionários da Embaixada soviética em Tirana foram ainda mais longe neste caminho. E precipitaram-se sobre os albaneses que tinham estudado na União Soviética para incitá-los contra a direcção albanesa, imaginando serem eles os elementos adequadas para satisfazer os seus sinistros desígnios. Mas os albaneses, tenham ou não estudado na União Soviética, sabem muito bem que os métodos baixos utilizados pelos funcionários da Embaixada soviética em Tirana são inteiramente alheios ao marxismo-leninismo. Os albaneses são filhos do seu próprio povo, são filhos do seu Partido, são marxistas-leninistas, são internacionalistas.
Poderíamos mencionar inúmeros outros exemplos. Mas, para não tomar muito tempo desta importante Conferência, relatarei ainda dois outros casos típicos. As pressões sobre o nosso Partido continuaram até mesmo quando já se encontrava reunida, aqui em Moscovo, a comissão encarregada de redigir o projecto de declaração que nos foi apresentado, altura em que os camaradas soviéticos diziam que devíamos olhar para a frente e não para trás. Naquela ocasião, numa reunião ampliada dos chefes de Estado-Maior dos países membros do Tratado de Varsóvia, realizada em Moscovo, o marechal Malinovsk, membro do Comité Central e ministro da União Soviética, atacava abertamente o povo albanês, o Partido do Trabalho da Albânia, o Governo albanês e a nossa direcção. Foi um ataque público e inamistoso, muito semelhante à estocada subversiva do embaixador soviético em Tirana, que tentava incitar o nosso Exército Popular contra a direcção do Partido e o nosso Estado. Mas, a exemplo do embaixador soviético, o marechal Malinovsk também estava redondamente enganado. Que ninguém pense conseguir alcançar tal objectivo, e muito menos deteriorar a amizade que une o nosso povo aos povos da União Soviética. A justa luta do Partido do Trabalho da Albânia contra esta actividade de sapa fortalece a sincera amizade existente entre o nosso povo e os povos da União Soviética. A nossa amizade não pode ser abalada nem mesmo pelas surpreendentes declarações do comandante-chefe das forças do Tratado de Varsóvia, marechal Grechko, que não se contentou apenas em dizer que seria difícil satisfazer as necessidades do nosso Exército em certos armamentos indispensáveis que deveriam ser-nos fornecidos conforme os contratos vigentes, mas ainda disse abertamente que «por enquanto, vocês ainda estão no Tratado de Varsóvia», dando a entender desta forma que teria decidido excluir-nos daquele organismo. Felizmente, porém, uma decisão destas não é da competência do camarada marechal.
Por outro lado, o camarada Kruchov, em Outubro deste ano, declarou com a maior seriedade aos camaradas chineses que «nós trataremos a Albânia como tratámos a Jugoslávia». Trazemos isto ao conhecimento desta Conferência do comunismo internacional para que se possa avaliar o ponto a que estão a chegar as coisas e que atitudes estão a ser tomadas contra um pequeno país socialista. Que «crime» cometeu o Partido do Trabalho da Albânia para que o nosso país seja tratado como a Jugoslávia titista? Será que traímos o marxismo-leninismo, como fez a camarilha de Tito? Ou será que nos afastamos do campo socialista e nos amarramos ao carro do imperialismo norte-americano, como sucedeu com o revisionismo jugoslavo? Não, e disto é testemunha todo o movimento comunista internacional, disto é testemunha toda a actividade política, ideológica e económica concreta do nosso Partido e do nosso Estado durante a Luta de Libertação Nacional e ao longo dos 16 anos decorridos desde a libertação da pátria, disto é testemunha o próprio Comité Central do Partido Comunista da União Soviética que, em carta enviada a 13 de Agosto de 1960 ao Comité Central do Partido do Trabalho da Albânia, ressaltou: «Baseadas nos princípios do internacionalismo proletário, as relações entre o Partido do Trabalho da Albânia e o Partido Comunista da União Soviética sempre foram verdadeiramente fraternais. A amizade existente entre os nossos partidos e povos nunca foi ofuscada por qualquer discordância ou afastamento. As posições do Partido do Trabalho da Albânia e do Partido Comunista da União Soviética sempre coincidiram em todas as questões mais importantes do movimento comunista e operário internacional e de política externa.»
Qual é então a nossa falta? O nosso único «crime» é o de nos termos recusado em Bucareste a condenar injustamente um partido comunista irmão como o Partido Comunista da China; o nosso único «crime» é o de — numa reunião comunista internacional e não em ruas e praças — termos ousado opor-nos abertamente à actividade incorrecta do camarada Kruchov; o nosso único «crime» é o de sermos um pequeno partido de um pequeno e pobre povo, a quem, na concepção do camarada Kruchov, compete apenas aplaudir e aprovar, em vez de manifestar a sua própria opinião. Isto, porém, não é nem marxista, nem admissível. Quem nos deu o direito de dizer a nossa palavra foi o marxismo-leninismo. E dele ninguém pode privar-nos, nem com pressões políticas ou económicas, nem com ameaças ou epítetos que possam lançar-nos.
Aproveitando a ocasião, gostaríamos de perguntar ao camarada Kruchov: por que motivo não fez ele tal declaração directamente a nós, mas a um representante de um terceiro partido? Ou será que o camarada Kruchov imagina que o Partido do Trabalho da Albânia não possui os seus próprios pontos de vista, tendo feito causa comum sem princípios com o Partido Comunista da China e que, portanto, as questões relativas ao nosso Partido podem ser discutidas com os camaradas chineses? Não, camarada Kruchov, você continua a errar e a ter opiniões negativas em relação ao nosso Partido. O Partido do Trabalho da Albânia possui os seus próprios pontos de vista e por eles responde perante o seu próprio povo, bem como diante do movimento comunista e operário internacional.
Somos forçados a informar esta Conferência de que, efectivamente, a direcção soviética já começou a transformar em acções concretas as suas ameaças de tratar a Albânia como a Jugoslávia titista. Este ano, o nosso país foi atingido por inúmeras calamidades naturais: houve um grande terramoto, houve inundações em Outubro e sofremos uma seca particularmente terrível, passando 120 dias a fio sem ver um único pingo de chuva. Praticamente todo o cereal ficou queimado nas plantações. A fome ameaçava a população. Foram consumidas as poucas reservas que tínhamos. Nestas condições, explicando a gravíssima situação existente, o nosso Governo fez uma encomenda urgente de compra de trigo à União Soviética. Isto aconteceu depois da Reunião de Bucareste. Pois bem, tivemos de esperar 45 dias pela resposta da União Soviética, numa situação em que só tínhamos pão suficiente para 15 dias. Ao cabo dos 45 dias de espera e de reiteradas solicitações oficiais, o Governo soviético, das 50 mil toneladas encomendadas, concedeu-nos apenas 10 mil toneladas, o que corresponde à satisfação das necessidades da população por apenas 15 dias, e mesmo assim anunciando que só nos enviaria essa quantidade em Setembro ou Outubro. Tratava-se de uma clara pressão para que o nosso Partido se dobrasse à vontade dos camaradas soviéticos.
Nós pudemos constatar muitas coisas naqueles dias difíceis. Será que a União Soviética, que vende cereais a todo o mundo, não tinha 50 mil toneladas de trigo para fornecer ao povo albanês, um povo irmão, fiel ao povo soviético, ao marxismo-leninismo e ao campo socialista, que se encontrava ameaçado de fome por razões alheias à sua vontade? O camarada Kruchov tinha-nos dito certa vez: «Não se preocupem com o trigo; o que vocês consomem num ano equivale ao que os ratos comem nos nossos depósitos.» Ou seja, os ratos da União Soviética podiam continuar a comer, mas o povo albanês que morresse de fome até que a direcção do Partido do Trabalho da Albânia se submetesse à vontade da direcção soviética! Isto é terrível, camaradas, mas é verdade. Se o povo soviético tomar conhecimento disto, jamais perdoará aos seus dirigentes por tal atitude, que não é nem marxista, nem internacionalista, nem digna de camaradas. Também não é, nem de longe, amistosa a atitude de não aceitar um acordo de pagamento para a compra do trigo, obrigando-nos a recorrer à pequena reserva de ouro do nosso Banco Nacional para comprar, na própria União Soviética, milho com que fazer pão para o nosso povo.
Tais actos não são por acaso; estão ligados entre si. Particularmente nos últimos dias, os ataques do camarada Kruchov contra o nosso Partido do Trabalho chegaram ao seu ponto culminante. O camarada Kruchov declarou em 6 de Novembro que «os albaneses comportam-se connosco da mesma forma que Tito». Disse aos camaradas chineses: «Nós perdemos uma Albânia, enquanto vocês, chineses, ganharam uma Albânia.» E, finalmente, declarou que «o Partido do Trabalho da Albânia é o nosso elo fraco».
Que acusações monstruosas são estas e que comportamento de «comerciante» é este em relação ao nosso Partido e ao nosso povo, em relação a um país socialista que se perderia ou ganharia como num jogo de cartas? Que considerações são estas acerca de um partido irmão que, segundo vocês, seria o elo fraco do movimento comunista internacional? Compreendemos claramente e com evidência que a nossa justa posição marxista-leninista de princípios e a nossa coragem de discordar de vós e condenar as vossas práticas erradas é que os impelem a atacar o nosso Partido, a perpetrar toda a espécie de pressões sobre ele e a dizer mesmo as mais absurdas monstruosidades contra ele. Não há nada de amistoso nem de comunista em tudo isto. Vocês comparam-nos aos revisionistas jugoslavos. Mas todos sabem como o nosso Partido lutou e luta contra os revisionistas jugoslavos. Não somos nós que agimos como os jugoslavos, mas você, camarada Kruchov, quem tem utilizado contra o nosso Partido métodos estranhos ao marxismo-leninismo. Considera a Albânia como um artigo de feira, que pode ser ganho ou perdido por este ou por aquele. Houve um tempo em que a Albânia era realmente considerada como artigo de feira, quando havia quem pensasse que deles dependia a sua existência. Mas esses tempos acabaram-se com o triunfo das ideias do marxismo-leninismo no nosso país. E vocês, agora, tentam recriar a mesma situação, pretendendo terem «perdido» a Albânia e que algum outro a tenha «ganho», ou então concluindo que o nosso país já não é socialista, como transparece da carta que nos foi entregue por vocês em 8 de Novembro, a qual não menciona a Albânia como um país socialista.
Não é você, camarada Kruchov, quem determina se a Albânia marcha pelo caminho do socialismo ou faz parte do campo socialista. Isto não depende dos seus desejos. Quem o decidiu foi o povo albanês, com a sua própria luta e tendo à frente o seu Partido do Trabalho. Não há força no mundo capaz de desviá-lo desse caminho.
No que se refere à afirmação de que o nosso Partido do Trabalho seria o elo mais fraco do campo socialista e do movimento comunista internacional, a prova contrária é dada pela própria história de vinte anos do nosso Partido, pela heróica luta do nosso Partido e do nosso povo contra os ocupantes fascistas e pelos 16 anos decorridos desde a Libertação, ao longo dos quais o nosso Partido e o nosso pequeno povo souberam fazer face a todas as tempestades. Cercada de inimigos como uma ilha no meio das vagas, a República Popular da Albânia resistiu ousadamente a todos os ataques e provocações dos imperialistas e seus servidores. E, como rocha de granito, manteve e continua a manter bem hasteada a bandeira do socialismo na retaguarda do inimigo. Você, camarada Kruchov, levantou a mão contra o nosso pequeno povo e o seu Partido. Mas nós estamos convencidos de que o grande Partido de Lenine e o povo soviético, que também derramou sangue pela liberdade do nosso povo, não concordarão com a sua acção. Temos confiança total no marxismo-leninismo e estamos seguros de que os partidos irmãos representados nesta Conferência saberão examinar e julgar a questão com espírito de justiça marxista-leninista.
O nosso Partido sempre considerou o Partido Comunista da União Soviética como o partido-guia, por se tratar do partido mais antigo, do glorioso partido dos bolcheviques, bem como pela sua experiência universal e a sua grande maturidade. Mas o nosso Partido nunca aceitou e jamais aceitará que qualquer dirigente soviético lhe imponha pontos de vista que consideremos incorrectos.
A direcção soviética encarou de forma inteiramente errada esta importante questão de princípios, vendo-a de maneira idealista e metafísica. Os colossais êxitos alcançados pelos povos soviéticos e pelo Partido Comunista da União Soviética subiram à cabeça da sua direcção, que passou a violar os princípios marxistas-leninistas, a considerar-se infalível e a achar que todas as suas decisões, acções, palavras e gestos são infalíveis e imutáveis. Os outros podem errar, os outros são condenáveis, mas a direcção soviética não… Diziam os dirigentes do Partido Comunista da União Soviética à nossa gente: «As nossas decisões são sagradas e intocáveis», «não podemos fazer nenhuma concessão ou chegar a qualquer compromisso com o Partido Comunista da China». Então, por que motivo nos reuniram eles em Bucareste? Certamente para que votássemos de olhos fechados a favor dos pontos de vista da direcção soviética. Será que isto é marxista? Será isto normal?
Pode-se permitir que um partido realize actividades de sapa em relação a outro partido, para quebrar a unidade e derrubar a direcção de um outro partido ou um outro Estado? Nunca, jamais! Os dirigentes soviéticos acusaram o camarada Staline de, pretensamente, ter intervido noutros partidos para impor-lhes os pontos de vista do Partido Bolchevique. Mas nós podemos testemunhar que o camarada Staline nunca procedeu de tal forma connosco; pelo contrário, sempre se comportou com o povo albanês e o Partido do Trabalho da Albânia como um grande marxista, como um destacado internacionalista, como um camarada, irmão e amigo sincero do povo albanês. Em 1945, quando o nosso povo se encontrava ameaçado de fome, o camarada Staline desviou o rumo de navios que levavam cereais destinados ao povo soviético para enviá-los directamente ao povo albanês, e isto num momento em que o povo soviético estava na penúria, necessitando grandemente de cereais. Hoje, porém, a actual direcção soviética permite-se acções indignas, completamente opostas.
Pode-se permitir pressões económicas, como as realizadas, e ameaças contra o Povo albanês, como fez a direcção soviética depois da Reunião de Bucareste? Não, de maneira alguma. A União Soviética tem sempre nos ajudado de forma generosa através de créditos e outros meios. A Nova Albânia não poderia ter sido construída sem esta ajuda da União Soviética e dos os outros países de democracia popular. Para falar a verdade, somos muito gratos à União Soviética e ao Partido Comunista e ao Governo da União Soviética pela grande ajuda que têm dado ao nosso país para reconstruir nossa indústria, para erguer nossa agricultura; em resumo, para melhorar a vida do nosso povo e acelerar a construção socialista.(14) Consideramos como um auxílio internacionalista a ajuda concedida ao nosso pequeno povo, que antes da guerra vivia mergulhado na maior e mais profunda miséria, que foi massacrado e devastado no decorrer da Segunda Guerra Mundial, mas que não se curvou, lutando com grande heroísmo sob a gloriosa direcção do Partido Comunista da Albânia, até alcançar a sua libertação. Mas por que razão a direcção soviética mudou de posição em relação a nós, depois da Reunião de Bucareste, chegando ao ponto de deixar o povo albanês passar fome? E não só a direcção soviética, a direcção romena também agiu da mesma forma, recusando-se a fornecer um único grão de trigo ao nosso povo através de um acordo de pagamento e obrigando-nos a despender divisas na compra de milho a fazendeiros franceses. Isto, sabendo-se que a Roménia vende cereais aos países capitalistas.
Alguns meses antes da Reunião de Bucareste, o camarada Dej(15) convidou uma delegação do nosso Partido a visitar a Roménia, expressamente para discutir as perspectivas de desenvolvimento da Albânia. Tratava-se de uma preocupação louvável e marxista. Na ocasião, disse o camarada Dej ao nosso Partido: «Nós, os demais países de democracia popular, não devemos discutir o montante dos créditos que devem ser concedidos à Albânia, mas sim quais as fábricas que devem ser lá construídas e a que nível devem ser elevados os meios de produção; quanto ao custo disso em milhões de rublos, trata-se de uma questão secundária.» E disse ainda o camarada Dej: «Nós discutimos este assunto com o camarada Kruchov e ele está de acordo.» Mas veio a Reunião de Bucareste e o nosso Partido assumiu a posição de todos conhecida. A partir de então, os camaradas romenos esqueceram-se do que tinham dito antes, optando pela solução de deixar o povo albanês passar fome.
Já demos conhecimento oficial de tudo isto ao Comité Central do Partido Comunista da União Soviética. São questões que não levantámos nem discutimos pelas ruas e praças, e muito menos segredámos a quem quer que seja, mas estamos a apresentar pela primeira vez em público numa reunião de partidos, como é o caso desta nossa Conferência. Por que levantamos tais questões? Fazêmo-lo partindo do desejo de que se ponha fim a estas manifestações negativas que, ao invés de fortalecerem, debilitam a nossa unidade. O nosso ponto de partida é o desejo de que se fortaleçam as relações e laços marxistas-leninistas entre os partidos comunistas e operários e entre os Estados socialistas, varrendo-se com todas as manifestações perniciosas até agora surgidas. Somos optimistas. E estamos plenamente convencidos e inabalavelmente confiantes em que os camaradas soviéticos e os demais camaradas compreenderão correctamente as nossas críticas. Elas são duras, mas francas e sinceras, feitas com o objectivo de fortalecer as nossas relações.
Não obstante estas atitudes injustas e prejudiciais observadas em relação a nós, as quais acreditamos que cessarão no futuro, o nosso Partido e o nosso povo solidificarão ainda mais o carinho e a lealdade infinita para com os povos soviéticos, o Partido Comunista da União Soviética e os povos e partidos comunistas e operários do campo socialista, sempre com base nos ensinamentos do marxismo-leninismo. O nosso Partido só concebe a amizade baseada na justiça, no respeito mútuo e nos princípios marxistas-leninistas. É isto o que está dito na Declaração de Moscovo de 1957 e repetido no projecto de declaração que nos foi apresentado agora. Declaramos, com a maior seriedade, que o Partido do Trabalho da Albânia e o povo albanês, como sempre, continuarão a lutar decididamente pela consolidação da unidade do campo socialista e do movimento comunista internacional.
O povo albanês é capaz de se lançar ao fogo pelos seus verdadeiros amigos. E não o digo por dizer: ao fazê-lo, exprimo os profundos sentimentos do nosso povo e do nosso Partido. Mas que fique bem claro que não é pelos belos olhos de ninguém ou para satisfazer a quem quer que seja que amamos a União Soviética e o Partido Comunista da União Soviética.
Queridos camaradas.
A Declaração de Moscovo de 1957 e o projecto de declaração que nos foi apresentado constatam que o revisionismo constitui hoje o principal perigo no seio do movimento comunista e operário internacional. A Declaração de Moscovo de 1957 destaca correctamente que a fonte interna do revisionismo é a existência de influências burguesas e a sua fonte externa é a capitulação perante as pressões imperialistas. A vida comprovou inteiramente que, camuflado com palavras-de-ordem pseudo-marxistas e revolucionárias, o revisionismo contemporâneo vem tentando por todos os meios desacreditar a nossa grande doutrina, o marxismo-leninismo, por ele proclamada como «caduca», que já não corresponderia ao processo de desenvolvimento social. Escondendo-se detrás dos lemas do «marxismo criador» e das «novas condições existentes», os revisionistas, por um lado, têm-se esforçado por privar o marxismo do seu espírito revolucionário e minar a confiança da classe operária e do povo trabalhador no socialismo e, por outro lado, têm tratado de embelezar, por todas as formas, o imperialismo e fazer crer que ele abrandou e se tomou pacífico. Os três anos decorridos desde a Conferência de Moscovo comprovaram plenamente que os revisionistas contemporâneos não procuram mais do que provocar a divisão do movimento comunista e do campo socialista, agem como fiéis servidores do imperialismo e inimigos jurados do socialismo e da classe operária. Como a vida tem mostrado até agora, os revisionistas jugoslavos, a camarilha traidora de Tito & Cia, são os porta-bandeiras e os representantes mais agressivos e perigosos do revisionismo contemporâneo. Na altura da aprovação da Declaração de Moscovo, este grupo hostil de agentes do imperialismo norte-americano não foi publicamente denunciado, apesar de existirem então factos e dados suficientes para tal, na nossa opinião. E não apenas isto. Mesmo depois, quando a sua perigosidade se tornou ainda mais clara, não se deu a devida força à luta contra o revisionismo jugoslavo, não se travou uma luta incessante e coerente para destruí-lo ideológica e politicamente. Antes pelo contrário. Esta tem sido a fonte de muitos erros e prejuízos para o nosso movimento comunista e operário internacional. O nosso Partido considera que a tendência conciliadora, a opinião errada e a avaliação incorrecta do camarada Kruchov e de alguns outros dirigentes soviéticos em relação ao perigoso grupo revisionista de Tito influíram grandemente no seu não-desmascaramento total e na difusão de falsas «esperanças» em tomo de uma pretensa «melhoria» e de uma suposta «viragem» positiva desse grupo traidor.
Disseram que J. V. Staline se enganou na avaliação dos revisionistas jugoslavos e errou ao assumir uma posição dura para com eles. O nosso Partido, porém, nunca concordou com tal ponto de vista, pois o tempo e a vida comprovaram justa mente o contrário. Staline avaliou muito correctamente o perigo representado pelos revisionistas jugoslavos, tratando de resolver a questão no devido tempo e de forma marxista. Foi convocado o organismo colectivo daquela época, o Cominform; e, desmascarado o grupo titista, travou-se uma impiedosa luta contra ele. E o tempo demonstrou sobejamente que esse procedimento foi justo e indispensável.
O Partido do Trabalho da Albânia sempre considerou — e disto continua convencido — que o grupo de Tito é traidor ao marxismo-leninismo, agente do imperialismo e perigoso inimigo do campo socialista e de todo o movimento comunista e operário internacional, devendo-se, portanto, desenvolver uma luta inclemente contra ele. Da nossa parte, nós sempre travámos e continuamos essa luta, tanto como comunistas internacionalistas como pelo facto de que sempre sentimos diariamente sobre as nossas costas o peso da actividade hostil da camarilha revisionista de Tito contra o nosso Partido e o nosso país. Mas a posição do nosso Partido nunca agradou ao camarada Kruchov e a alguns outros camaradas.
O grupo titista é um bando de trotskistas e renegados desde há muito e muito tempo. Pelo menos, para o Partido do Trabalho da Albânia, ele é-o desde 1942, isto é, há 18 anos. Já em 1942, quando a luta do povo albanês avançava com grande ímpeto, o grupo trotskista de Belgrado, a pretexto da amizade e aproveitando-se da nossa boa fé, tratou, por todos os meios, de obstruir o desenvolvimento da nossa luta armada, esforçou-se por entravar a criação de poderosos destacamentos de choque dos guerrilheiros albaneses e, na impossibilidade de impedi-lo, tentou assumir directamente a sua direcção política e militar. Aquele grupo procurou fazer com que tudo dependesse de Belgrado, tentando transformar o nosso Partido e o nosso Exército guerrilheiro em simples apêndices do Partido Comunista Jugoslavo e do Exército de Libertação Nacional Jugoslavo. Mas, ao mesmo tempo em que preservava a amizade com os guerrilheiros jugoslavos, o nosso Partido enfrentou com êxito tais desígnios diabólicos.
Desde essa época, que o grupo de Tito procurava lançar os fundamentos de uma Federação Balcânica dirigida pelos titistas de Belgrado, amarrar os partidos comunistas da região ao carro do Partido Comunista Jugoslavo e colocar os exércitos guerrilheiros dos povos balcânicos sob a dependência do Estado-Maior titista jugoslavo. Foi com tal objectivo que ele, já naquela época, em conluio com os ingleses, se esforçou por criar o Estado-Maior Balcânico e colocá-lo — ou seja, os nossos Exércitos — sob a direcção dos anglo-americanos. Mas o nosso Partido resistiu com êxito a tais planos maquiavélicos. E, quando a bandeira da libertação flutuou em Tirana, o bando titista de Belgrado ordenou aos seus agentes no nosso país que desacreditassem o feito do Partido Comunista da Albânia e organizassem um putsch(16) para derrubar a direcção do Partido, aquela mesma direcção que tinha organizado o Partido, dirigido a Luta de Libertação Nacional e levado o povo albanês à vitória. O primeiro golpe foi montado pelo próprio Tito, juntamente com os seus agentes ocultos no nosso Partido. No entanto, o Partido Comunista da Albânia aniquilou a conspiração de Tito.
Mas nem por isso os conspiradores de Belgrado depuseram as armas. E, em conluio com o seu agente-mor nas fileiras do nosso Partido, o traidor Koçi Xoxe, retomaram sob novas formas a organização de uma conspiração contra a nova Albânia. O seu objectivo era fazer do nosso país a sétima república da Jugoslávia. Num momento em que o nosso país se encontrava devastado e incendiado, devendo ser reconstruído a partir do nada; num momento em que o nosso povo vivia sem pão e sem tecto, mas com um elevado moral; num momento em que o nosso Exército e o nosso povo, de armas nas mãos, montavam uma guarda vigilante contra as maquinações da reacção, organizadas pelas missões anglo-americanas, que ameaçavam a nova Albânia com novas invasões; num momento em que uma grande parte do Exército guerrilheiro albanês atravessava a fronteira da pátria para acudir em socorro dos irmãos jugoslavos, combatendo lado a lado com eles e juntos libertando Montenegro, Bosnia, Herzegovina, Kossova e Macedónia — precisamente nesse momento, os conspiradores de Belgrado tramavam planos para escravizar a Albânia.
Mas o nosso Partido enfrentou heroicamente estes agentes ocultos sob a máscara do comunismo. Vendo que o jogo estava perdido, pois que o nosso Partido liquidara as suas conspirações uma a uma, os trotskistas de Belgrado tentaram então jogar a última cartada: invadir a Albânia com os seus exércitos, sufocar a resistência, prender os dirigentes do Partido do Trabalho da Albânia e do Estado albanês e proclamar a Albânia como a sétima república da Jugoslávia. Mas o Partido levou ao fracasso mais este diabólico plano por eles tramado. E, naquele momento, a ajuda e a intervenção de J. V. Staline foram decisivas para o nosso Partido e para a liberdade do povo albanês.
Foi precisamente naquele momento que o Cominform desmascarou a camarilha de Tito, fazendo fracassar as suas actividades conspirativas não só na Albânia, mas também nos demais países de democracia popular. Agindo sob a máscara de comunistas, Tito e o seu bando, esses renegados e agentes do imperialismo, tentaram destruir a amizade e a aliança combativa que uniam os países de democracia popular dos Balcãs e da Europa Central à União Soviética, liquidar os partidos comunistas e operários dos nossos países e transformar os nossos Estados em reservas do imperialismo anglo-americano. Quem não percebia e não via em execução os planos hostis do imperialismo e de seu fiel servidor, Tito? Todos sabiam, todos tomaram conhecimento e todos, unanimemente, aprovaram as justas decisões do Cominform. As resoluções do Cominform foram aprovadas por todos, sem excepção. E, para nós, todas aquelas resoluções, sem excepção, eram e continuam a ser correctas.
Com a contra-revolução na Hungria e as incessantes conspirações de Tito na Albânia, os que não queriam ver e compreender as actividades desse bando tiveram uma segunda prova de que o lobo muda de pêlo mas continua lobo, de que Tito e a sua quadrilha podem lançar mão de subterfúgios e máscaras, mas continuam a ser traidores, agentes do imperialismo e assassinos de heróicos comunistas internacionalistas — pois é isso o que eles são, é assim que eles agem e assim continuarão até serem liquidados.
O Partido do Trabalho da Albânia não considera que as decisões adoptadas pelo Cominform contra o grupo renegado de Tito tenham sido tomadas pessoalmente pelo camarada Staline, mas sim por todos os partidos que participavam daquele organismo. E não apenas por tais partidos, mas também por todos os partidos comunistas e operários que não participavam do Cominform. Tratando-se de uma questão respeitante a todos os partidos comunistas e operários, também dizia respeito ao Partido do Trabalho da Albânia. E o nosso Partido, tendo recebido e estudado a carta enviada por Staline e Molotov ao Comité Central do Partido Comunista Jugoslavo, manifestou-se inteiramente solidário com ela e com as decisões do Cominform.
Qual a razão, agora, para a «reviravolta» operada em 1955 pelo camarada Kruchov e pelo Comité Central do Partido Comunista da União Soviética em relação aos revisionistas jugoslavos não ter sido objecto de uma consulta regular aos demais partidos comunistas e operários, sendo concebida e realizada de maneira tão rápida e unilateral? Tratava-se de uma questão respeitante a todos nós: ou os revisionistas se tinham lançado à luta contra o marxismo-leninismo e os partidos comunistas e operários do mundo, ou então não o tinham feito; ou tinham errado eles, ou então tínhamos errado nós em relação a eles, e não somente Staline. E isto não poderia ser resolvido unicamente pelo camarada Kruchov, a seu bel-prazer — nem lhe era permitido tal. Mas, de facto, foi o que fez, vinculando a sua visita a Belgrado à reviravolta nas relações com os revisionistas jugoslavos. Tal iniciativa caiu sobre o Partido do Trabalho da Albânia como uma bomba inesperada. E o Partido opôs-se-lhe de maneira imediata e categórica.
Nesse sentido, em Maio de 1955, antes da partida do camarada Kruchov para Belgrado, o Comité Central do Partido do Trabalho da Albânia enviou uma carta ao Comité Central do Partido Comunista da União Soviética manifestando a oposição do nosso Partido à visita de Kruchov a Belgrado. A carta ressaltava que a questão jugoslava não poderia ser resolvida unilateralmente, sendo necessária a realização de uma reunião do Cominform, para a qual solicitávamos também a participação do Partido do Trabalho da Albânia como convidado. Era nessa reunião que a questão deveria ser decidida, depois de um extenso e justo debate. É certo que, do ponto de vista formal, não nos cabia o direito de decidir se o camarada Kruchov deveria ou não ir a Belgrado, e, neste aspecto, recuámos na nossa posição. Mas, do ponto de vista da essência, tínhamos razão ao achar que a questão jugoslava não deveria ter sido resolvida apressamente, e isto foi comprovado pelo tempo.
A partir de então, foi lançado o lema das «superposições», foi rapidamente anulada a segunda resolução do Cominform, foi inaugurada a «época da reconciliação» com os «camaradas jugoslavos», foram revistos os casos dos conspiradores, promoveu-se a sua reabilitação e começou-se a falar a torto e a direito de «camaradas jugoslavos» para cá, «camaradas jugoslavos» para lá. O resultado foi que os «camaradas jugoslavos» sairam purificados e começaram a cantar de galo, apregoando aos quatro ventos que a sua «justa causa» havia triunfado e que fora o «criminoso Staline» quem tinha maquinado tudo. Desta maneira, foi criada uma situação segundo a qual quem não trilhasse o novo caminho era «stalinista» e devia ser liquidado.
Mas o nosso Partido recusou-se a seguir essa senda conciliadora e oportunista, mantendo-se nas justas posições ideológicas marxistas-leninistas, na sua posição de luta ideológica e política contra os revisionistas jugoslavos. O Partido do Trabalho da Albânia manteve inabalável o seu ponto de vista de que o grupo titista era um grupo de traidores, renegados, trotskistas, subversivos e agentes norte-americanos, bem como a sua convicção de que o nosso Partido não se tinha enganado em relação a ele. O Partido do Trabalho da Albânia permaneceu inquebrantável na sua opinião de que o camarada Staline não tinha errado nesta questão. E manteve-se convicto de que, com a sua linha traidora, os revisionistas tinham tentando escravizar o nosso país e liquidar o Partido do Trabalho da Albânia e que, além disso, em conluio com os imperialistas anglo-americanos tramaram uma série de intrigas internacionais, tentando envolver a Albânia em conflitos internacionais.
Não obstante, o Partido do Trabalho da Albânia estava de acordo em estabelecer relações estatais de boa vizinhança, bem como relações comerciais e culturais com a República Federativa Popular da Jugoslávia. Mas isto com a condição de serem respeitadas as normas da coexistência pacífica entre Estados de diferentes regimes sociais, pois que, para o Partido do Trabalho da Albânia, a Jugoslávia titista nunca foi, não é e jamais será um país socialista, pelo menos enquanto tiver à sua frente esse grupo de renegados e agentes do imperialismo.
Nenhum esforço, aberto ou camuflado, conseguiu afastar o Partido do Trabalho da Albânia destas justas posições. O Comité Central do Partido Comunista da União Soviética, através do camarada Suslov, dispendeu esforços inúteis ao tentar convencer-nos de que devíamos deixar de mencionar a questão de Koçi Xoxe no informe ao nosso III Congresso, realizado em Maio de 1956, o que significaria negarmos a nossa luta e as nossas posições de princípio.
Os titistas tinham encontrado na Albânia um osso duro de roer ou, na expressão do próprio Tito, «um espinho cravado no pé». E, naturalmente, o grupo titista traidor continuou a lutar contra o Partido do Trabalho da Albânia, desta vez pensando estar a desmascarar-nos ao qualificar-nos de «stalinistas». E não foi apenas com propaganda que o grupo de Belgrado nos combateu: prosseguiu em actos de espionagem e subversão, em conspirações e no envio de bandos armados ao nosso país, actuando ainda mais intensamente do que antes de 1948. Tudo isto é comprovado pelos factos. Mas o trágico é que, por um lado, o Partido do Trabalho da Albânia tinha de defender-se face aos ataques duros e ininterruptos dos revisionistas jugoslavos e, por outro lado, a inabalável posição marxista-leninista de princípios do nosso Partido entrava em contradição com as atitudes conciliatórias dos dirigentes soviéticos e dos dirigentes de alguns outros partidos comunistas e operários em relação aos revisionistas jugoslavos.
Naquela época, dizia-se e escrevia-se com grande alarido que «a Jugoslávia é de facto um país socialista», que «os comunistas jugoslavos possuem uma grande experiência e têm grandes méritos», que «a experiência jugoslava é digna do maior interesse e merece um atento estudo», que «não foi a Jugoslávia que provocou o período das altercações e mal-entendidos», que ela «tinha sido vítima de uma grande injustiça» e outras coisas mais. Tais posições, naturalmente, encorajaram a camarilha de Tito, que imaginou já ter ganho a partida, restando-lhe apenas «um espinho cravado no pé», obstáculo que ela pensava isolar e, por conseguinte, liquidar. Mas não conseguiu isolar e muito menos liquidar o nosso Partido, acontecendo justamente o contrário: o tempo comprovou que os pontos de vista do nosso Partido eram correctos.
O nosso Partido foi objecto de muitas pressões em virtude da sua posição. A direcção albanesa era considerada como «exaltada» e «teimosa», acusada de «exagerar» os problemas com a Jugoslávia, «irritar injustamente» os jugoslavos, e assim por diante. Neste sentido, o nosso Partido foi atacado sobre tudo pelo camarada Kruchov.
Pouco antes, mencionei sucintamente a actividade dos revisionistas jugoslavos contra o nosso Partido e o nosso país na época da guerra, depois da guerra e depois de 1948, mas também me deterei um pouco no período anterior à contra-revolução húngara, que foi obra dos agentes jugoslavos. Naquela ocasião, o grupo traidor de Belgrado também iniciara a preparação de uma contra-revolução na Albânia. Se o nosso Partido tivesse cometido o erro de entrar na «dança da reconciliação» com os revisionistas jugoslavos, como era aconselhado depois de 1955, a democracia popular albanesa teria ido por água abaixo. E nós, albaneses, não estaríamos aqui nesta sala hoje, mas ainda nos encontraríamos a combater nas nossas montanhas.
No entanto, em férrea unidade e mantendo elevada a vigilância, o nosso Partido e o nosso povo descobriram e desmascararam os espiões de Tito no seio do Comité Central, os quais trabalhavam em colaboração com a Delegação jugoslava em Tirana. Tito fez saber a esses traidores que se tinham precipitado, pois deveriam ter esperado pelas suas orientações. Esses espiões e traidores, por seu turno, escreveram ao camarada Kruchov para que ele interviesse contra o Comité Central do Partido do Trabalho da Albânia. Todos estes factos são comprovados por documentos. O objectivo de Tito era coordenar a contra-revolução na Albânia com a contra-revolução na Hungria.
Estando o nosso III Congresso fixado para algum tempo depois do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, os agentes jugoslavos pensaram ter chegado o momento oportuno para derrubar a direcção albanesa «teimosa» e «stalinista». Organizaram então a conspiração que foi descoberta e arrasada na Conferência do Partido em Tirana, em Abril de 1956. Os conspiradores receberam o severo castigo que mereciam. Então, dois outros perigosos agentes de Tito na Albânia, Dali Ndreu e Liri Gega, receberam uma ordem de Tito no sentido de fugirem para a Jugoslávia, por se «encontrarem em perigo» e que as actividades contra o nosso Partido «deveriam ser organizadas a partir de território jugoslavo». O Partido, porém, conhecendo inteiramente a actividade e a ordem secreta de Tito, manteve-se vigilante e capturou os traidores na fronteira, quando tentavam fugir. Os traidores foram julgados e fuzilados, enquanto todos os agentes jugoslavos que preparavam a contra-revolução na Albânia eram descobertos e aniquilados.
Surpreendentemente, porém, o camarada Kruchov apresenta-se diante de nós como defensor daqueles traidores e agentes jugoslavos, acusando-nos de terem fuzilado a agente jugoslava, a traidora Liri Gega, «quando ela se encontrava em estado de gravidez, coisa que não acontecia nem no tempo do czar, tendo criado uma má impressão na opinião pública mundial». Tratava-se de um eco das calúnias dos jugoslavos, em quem o camarada Kruchov tinha mais confiança do que em nós. E, naturalmente, refutamos as insinuações do camarada Kruchov.
Mas não ficou aí a atitude incorrecta, sem princípios e inamistosa do camarada Kruchov em relação ao nosso Partido e à sua direcção. Panajot Plaku, um outro agente jugoslavo e traidor do Partido do Trabalho da Albânia e do povo albanês, fugiu para a Jugoslávia, colocando-se ao serviço dos jugoslavos, passou a organizar as emissões hostis de uma estação de rádio apelidada de «Albânia socialista». Esse traidor ainda escreveu ao renegado Tito e ao camarada Kruchov, solicitando deste último que, com a sua autoridade, liquidasse a direcção da Albânia, com Enver Hoxha à frente, porque seríamos «antimarxistas» e «stalinistas». O camarada Kruchov, em vez de se indignar com a carta daquele traidor, ainda manifestou a ideia de que ele poderia voltar à Albânia, com a condição de que não lhe fizéssemos nada, ou então, poderia ir para a União Soviética como asilado político. Para nós, foi como se as muralhas do Kremlin nos desabassem sobre a cabeça, pois jamais poderíamos imaginar que o primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética chegasse ao ponto de apoiar os agentes de Tito e traidores do Partido, colocando-se contra o nosso Partido e o nosso povo.
No entanto, as nossas discordâncias de princípios com o camarada Kruchov acerca da questão jugoslava chegaram ao seu ponto culminante quando, diante da nossa insistência de princípios para que a quadrilha titista de Belgrado fosse desmascarada, ele se revoltou tanto que, em conversações oficiais realizadas em Abril de 1957 entre as nossas duas delegações, chegou ao cúmulo de nos dizer encolerizado: «Interrompamos as conversações, pois convosco não nos podemos entender. Vocês pretendem levar-nos ao caminho de Staline!» Foi grande a nossa revolta a esta atitude inamistosa do camarada Kruchov de pedir a interrupção das conversações, o que significaria agravar as relações com o Partido e o Estado albanês na questão do grupo de Tito, traidor do marxismo-leninismo. Não podíamos, de maneira alguma, concordar com aquilo. E, apesar de sermos acusados de exaltados, mostrámos a nossa serenidade, pois estávamos convencidos de que nós é que tínhamos razão e não o camarada Kruchov, de que a linha por nós seguida é que era correcta e não a do camarada Kruchov e de que a nossa linha seria novamente comprovada pela vida, como de facto o foi, e muitas vezes.
A nossa opinião é de que a contra-revolução húngara foi principalmente obra dos titistas. Os imperialistas norte-americanos tinham em Tito e nos renegados de Belgrado a sua melhor arma para destruir a democracia popular na Hungria. Depois da visita do camarada Kruchov a Belgrado, em 1955, a actividade de sapa de Tito não foi tida em conta. E a contra-revolução na Hungria não estourou da noite para o dia, de maneira inesperada. Podemos mesmo dizer que foi preparada de forma aberta e publica, e nunca ninguém nos conseguiria convencer de que a sua organização foi feita no mais profundo segredo. A contra-revolução foi preparada pelos agentes do bando de Tito em colaboração com o traidor Imre Nagy e com os fascistas húngaros. Todos eles actuavam abertamente, sob a direcção dos norte-americanos. Os titistas, principais organizadores da contra-revolução, planeavam separar a Hungria do nosso campo socialista, transformá-la numa segunda Jugoslávia, aliá-la à NATO através da Jugoslávia, da Grécia e da Turquia, levá-la a depender das ajudas norte-americanas e atraí-la à luta contra o campo socialista, ao lado da Jugoslávia e sob a direcção do imperialismo.
Os contra-revolucionários conspiravam abertamente na Hungria. Como é que não se percebeu a sua actividade? Não podemos conceber que Tito e os bandos horthystas pudessem agir tão livremente como fizeram numa democracia popular irmã como a Hungria, país em que o partido estava no poder, tendo nas mãos as armas da ditadura do proletariado, e onde se encontrava também o Exército Soviético. Somos de opinião que o camarada Kruchov e os demais camaradas soviéticos não assumiram posições claras em relação à Hungria porque os seus pontos de vista completamente errados acerca do bando de Tito não os deixaram ter uma visão correcta da questão. Os camaradas soviéticos confiavam em Imre Nagy, que era justamente o homem de Tito. E nós não dizemos isto sem fundamentos, simplesmente por dizer. Antes de eclodir a contra-revolução, no momento em que o cozinhado se preparava no Clube Petőfi, encontrando-me de passagem por Moscovo, tive uma conversa com o camarada Suslov, informando-o de tudo o que tinha observado ao passar por Budapeste e dizendo-lhe também que o revisionista Imre Nagy estava a levantar a cabeça e a organizar a contra-revolução no Clube Petőfi. O camarada Suslov discordou categoricamente do meu ponto de vista e, para provar-me que Imre Nagy era boa pessoa, tirou de uma gaveta «a auto-crítica ainda fresca de Imre Nagy». Apesar disso, repeti ao camarada Suslov que Imre Nagy era um traidor.
Outra coisa ainda nos surpreendeu, e é perfeitamente legítima a pergunta: por que motivo o camarada Kruchov e os camaradas soviéticos foram várias vezes à ilha de Brioni para conversações com o renegado Tito sobre a questão da Hungria? Se os camaradas soviéticos tinham conhecimento de que os titistas estavam a preparar a contra-revolução num país do nosso campo, seria permissível que os dirigentes da União Soviética tivessem conversações com um inimigo que organiza conspirações e contra-revoluções nos países socialistas? Como partido comunista, como Estado de democracia popular, como membros do Tratado de Varsóvia e como participantes do campo socialista, temos pleno direito de pedir ao camarada Kruchov e aos camaradas soviéticos que nos expliquem como é que, em 1956, realizaram todas aquelas reuniões em Brioni com o traidor ao marxismo-leninismo Tito e não fizeram nenhuma reunião com os nossos países e nenhum encontro com os membros do Tratado de Varsóvia.
Consideramos que não era da competência de uma só pessoa decidir da conveniência de levar a efeito ou não uma intervenção armada na Hungria. Na medida em que criámos o Tratado de Varsóvia, devemos decidir conjuntamente. Caso contrário, não vale a pena continuarmos a falar de aliança, colegialidade e colaboração entre os partidos. A contra-revolução húngara custou sangue ao nosso campo, à Hungria e à União Soviética. Como se explica que se tenha chegado àquele derramamento de sangue sem que se tivessem tomado medidas para o evitar? Pensamos que era impossível tomar qualquer medida prévia, visto que o camarada Kruchov confiava no traidor Tito, o organizador da contra-revolução na Hungria, e visto ainda que os camaradas soviéticos subestimavam de tal maneira as indispensáveis reuniões regulares com os seus amigos e aliados a ponto de considerarem as suas próprias decisões unilaterais sobre questões relativas a todos nós como as únicas decisões correctas, desprezando totalmente a prática das decisões colectivas.
O Partido do Trabalho da Albânia não tem ideias claras quanto à maneira como se desenvolveram as coisas nem do modo como foram decididas. Num momento em que os titistas, por um lado, mantinham conversações com os camaradas soviéticos em Brioni e, por outro lado, organizavam febrilmente a contra-revolução na Hungria e na Albânia, os camaradas soviéticos nem sequer se davam ao trabalho de pôr a nossa direcção a par do que acontecia e das medidas que pensavam tomar. Nem sequer o fizeram de uma maneira puramente formal, tendo em consideração o facto de que somos aliados. Não se trata aqui de uma questão formal, pois os camaradas soviéticos sabem muito bem quais eram os propósitos e objectivos do bando de Belgrado em relação à Albânia. Por conseguinte, a atitude dos camaradas soviéticos é verdadeiramente condenável e, além do mais, incompreensível.
Os acontecimentos da Hungria foram para nós um grande ensinamento. Tanto pelo que sucedeu como por tudo o que se passou no palco e nos bastidores. Após a contra-revo lução húngara, acreditávamos que a traição de Tito e da sua quadrilha estava mais do que clara. A propósito: sabemos que inúmeros documentos reveladores da bárbara actividade do grupo de Tito nos acontecimentos da Hungria são mantidos em gavetas e não são dados a conhecer. E não compreendemos a razão desta atitude. Que interesses se escondem por detrás desses documentos para que não sejam revelados, mas, pelo contrário, sejam cuidadosamente guardados em gavetas? Até mesmo os mínimos documentos foram pesquisados e descobertos para condenar post mortem o camarada Staline, enquanto agora são metidos em gavetas os documentos que desmascaram esse infâme traidor que é Tito.
Mas, mesmo depois da contra-revolução húngara, em lugar de se intensificar a luta política e ideológica contra o bando titista, como o exigia o marxismo-leninismo, caminhou-se rumo ao amortecimento, à reconciliação, aos sorrisos, aos contactos e à suavização, chegando-se quase aos beijos. E, na verdade, graças a tal atitude oportunista, os titistas conseguiram saltar também esse fosso.
O Partido do Trabalho da Albânia era contrário à linha seguida pelo camarada Kruchov e os demais camaradas em relação aos revisionistas jugoslavos. Em face disto o nosso Partido prosseguiu com força redobrada a sua luta contra os revisionistas. Na impossibilidade de atacar a nossa justa linha, muitos amigos e camaradas, especialmente os camaradas soviéticos e búlgaros, zombavam de nós, sorriam ironicamente e, onde quer que fosse, isolavam a nossa gente, preferindo colóquios amistosos com os titistas.
Tínhamos esperanças de que, após o VII Congresso titista, até mesmo os cegos — quanto mais os marxistas — veriam quem eram eles e o que se devia fazer. Mas, infelizmente, nada disso aconteceu. Mesmo após o VII Congresso titista, passado pouco tempo, o desmascaramento do revisionismo serenou. As revistas teóricas soviéticas falavam de todas as espécies de revisionismo, até mesmo do revisionismo de Honolulu, mas muito pouco falavam do revisionismo jugoslavo. O que quer dizer: não vejam o lobo que está diante de nós, saiam à procura dos seus rastos por aí. Ao mesmo tempo, apareciam as directrizes «não falemos mais de Tito e do seu grupo para não alimentar a sua vaidade», «não falemos mais de Tito e do seu grupo para não prejudicar o povo jugoslavo», «não falemos mais dos renegados titistas porque Tito utiliza-se das nossas palavras para mobilizar o povo jugoslavo contra o nosso campo», e assim por diante. Muitos partidos adoptaram tais normas, mas o nosso não. E pensamos que o nosso Partido agiu correctamente.
Criou-se assim uma situação tal, que a imprensa dos países amigos só aceitava artigos de autores albaneses que não contivessem referências aos revisionistas jugoslavos. Os nossos embaixadores foram indirectamente isolados em todos os países de democracia popular da Europa — à excepção da Checoslováquia, visto que os camaradas checoslovacos, em geral, julgaram judiciosamente as nossas acções(17). Os diplomatas dos países amigos adoravam os colóquios com os diplomatas titistas, enquanto os nossos diplomatas detestavam os titistas, não querendo nem vê-los pela frente.
E a coisa chegou a tal ponto que o camarada Kruchov colocou a questão jugoslava como condição para a sua visita à Albânia, em Maio de 1959, à frente de uma delegação do partido e do Governo soviéticos. Ao iniciarem-se as conversações em Tirana, as primeiras palavras do camarada Kruchov foram para avisar todos os presentes de que não falaria contra os revisionistas jugoslavos, coisa que, de resto, ninguém o obrigava a fazer. Mas o facto é que, com tal declaração, ele queria mostrar abertamente a sua discordância com o Partido do Trabalho da Albânia acerca daquela questão. Respeitámos o desejo do hóspede enquanto ele permaneceu na Albânia, não obstante a incomensurável alegria da imprensa titista, que não deixou de dizer que Kruchov havia tapado a boca aos albaneses. E isto, de certa maneira, correspondia à realidade. Mas o camarada Kruchov estava muito longe de nos convencer. Assim, os titistas tiveram oportunidade de ver logo claramente que, com a partida de Kruchov do nosso país, o Partido do Trabalho da Albânia se desobrigava da condição imposta pelo hóspede e prosseguia o seu próprio caminho marxista-leninista.
Nas suas conversações com Vukmanoviç Tempo(18), o camarada Kruchov, entre outras coisas, considerou as nossas atitudes semelhantes às dos jugoslavos no que se refere ao tom, declarando-se em desacordo com o tom usado pelos albaneses. Nós consideramos erradas e condenáveis as declarações do camarada Kruchov a Vukmanoviç Tempo, que é um inimigo do marxismo, do campo socialista e da Albânia. O nosso povo diz que «cada mula tem o arreio que merece», sendo assim, nós tão-pouco estamos de acordo com o tom conciliador do camarada Kruchov em relação aos revisionistas, pois como bem mostra o ditado popular, «diante do inimigo, o tom deve ser duro; mas, diante da amada, deve sair mel da boca».
Raciocinando erradamente, alguns camaradas pretendem que nós mantemos estas posições em relação aos titistas porque, pretensamente, desejaríamos ser os porta-bandeiras da luta contra o revisionismo ou porque teríamos uma visão estreita do problema, considerando-o de um ponto de vista estritamente nacional. E, por isso, para tais camaradas, nós ter-nos-íamos metido, se não num «caminho chauvinista» pelo menos na via do «nacionalismo estreito». Mas o Partido do Trabalho da Albânia sempre encarou a questão do revisionismo jugoslavo do ponto de vista do marxismo-leninismo, e assim prossegue. E não só isso: ele sempre considerou e combateu o revisionismo jugoslavo como o principal perigo para o movimento comunista internacional e como ameaça para a unidade do campo socialista, e assim continua a fazer.
Mas, ao mesmo tempo em que somos internacionalistas, somos também comunistas de um país determinado, a Albânia. E nós, comunistas albaneses, não poderíamos ser designados por comunistas se não defendessemos com coerência e firmeza a liberdade da nossa sagrada pátria contra as conspirações e os ataques subversivos da camarilha revisionista de Tito, cujos propósitos de invadir a Albânia já são conhecidos de todos. Seria aceitável e permissível que nós, comunistas albaneses, deixássemos o nosso país tomar-se presa de Tito, dos norte-americanos, dos gregos ou dos italianos? Não, jamais!
Outros aconselham-nos a não falar contra os jugoslavos, dizendo-nos: «Do que têm vocês medo, se a União Soviética vos protegerá?» Nós já dissemos e repetimos agora a esses camaradas que não temos medo nem dos trotskistas jugoslavos nem de quem quer que seja. Somos marxistas-leninistas, sabemos, por isso, que não devemos abrandar em nenhum momento a luta contra os revisionistas e imperialistas até à sua liquidação. E isto porque, para ser protegido pela União Soviética, é preciso, antes, ser capaz de se defender a si próprio.
Os jugoslavos acusam-nos de sermos «chauvinistas», de levarmos a efeito «ingerências» nos seus «assuntos internos» e de exigirmos «rectificações de fronteiras com a Jugoslávia». Inúmeros de entre os nossos amigos pensam e dão a entender que nós, comunistas albaneses, estaríamos de facto navegando nessas águas. Mas nós dizemos aos amigos que assim pensam que estão redondamente enganados. Não somos chauvinistas e nunca, nem antes nem agora, exigimos rectificação de fronteiras. Aquilo que exigimos e continuaremos a exigir permanentemente dos titistas — e pelo que os desmascararemos até ao fim — é que acabem com o crime de genocídio contra a população albanesa de Kossova, acabem com o terror branco contra os albaneses de Kossova e acabem com a expulsão dos albaneses das suas próprias terras e o seu envio em massa para a Turquia. O que nós exigimos é que sejam reconhecidos os direitos da população albanesa da Jugoslávia, com base na própria Constituição da República Federativa Popular da Jugoslávia. São chauvinistas ou marxistas estas exigências?
Estas são as nossas posições sobre a questão em foco. Mas se, ao mesmo tempo em que falam de coexistência, paz e relações de boa vizinhança, os titistas montam conspirações e organizam na Jugoslávia tropas de mercenários e fascistas, em conjunto com a Grécia monarco-fascista, para atacar as nossas fronteiras e retalhar a Albânia socialista, então estejam mais do que certos que não só o povo albanês da nova Albânia se levantará de armas nas mãos, como também, de armas nas mãos, um milhão de albaneses que vive sob a servidão titista se levantarão para deter a mão do criminoso. E isto é de marxistas. É isto o que acontecerá, se qualquer coisa deste género vier a ser tentada. O Partido do Trabalho da Albânia não permite que ninguém brinque com os direitos do povo albanês ou os discuta.
Nós não intervimos nos assuntos internos de ninguém. Mas também não podemos ficar calados quando, devido ao abrandamento da luta contra os revisionistas jugoslavos, as coisas cheguem ao ponto de num país amigo como a Bulgária, se publique um mapa dos Balcãs que inclui a Albânia nas fronteiras da Jugoslávia Federativa. Disseram-nos que isto tinha acontecido devido a um erro técnico de um funcionário. Mas como se explica que coisas como esta não sucedessem anteriormente?
Não se trata, porém, de um caso isolado. Num comício realizado na cidade de Sremska Mitrovica, como é habitual, o bandido Rankoviç atacou a Albânia, classificando-a de «inferno em que dominam o arame farpado e a bota do guarda de fronteira» e dizendo que a democracia dos neo-fascistas italianos é mais avançada do que a nossa. As palavras de Rankoviç não teriam a mínima importância para nós se não tivessem sido ouvidas com a maior serenidade e sem o menor protesto pelos embaixadores soviético e búlgaro em Belgrado, que assistiam ao comício. Em face disto protestámos de forma amistosa contra tal atitude junto dos Comités Centrais do Partido Comunista da União Soviética e do Partido Comunista Búlgaro.
No entanto, na sua carta de resposta ao Comité Central do Partido do Trabalho da Albânia, o camarada Jivkov ainda teve o atrevimento de rechaçar o nosso protesto e classificar positivamente o discurso do bandido Rankoviç. Jamais poderíamos imaginar que o primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista Búlgaro pudesse considerar positivo o discurso de um bandido como Rankoviç, que ofende tão duramente a Albânia socialista, designando-a por inferno. Não só rejeitamos com desprezo esta ofensa intolerável do primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista Búlgaro, como também manifestamos a nossa absoluta convicção de que o partido comunista e o heróico povo búlgaros se revoltariam profundamente se tomassem conhecimento do facto. Se permitirmos a ocorrência de erros de tal gravidade seja por parte de quem for, então as coisas não poderão caminhar.
Da mesma forma, não podemos concordar de maneira alguma com o camarada Kruchov a propósito das suas conversações com Sófocles Venizelos sobre a minoria grega na Albânia. E este protesto nós já lho apresentámos directamente e em devido tempo. O camarada Kruchov sabe que as fronteiras da Albânia são sagradas e invioláveis, sabe que quem lhes tocar é agressor e sabe também que o povo albanês derramará sangue se alguém violar as suas fronteiras. Por isso, o camarada Kruchov cometeu um grave erro ao dizer a Venizelos que tinha visto gregos e albaneses a trabalhar como irmãos em Korça. Não existe qualquer minoria grega em Korça; existe, isto sim, a cobiça secular dos gregos pela região de Korça, como de resto por toda a Albânia. Só em Girocastra há uma minoria grega, e muito pequena. E o camarada Kruchov sabe que essa minoria desfruta de todos os direitos, fala a língua grega, conta com o ensino em grego e, além disso, goza dos mesmos direitos que todos os restantes cidadãos albaneses.
São perfeitamente conhecidas as reivindicações dos gregos, entre as quais as de Sófocles Venizelos, filho de Eleutherios Venizelos, esse assassino de albaneses, o incendiário das regiões do Sul da Albânia, o mais raivoso chauvinista grego e o pai da «megaliidhea» grega(19), do retalhamento da Albânia e da anexação do nosso país sob a dissimulação da autonomia. O camarada Kruchov conhece muito bem a posição do Partido do Trabaho da Albânia, do Governo albanês e do povo albanês acerca desta questão. Por isso, é para nós inaceitável e condenável não dar a resposta que ele merecia, deixar-lhe ilusões e esperanças e dizer-lhe que transmitiria os seus desejos aos camaradas albaneses, os desejos de um agente inglês, de um chauvinista, de um inimigo do comunismo e da Albânia. Nós demos a nossa resposta a Sófocles Venizelos, camarada Kruchov, e cremos que você tomou conhecimento dela através da imprensa. Não temos qualquer objecção quanto às suas relações políticas com Sófocles Venizelos, mas você não deve fazer política com as nossas fronteiras e os nossos direitos, porque isto nunca permitimos e jamais permitiremos. Com isto não estamos a ser nacionalistas, mas sim internacionalistas.
Poderá haver quem considere as minhas palavras como coisas descabidas, declarações que não estão à altura da Conferência. Não me teria sido difícil redigir um discurso de tom pretensamente teórico, alinhar palavras e citações genéricas, apresentar-lhes um informe geral, tornar-me agradável e dar lugar ao próximo inscrito. Mas o Partido do Trabalho da Albânia é de parecer que não é este o caso. Poderá haver quem considere tudo o que eu disse como ataques, mas trata-se de críticas que seguiram o seu caminho normal, já tendo sido feitas antes, em devido tempo e no lugar próprio, de acordo com as normas leninistas. Agora, porém, que os erros se agravam, seria errado silenciar, pois são precisamente as posições, os actos e as práticas que comprovam, enriquecem e criam a teoria.
Com que rapidez foi organizada a Reunião de Bucareste e com que facilidade o Partido Comunista da China foi condenado como «dogmático»! Por que não se organizou com tal celeridade uma conferência para também condenar o revisionismo? Por acaso o revisionismo já teria sido completamente desmascarado, como pretendem os camaradas soviéticos? Não, de maneira alguma! O revisionismo foi e continua a ser o perigo principal, o revisionismo jugoslavo não foi liquidado e, da maneira como nos estamos a comportar em relação a ele, deixamos-lhe um vasto campo de acção para que actue sob todas as formas. E não haverá por acaso preocupantes manifestações de revisionismo contemporâneo noutros partidos? Quem disser que não, está a fechar os olhos ao perigo e arriscando a ver-se um belo dia diante de imprevistos.
Nós somos marxistas. Portanto, analisemos o nosso trabalho como nos ensinava e como agia Lenine, que não tinha medo dos erros, olhava-os de frente e corrigia-os. Foi assim que se forjou o Partido Bolchevique e foi assim que também se temperaram os nossos partidos. Agora, porém, o que está a suceder no seio dos nossos partidos? O que está a acontecer no nosso campo desde o XX Congresso? O camarada Suslov pode estar muito optimista a este respeito, como ele próprio declarou na Comissão que se reuniu em Outubro, quando acusou a delegação do Partido do Trabalho da Albânia e o camarada Hysni Kapo de terem uma visão pessimista dos acontecimentos. Nós, os comunistas albaneses, nunca fomos pessimistas nem mesmo nos tempos mais sombrios da história do nosso Partido e do nosso povo, quanto mais agora. Mas realistas, isto sim, sempre seremos. Muito se tem dito, por exemplo, da nossa unidade. A unidade é uma coisa indispensável e devemos lutar para fortalecê-la e forjá-la. Mas o facto é que não existe unidade entre nós em tomo de muitas importantes questões de princípios.
Por isso, o Partido do Trabalho da Albânia considera que as questões devem ser reexaminadas á luz de uma análise marxista-leninista e que os erros existentes devem ser corrigidos. Tomemos, por exemplo, a questão da crítica a Staline, e à sua obra. Como partido marxista-leninista, o nosso Partido tem plena consciência de que o culto da personalidade é uma manifestação estranha e nociva aos partidos e ao próprio movimento comunista. Os partidos marxistas não devem permitir o desenvolvimento do culto da personalidade, que entrava a actividade das massas, nega o papel das massas e opõe-se ao desenvolvimento da própria vida do partido e das leis que a regulam. Além disso, os nossos partidos devem lutar com todas as suas forças para arrancá-lo pela raiz, quando começa a manifestar-se ou já se manifestou nalgum país. Vendo as coisas sob este prisma, estamos inteiramente de acordo que se deve criticar o culto da personalidade de Staline como uma manifestação nefasta na vida do partido. Consideramos, porém, que o XX Congresso, e particularmente o informe «secreto» do camarada Kruchov, não abordaram correctamente a questão do camarada Staline e não a trataram de maneira objectiva, marxista-leninista.
Staline foi dura e injustamente condenado nesse aspecto por parte do camarada Kruchov e do XX Congresso. O camarada Staline e a sua obra, porém, não pertencem apenas ao Partido Comunista da União Soviética e ao Povo soviético, mas também a todos nós. Se em Bucareste o camarada Kruchov apresentou as divergências entre o Partido Comunista da União Soviética e o Partido Comunista da China como sendo divergências entre o Partido Comunista da China e o movimento comunista internacional e se lhe agrada ainda dizer que as decisões do XX e do XXI Congressos foram adoptadas por todos os partidos comunistas e operários do mundo, então porque não mostrou tanta amplitude e coerência no que se refere ao julgamento das actividades de Staline, para que isto pudesse ser feito com plena consciência pelos partidos comunistas e operários do mundo?
Não pode haver dois pesos e duas medidas nestas questões. Como se explica então que o camarada Staline tivesse sido condenado no XX Congresso sem uma consulta prévia aos demais partidos comunistas e operários do mundo? E por que razão foi lançado aos partidos comunistas e operários do mundo de forma inesperada e surpreendente o «anátema» contra Staline, fazendo com que muitos partidos irmãos dele só tomassem conhecimento quando o imperialismo publicou o informe «secreto» do camarada Kruchov, difundindo-o aos milhares por todos os cantos? A condenação do camarada Staline foi imposta ao mundo comunista e ao mundo progressista pelo camarada Kruchov. E o que poderiam ter feito os nossos partidos numa situação em que, inopinadamente e utilizando a grande autoridade da União Soviética, se lhes impunha em bloco tal questão?
O Partido do Trabalho da Albânia encontrou-se diante de um grande dilema. Isto porque não estava convencido — como não o estará jamais — da justeza da condenação do camarada Staline da maneira e da forma como foi feita pelo camarada Kruchov. O nosso Partido, em geral, adoptou as formulações do XX Congresso sobre a questão. Mas, apesar disso, não se manteve estritamente dentro dos limites fixados pelo congresso, não se dobrando às chantagens e intimidações que lhe vinham do exterior. O Partido do Trabalho da Albânia mostrou-se realista na questão de Staline, manifestando-se justo e reconhecido em relação a esse glorioso marxista que, enquanto vivo, não apareceu, dentre nós, nenhum «valente» que o criticasse, mas que, morto, foi enlameado.
Criou-se, então, uma situação intolerável: negava-se o papel dirigente de J. V. Staline em toda uma gloriosa época da história da União Soviética, abrangendo a construção do primeiro Estado socialista do mundo, o fortalecimento da União Soviética, o esmagamento das conspirações imperialistas, a destruição dos trotskistas, dos bukarinistas e dos kulaks enquanto classe, a triunfal construção da indústria pesada, a vitória da colectivização da agricultura; em suma, uma gloriosa época em que a União Soviética se transformou numa potência colossal, construindo, com êxito, o socialismo, lutando com heroísmo legendário na Segunda Guerra Mundial e derrotando o fascismo, uma época em que se criou o poderoso campo socialista entre tantos outros feitos. O Partido do Trabalho da Albânia considera não ser correcto, normal e marxista apagar o nome e a grande obra de Staline de toda essa época, como se está a fazer. Todos nós devemos defender a fecunda e imortal obra de Staline. E quem não a defende é oportunista e cobarde.
Como pessoa e como dirigente do Partido Comunista Bolchevique, o camarada Staline foi também o mais destacado dirigente do comunismo internacional depois da morte de Lenine, tendo influído com grande autoridade e de maneira muito positiva na consolidação e no desenvolvimento das conquistas do comunismo em todo o mundo. Todas as obras teóricas do camarada Staline constituem um ardente testemunho da sua fidelidade ao leninismo e ao mestre genial, o grande Lenine. Staline lutou pelos direitos da classe operária e dos trabalhadores de todo o mundo, combateu com grande coerência e até ao fim pela liberdade dos povos dos nossos países de democracia popular. Quanto mais não fosse, só isto já bastaria para comprovar que Staline pertence ao mundo comunista e não só aos comunistas soviéticos, pertence a todos os trabalhadores do mundo e não só aos trabalhadores soviéticos.
Se o camarada Kruchov e os camaradas soviéticos tivessem examinado a questão com este espírito, teriam sido evitados os grandes erros cometidos. Consideraram a questão de Staline de maneira muito simplista e apenas segundo a óptica interna da União Soviética. Mas, para o Partido do Trabalho da Albânia, mesmo sob esse prisma eles foram unilaterais no exame da questão, vendo unicamente os erros de Staline, pondo quase totalmente de parte a sua imensa actividade e a sua grande contribuição para o fortalecimento da União Soviética, para a têmpera do Partido Comunista da União Soviética, para a construção da economia, da indústria e da agricultura kolkhoziana da União Soviética, para a direcção do povo soviético na grande vitória sobre o fascismo alemão.
Staline cometeu erros? Num período tão longo, prenhe de heroísmo, esforços, lutas e vitórias, seria inevitável que também se cometessem erros, não só erros pessoais de José Staline, mas também erros da direcção enquanto organismo colectivo. Haverá, no entanto, algum partido ou alguma direcção que se considere infalível no seu trabalho? Quando se fazem críticas à actual direcção soviética, os camaradas soviéticos aconselham-nos a olhar para a frente e dizem que devemos pôr de lado as discussões. Mas quando se tratou de Staline, não só deixaram de olhar para a frente como se voltaram para trás, muito para trás, a fim de descobrir unicamente as deficiências do seu trabalho.
O culto da personalidade de Staline devia justamente ser superado. Mas poderá dizer-se, como se disse, que Staline foi o próprio artesão desse culto da personalidade? Devia-se, justamente, combater o culto da personalidade. Mas seria necessário e correcto ir tão longe que aquele que mencionasse o nome de Staline ficasse logo marcado e aquele que utilizasse uma citação de Staline passasse a ser visto com maus olhos? Houve quem se apressasse com grande zelo a destruir as estátuas de Staline e a dar novas designações às cidades baptizadas com o seu nome. Não precisamos de ir muito longe: em Bucareste, o camarada Kruchov disse aos camaradas chineses: «Vocês estão a agarrar-se a um cavalo morto. Se quiserem, podem até vir buscar os seus ossos.» E isto falando a propósito de Staline!
O Partido do Trabalho da Albânia declara solenemente estar contra estes actos e julgamentos sobre a obra e a pessoa de J. V. Staline. Qual a razão, camaradas soviéticos, para estas questões terem sido postas desta maneira e destas formas tortuosas, quando havia possibilidade de levantá-las correctamente, corrigindo-se não só os erros de Staline como também os da direcção e evitando-se o grande choque que abalou os corações dos comunistas de todo o mundo, cujo grito de protesto foi detido apenas devido ao seu sentido de disciplina e pela autoridade da União Soviética? O camarada Mikoian disse-nos que não tinham ousado criticar o camarada Staline em vida, porque ele os suprimiria. Mas nós estamos certos de que o camarada Kruchov não nos cortará a cabeça, se lhe fizermos críticas justas.
Foi depois do XX Congresso que sucederam na Polónia os factos já conhecidos, que estoirou a contra-revolução na Hungria, que começaram os ataques contra o sistema soviético, que houve convulsões em muitos partidos comunistas e operários do mundo e, finalmente, que sucede o que se está a ver. Nós perguntamos: por que motivo sucederam tais factos no seio do movimento comunista internacional e do nosso campo precisamente depois do XX Congresso? Ou será que sucederam porque a direcção do Partido do Trabalho da Albânia seria sectária, dogmática e pessimista? Este estado de coisas deve preocupar-nos grandemente. E devemos descobrir a fonte da doença para curá-la. O certo, porém, é que a doença não pode ser curada nem com palmadinhas nas costas do renegado Tito nem afirmando, em declarações, que o revisionismo contemporâneo foi definitivamente liquidado, como pretendem os camaradas soviéticos.
A autoridade do leninismo sempre foi decisiva. E ela deve ser instaurada em toda a parte, de maneira a irradiar definitivamente os pontos de vista errados. Não há outro caminho para nós, comunistas. Se é que se pode e se deve falar correctamente das coisas, tal como são, isto deve ser feito agora, antes que seja tarde, nesta mesma conferência. Achamos que os comunistas devem falar com a consciência tranquila e fortalecer a unidade marxista, mas sem guardar reservas, favoritismos e ressentimentos. O comunista deve dizer francamente o que lhe vai no coração. E as questões devem ser julgadas correctamente.
O que o nosso pequeno Partido diz pode não agradar a certas pessoas. Pode acontecer que o nosso pequeno Partido seja isolado. Podem ser feitas pressões económicas sobre o nosso país, para mostrar ao nosso povo uma pretensa incapacidade da sua direcção. O nosso Partido pode ser atacado como já tem acontecido: Mihail Suslov, por exemplo, compara o Partido do Trabalho da Albânia aos partidos burgueses e os seus dirigentes a Kerensky. Mas nada disto nos amedronta. Já estamos habituados a estas coisas. Rankoviç não disse muito mais do que isto sobre o Partido do Trabalho da Albânia e Tito apelidou-nos de Goebbels; mas nem por isso deixámos de ser leninistas, ao passo que eles continuaram a ser trotskistas, traidores, lacaios e agentes do imperialismo.
Desejo ressaltar que o Partido do Trabalho da Albânia e o povo albanês demonstraram com factos o quanto querem e respeitam a União Soviética e o Partido Comunista da União Soviética. E quando o Partido do Trabalho da Albânia critica as atitudes erradas de alguns dirigentes soviéticos, não quer dizer que os nossos pontos de vista e atitudes tenham mudado neste aspecto. Nós, albaneses, temos a coragem marxista de criticar esses camaradas dizendo-lhes tudo com a nossa dureza marxista, mas com companheirismo e de coração sinceramente aberto. Nós dizemos-lhes francamente o que pensamos, pois nunca fomos nem nunca seremos hipócritas. O Partido Comunista da União Soviética continuará a querer-nos, apesar da dureza que demonstramos e mesmo que nós nos enganemos. Mas há uma coisa pela qual o Partido Comunista da União Soviética e os partidos comunistas e operários do mundo não nos poderão condenar: a nossa sinceridade, a sinceridade de quem não segreda nas costas seja de quem for e de quem não muda de bandeira conforme a ocasião.
Para finalizar, gostaria de deter-me um pouco no projecto de declaração que nos foi apresentado pela Comissão de Redacção. A nossa delegação tomou conhecimento do projecto e estudou-o com atenção. Agora, no novo projecto que nos foi apresentado, verificam-se muitas alterações em relação à primeira versão, apresentada pela delegação soviética, que tinha sido tomada pela Comissão de Redacção como base do seu trabalho. Com as alterações feitas, o novo projecto está bastante melhor: muitas ideias importantes foram destacadas com maior intensidade, várias teses foram formuladas com maior correcção e as alusões contra o Partido Comunista da China foram retiradas na sua esmagadora maioria.
Na reunião da Comissão de Redacção, a delegação do nosso Partido fez muitas observações, que foram parcialmente aceites. Apesar de não concordar que algumas importantes questões de princípio se mantivessem no projecto tal como estavam, a nossa delegação consentiu que o documento fosse apresentado a esta Conferência, reservando-se, porém, o direito de manifestar, mais uma vez, a sua opinião sobre todos os pontos com os quais não concordava. Antes de mais, pensamos que aquelas cinco questões em torno das quais não se chegou a um acordo(20) devem ser resolvidas, a fim de que possamos emitir um documento aprovado por unanimidade.
Consideramos que a declaração precisa de destacar claramente a ideia de Lenine — expressa recentemente pelo camarada Maurice Thorez, bem como pelo camarada Suslov no seu discurso na reunião da Comissão de Redacção — de que só poderá haver garantia absoluta de cessação das guerras quando o socialismo tiver triunfado em todo o mundo ou, pelo menos, em vários dos grandes países imperialistas. Da mesma forma, deve-se suprimir o parágrafo que fala de «actividade fraccionista» no movimento comunista internacional, pois como já explicámos na reunião da Comissão, isto não serve ao fortalecimento da unidade, servindo apenas para miná-la. Também achamos que devem ser suprimidos os textos referentes à «superação das consequências nefastas do culto da personalidade», ou então que lhes sejam acrescentadas as palavras «que se manifestava numa série de partidos», o que corresponde melhor à realidade.
Não quero ocupar mais tempo à Conferência com estas questões e com as restantes observações que temos a fazer ao projecto de declaração. A nossa delegação fará as suas observações concretas quando a reunião examinar o próprio projecto de declaração.
Seria extremamente salutar que, nesta Conferência, encarássemos os erros com audácia e curássemos as nossas feridas, que correm o risco de se agravar, tomando-se perigosas. Não nos ofendemos quando os camaradas nos criticam com razão e com factos, mas jamais aceitaremos ser tratados gratuitamente por «dogmáticos», «sectários» e «nacionalistas estreitos» pela simples razão de lutarmos com perseverança contra o revisionismo contemporâneo, particularmente contra o revisionismo jugoslavo. A quem quer que classifique a nossa luta contra o revisionismo de dogmatismo ou sectarismo, aconselhamos a que tire os óculos revisionistas para ver claramente.
O Partido do Trabalho da Albânia considera que esta Conferência ficará na história, pois seguirá a tradição das reuniões e conferências leninistas organizadas pelo Partido Bolchevique para desmascarar e liquidar pela raiz os pontos de vista errados, bem como para fortalecer e solidificar a unidade do nosso movimento comunista e operário internacional com base no marxismo-leninismo. O nosso Partido do Trabalho também no futuro continuará a lutar decididamente para consolidar a nossa unidade, os nossos laços de fraternidade e a acção conjunta dos partidos comunistas e operários, porque é essa a garantia para a vitória da causa da paz e do socialismo. A unidade do campo socialista, liderado pela União Soviética, e a unidade do movimento comunista e operário internacional, com o Partido Comunista da União Soviética no centro, são sagradíssimas, e por elas o nosso Partido zelará acima de tudo e fortalecerá cada dia mais e mais.(21)
Notas:
(1) Suplemento a partir de The Party of Labor of Albania in Battle with Modern Revisionism, Casa de Publicações "Naim Frashëri", Tirana, 1972, págs. 13-14. (Nota da transcrição) (retornar ao texto)
(2) Suplemento, pág. 15. (N. T.) (retornar ao texto)
(3) Em francês no original - leal. (Nota da edição) (retornar ao texto)
(4) Suplemento, págs. 18-19. (N. T.) (retornar ao texto)
(5) Suplemento, pág. 19. (N. T.) (retornar ao texto)
(6) Suplemento, pág. 21. (N. T.) (retornar ao texto)
(7) O COMECON foi criado em Janeiro de 1949 e a RPA tornou-se seu membro em fins de Fevereiro daquele ano. Com a ascensão da camarilha revisionista de Kruchov ao poder na URSS, o COMECON degenerou, transformando-se de uma instituição de ajuda mútua num instrumento dos objectivos social-imperialistas daquela camarilha. (N. E.) (retornar ao texto)
(8) Suplemento, pág. 26. (N. T.) (retornar ao texto)
(9) Através dessa proposta e de notas enviadas em 25 de Maio de 1959 aos Governos da Albânia, Bulgária, Roménia, Jugoslávia, Turquia, Grécia, Itália, França, Inglaterra e Estados Unidos, o Governo soviético requeria a criação de uma zona sem armas nucleares e sem mísseis nos Balcãs e na região banhada pelo mar Adriático. (N. E.) (retornar ao texto)
(10) Suplemento, pág. 31. (N. T.) (retornar ao texto)
(11) Suplemento, págs. 32-33. (N. T.) (retornar ao texto)
(12) Suplemento, pág. 33. (N. T.) (retornar ao texto)
(13) Declaração da Conferência dos representantes dos partidos comunistas e operários do campo socialista, ed. albanesa, 1958, pág. 24. (N. E.) (retornar ao texto)
(14) Suplemento, págs. 62. (N. T.) (retornar ao texto)
(15) Gheorghiu Dej, então primeiro secretário do CC do Partido Operário da Roménia. (N. E.) (retornar ao texto)
(16) Na II Sessão Plenária do CC do PTA, realizada em 23 de Novembro de 1944 na cidade de Berat, o delegado do CC do PC Jugoslavo organizou, nos bastidores, uma conspiração contra o PC da Albânia, contando com a colaboração dos elementos antipartido Sejfulla Maleshova, Koçi Xoxe e Pandi Kristo. O principal objectivo do conluio era o derrube da direcção do Partido, com o camarada Enver Hoxha à frente, e a sua substituição por uma nova direcção pró-jugoslava. (N. E.) (retornar ao texto)
(17) Os checoslovacos mantiveram esta atitude no início, modificando-a depois. (N. E.) (retornar ao texto)
(18) Um dos dirigentes revisionistas jugoslavos que desde 1943 fazia acusações caluniosas contra o CC do Partido Comunista da Albânia (hoje, Partido do Trabalho da Albânia). (N. E.) (retornar ao texto)
(19) É assim designada a pretensão da burguesia chauvinista grega de criar uma «grande» Grécia nos limites do antigo Império Bizantino. (N. E.) (retornar ao texto)
(20) a) Problema das frações; b) Balanço do XX Congresso do PCUS; c) Balanço do XXI Congresso do PCUS; d) Questão do culto à personalidade; e) Princípio de consulta para obtenção da unidade, proposto pela delegação chinesa. (N. T.) (retornar ao texto)
(21) Suplemento, págs. 102-103. (N. T.) (retornar ao texto)