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Observação: Texto original “La Internacional de los Trabajadores: desde su fundación hasta el Congreso de Basilea”, publicado em outubro de 1946, pela editora El Libro em Havana, Cuba.
Fonte: https://www.anarkismo.net/article/14790?author_name=james+guillaume&
Tradução: Martin Russo e Revisão: Felipe Corrêa e Victor Calejon
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
A Exposição universal de Londres de 1862 originou uma mudança de idéias e de projetos entre os operários franceses e ingleses. Uma delegação composta por duzentos operários eleitos por seus colegas das oficinas de Paris foi enviada para Londres, custeada pelo governo, para estudar a Exposição e redigir relatórios técnicos. Em uma grande festa ocorrida em 5 de agosto de 1862 e oferecida pelos representantes das trade-unions para os trabalhadores franceses, os ingleses leram um manifesto em que expressavam o desejo de uma aproximação entre os operários das diferentes nações. “Esperamos encontrar, dizia o documento, algum meio internacional de comunicação e que no futuro vejamos formar-se um novo elo da corrente de amizade que deve unir os trabalhadores de todos os países”. Os operários franceses responderam propondo “que fossem estabelecidos comitês operários para a troca de correspondência sobre as questões internacionais que afetam a indústria”: esta idéia foi aclamada por toda a assembléia.
No ano seguinte (1863) a insurreição polonesa despertou as mais intensas simpatias dentro da classe operária, tanto na Inglaterra como na França. Os operários de Londres organizaram um grande comício em favor da Polônia para o dia 22 de julho, e convidaram os parisienses para enviarem seus delegados: seis operários de Paris atenderam à reunião em que foi votado um manifesto entusiasta. Em um segundo comício, o trade-unionista Odger, depois de ter falado da paz universal, pediu para os operários organizarem Congressos Internacionais, a fim de chegarem a um acordo sobre os meios de poder lutar contra o capitalismo e impedir a introdução de um país em outro, de uma mão-de-obra não organizada que obrigue a reduzir os salários. A idéia lançada no ano anterior era precisa: mais um ano e ela tomaria corpo.
O ano de 1864 viu crescer o movimento no âmago das classes operárias de ambos os países. Enquanto na Alemanha a propaganda socialista nacional, iniciada em 1862 por Ferdinand Lasalle, fica bruscamente interrompida por sua morte em um duelo (agosto de 1864), a França e a Inglaterra irão constituir uma organização internacional do proletariado. Na Inglaterra (no mês de abril), os representantes das trade-unions recebem com grande entusiasmo Garibaldi e igualmente manifestam sua simpatia pelos federais da América do Norte em guerra com os escravistas do sul. Na França (mês de maio), por iniciativa do próprio imperador, inquieto pela atitude dos trabalhadores, o Corpo Legislativo suprime o Código Civil, a proibição absoluta das “coligações”. Em setembro, os operários de Londres convocam outro grande comício em favor da Polônia para o dia 28 de setembro, que deveria realizar-se em Saint Martin’s Hall. Convidados, os operários de Paris apresentam como delegados os trabalhadores Tolain, Perrachon e A. Limousin, que foram os portadores de um projeto: uma associação internacional. A reunião foi presidida pelo jovem Edward Spencer Beesly, filósofo positivista e ardente radical que falou dos povos oprimidos, denunciou a violência dos governos e expressou a esperança de que a união projetada entre os operários de todos os países sairia consolidada daquela Assembléia. Odger passou a ler o manifesto enviado aos operários de Paris e Tolain leu a resposta dos operários parisienses que dizia:
“Trabalhadores de todos os países que desejam ser livres! Chegou a hora que vocês podem realizar congressos. O povo aparece em cena tendo consciência de suas forças e levantando-se perante a tirania na ordem política, contra o monopólio e o privilégio na ordem econômica... É preciso que nos unamos para opor uma barreira intransponível a um sistema funesto que dividirá a humanidade em duas classes.”
Um jovem professor de francês, chamado Le Lubez, educado em Jersey e Londres, traduziu o documento de Tolain, explicando depois o plano de organização apresentado pelos franceses, plano que foi calorosamente aplaudido. O trade-unionista Wheeler apresentou a resolução submetida à reunião pelo Comitê de iniciativa; ele disse, com cordialidade e humor, “que os franceses sempre superavam os ingleses, pois enquanto estes últimos tinham enviado seu manifesto a Paris pelo correio, os franceses levavam-no pessoalmente a Londres, acompanhado de um projeto de organização, demonstrando dessa forma, mais uma vez, que o progresso sempre vem da França, mesmo quando os franceses são os mais oprimidos.” A resolução votada foi a seguinte:
“Tendo a assembléia ouvido as respostas de nossos irmãos franceses, damos a eles as boas-vindas e como seu programa tende a melhorar a situação dos trabalhadores, o aceitamos como base de uma organização internacional. A assembléia nomeia um comitê, com possibilidade de ser aumentado para um número maior de membros, a fim de redigir regulamentos para a associação.”
A resolução foi adotada pela unanimidade e o comitê, que deveria ficar em Londres, foi nomeado nesse ato. Era composto em sua maioria por ingleses, entre os quais estavam os membros das trade-unions, Odger, Cremer, Wheeler e o discípulo de Owen, Weston. A França foi representada por Le Lubez e outros dois ou três franceses residentes na Inglaterra; a Itália pelos mazzinianos Fontana e o polonês Wolff, e a Alemanha pelo operário Eccarius e o doutor Karl Marx. O comitê recebeu a ordem de preparar um projeto de estatutos e de convocar um congresso operário para 1865.
Assim foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores que os ingleses denominaram International Workingmen’s Association. Segundo a frase do socialista Bibal, um dos que subscreveu o Manifesto dos Sessenta(1), o comitê era “uma criança nascida nas oficinas de Paris e amamentada em Londres”.
Em uma carta com data de 4 de novembro de 1864, Karl Marx relatou para seu amigo Friedrich Engels, que então residia em Manchester, como havia acontecido sua ida ao encontro no Saint Martin’s Hall. Diz ele:
“Faz um tempo alguns operários de Londres tinham enviado para outros operários de Paris um manifesto relativo à Polônia e os tinham convidado para uma ação comum sobre o assunto. Os parisienses, por sua vez, enviaram uma delegação encabeçada por Tolain, o candidato operário de uma recente eleição em Paris. Um comício público foi convocado para 28 de setembro, em Saint Martin’s Hall, por Odger (sapateiro, presidente do London Trades Union Council e também da Trades Unions Suffrage Agitation Society, que está em relação com John Bright) e Cremer (pedreiro, secretário da Mason’s Union). Estes dois homens foram aqueles que organizaram, sob a direção de Bright, o grande comício das Trade-Unions em Saint James Hall, em favor da América do Norte, como também a manifestação em homenagem a Garibaldi. Enviaram um tal de Le Lubez para perguntar-me se eu queria fazer parte da reunião representando os operários alemães e, sobretudo, se eu podia enviar um orador alemão para o comício. Eu mandei o Eccarius, que fez muito bem o seu papel e eu mesmo estive na reunião do tablado, como personagem mudo. Eu sabia que tanto do lado londrino quanto do parisiense, desta vez, eram ‘potências’ reais as que estavam em cena; por isso decidi aceitar o convite, afastando-me de minha regra habitual de recusar todos eles.”
O comitê eleito em 28 de setembro, em sua primeira sessão, nomeou uma comissão encarregada de redigir uma declaração de princípios e os estatutos provisórios. Marx foi designado como um dos membros da comissão; os outros encarregados foram (segundo carta de Marx de 4 de novembro), o judeu-polonês italianizado Wolff, o francês Le Lubez e os ingleses Cremer e Weston. Por causa do mal estado de sua saúde, Marx não pôde participar das duas primeiras reuniões da comissão e da segunda sessão do comitê. Na primeira reunião, Wolff apresentou os estatutos das sociedades operárias italianas (mazzianianas), propondo que servissem de base para os da nova associação, e Weston apresentou um programa confuso. O comitê, em sua segunda sessão plena, designou uma comissão para corrigir o programa de Weston, como também os estatutos de Wolff: estes dois projetos foram adotados pela comissão, na ausência de Marx, para serem submetidos ao comitê, cuja terceira sessão plena deveria realizar-se em 18 de outubro.
A carta de Marx, de onde tiramos esses dados, continua deste modo:
“Tendo-me escrito Eccarius sobre a necessidade da minha presença fui, (em 18 de outubro), e fiquei verdadeiramente assustado ao ouvir o bom Le Lubez lendo um preâmbulo de uma fraseologia que chocava, mal escrito, e completamente infantil... Além disso, os estatutos italianos tinham sido conservados com seus traços essenciais, e esses estatutos, além de seus outros defeitos, instituíam algo inadmissível; uma espécie de governo central (com Mazzini nos bastidores, naturalmente) das classes operárias da Europa. Fiz algumas observações, e depois de uma longa discussão, Eccarius fez decidir que a comissão examinasse novamente os projetos ‘para redação’; contudo, os sentimentos contidos na declaração de Le Lubez, foram votados”.
Como fazer para recusar os projetos de Wolff e de Le Lubez? “Eu estava firmemente decidido”, escreve o futuro autor de O Capital, “a não permitir que ficasse uma só linha de todo aquele palavrório”. Para atingir os seus fins, e tendo reunido em sua casa em 20 de outubro Cremer, Fontana e Le Lubez, Marx propôs “para poupar tempo” que começassem a discutir os estatutos.
Diz Marx:
“Assim foi feito. Era uma hora da manhã quando o primeiro dos quarenta artigos foi concluído. Cremer disse (e era isso que eu queria): ‘O comitê deve reunir-se em 20 de outubro e nada temos para lhe apresentar. Devemos deixar a sessão do comitê para o dia 1º de novembro, reunir de novo a comissão em 27 de outubro e procurar a maneira de se obter um resultado definitivo’. Isso foi feito, e os documentos ficaram comigo para serem examinados.”
Vi que era impossível tirar algo daquela confusão. Para justificar a singular maneira com que eu me propunha ‘redigir’ os sentimentos já votados, escrevi um manifesto às classes operárias, espécie de exame dos fatos e das expressões dos trabalhadores desde 1845.(2) Depois, sob pretexto de que todos os fatos históricos já estavam contidos neste manifesto, e que não podíamos repetir três vezes as mesmas coisas, mudei todo o preâmbulo, acabei com a declaração de princípios e finalmente, reduzi para dez, os quarenta artigos dos estatutos. Todas as minhas proposições foram aceitas pela comissão; somente me impuseram, no preâmbulo dos estatutos, a introdução de duas frases sobre os deveres e direitos, sobre a verdade, a moral e a justiça; porém eu coloquei essas frases de tal modo que não tenham como prejudicar o conjunto.
Na sessão do comitê (1º de novembro) meu manifesto e todo o resto foi adotado com grande entusiasmo e unanimemente [...]. Era muito trabalhoso poder apresentar meu ponto de vista sob uma forma aceitável dentro do contexto em que atualmente se encontra o movimento operário. Imagine que esse pessoal daqui a quinze dias vai realizar comícios em favor do sufrágio universal com Bright e Cobden! É necessário tempo para que o desenvolvimento do movimento permita a antiga franqueza de linguagem. Por enquanto, devemos agir fortiter in re, suaviter in modo.”(3)
Devemos ficar felizes pelo fato de a Internacional ter achado, em seu começo, um homem de tão alta capacidade como Marx para formular em seu nome “uma série de princípios simples”, podendo servir de “base comum”(4). Apenas deve-se lamentar que a relação feita pelo autor dos estatutos e de seu admirável preâmbulo, fique apagada pelos detalhes das habilidades às quais recorreu para deixar de lado o fatras [incoerentes idéias] de Le Lubez e de Wolff.
Na mesma carta de 4 de novembro, da qual acabamos de tirar dados tão instrutivos, Marx conta para Engels de que forma na véspera foi visitar Bakunin, quem conhecia desde 1843, porém não via desde 1848. Bakunin estava de passagem por Londres, voltando da Suécia e indo para a Itália, onde tinha fixado sua residência, após o fracasso da insurreição polonesa. Marx solicitou dele uma entrevista para renovar suas relações de amizade. Eis aqui a passagem relativa a este encontro:
“Bakunin manda lembranças. Ele saiu hoje para a Itália, onde reside. Ontem o vi novamente depois de dezesseis anos. Devo te dizer que isso me agradou muito. Acerca dos acontecimentos na Polônia, diz que o governo russo tinha necessidade daquele movimento para manter a tranqüilidade na Rússia, porém o governo não pensou que a luta pudesse durar dezoito meses. O governo, portanto, foi quem provocou a insurreição. São duas as causas que fizeram fracassar o movimento: a influência de Bonaparte e a vacilação da aristocracia polonesa, que não quis proclamar, no início da insurreição, clara e francamente, o socialismo rural. Bakunin diz que com o fracasso polonês, quer apenas se ocupar do movimento socialista. Em poucas palavras, ele é um dos poucos homens que nestes últimos tempos andou para frente.”
Bakunin, já na Itália, recebeu de Marx exemplares dos estatutos da Internacional, e mesmo que o revolucionário russo, no começo, parecesse disposto a fazer propaganda entre os italianos em favor da nova associação, preferiu dedicar-se a outro assunto mais urgente e mais apropriado para o terreno sobre o qual deveria realizar sua ação: a constituição de uma organização secreta destinada a combater os partidários de Mazzini, como também a preparar um acordo internacional entre os socialistas revolucionários. Mais adiante (em 1867) encontraremos Bakunin outra vez.
Os estatutos provisórios da Internacional impressos em Londres no mês de novembro foram enviados para Paris pelo Conselho Geral (esse era o nome que dali em diante iria ostentar o comitê nomeado em 28 de setembro; o texto em inglês o denominava Central Council). O grupo dos filiados parisienses ficou constituído então, formando o Bureau de Paris e foram nomeados secretários Tolain, E. Fribourg e Ch. Limousin. Os estatutos traduzidos para o francês foram impressos e em 8 de janeiro de 1865 foram enviados dois exemplares, um para o chefe da polícia e outro para o Ministro do Interior. Nesse mesmo dia, o Bureau de Paris instalava-se em um modesto local na Rua de Gravilliers número 44, que era composto de uma sala mobiliada com uma mesa de madeira branca e duas cadeiras e situado no piso térreo, na parte de trás de um quintal.
Para evitar as perseguições ficou combinado que os filiados deviam figurar como membros de uma associação estabelecida na Inglaterra. O artigo 10 dos estatutos gerais determinava que toda sociedade local deveria dirigir-se ao Conselho Geral de Londres, e já que se formava um novo grupo na França, recomendava-se não manter correspondência com Paris, mas a dirigir-se sempre ao Conselho Geral para obter todas as referências que se precisasse.
Além dos três secretários correspondentes Tolain, Fribourg e Limousin, somou-se certo número de filiados do Bureau de Paris, formando-se uma subcomissão, a qual não poderia ser superior a vinte membros, número que não podia ser superado porque o código penal, caso fosse ultrapassada essa cifra, exigiria uma autorização governamental. Naturalmente houve, algumas vezes, mudanças no pessoal; Fribourg cita de cor os nomes de dezoito operários que fizeram parte desta subcomissão: Debock, tipógrafo; Bourdon, gravador; Heligon; Culetin; Perrachon; Camélinat; Guiard; Fournaise, ótico; André Murat, mecânico; Eugène Varlin, encadernador; Bellamy; Delorme, sapateiro; Mollin, dourador; G. Laplanche, cocheiro; Delahaye, chaveiro; Chemalé; Gauthier, joalheiro; e Benoit Malon, diarista.
Em setembro de 1865 o Bureau de Paris era composto por não mais de quinhentos filiados, tão grandes eram as travas legais que se opunham à propaganda.
O artigo 3 dos estatutos antecipava a reunião de um congresso geral na Bélgica em 1865, mas o Conselho Geral de Londres reconheceu que a convocação de um congresso não era possível ainda, e limitando-se à realização de uma simples conferência que aconteceu em Londres de 25 a 29 de setembro de 1865. Paris ficou representada nessa conferência por Tolain, Fribourg, Ch. Limousin e o encadernador Varlin. Também participaram dois delegados de Genebra, o francês Duplaix, encadernador, e o alemão J. P. Becker, publicista, e um delegado de Bruxelas, César de Paepe, tipógrafo e estudante de medicina. Os demais membros da conferência eram ingleses: Odger, Cremer, Wheeler, Howell, Weston, e estrangeiros com domicílio em Londres, membros do Conselho Geral, Le Lubez (secretário pela França); Vesinier e Dupont, membros do ramo francês de Londres; Hermann Jung (secretário pela Suíça); Karl Marx (secretário pela Alemanha); Eccarius, Wolff; Bobczinski etc. A conferência decidiu que o primeiro congresso seria realizado em Genebra, na primavera de 1866, e votou sua ordem do dia. Fribourg ao referir-se ao último dia da conferência nos conta que foi celebrado um chá acompanhado de discursos, cânticos republicanos e finalizado com um baile, em que as filhas de Karl Marx dançaram com os delegados franceses Varlin e Limousin. Nesta festa, Karl Marx manifestou para Tolain e Fribourg o profundo ódio que sentia por Proudhon, por causa das idéias anticomunistas que este sustentava.
Em uma das sessões da conferência houve uma acalorada discussão entre Vésinier e os delegados de Paris, acerca da “questão polonesa”. Vésinier declarou que aqueles que queriam separar esse assunto da ordem do dia do futuro congresso, não eram outra coisa senão agentes bonapartistas. Esse conflito deu lugar, mais tarde, em setembro de 1866, à separação de Vésinier e Le Lubez do Conselho Geral e à expulsão, em outubro de 1868, do ramo francês de Londres.
Em outubro de 1865 foi realizado em Liège o célebre congresso internacional de estudantes socialistas, do qual participaram Germain Casse, Paul Lafargue, Tridon, os irmãos Villeneuve, Jaclard etc.
Na primavera de 1866, aqueles que conduziam a Internacional perguntavam-se se era realizável o congresso projetado. Marx, que por causa do seu mal estado de saúde foi obrigado a abandonar o Conselho Geral durante três meses, escreveu para Engels, em 6 de abril, o seguinte:
“Devo te dizer com franqueza que a Internacional não vai bem, aumentando esse mal-estar a impaciência dos franceses que querem realizar o congresso em finais de maio. Além disso, as lideranças inglesas mostram-se frias e acho que pouco se importam com o fracasso do congresso. Ficaremos como ridículos perante a Europa? O que faremos?”
No seu retorno a Londres, Marx conseguiu que o congresso não se realizasse até setembro, porém não acreditava em seu êxito, a tal extremo que em 23 de abril escreveu para Engels:
“Daqui farei todo o possível para que o congresso seja bem sucedido, porém não participarei dele. Dessa forma, evito toda responsabilidade pessoal.”
Em julho de 1866 estourou a guerra entre a Prússia e a Áustria que iria acabar com o triunfo da última em Sadowa, o que ocasionaria a anexação de Hannover, Hesse-Nassau e Frankfurt à Prússia, e também a criação da Confederação da Alemanha do Norte com um parlamento (Reichstag) eleito pelo sufrágio universal. Assim que foi vista a possibilidade de que estourasse o conflito, os estudantes socialistas franceses assinaram manifesto direcionado aos estudantes da Alemanha, Áustria e Itália, denunciando o absurdo “de se matarem uns aos outros sob o estúpido pretexto do interesse nacional e da diferença de raças”. Em 10 de junho, Vermorel publicava em seu jornal o célebre artigo “A Greve dos Povos Contra a Guerra”. No dia 17, a Internacional de Paris redigiu seu manifesto, em que expressava a esperança de que os povos não permitissem que a fumaça dos canhões os cegasse, e que ouvissem a voz da solidariedade e da justiça. O manifesto anunciava a próxima abertura do congresso operário, “este congresso em que os trabalhadores abordarão essas graves questões, que a guerra, com suas horríveis práticas, não consegue resolver”. Enfim, em 1º de julho, Paul Lafargue na Rive Gauche acusava a guerra de contra-revolução e atacava o nacionalismo.
O armistício de Nikolsburg foi realizado em 26 de julho e a hegemonia da Prússia ficou consolidada.
Neste momento, a atitude de Karl Marx foi estranha e deve ser conhecida. Em 7 de junho, ele escrevia para Engels:
“Eis a guerra. Será um milagre ela não começar. Os prussianos vão sofrer as conseqüências de suas fanfarronices. A escória proudhoniana prega, para os estudantes de Paris, a paz, avalia a guerra um anacronismo, considera as nacionalidades como vãs palavras e ataca Bismarck e Garibaldi. Como polêmica contra a patriotada, sua ação é útil e explicável, porém como discípulos de Proudhon [...] são simplesmente grotescos.”
Em 20 de junho, Marx escreve novamente para Engels:
“Ontem houve uma discussão sobre a guerra no Conselho da Internacional. Esta discussão tinha sido anunciada com antecedência e a sala estava lotada. Os italianos tinham enviado seus delegados. O debate ficou estabelecido, como era natural, sobre a questão das nacionalidades em geral e acerca da atitude, que sobre esse assunto, deveríamos tomar. A continuação do debate ficou suspensa para a próxima terça-feira. Os franceses, muito numerosos, deram rédea solta a sua cordial antipatia contra os italianos. Os representantes (não operários) da Jovem França declararam que as nacionalidades eram ‘preocupações arcaicas’. Eles professam um stirnerianismo(5) proudhoniano. Professam a doutrina de dissolver tudo em pequenos grupos, que irão se unir novamente para formar ‘sociedades’, mas não um Estado. Enquanto é realizada essa ‘individualização’ e o ‘mutualismo’ que irá acompanhá-la, o curso da história deve ser suspenso em todos os países e esperar até que os franceses amadureçam para uma revolução social. Eles farão o ensaio na presença dos demais povos e estes, subjugados pelo exemplo, irão imitá-los. Exatamente o mesmo que esperava Fourier de seu falanstério modelo.”
“Os ingleses riram muito quando ao tomar a palavra eu lhes disse que o nosso amigo Lafargue, que suprimiu as nacionalidades, tinha nos falado em francês, idioma que não é entendido por nove de cada dez ouvintes, e eu lhes demonstrei que para ele, a negação das nacionalidades não é outra coisa senão a absorção de todas por parte da nação-modelo: a França.”
Na primeira quinzena de julho foram verificadas em Londres várias manifestações contra a guerra. Sobre elas vamos citar um trecho característico de uma outra carta de Marx, de 7 do mesmo mês:
“As manifestações operárias em Londres, verdadeiramente fabulosas, comparadas com tudo aquilo que temos visto desde 1849 até agora, são obra exclusiva da Internacional. Mr. Lucraft, por exemplo, que comandou uma delas na Trafalgar Square é membro do nosso Conselho. Aqui se vê a diferença do que se consegue pelo método que consiste em agir permanecendo nos bastidores, oculto aos olhos do público, e o procedimento dos democratas que se colocam publicamente e não fazem nada.”
A Internacional parisiense tinha feito grandes progressos; já contava com mil e duzentos filiados, entre os quais figuravam alguns notáveis da burguesia republicana, como o filantropo Julio Simon, o historiador Martin, o prouhoniano Chaudey e o excelente Carlos Beslay, já com setenta anos de idade.
Durante esse tempo, Karl Marx, em Londres, redigia, em nome do Conselho Geral, um informe que foi traduzido para o francês pelo operário Eugenio Dupont, que tinha sido nomeado delegado da França, substituindo Le Lubez.
O Bureau de Paris enviou onze delegados para o Conselho de Genebra (Bourdon, Carmelinat, Chemalé, Culetin, Fribourg, Guirad, Malon, Murat, Perrachon, Tolain e Varlin); Lyon enviou quatro (Baudy, Honoré Richard, Schettel e Secretan); Rouen, um (Emilio Aubry), e Neuville-sur-Saóne, um (Baudrand). O Congresso foi formado, além destes dezessete delegados da França, por seis do Conselho Geral (Odger, Carter, Jung, Eccarius, Cremer e Dupont); vinte delegados de quinze seções da Suíça (entre os quais estavam o doutor Pierre Coullery – por Chaux-de-Fonds, Jacques Guillame – por Le Locle, Adhemar Schwitzguebel – por Sonvillier, Cornaz – por Lausane, o francês Dupleix, o polonês Card e o alemão Becker – por Genebra e Karl Burkly – por Zurique e Wetzikon); três delegados de quatro seções da Alemanha (Moll – por Colônia e Solingen, Muller – por Stuttgart e Butter – por Magdeburg). Também participaram quatorze delegados de onze sociedades filiadas ao Congresso, mas que não pertenciam à Internacional. A presidência do Congresso ficou com Jung, operário relojoeiro suíço, nascido em Saint-Imier (cantão de Berna), estabelecido em Londres e que falava francês, inglês e alemão.
O Congresso de Genebra discutiu, emendou e adotou definitivamente os estatutos gerais, que foram votados em três línguas: francês, inglês e alemão; o texto francês diferenciava-se em algo do inglês e do alemão, mas ninguém reparou nisso. O Congresso completou os estatutos com um regulamento. O Congresso foi mantido em Londres e composto pelos mesmos membros do Conselho provisório, exceto Vésinier e Le Lubez que por solicitação dos parisienses foram excluídos.
Entre as disposições dos estatutos que originaram interessantes debates, deve-se destacar o artigo que determinava as condições que eram necessárias para poder se tornar membro da Associação. Na Conferência de 1865, os delegados parisienses tinham insistido para que somente aqueles trabalhadores que não tivessem outros recursos além de seu salário, pudessem fazer parte da Internacional; eles queriam manter afastados aqueles que eram denominados “trabalhadores do pensamento”, ou seja, os que exerciam profissões liberais: advogados, poetas, novelistas, médicos, artistas, jornalistas. Ingleses, suíços e belgas tinham manifestado o desejo de que fossem admitidos todos aqueles que solicitassem ingressar na associação. Ficou decidido, finalmente, que cada seção teria a liberdade, sob sua responsabilidade, “de dar à palavra ‘trabalhador’ toda a extensão de que seja suscetível” e que a admissão de mulheres ficaria também a cargo de cada grupo. Quando foi o momento de votar em Genebra o artigo, de conformidade com este acordo, que dizia: “Qualquer um que adote e defenda os princípios da Associação, pode ser recebido como membro”, os delegados parisienses voltaram a atacar: o que deveria ser entendido pela palavra trabalhador? Os trabalhadores intelectuais deveriam ser admitidos? A segunda pergunta foi respondida afirmativamente pelos delegados do Conselho Geral, mas os delegados parisienses opuseram-se, afirmando que essa medida deixaria exposta a Associação ao perigo de que fosse invadida pelos ambiciosos. Os delegados suíços e alemães protestaram firmemente e o artigo foi votado.
Porém, quando foi discutido o regulamento (artigos adicionais aos estatutos) que acabava de ser elaborado por uma comissão, originou-se um novo debate sobre o mesmo assunto, em relação a um artigo que determinava que todo membro da Associação podia ser eleito um delegado nos congressos. Tolain declara que se era indiferente admitir como simples membro da Associação toda classe de cidadãos, não era igual quando se tratava de escolher um delegado, pois a classe operária mantinha uma luta sem trégua contra a classe burguesa e era indispensável que todos os homens, encarregados de representar grupos de trabalhadores, fossem também operários. Perrachón chegou a dizer que para a Associação seria funesto admitir como delegado um cidadão que não fosse um trabalhador. Cremer ficou surpreso de novamente ser apresentado para discussão esse assunto, e manifestou que entre os membros do Conselho Central havia vários cidadãos que, sem exercer nenhum trabalho manual, tinham dedicado todas suas energias à Associação, até o extremo, e que sem eles não teria sido possível o estabelecimento da Internacional na Inglaterra, e citou como exemplo Karl Marx, manifestando que ele tinha consagrado sua vida para a vitória da classe operária. Fribourg disse que poderia chegar o dia em que o Congresso “operário” fosse formado em sua maioria por economistas, patrões, jornalistas, advogados, uma coisa ridícula, que aniquilaria a Associação. Carter, apoiando Cremer, acrescentou, respondendo a Fribourg, que o cidadão Karl Marx, compreendendo a importância deste primeiro Congresso, em que de fato, apenas deveria haver operários, tinha recusado ser delegado quando lhe foi oferecido a oportunidade pelo Conselho Central, porém os homens partidários da causa do proletariado eram tão escassos, que não deveriam ser recusados. Também expôs que a pretendida ciência econômica burguesa, dando prestígio à burguesia, mantém esta classe no poder e, portanto, os homens que se ocuparam da questão econômica e que reconheceram a justiça da nossa causa, devem ser admitidos em nossos congressos, para que ajudem a derrubar a falsa ciência econômica. Tolain, voltando a tomar a palavra, disse: “Como operário, agradeço ao cidadão Karl Marx por não ter aceitado a delegação que lhe foi oferecida. Fazendo isto, o cidadão Marx quis demonstrar que os congressos operários não devem ser compostos senão por trabalhadores manuais. Se admitirmos aqui homens que pertencem a outras classes, não deixarão de dizer que o congresso não representa as aspirações das classes operárias, que não é formado por trabalhadores e acho que é útil mostrar para o mundo que estamos adiantados o suficiente para poder agir por nós mesmos”. A emenda de Tolain, sobre o requisito de que ser operário manual era preciso para poder ser eleito delegado, foi rejeitada por vinte e cinco votos contra vinte.
A opinião íntima de Marx sobre o Congresso de Genebra, pode ser vista na seguinte carta que ele escreveu em 9 de outubro para o seu amigo Dr. Kugelmann, jovem médico judeu residente em Hamburgo:
“Eu tinha grandes inquietudes sobre o primeiro congresso, em Genebra, porém ele teve mais sucesso do que eu imaginava. A impressão na França, Inglaterra e América foi inesperada. Eu não consegui ir, e também não quis, porém fui eu que redigi o programa dos delegados de Londres. Eu o delimitei expressamente aos extremos que permitissem um acordo imediato e uma ação comum dos operários, e que pudessem dar força e impulsão às necessidades da luta de classes e à organização dos operários. Os senhores parisienses tinham a cabeça cheia da mais vazia fraseologia proudhoniana. Eles falam em ciência e não sabem uma palavra de nada. Sob o pretexto de liberdade e de antigovernamentalismo ou de individualismo anti-autoritário, esses senhores, que durante 16 anos estão sob o mais abominável despotismo, predicam, na realidade, o vulgar regime burguês, idealizado ao modo proudhoniano. Não há dúvidas de que Proudhon fez muito mal. Sua aparente crítica e oposição aos utópicos seduziram primeiro a ‘juventude brilhante’ e depois os operários, sobretudo os de Paris. Estes delegados parisienses, ignorantes, vaidosos, cheios de pretensões, charlatões e enfáticos, por pouco não fazem fracassar tudo, tendo eles participado do Congresso em número muito elevado.”
Nessa carta já podemos ver Marx retratado de corpo inteiro.
Depois do Congresso de Genebra, o Bureau de Paris publicou um regulamento que instituía uma comissão administrativa composta por quinze membros, eleitos por escrutínio de lista, devendo ser escolhidos entre eles, três correspondentes, um caixa e um secretário-arquivista. A duração das funções da comissão seria da data de um congresso até a realização do seguinte. Uma vez eleita a comissão, os três correspondentes foram Tolain, Fribourg e Varlin, como caixa foi escolhido Heligon e as funções de secretário-arquivista foram divididas, sendo nomeado Bourdon como arquivista e Chemalé, secretário-geral. Os outros nove membros foram: Camélinat, Murat, Perrachon, Fournaise, Gauthier, Bellamy, Guiar, Delahaye e Delorme.
Alguns incidentes aconteceram no começo do ano 1867. Primeiro a greve dos operários do bronze em Paris (fevereiro) que ocasionou a viagem até Londres de Tolain e Fribourg com três delegados dos grevistas, para solicitar o apoio das trade-unions: o apoio foi concedido. A luta acabou com a vitória dos operários, o que teve grande repercussão. Em 26 de março aconteceram grandes rebeliões em Roubaix; milhares de operários tecelões, furiosos, quebraram as máquinas e incendiaram as oficinas. A comissão de Paris lançou um manifesto em que depois de falar do problema que origina o emprego das máquinas na indústria e de desaprovar a destruição dos instrumentos de trabalho, proclamava sua solidariedade com os explorados, expunha suas justas reclamações e pedia para eles a ajuda moral e material dos trabalhadores. A greve dos mineradores de Fuveau também produziu as mesmas manifestações.
Ao mesmo tempo, começaram a circular ruídos de guerra na França e na Alemanha por razão de Luxemburgo, e um manifesto sobre esse assunto foi enviado para Paris pelos operários alemães. Em 28 de abril foi respondido pelo Bureau parisiense, sendo a resposta traduzida em várias línguas. Nela, afirmava-se “a solidariedade universal e a aliança indestrutível dos trabalhadores”. Um outro acontecimento importante daqueles dias foi o atentado em Paris contra o czar Alexandre II feito pelo polonês Berezowski. O czar tinha ido visitar a Exposição Universal, que fora inaugurada em 1º de abril.
A Internacional realizou em Lausane seu segundo congresso na primeira segunda-feira de setembro. A democracia européia, por sua vez, organizava sob o apoio de Garibaldi, Edgar Quinet, Bakunin e Simon (de Tréveris) um Congresso da Paz e Liberdade que deveria iniciar-se em 9 de setembro.
No congresso da Internacional em Lausane, a França esteve representada de maneira mais completa. Paris enviou nove delegados: Tolain, Murat, Fribourg, Chemalé, Marly (impressores de tecidos), Garbe (latoeiro), Pioley (mecânico), Reymond (litógrafo) e Beaumont (cinzelador). Lyon era representada pelo mecânico Schettel e por Palix; Neuville-sus-Saóne, por Rubaud (impressor de tecidos); Villefranche, por Chassin (vinhateiro); Vienne, por Aillond. Marselha, Fuveau, Bordeaux, Rouen, Caen e Conde-sur-Noireau enviaram como delegados Vasseur, Vézinaud, Aubry e Longuet. O Conselho Geral enviou Dupont, quem presidiu o Congresso, Eccarius, Lessner e Carter. Odger e Cremer chegaram quando as sessões já estavam para terminar. A Inglaterra também enviou Watson, presidente da National Reform League e Swan, de Coventry. Entre todos os delegados, também devemos citar os seguintes: de Paepe, de Bruxelas; Dr. Kugelmann, de Hannover; o célebre Büchner, de Darmstadt; Dr. Coullery, de Chaux-de-Fonds; James Guillaume, do Locle, que foi secretário e redigiu as atas do Congresso; Perron (genebrino), Dupleix (francês), Becker, alemão, Karl Burkly, de Zurique e os italianos Stampa e Tanari.
Esse congresso, animado por um espírito mais revolucionário do que o realizado no ano anterior, produziu, sobre a maioria dos que participaram, uma impressão profunda; eles sentiram despertar dentro de si, em contato com os delegados do proletariado dos diversos países da Europa, uma vida nova e “vislumbraram pela primeira vez, em sua realidade humana e científica, as grandiosas perspectivas da revolução social universal.”(6)
A principal questão que foi discutida em Lausane foi a da propriedade. De Paepe expôs a teoria da propriedade coletiva e foi combatido por Longuet, Chemalé e Coullery, ficando suspendida a discussão do assunto até o próximo congresso, que seria realizado em Bruxelas. O Conselho Geral foi reeleito, sendo mantida a sua residência em Londres, como única cidade que oferecia as condições indispensáveis.
O congresso da Internacional tinha convidado o Congresso da Paz que se realizava em Genebra, e como resposta ao convite foi declarado que a causa principal das guerras era a falta de equilíbrio econômico e que para suprimi-las não basta licenciar os exércitos, mas modificar a organização social no sentido de uma distribuição mais eqüitativa da produção. Uma delegação composta por três membros foi encarregada de apresentar para o Congresso da Paz esta resolução e de manifestar que o congresso da Internacional não iria aderir ao da Paz, caso não fossem aceitos os principais enunciados. Nesse congresso de Lausane, os delegados de Paris desempenharam o papel principal. Assim foi comentado por Vermorel no Courrier Français comemorando o caráter sério destes operários, que não faziam discursos e que discutiam com inteligência as mais difíceis questões econômicas.
Este elogio aos franceses irritou Marx; este havia passado a metade do verão corrigindo as provas do primeiro volume do seu Capital, que estava sendo impresso na Alemanha. Absorto com o seu livro, não tinha feito quaisquer intervenções nos assuntos da Internacional durante o ano todo. Porém, ele já tinha sua revanche; os franceses que aguardassem. É isso que ele anuncia numa carta para Engels de 11 de setembro:
“Irei pessoalmente ao próximo congresso de Bruxelas para dar o golpe fatal naqueles burros proudhonianos. Acertei tudo diplomaticamente; eu não queria aparecer pessoalmente antes de meu livro ter sido publicado e da Internacional ter se enraizado. Além disso, no relatório oficial do Conselho Geral darei um jeito neles. Enquanto isso, a Associação tem feito grandes progressos. O miserável Star, que queria nos ignorar por completo, declarou ontem em sua matéria principal, que nós temos mais importância do que o Congresso da Paz. Schulze-Delitzch não conseguiu impedir que sua Arbeiterverein se juntasse a nós. Alguns cachorros sarnentos (Schweinsshunde) entre as trade-unions inglesas, que declaravam que íamos longe demais, também se uniram a nós. Além do Courrier Français, deram conta do Congresso, La Liberté, de Girardin, Le Siecle, Le Monde, La Gazette de France, etc. Les choses marchent. E quando a revolução chegar, pois está mais próxima do que parece, teremos em nossas mãos esse poderoso instrumento. Compare esse resultado com o pouco que durante trinta anos conseguiu adiantar Mazzini. E nós fizemos tudo isso sem dinheiro e tendo contra as intrigas dos proudhonianos de Paris, as de Mazzini na Itália e Odger, Cremer e Potter em Londres, que estão com inveja. Acrescente a isso que na Alemanha a Schuze-Delitzsch e os lassalianos são contra nós. Podemos nos sentir satisfeitos!”
No mesmo dia, Engels escrevia para Marx acerca das correspondências direcionadas por Eccarius ao Times, sobre o Congresso, correspondências nas quais o discípulo de Marx tinha tentado ridicularizar os delegados de Paris:
“É preciso manter em segredo o nome das correspondências com o Times, porque se isso viesse à tona poderia causar um enorme dano para Eccarius. Além disso, antes de escrever deveria se perguntar até que ponto a redação poderia explorar suas zombarias para colocar o congresso no ridículo, e não alguns dos franceses.”
“Posto que você vem mantendo relações com Vermorel, daria para você conseguir que ele não falasse tantas bobagens da Alemanha? É peculiar pedir que Napoleão III torne-se liberal, burguesamente liberal, e que declare a guerra contra a Alemanha para libertá-la da tirania de Bismarck! Esses crapauds que, mesmo no caso de fomentarem uma revolução seriam obrigados a contar com a Alemanha, imaginam que bastaria expor um pouco de liberalismo para que a França conseguisse desempenhar seu antigo papel. Considero muito importante, justamente para o caso de acontecer uma revolução, que esses senhores acostumem-se a nos tratar de uma outra maneira.”
No dia seguinte, Marx respondeu a Engels dessa maneira:
“Sou completamente da sua opinião, acerca daquilo que você me diz de Eccarius. Para um operário de espírito crítico como ele, está faltando a destreza diplomática... Porém, isso não vai prejudica-lo, pois as zombarias de Eccarius serão tomadas como do Times.”
“Esses feignants suíço-franceses, que estavam em grande número no congresso, são aqueles que fizeram o jogo para os franceses faladores, graças às bobagens do velho Becker... Mas isso não importa. O essencial não é o que foi falado no congresso, mas o fato que foi verificado. Em nosso relatório geral já acertaremos esses safados de Paris... No ano que vem, será feito o possível para levar vinte ingleses e trinta alemães para Bruxelas. Quanto aos belgas, como não pode haver mais do que um delegado por cada quinhentos membros, não serão muito numerosos. Além do mais, eles não me parecem muito dispostos a se rebelar contra os parisienses.”
“Nota bene – O pior é que não temos ninguém em Paris que possa colocar-se em relação com as seções francesas que são hostis aos proudhonianos. Se Dupont pudesse passar algumas semanas em Paris, tudo se acertaria.”
A partir deste momento Marx quer tornar-se um ditador. Ele já considera a Internacional como uma coisa própria e tem o cinismo de dizer para Engels:
“Na próxima revolução teremos (ou seja, eu e você) este poderoso instrumento em nossas mãos”.
Quando depois da guerra de 1870 homens clarividentes denunciaram o “pangermanismo” de Marx e do Conselho Geral, Marx vangloriou-se disso. “Pois bem, sim” – falava ele –, “eu sou alemão e um bom alemão; para mim, a ciência alemã impôs-se no Conselho Geral: felicitem-se por isso!”. De fato, para o seu amigo Bolte, de Nova Iorque, ele escreveu em 27 de novembro de 1871:
“Pretende-se que no Congresso Geral reine o pangermanismo e o bismarckismo. O fato é que eu tenho a imperdoável culpa de ser alemão e exercer sobre o Conselho Geral uma influência intelectual decisiva. Reparem que no conselho o elemento alemão é, numericamente, três vezes menor do que o elemento francês e inglês. Nosso crime consiste, portanto, em que os elementos francês e inglês, em matéria de teoria, fiquem dominados pelo elemento alemão; essa dominação, que é da ciência alemã, é suportada muito bem por eles e até a consideram indispensável.”
Em 1880, quando se funde na França o “Partido Operário” de Guesde, Malon, Lafargue, etc., Marx comprova com orgulho que o nascimento desse organismo político deve-se à influência alemã. Em 5 de novembro de 1880 ele escreve o seguinte para Sorge:
“Malon viu-se obrigado a converter-se ao ‘socialismo moderno cientifico’, ou seja, ao socialismo alemão... A Emancipação, que começou a ser publicada em Lyon, será o órgão do ‘Partido Operário’, que se constituiu sobre a base do socialismo alemão... Longuet tem trabalhado tão bem que conseguiu que Clemenceau esteja conosco, conforme vimos em seu recente discurso pronunciado em Marselha... Não é necessário que eu diga para você, pois você conhece a patriotada francesa, que os fios ocultos por meio dos quais os leaders, de Guesde e Malon até Clemenceau, têm se mexido, devem ficar entre nous. Nada, quando alguém quer agir para os senhores franceses, deve ser feito anonimamente para não ferir o sentimento nacional.”
Como é edificante tudo isto!
No Congresso da Paz, em Genebra, a declaração da Internacional foi lida na tribuna por James Guillaume na primeira sessão (segunda-feira 9 de setembro) e foi calorosamente aplaudida por uma parte da assembléia. A leitura provocou o protesto de alguns economistas: Molinari, Dameth, Cherbuliez, etc., protesto que foi lido no dia seguinte. Naquele mesmo dia, Dupont, presidente do Congresso de Lausane, pronunciou um enérgico discurso, cuja conclusão era a seguinte: “vocês acreditam que quando os exércitos se dissolverem e se tornarem milícias nacionais, nós teremos a paz perpétua? Não, cidadãos, a revolução de junho de 1848 está ali para responder essa pergunta... Para estabelecer a paz perpétua é preciso aniquilar as leis que oprimem o trabalho, aniquilar todos os privilégios, e fazer de todos os cidadãos uma só classe de trabalhadores: em uma palavra, aceitar a revolução social com todas as conseqüências”. Garibaldi, no dia 11, em uma conversa particular que teve com alguns delegados da Internacional, fez esta declaração: “Concordo com vocês. Guerra às três tiranias: política, religiosa e social. Os princípios de vocês são os meus”. Bakunin, que pela primeira vez desde sua fuga da Sibéria em 1861, tinha a palavra em uma assembléia pública, disse no dia 10 na tribuna: “A Rússia não se levantará senão aceitando os princípios do federalismo e do socialismo apesar de M. de Molinari, que protestou contra os socialistas”, e no dia seguinte Longuet, expondo por sua vez as idéias do socialismo federalista, dizia: “Ontem, um exilado da Rússia do czar, um grande cidadão da Rússia futura, Bakunin, expressava estas idéias com a autoridade do homem de ação e do pensador”. Finalmente, no dia 12, Paepe lia um discurso em que ao declarar-se republicano e federalista, acrescentava: “Porém, não queremos uma república nominal e uma federação ilusória. Queremos a república nos fatos, e sobretudo, nos fatos econômicos...; queremos o federalismo não somente na política, mas também na economia social”. O proudhoniano Chaudey, que teria preferido uma aproximação entre a democracia burguesa e os trabalhadores socialistas, tentou num hábil discurso indicar as condições de uma transação, e o organizador do congresso, Emilio Acollas, homem sincero, distinto jurisconsulto, acreditou que a harmonia desejada já tinha sido concretizada, pois escreveu o seguinte no Temps: “A política e a economia reconciliaram-se na justiça”. Isto não era mais do que uma ilusão. No ano seguinte foi necessário comprovar que entre o socialismo e a democracia burguesa havia um abismo que nunca desapareceria.
O Bureau de Paris, conforme seu regulamento, renovou sua comissão administrativa depois da realização do Congresso de Lausane. Eis os nomes dos quinze membros da nova comissão: Chemalé, Tolain, Heligon, Camélinat, Hurat, Perrachon, Fournaise, Gauthier, Bellamy, Guiard, Delahaye, Delorme, antigos membros reeleitos; e três novos: Dauthier, Gérardin e Bastien. Fribourg, Varlin e Bourdon já não fazem parte da comissão. Os três correspondentes agora são Murat, Camélinat e Gérandin.
Os acontecimentos na Itália ocupavam a atenção pública. Garibaldi, no Congresso da Paz, tinha pedido que o Papa fosse destronado; tendo entrado na Itália disposto a executar essa sentença, começou a efetuar publicamente o recrutamento de voluntários e o governo italiano o prendeu em 24 de setembro, enviando-o para a ilha de Caprera, da qual fugiu alguns dias depois. Detido novamente em Livorna em 3 de outubro, voltou a escapar, indo para Florença no dia 21, onde iria tomar o comando de suas hostes para se dirigirem a Roma. Napoleão III envia de Toulon tropas francesas a mando do general de Failly para defender o Papa contra os garibaldistas. O povo parisiense, ao saber desta notícia, começou a agitar-se, e em 4 de novembro uma grande manifestação foi realizada no boulevard Bonne-Nouvelle, da qual participaram numerosos membros da Internacional. Na véspera, em Mentana, os fuzis franceses tinham dizimado os heróicos voluntários garibaldinos, e o próprio Garibaldi, detido pelas autoridades italianas após o combate, foi preso e enviado novamente para Caprera.
O governo francês, que tinha tolerado a Internacional desde 1865, começou a inquietar-se devido às tendências revolucionárias da associação, manifestadas publicamente pela maioria dos seus delegados em Lausane e Genebra, e resolveu intervir. Em 30 de dezembro foram realizadas visitas domiciliares nas casas de Tolain, Murat, Heligon e Chemalé e foi aberta instrução. Ameaçados como representantes de uma sociedade não autorizada e como diretores de uma associação secreta, os membros da comissão convidaram, em 9 de fevereiro de 1868, os filiados do Bureau de Paris para que nomeassem uma nova comissão. Em 1º de março, ao publicar os nomes dos doze candidatos, deram a conhecer que a comissão que iria ser eleita ficaria composta por nove membros. Os votos foram recebidos no domicílio social até o dia 8 de março, e o escrutínio tirou das urnas os seguintes nomes: Bourdon, Varlin, Malon, Combault, Mollin, Landrin, Humbert e Granjón. Os três correspondentes foram Malon, Varlin e Landrin, e como caixa foi nomeado Granjón. O Bureau de Paris transladou-se para outro endereço, na rua Chapon.
Dois dias antes da nomeação desta nova comissão, os quinze membros da antiga compareceram (em 6 de março) perante o Tribunal Correcional sob a acusação de pertencerem a uma sociedade não autorizada pela lei. Em 20 de março foram condenados a pagar uma multa de cem francos cada um e, além disso, foi declarada dissolvida a “Associação Internacional dos Trabalhadores estabelecida em Paris com o nome de Bureau Parisién”. Tendo sido apelada a sentença, a audiência imperial confirmou, em 29 de abril, o julgamento do tribunal correcional.
Enquanto isso, a comissão eleita em 8 de março entendia que devia ser continuada a obra de seus predecessores e encarregou-se, em primeiro lugar, de tentar restabelecer a lista dos filiados, listas que tinham ficado em poder da polícia. Em 27 de março, a comissão recebia de Genebra uma carta destinada a Varlin, solicitando apoio para a greve de operários que tinha acabado de estourar nessa cidade. A comissão não vacilou um instante: através da imprensa fez um chamado à solidariedade dos trabalhadores da França, e logo recebeu importantes quantias para os grevistas. Um delegado de Genebra chegou a Paris, de onde se dirigiu para Londres e lá solicitou o apoio das trade-unions, sem poder conseguir um auxílio efetivo. Os tribunais imperiais continuavam funcionando, pois se realizaram registros na Rua Chapon e na casa de Varlin, e tentou-se processar os audazes que não se deixaram intimidar pela condenação anterior de seus companheiros.
Em 22 de maio, os nove membros da segunda comissão compareceram perante o sexto tribunal correcional: Varlin apresentou a defesa de todos e o tribunal, depois de ter pronunciado novamente a dissolução da “Associação Internacional dos Trabalhadores estabelecida com o nome de Bureau de Paris e domiciliada nesta cidade”, condenou os acusados a três meses de prisão e cem francos de multa.
Os condenados apelaram ao tribunal imperial em 19 de junho, porém a condenação em primeira instância foi confirmada no dia 24 do mesmo mês. Os nove membros da comissão dissolvida ingressaram na prisão de Sainte-Pélagie em 15 de junho para começar a cumprir a pena.
A Internacional, portanto, tinha cessado de ter existência legal em Paris; contudo, seus filiados, individualmente, puderam continuar sendo membros da Associação como integrantes de uma sociedade estrangeira cujo domicílio ficava em Londres.
Porém, tinha chegado o momento em que, sob a impulsão do crescente descontentamento da classe operária, e dos ataques cada vez mais freqüentes da oposição republicana, a construção imperial começaria a vacilar. Uma nova lei sobre a imprensa (11 de maio) deu certa liberdade para os jornalistas que logo a aproveitaram. Em 30 de maio apareceu o primeiro número do semanário de Rochefort, a Lanterner, cuja influência sobre a opinião foi enorme, e em 2 de junho Delescluze começava a publicar Réveil. Uma outra lei (6 de junho) autorizou, sob certas condições, as reuniões públicas. Em 18 de junho começa no Tivoli Vauxhall uma primeira série de reuniões que depois continuou na Redoute (Rua J. J. Rousseau); outros salões foram abertos logo depois, o Pré-au-Clercs, a Gaité-Montparnasse, a Vieux-Chéne (bairro Mouffetard), a sala Moliere (bairro Saint-Martin), as Folies-Belleville e a sala Favié (Belleville), etc.; os oradores que se apresentavam nestas assembléias, procediam alguns de 1848, como Gustave Lefrançais, Briosne, Milliére, J. A. Langlois, Ch. Beslay, etc.; outros eram membros da Internacional, como Chemalé, Tolain, Murat, Caméliat, Combault, etc., ou blanquistas, como Jaclard, Cournet, Raoul, Rigault, Ranvier.
Bakunin, após a sua aparição em setembro de 1867 no Congresso da Paz, não tinha regressado para a Itália. Ele tinha se estabelecido perto de Vevey, na Suíça, era membro do Comitê Central da Liga da Paz e da Liberdade, e vangloriava-se com a esperança de levar essa liga para o socialismo. No começo de julho de 1868 tinha conseguido que, por meio do comitê, fosse votada uma declaração de princípios que, entre outras coisas, enunciava a necessidade de “mudar radicalmente o sistema econômico atual”, para atingir “a emancipação das classes operárias e a abolição do proletariado”. Em julho ele conseguiu ser recebido como membro da seção central da Internacional de Genebra, e chegando a um acordo com internacionalistas desta cidade, em particular com o alemão Becker e o genebrino Perron, formou o projeto de uma aproximação entre a Liga da Paz e a Associação Internacional dos Trabalhadores. Para tanto, fez decidir, no Comitê Central da Liga que, através de seu presidente, seria encaminhado um convite ao congresso geral da Internacional, que iria reunir-se em Bruxelas, no domingo 6 de setembro, para enviar delegados ao segundo Congresso da Paz, de Berna. A Marx não agradaram essas resoluções, pensou que fosse uma intriga de Bakunin para apoderar-se da direção da Internacional e, desde esse momento, colocou-se em campanha contra o revolucionário russo, como se verá mais à frente.
Certo número de sociedades operárias de Paris havia resolvido ter representação no Congresso de Bruxelas. A Internacional, por outro lado, possuía em diferentes cidades da França, como Rouen, Lyon e Marselha, grupos que não tinham sido perseguidos pelo governo e que decidiram igualmente enviar delegados ao congresso. A perspectiva de uma grande participação da França no congresso não era agradável para Marx, que continuava imaginando que existiam intrigas para mudar o domicílio do Conselho Geral e acreditava que um projeto havia sido feito pelos belgas, a fim de que ele fosse transferido para Bruxelas. Em sua correspondência com Engels, encontra-se o eco dessas preocupações; em 29 de agosto ele escreve para comemorar que os membros da comissão parisiense estão presos e não podem participar do congresso:
“Afortunadamente nossos velhos conhecidos de Paris estão trancados. O comitê parisiense não enviará para Bruxelas mais do que um só delegado, porém os diferentes grêmios enviarão oito ou nove.”
E no dia 12, ele escreve:
“O congresso, afortunadamente, termina amanhã. Tolain e outros parisienses querem transferir o Conselho Geral para Bruxelas. Eles têm ciúmes de Londres. Contudo, um grande progresso tem acontecido: os bravos belgas e os franceses, esses proudhonianos que em Genebra e Lausane tinham declamado dogmaticamente contra as trade-unions, agora são os mais fanáticos partidários delas. Os bravos belgas, apesar de toda sua fanfarronice, não tinham previsto nada, tanto é assim que o correspondente do Daily News procurou inutilmente durante três dias o local do congresso, e finalmente conseguiu encontrá-lo pelo fato de ter achado, por acaso, Jung e Stepney (delegados ingleses).”
Paris enviou treze delegados para Bruxelas: Tolain, Murat, Theisz, Roussel, Durand, Pindy, Ansel, Delacour, Dauthier, Dosbourg, Flahaut, Tartaret e Henry. Além deles, havia 5 delegados de outras partes da França: Alejandro Lemonnier, por Marselha; Aimé Grinand, por Lyon; Albert Richard, por Neuville-sur-Saóne; Emilio Aubry, por Rouen e Longuet, por Caen.
Da Inglaterra chegaram sete membros do Conselho Geral: Lucraft, Shaw e Cowell Stepney, ingleses; Eccarius e Lessner, alemães; Dupont, francês; Jung, suíço; e um delegado do ramo francês de Lourdes, Matens. A Alemanha enviou quatro delegados, a eles somou-se um alemão que chegou de Genebra, Becker. Também participaram cinqüenta e seis belgas, sete suíços-franceses e um espanhol, Marsal Anglora, mecânico de Barcelona que representava a “Legião Ibérica do Trabalho”. O congresso foi presidido por Jung e Dupont.
Sobre a questão da propriedade territorial, a maioria do congresso mostrou-se partidária da propriedade coletiva da terra, mas por causa do grande número de abstenções, ficou decidido que a questão seria estudada para que pudesse aparecer na ordem do dia do congresso, que seria realizado no ano seguinte.
Acerca das máquinas, todos os delegados foram unânimes em declarar que deveriam pertencer aos trabalhadores. Sobre a questão da guerra, o congresso, após ouvir um relatório de Longuet, votou uma resolução que, entre outras coisas, dizia: “O Congresso recomenda para os trabalhadores, sobretudo, que entrem em greve assim que a guerra começar em seus respectivos países”. Em sua carta a Engels de 16 de setembro, Marx caçoa desta resolução, qualificando-a de “bobagem belga”.
Na última sessão do Congresso, Dupont, presidente, pronunciou um discurso que finalizava com estas frases:
“Os clericais falam de nós: ‘Vão nesse congresso; declaram que não querem governos, nem exércitos, nem religião’. E eles dizem a verdade: nós não queremos governos, porque os governos nos oprimem com impostos; nós não queremos exércitos, porque os exércitos nos exterminam, e nós não queremos religião, porque as religiões afogam a inteligência.”
O convite dirigido ao congresso da Internacional, em nome do comitê central da Liga da Paz, pelo presidente deste comitê, Gustave Vogt, dizia que a liga queria “expressar sua profunda simpatia e transmitir seus mais fervorosos desejos pelo sucesso da reforma social, fim elevado para o qual tendia a Associação Internacional dos Trabalhadores”, e acrescentava: “tenhamos valor, amigos, e todos juntos quebremos as barreiras que as preocupações e instituições injustas ergueram entre as diversas partes do corpo social, como as barreiras de ódio, em cujo nome os povos, formados para se respeitarem e para se amarem mutuamente, têm se jogado uns sobre outros”. Desta vez, a maioria dos delegados da Internacional opinou como os representantes do Conselho Geral de Londres, que, inspirados por Karl Marx manifestaram que a Liga da Paz não tinha razão de ser, assim, a Internacional, e como conseqüência o Congresso de Bruxelas, mesmo com a oposição de uma minoria, votou uma resolução convidando a Liga da Paz para que se unisse à Internacional. Unir-se à Internacional é o que já tinha feito Bakunin por conta própria desde o mês de julho. Os membros da comissão parisiense, detidos na prisão de Saint-Pelagie, Varlin, Malon, Combault, Landrin, Mollin, Granjón e Humbert, opinaram com a minoria de Bruxelas e acreditaram que era seu dever protestar publicamente; foi assim que enviaram ao Congresso de Berna um manifesto concebido nestes termos:
“Cidadãos: vista a resolução tomada pelo Congresso de Bruxelas relativa à Liga da Paz e da Liberdade, os que assinam, membros da Associação Internacional, acreditam:
1º - Que do ponto de vista dos princípios que servem de base para a Associação Internacional, os delegados enviados ao congresso para deliberarem sobre determinada ordem do dia, não tinham autorização para tomar uma resolução desta importância sem consultarem seus grupos.
2º - Que do ponto de vista da liberdade, cuja conquista perseguimos, o direito de considerar-se a única expressão das aspirações de uma época, não pode pertencer a nenhuma associação isolada.
Portanto, é com prazer que reconhecemos a utilidade da Liga da Paz e da Liberdade, como a da Associação Internacional, e acreditamos que a diversidade dos respectivos elementos que as compõem, são contrários a sua fusão. Ao mesmo tempo, não aprovamos o convite dirigido à Liga pelos membros do Conselho de Bruxelas, para que esta seja dissolvida; esta determinação não pode obrigar ninguém além de seus autores.
Aproveitamos esta ocasião para enviar-lhes a expressão de nossa simpatia.”
Em Berna, após um debate sobre o socialismo, em que a maioria tinha recusado uma proposta apresentada por Bakunin, a minoria dos delegados, composta de 18 membros, separou-se da liga e fundou, em 25 de setembro, a Aliança Internacional da Democracia Socialista, declarando que se constituía como ramo da Associação Internacional dos Trabalhadores, cujos estatutos aceitava. Essa minoria acreditava estar respondendo, desse modo, ao convite feito pelo Congresso de Bruxelas.
Os membros da segunda Comissão de Paris entraram na prisão de Saint-Pélagie para cumprir pena em 15 de julho de 1868, saindo de lá em 15 de outubro. Um deles, Malon, pouco tempo depois, fez uma viagem para a Suíça e durante essa viagem tornou-se membro de uma sociedade secreta fundada em 1864 por Bakunin e alguns amigos. A sociedade chamava-se Fraternidade Internacional e dela faziam parte na França, Élie e Élisée Reclus, Aristides Rey e Alfredo Naquet. A participação de Malon naquela sociedade secreta durou pouco tempo, pois a associação dissolveu-se em fevereiro de 1869, como resultado de um conflito entre alguns de seus membros. Uma nova organização secreta foi formada imediatamente pelos primeiros fundadores da sociedade dissolvida, Bakunin, Fanelli e Friscia; os irmãos Reclus não fizeram parte dela, nem Perron, Joubovsky e Mroczkowsky, que tinham pertencido à Fraternidade; mas, por outro lado, James Guillaume, Schwitzguebel, Varlin, Keller, Robin, Palix, Sentiñón e Farga-Pellicer foram membros durante o ano 1869.
A casa de propaganda criada em Paris, em 1865, na rua de Gravilliers, já não existia, mas o trabalho de difusão das idéias, por um lado, e o da organização operária, por outro, não se detinha e ia aumentando. No bojo das sociedades de resistência, organizadores como Varlin, Theisz, Pindy, Camelinat e Murat desenvolviam a maior parte de sua silenciosa atividade, e a propaganda das idéias fazia-se agora nas reuniões públicas, com um êxito que animava mesmo aqueles que a realizavam. Varlin, Combault, Bourdon e Malon aceitaram colaborar em um periódico semanal que foi fundado em Genebra em 1868, L’Egalité, órgão da federação das seções suíço-francesas da Internacional. Bakunin, Perrón e J. Guillaume foram seus principais redatores e também colaboraram com ele de Paepe, Eccarius, Becker e mais adiante Robin. Em uma das primeiras correspondências enviadas de Paris ao periódico, Combault falava do movimento de reuniões públicas e, repetindo a frase dita em uma destas reuniões, declarava que “a Associação Internacional dos Trabalhadores nunca havia estado tão bem na França como depois de sua dissolução”. Entre outras provas daquilo que dizia, ele citava o fato de que, tendo iniciado uma greve na Basiléia em novembro de 1868, foi suficiente que um membro da Internacional, Heligon, tivesse falado da greve em uma reunião pública, para que todos os oradores tivessem a honra de narrar os sucessos da Basiléia em todas as reuniões, o que originava contribuições e assinaturas em favor dos grevistas.
“A dissolução do Bureau de Paris, agregava Combault, teve como resultado, ao dispensar um grupo de afiliados regulares composto de algumas centenas de membros, a ligação – em princípios e de fato – de tudo o que pensa e faz a população trabalhadora de Paris, ainda que irregularmente.”
Como a ousadia dos oradores aumentava, o governo preocupou-se e tentou processar os mais violentos. Na mesma correspondência que falamos, Combault escrevia:
“As perseguições multiplicam-se, as condenações são cada vez maiores; três e seis meses de prisão é a pena ordinária que se aplica aos oradores. Nosso amigo Briosne, um dos oradores mais capaz e mais estimado, acaba de ser condenado a um ano.”
Em outra correspondência de Paris no mesmo periódico (número de 3 de abril), provavelmente escrita por Varlin, lemos:
“Os oito meses seguidos de discussões nas reuniões públicas fizeram ver que a maioria dos operários reformadores é comunista. A palavra comunismo levanta tanto ódio no campo dos conservadores como nas vésperas das jornadas de junho. Bonapartistas, orleanistas, clericais e liberais unem-se para protestar com indignação... A grande maioria dos oradores das reuniões públicas está ameaçada de prisão, sobretudo os que proclamam o comunismo.”
Em 1869 deveria verificar-se a renovação do corpo legislativo e Paris preparava-se para as eleições. Não é nossa intenção traçar aqui a história da luta eleitoral. É sabido que, em novembro de 1868, o processo contra alguns periódicos que coletavam assinaturas para elevar um monumento ao representante Baudin fez com que o nome de Gambetta saísse da obscuridade, e a opinião pública designou-o, em seguida, como o candidato por excelência das reivindicações democráticas; ao seu lado Rochefort, Emilio Ollivier e o velho Raspali foram os candidatos favoritos do povo. Em uma correspondência enviada ao L’Egalité de Genebra, Varlin explicava a atitude que os socialistas parisienses haviam tomado na luta eleitoral. Deste modo,
“O partido socialista não apresentou candidato para as eleições gerais, mas os oradores socialistas comprometeram os candidatos radicais para que defendessem os interesses do povo.”
“As eleições aconteceram nos dias 23 e 24 de maio; 92 opositores ao império foram eleitos: Gambetta, em Paris e Marselha; Bancel, em Paris e Lyon; Rochefort fracassou.”
Na classe operária as reivindicações expressavam-se por meio de greves, as de Genebra (março-abril), Lausane (maio) e Bélgica (abril) tiveram grande repercussão em toda a nação francesa. Em junho, os mineiros de Saint-Etienne, de Rive-de-Gier e de Firminy declararam-se em greve; no dia 17 houve um sangrento choque entre a tropa e a multidão exasperada que deixou um significativo número de mortos e feridos.
Esta matança impressionou profundamente a opinião pública e avivou os ódios contra o governo imperial. Em julho, as operárias da indústria da seda de Lyon, em número de 8000, também se declararam em greve; sua enérgica atitude e as ajudas que chegaram de todas as partes fizeram com que os patrões cedessem.
O congresso geral da Internacional deveria ocorrer na Basiléia no mês de setembro. As sentenças dos tribunais não haviam dissolvido mais do que o Bureau de Paris; as seções de províncias, por uma falta de lógica que demonstra a incoerência dos magistrados bonapartistas, não haviam sido perseguidas, e, além disso, o direito de ser membro individualmente da Internacional não havia sido negado aos que se afiliavam diretamente em Londres, ou por meio de um correspondente do Conselho Geral residente em Paris.
A sociedade de encadernadores e encadernadoras de Paris tinha se constituído publicamente em seção da Internacional e não tinha sido perseguida. Em maio de 1869, um manifesto assinado pelo seu presidente Varlin, compromete as outras sociedades operárias de Paris a serem representadas no Congresso da Basiléia.
Além disso, várias sociedades operárias parisienses desejavam constituir-se em um grupo de sindicatos, em uma câmara federal de sociedades operárias. Para tanto, foi elaborado um projeto, datado de 3 de março de 1869 e assinado por Drouchon, mecânico; Solideau, impressor e Theisz, cinzelador. Apresentado o projeto de 3 de março em uma reunião de delegados dos diversos grupos corporativos, ele foi aprovado. Uma segunda reunião aconteceu em 20 de maio, porém depois dessa data as autoridades proibiram todas as reuniões. Os delegados de trinta sociedades operárias encaminharam para o chefe de polícia, em 16 de julho, uma carta pedindo explicações; o chefe não respondeu e então, em 23 de julho, escreveram para o Ministro do Interior, o que também não obteve resultado. Em razão disto, perto do final do mês de agosto, as sociedades operárias lançaram um enérgico manifesto. O manifesto dizia:
“Viver sob esta tutela é indigno de nós. Não podemos sofrer por mais tempo esta situação, e portanto, convencidos de que ninguém pode limitar o círculo de nossos estudos e de nossa ação, nós, delegados das sociedades operárias de Paris pedimos, como um direito primordial, inalienável, o direito de reunião e de associação sem restrição alguma, e nos declaramos resolvidos a prosseguir, por todos os meios a nosso alcance, a discussão do projeto dos estatutos de nossa federação.”
O Congresso da Basiléia foi realizado de domingo, 5 de setembro de 1869, até domingo, 12 dos mesmos mês e ano. Doze sociedades operárias de Paris foram representadas, e eram as seguintes.
A seção dos operários e operárias encadernadores (delegado, Varlin, encadernador); os operários do bronze (delegado, Landrin); a sociedade de previsão e de solidariedade da joalheria (delegado, Durand, joalheiro); a sociedade de resistência dos latoeiros (delegado, Roussel, latoeiro); a câmara sindical dos marmoristas (delegado, Flahaut); a câmara sindical dos mecânicos (delegado, Murat); a câmara sindical dos carpinteiros (delegado, Pindy); a sociedade de resistência dos impressores litográficos (delegado, Franquin); a câmara sindical dos torneiros em metal (delegado, J. A. Langlois); a câmara sindical e profissional dos sapateiros (delegado, Dereure); a Associação “liberdade dos carpinteiros” (delegado, Fruneau); e os operários marmoristas (delegado, Tartaret). Além deles, Mollin foi como delegado do círculo parisiense dos proletários positivistas e Chemalé, dos filiados parisienses da Internacional.
As províncias enviaram treze delegados: Dosbourg, Aubry, Creusot, Piéton, Bourseau, Outhier, Richard, Palix, Bakunin, Monier, Foureau, Tolain e Boudet. Da Alemanha chegaram sete delegados, entre eles Rittinghausen e W. Liebknecht, acrescentando também Becker, Goegg, Janasch, Greulich e Hess. A Bélgica foi representada por Brismeé, Hins, de Paepe, Bastim e Robin; a Suíça francesa enviou onze delegados, entre eles Heng, Brosset, J. Guillaume, Schwitzguebel e Fritz Robert; a Suíça alemã enviou onze também, e a Áustria dois (Neumayer e Overwinder); da Itália foi apenas um enviado, Caporusso; da Espanha, dois: o tipógrafo Farga-Pellicer e o médico Santiñón, e os Estados Unidos mandaram Cameron, delegado da National Labour Union. O Conselho Geral de Londres foi representado por seis dos seus membros: Applegarth, Lucraft, Cowell Stepney, Eccarius, Lessner e Jung, que presidiu o Congresso.
Sobre a questão da propriedade territorial, o congresso aprovou por 54 votos a 4 que a “sociedade tem o direito de abolir a propriedade individual do solo, que deve pertencer à comunidade”. Cinco delegados de Paris, Varlin, Flahaut, Franquin, Dereure e Tartaret, votaram pelo sim, e quatro pelo não, sendo eles Tolain, Pindy, Chemalé e Fruneau; os outros seis delegados abstiveram-se de votar.
Sobre a abolição da herança, trinta e dois votos manifestaram-se em conformidade com a proposição da comissão, que dizia: “o direito de herança deve ser completa e radicalmente abolido”. Dois delegados de Paris, Varlin e Dereure votaram pelo sim, sete pelo não (Tartaret, Tolain, Pindy, Chemalé, Frumeau, Murat e Langlois), os seis restantes abstiveram-se. Apenas 19 votos obteve a proposição do Conselho Geral redigida por Marx. Essa proposição continha simplesmente a indicação sobre sucessões e limitação do direito de legar. Todos os delegados de Paris votaram contra esta proposição, com exceção de quatro, que se abstiveram.
A questão da herança tinha sido incluída na ordem do dia do congresso a pedido do comitê federal de Genebra, e Marx tinha visto nisso o resultado de uma intriga de Bakunin. Em 27 de julho de 1869 Marx disse a Engels: “Esse russo, é claro, quer se tornar ditador do movimento europeu. É melhor ele ter cuidado, se não será excomungado oficialmente”. E Engels respondeu: “O gordo Bakunin está por trás disso tudo, é evidente. Se esse maldito russo pensa realmente, com suas intrigas, colocar-se ao mando do movimento operário, devemos evitar que ele possa fazer dano”. Na Comunication Confidentielle (Confidentielle Mittheilung) de 29 de março de 1870, Marx diz que se o Conselho Geral consentiu em incluir a questão da herança na ordem do dia do congresso “foi para poder acertar um golpe decisivo em Bakunin”. Tendo recaído o golpe contra Marx (pois sua contra-proposição não conseguiu mais do que dezenove votos), compreende-se sua fúria. Depois do voto, Eccarius, que sabia do segredo, deixou escapar esta exclamação: “Marx ficará muito descontente”. Essa frase foi guardada por Bakunin, que a ouviu pessoalmente.
Os delegados de Zurique, Bürkly e Greulich, tinham proposto a inscrição, no programa do congresso, de uma questão que não figurava nele; a da legislação direta pelo povo, e até tentaram colocá-la à frente da ordem do dia. Esses delegados foram apoiados pelos alemães Goegg, Rittinghausen, Liebknecht, e combatidos por Robin, Schwitzguebel, Bakunin, Fritz Roberts, Hins, Murat, Dereure. O Congresso decidiu que a questão seria discutida após esgotar a ordem do dia, caso houvesse tempo (e não houve).
O debate sobre as sociedades de resistência foi o que melhor colocou em destaque a concepção federalista e antiestatista da maior parte dos operários franceses, suíço-românicos, belgas, espanhóis, italianos, frente à qual se erguia a idéia estatista dos socialistas-democratas alemães, suíços e ingleses. Contudo, sem se deterem por sobre teorias relativas à sociedade futura, os delegados comprovaram, na resolução votada, que o congresso com unanimidade reconhecia a necessidade das sociedades de resistência, como também a de sua federação e a utilidade de criar entre elas um laço ao redor das nações, através do Conselho Geral da Internacional.
O Congresso da Basiléia fez compreender para a Europa que a Internacional não era uma simples sociedade de estudos, limitada a discutir academicamente questões de imprecisa filantropia, mas a organização de combate pela qual o proletariado iria marchar para sua emancipação. Fribourg, no livro que escreveu em 1871 em que tentou justificar sua deserção e a de uma parte de seus amigos, sugeriu que depois do Congresso da Basiléia “era evidente para todos que Marx, o comunista alemão, Bakunin, o bárbaro russo e Blanqui, o autoritário, formavam o triunvirato onipotente, fazendo com que a Internacional dos fundadores franceses estivesse morta, bem morta”. Mas isso não era assim: a Internacional parisiense tivera outros fundadores que não foram homens como Tolain e Fribourg, os quais eram estranhos para o verdadeiro socialismo; ela podia citar outros militantes como Varlin, Pindy, Langevin, Avrial, Landrin, Theisz, Delacour, e os operários de Paris iriam demonstrar para o mundo no ano seguinte, sua completa capacidade.
O Congresso decidiu a proposta dos delegados parisienses, de que o próximo congresso da Internacional acontecesse em Paris, na primeira segunda-feira do mês de setembro de 1870. Esse acordo foi decidido por unanimidade e era como uma espécie de desafio a Napoleão III. A primeira segunda-feira do mês de setembro era dia 5: a República tinha sido proclamada na véspera.
Notas de rodapé:
(1) Manifesto eleitoral em que certo número de operários de Paris tinha apresentado a candidatura de Tolain para o Corpo Legislativo. (retornar ao texto)
(2) Este documento é aquele que foi chamado de Inaugural Address e foi traduzido e publicado em francês em 1866 com o título de Manifeste de l’Association Internationale des Travailleurs. (retornar ao texto)
(3) Carta de Marx de 4 de novembro de 1864. (retornar ao texto)
(4) Palavras de Bakunin em sua “Política da Internacional”. (retornar ao texto)
(5) De Stirner (Max), filósofo alemão, autor da célebre obra O Único e sua Propriedade. (retornar ao texto)
(6) Frase do Memoire de la Federation Jurasienne. (retornar ao texto)