Uma Gloriosa Jornada Anti-Imperialista

Maurício Grabois

1 e 8 de abril de 1950


Fonte: Jornal Voz Operária (RJ), 1º de abril de 1050 e 8 de abril de 1950.

Transcrição: Leonardo Faria Lima

HTML: Fernando Araújo.


(Primeiro artigo de uma série de dois)

As recentes manifestações populares contra a presença no Brasil dos espiões ianques Kennan e Miller(1) e contra a realização da conferência dos embaixadores norte-americanos constituíram uma poderosa demonstração do povo brasileiro em defesa da paz e do repúdio à crescente penetração ianque em nossa pátria.

Os atos de desagravo realizados contra a cínica e acintosa ingerência dos magnatas do dólar nos negócios internos do Brasil ultrapassaram, tanto em combatividade como em mobilização de massas, as anteriores manifestações contra as missões imperialistas de Abbink e Demuth, pois agora, contra os salteadores Kennan e Miller, o povo brasileiro teve ocasião de revelar com mais intensidade o seu grande sentimento anti-imperialista e o seu ódio sagrado ao opressor estrangeiro.

Pela primeira vez, na luta que atualmente as massas trabalhadoras brasileiras desenvolvem contra os escravizadores imperialistas ianques, manifestações de grande repercussão de repulsa ao imperialismo norte-americano se verificam, simultaneamente, nos pontos mais importantes do país, como Distrito Federal, São Paulo, Recife, Bahia, Niterói, Porto Alegre, Belo Horizonte e em outras principais cidades do Brasil.

Uma característica nova dessas manifestações foi a de se verificarem durante vários dias, realizadas sucessivamente, sob as formas mais variadas – concentrações, passeatas, comícios, pixamentos dos consulados ianques, enterros, pinturas murais, distribuição em massa de manifestos e volantes – durante todo o período em que pisavam o solo brasileiro os espiões-diplomatas do capital monopolista dos Estados Unidos. Essas manifestações, que foram numerosas e arrojadas, constituíram exemplos de combatividade e heroísmo das massas que, sem temor, enfrentaram a reação, numa manifesta demonstração de revolta e indignação contra a afronta dos diplomatas do dólar, que, num verdadeiro escárnio ao povo brasileiro, escolheram a capital do Brasil para sua reunião de guerra e de rapina.

Simbolizando os protestos, a indignação e a repulsa das massas em face do vil atentado à nossa soberania – uma reunião em solo pátrio de diplomatas de um governo imperialista que oprime e explora o país – o pavilhão nacional foi audazmente hasteado a meio pau no Ministério da Educação, um dos edifícios mais altos da cidade, por jovens patriotas, apesar da feroz vigilância da polícia do tirano Dutra. Enquanto isso se passava no Distrito Federal, em São Paulo grande número de democratas corajosamente queimava em praça pública, face a face aos cães policiais do verdugo Ademar a bandeira de guerra e de pirataria dos imperialistas ianques.

Essas manifestações anti-imperialistas atingiram as várias camadas da população brasileira, cabendo, no entanto, ressaltar a ativa participação das mulheres e dos jovens que, ao lado do povo, estiveram presentes em todos os atos e demonstrações, enfrentaram com coragem e desprendimento as violências e arbitrariedades da reação.

Os protestos e as demonstrações das massas de repúdio aos bandoleiros ianques que se reuniram secretamente na embaixada dos Estados Unidos, ecoaram em algumas câmaras representativas, que correspondendo aos anseios anti-imperialistas do povo brasileiro, votaram veemente condenação à atividade que esses espiões norte-americanos estavam desenvolvendo no Brasil. Essa foi a atitude das câmaras municipais de Recife, Fortaleza e Nova Iguaçu, ao mesmo tempo que em grande número de câmaras municipais, representantes do povo, fiéis ao seu mandato, desmascaravam a missão guerreira e colonizadora de Kennan e Miller e denunciavam a atitude de traição nacional da ditadura de Dutra patrocinando e defendendo tão infame reunião de diplomatas do imperialismo.

Os círculos imperialistas norte-americanos, com a vinda de Kennan e Miller ao Brasil, procuraram não só coordenar os seus planos de guerra e de colonização para a América do Sul, como também pretenderam, em disfarces, tomar o pulso do povo brasileiro, experimentando-o sobre sua capacidade de resistir à dominação imperialista.

Não há dúvida de que a reunião dos diplomatas ianques em plena capital da República, sob a proteção dos gangsters do F.B.I. e dos beleguins do carrasco Lima Câmara, constituiu verdadeiro desafio ao patriotismo e à dignidade do povo brasileiro. Embora a resposta a esse cínico desafio ainda não tenha sido à altura da afronta, as massas responderam sobranceira e valentemente aos salteadores imperialistas, fazendo sentir aos agentes dos trustes e monopólios norte-americanos que o nosso povo não deseja servir de carne de canhão para as aventuras guerreiras dos sucessores de Hitler e que, pelo contrário, procura ardentemente libertar-se do jugo imperialista ianque.

A realidade é que, em face dos movimentos e ações de massa contra o imperialismo norte-americano, os espiões-diplomatas caíram na defensiva, perdendo aparentemente toda a sua insolência, procurando esconder seus objetivos de guerra, apresentando-se manhosamente como amigos do Brasil, evitando a publicidade em torno de suas reuniões e passando, nas declarações à imprensa burguesa, para um plano secundário, o espião-mor Kennan – entre todos os espiões presentes, o mais conhecido como incendiário de guerra – que era, na verdade, a figura central na reunião dos diplomatas atômicos.

Diante das manifestações de repulsa do povo brasileiro, a reunião dos embaixadores ianques foi rapidamente encerrada, embarcando sorrateira e quase clandestinamente para os Estados Unidos o espião-chefe Kennan, e o longo programa de visitas aos Estados do sub-secretário Miller foi praticamente cancelado. Grande parte da imprensa burguesa, apesar de completamente vendida aos imperialistas norte-americanos, como toda a imprensa “sadia”, embora fazendo suas costumeiras provocações anti-comunistas e anti-soviéticas, encontrou dificuldades para fazer a defesa dessa atividade tão cínica e tão declarada dos inimigos do Brasil. Essa defesa chocava de tal maneira os sentimentos patrióticos do povo que alguns categorizados jornais da reação relegaram o noticiário da conferência dos embaixadores às suas páginas de menos importância.

As manifestações populares contra Kennan e demais espiões-diplomatas, foram, em primeiro lugar, uma demonstração de luta pela paz. Elas serviram pra mostrar com clareza às massas a atividade criminosa dos monopolistas ianques que, abertamente, preparam uma terceira guerra mundial contra toda a humanidade progressista, particularmente dirigida contra a gloriosa e pacífica União Soviética e os países da democracia popular. O nosso povo sentiu melhor como o governo imperialista dos Estados Unidos, apoiado diretamente no governo de traição nacional de Dutra, procura arrastá-lo a uma nova carnificina contra os seus interesses e a sua vontade, tripudiando, com a conivência das classes dominantes sobre nossa soberania, como acaba de fazer, realizando em terras brasileiras uma reunião de guerra e colonização.

Por sua vez, a violenta repressão levada a efeito para impedir os protestos e as ações contra a atividade de Kennan e Miller serviu para evidenciar mais uma vez todo o caráter de traição nacional da ditadura de Dutra e dos seus interventores estaduais que se lançaram ferozmente contra as massas para defender seus patrões norte-americanos. Ficou claro para novos setores do povo brasileiro que a ditadura de Dutra é praticamente um governo dos monopolistas ianques, contrário aos interesses nacionais.

A polícia, tanto no Distrito Federal como dos Estados, ficou à disposição da embaixada e dos consulados norte-americanos para dissolver, com toda violência, as manifestações populares, prendendo e espancando patriotas que nas ruas clamavam contra o imperialismo e em defesa da paz.

Desse modo, as ações realizadas contra os representantes do governo imperialista e guerreiro de Truman, fundiram-se com a luta contra a infame ditadura de Dutra que, sendo a força política que internamente melhor serve aos monopolistas dos Estados Unidos e lidera no país as forças do campo anti-democrático e imperialista, colocou-se sem rodeios ao lado dos inimigos do Brasil e contra o povo brasileiro. As massas puderam sentir quais os verdadeiros patriotas e quais os traidores. Enquanto grande número de patriotas, com os comunistas à frente, defendiam com o risco da própria vida a independência e a soberania nacionais, os líderes dos partidos das classes dominantes, chefiados pelo governo de traição nacional de Dutra, se prosternavam subservientemente aos pés do opressor ianque, implorando esmolas, mercadejando com os maiores inimigos do povo brasileiro o sangue de nossa juventude e a independência de nossa Pátria.

Exemplo frisante dessa atitude de traição nacional das classes dominantes é a posição do poeta e negocista Augusto Frederico Schmidt, que atingiu ao limite máximo de degradação e de ausência de patriotismo. De maneira indigna e humilhante, o sr. Schmidt suplica nas páginas do reacionaríssimo “Correio da Manhã”, com lágrimas nos olhos, aos imperialistas norte-americanos, para “ajudar-nos nessa luta pelo nosso enriquecimento” porque “o inimigo comunista fomentou intrigas que se insinuaram na opinião brasileira...” Esse abastado capitalista e homem de letras da reação, que, no plano ideológico realiza idêntica tarefa – tentar abater a resistência do nosso povo ao imperialismo ianque – que um Boré ou Fredegard levam a efeito na sua esfera de ação, ao reprimir bestial e criminosamente os movimentos de massas, é obrigado a reconhecer o sentimento anti-imperialista do povo brasileiro e, para esmaga-lo, implora aos patrões ianques dólares para enriquecer ainda mais a grande burguesia e os latifundiários, para fortalecer o governo de traição nacional de Dutra e para aumentar a escravização de nosso povo.

(Último de uma série de dois artigos)

A campanha popular contra os manejos de Kennan e Miller reforçou a luta anti-imperialista e serviu para educar as massas, pela própria experiência nas lutas, onde mostraram não temer as arbitrariedades da ditadura e os choques violentos com a polícia, participando de todas as manifestações apesar do aparato bélico da reação.

O reforçamento da luta anti-imperialista nas jornadas populares contra a reunião dos agentes do Departamento de Estado se caracterizou pela melhor articulação das forças democráticas, com o estabelecimento de uma verdadeira frente anti-imperialista composta de várias organizações de massa de incontestável prestígio popular e de âmbito nacional.

Assim é que contra a presença insólita de Kennan e seus parceiros no país, se coligaram em frente única o Centro de Defesa do Petróleo e da Economia Nacional, a União Nacional dos Estudantes, a Liga Brasileira de Defesa das Liberdades, a Organização Brasileira de Defesa da Paz e da Cultura, a Confederação dos Trabalhadores do Brasil, a Federação das Mulheres do Brasil, a União Brasileira dos Estudantes Secundários, apoiadas por dezenas de organizações proletárias, populares femininas e juvenis do Distrito Federal, como a Liga Anti-Fascista da Tijuca, a Frente Democrática de Copacabana, o Centro Democrático Catete-Laranjeiras, Uniões Femininas, Clubes e Comissões de empresa.

Todas essas organizações atuaram de comum acordo, coordenadas na realização das tarefas, significando esse fato um sério avanço no sentido da estruturação da frente anti-imperialista no país, tendo em vista ampla organização anti-imperialista capaz de incorporar grandes massas do povo brasileiro na luta pela expulsão dos imperialistas e pela nossa completa libertação nacional.

No entanto, apesar da intensidade e da repercussão da campanha patriótica contra Kennan e Miller, ela ainda não correspondeu às necessidades da luta pela paz e pela libertação nacional, nem às possibilidades existentes em virtude da radicalização crescente das massas, da sua combatividade, do seu sentimento anti-imperialista e do seu ardente desejo de paz.

Houve, é certo, bastante agitação e propaganda desmascarando e denunciando a atividade guerreira e colonizadora de Kennan e Miller, mas a mobilização de massas foi relativamente pequena. Se de um lado houve uma ativa participação das mulheres e dos jovens na campanha, por outro lado a classe operária, que é a força mais consequente e decisiva na luta pela libertação nacional, não participou de modo a corresponder ao papel dirigente que está chamada a desempenhar na luta anti-imperialista. Embora o proletariado estivesse sempre representado em todas as manifestações realizadas, as quais sempre participava a CTB, a classe operária e a sua vanguarda não lutaram suficientemente contra a presença no país dos diplomatas do capital monopolista ianque. Não utilizaram os meios eficientes de que só o proletariado pode lançar mão, como as greves de protesto, mesmo de curta duração, de minutos ou horas, que teriam enorme repercussão e dariam um conteúdo mais elevado à campanha contra a presença dos espiões ianques.

Essa débil participação da classe operária e a mobilização relativamente pequena de massas, se deve antes de tudo às deficiências da propaganda, que embora tivesse sido muito intensa, não deu ao proletariado, nem às massas, argumentos suficientes que esclarecessem com clareza os objetivos imperialistas e de guerra da conferência dos espiões norte-americanos.

As massas trabalhadoras não foram bastante esclarecidas e a própria vanguarda da classe operária não ficou, em seu conjunto, inteiramente armada para fazer uma intensa mobilização de massas. É certo que Kennan é um conhecido e desmoralizado provocador de guerra, mundialmente denunciado como o autor do plano de “guerra fria”, mas uma propaganda realizada fundamentalmente contra esse incendiário de guerra não bastava para esclarecer e alertar as massas sobre os sinistros objetivos da reunião no Brasil desses representantes da diplomacia atômica.

Era necessário que as forças democráticas e anti-imperialistas, principalmente os comunistas, explicassem melhor ao nosso povo, com fatos concretos, com argumentos acessíveis à compreensão popular, procurando às massas nas empresas e nos locais de trabalho, o caráter guerreiro da conferência dos espiões do Departamento de Estado. Era indispensável também mostrar todo o conteúdo colonizador desse conclave de salteadores imperialistas, despertando o sentimento patriótico das massas e ligando sempre toda argumentação à defesa das suas reinvindicações imediatas, por aumento de salário, contra o desemprego, contra a carestia da vida etc. Precisamos reconhecer que a propaganda realizada, apesar de seu enorme volume, não atingiu grandes setores das massas.

Não podemos também deixar de levar em conta, ao analisarmos os lados débeis da luta contra Kennan e sua quadrilha, a falta de organização das grandes massas, pois as organizações de massa existentes não agrupam ainda amplas massas, o que dificultou a mobilização em grande escala nessa jornada anti-imperialista da classe operária e das massas trabalhadoras em geral.

As demonstrações contra os espiões Kennan e Miller não podem, também, ser analisadas desligadas das campanhas em que o nosso povo está empenhado na luta pela paz, contra o imperialismo ianque, pelas liberdades e contra o governo de traição nacional de Dutra. As demonstrações anti-imperialistas, contra os embaixadores ianques, como parte dessas campanhas, refletiram, como não podia deixar de acontecer, o atraso e as debilidades apresentados nessas frentes de luta do povo brasileiro, o que nos alerta sobre a necessidade de marcharmos com mais rapidez, de acordo com o ritmo com que se desenvolvem os acontecimentos políticos nacionais e internacionais, na tarefa básica de organizar as massas e de preparar suas lutas, a fim de que as futuras demonstrações contem efetivamente com grandes massas.

Nas combativas jornadas contra Kennan e Miller, apesar do seu nível ter sido mais alto que os das campanhas anteriores, ainda notaram-se manifestações isoladas de oportunismo, caracterizando fundamentalmente no fato de se esconder, de certo modo, o conteúdo anti-imperialista e de defesa da paz das demonstrações, chegando-se mesmo em alguns casos, a omitir o nome do bandido Kennan, pensando talvez abrandar a reação. Também manifestou-se, embora esporadicamente, uma injustificada falta de confiança nas massas, que jamais deixaram de aplaudir e defender os elementos anti-imperialistas que eram vítimas das brutais violências da polícia, como se comprova na atitude da massa defendendo um líder estudantil que, numa das ruas mais centrais do Distrito Federal, apelou para os populares que, atendendo-o, impediram durante algum tempo que fosse preso, apesar do tiroteio dos policiais.

Do ponto de vista prático, é preciso reconhecer que houve certo descontrole na planificação e na execução das demonstrações contra Kennan e seus parceiros, não ficando claro para as massas em que lugar iam se realizar as manifestações centrais, o que ocasionou certa confusão. Houve alguns erros táticos como, por exemplo, subordinar o “Dia do Desagravo Nacional” ao dia da instalação da conferência dos embaixadores do imperialismo, o que na prática significou colocar à disposição do inimigo a escolha da data das demonstrações centrais, pois só no último instante os diplomatas do dólar deram publicidade sobre o dia da instalação da reunião.

Ao estudar os aspectos positivos e as debilidades da jornada contra Kennan e Miller, temos como objetivo aproveitar a experiência das demonstrações anti-imperialistas em benefício das próximas lutas. E nesse sentido é necessário aproveitar, desde já, o grande trabalho realizado nessa campanha de desmascaramento da preparação guerreira e da dominação imperialista, para prosseguirmos com mais intensidade, ardor e entusiasmo na luta pela paz e de oposição ao governo de traição nacional de Dutra, denunciando com firmeza as resoluções guerreiras e colonizadoras da conferência dos agentes de Wall Street, resoluções que o imperialismo norte-americano procurará por em prática por todos os meios.

Não foi por acaso que, logo após a reunião que o gangster Miller presidiu, aqui chegava o incendiário de guerra, general Hoyt Vandenberg, chefe das forças aéreas dos Estados Unidos e membro proeminente do estado-maior conjunto, para dar novas ordens aos seus lacaios nacionais sobre a preparação guerreira no país. Também não foi por mera casualidade que, simultaneamente, aqui aportavam para contribuir na tarefa de colonização total do país, baseada no IV Ponto do programa de hegemonia mundial de Truman, os diretores dos três maiores bancos dos Estados Unidos: o Chase Bank, o City Bank e o Bank of Boston.

Na luta contra a execução das resoluções da conferência dos embaixadores ianques, temos como tarefa combater todos os tratados de guerra, assinados ou por assinar, como o “Tratado do Rio de Janeiro” ou o “Tratado de Amizade, Comércio e Desenvolvimento Econômico”, desmascarar a atividade anti-nacional da embaixada do governo dos Estados Unidos e os seus consulados nos Estados, exigir a expulsão das enormes missões militares norte-americanas, a começar pelos quatro generais e o almirante que as dirigem, impedir pela ação das massas a aprovação do infame “Tratado da Hiléia Amazônica”, prosseguir firmemente nas campanhas da defesa do petróleo e da economia nacional, pela conquista das liberdades, centralizando na “Campanha de Um Milhão de Assinaturas”, tudo isso reforçando e ampliando a luta pela paz, que é a tarefa central de todo o nosso povo.

Neste sentido, devemos fazer convergir todas as nossas atividades e esforços no sentido de uma campanha nacional e de amplas massas pela interdição da bomba atômica. Devemos mobilizar todas as figuras de prestígio popular, todas as organizações, sejam nacionais, estaduais, municipais, de bairro ou de empresa, a fim de que a condenação popular da arma atômica se expressa unanimemente por todas as camadas de nosso povo.

Mas nessas lutas devemos compreender cada vez mais que se tornam necessárias e urgentes as ações e demonstrações concretas, lutas parciais enérgicas de alto nível, ainda mais elevadas que as realizadas contra Kennan e Miller, greves de ramos de produção e greves gerais nos municípios, lutas essas, cuja ampliação em número crescente, serão capazes de conduzir com êxito o povo brasileiro às batalhas decisivas por sua libertação do jugo imperialista que, em última instância, serão travadas contra a ditadura de Dutra, governo de guerra e de escravização imperialista e pela instauração de um governo democrático e popular.

Todas as lutas que hoje empreendemos devem, portanto, ter essa perspectiva revolucionária, pois só com a derrota completa desse infame governo de traição nacional será possível tirar definitivamente nosso país do campo da guerra e do imperialismo para situá-lo entre as forças da paz e da democracia. Mas, para isso, é fundamental reforçar rapidamente nossa atividade entre as massas, organizando-as e dirigindo-as em suas lutas, tendo sempre em vista engrossar as forças de oposição à ditadura de Dutra e de luta contra o imperialismo ianque, dando dessa forma uma solida contribuição à luta pela paz, que é o centro de toda nossa atividade.


Nota de rodapé:

(1) George F. Kennan e Edward Miller, da Divisão de Assuntos Interamericanos do Departamento de Estado dos Estados Unidos. (retornar ao texto)

Inclusão: 02/10/2020