Durante os últimos cinco ou seis anos o Partido Comunista fez alguns notáveis progressos entre os Negros. Temos grande prestígio entre as massas e grande influência em algumas organizações do povo Negro.
O Partido Comunista, pela sua ideologia e pelo seu trabalho na organização das lutas pela igualdade de direitos e oportunidades e a favor do avanço cultural, iniciou um renascimento na vida do povo Negro nos Estados Unidos. As lutas a favor dos jovens de Scottsboro, a favor da libertação de Angelo Herndon(1), pela igualdade no interior do movimento sindical, pelos direitos civis através dos movimentos democráticos e pacifistas, a favor do alargamento de oportunidades na esfera política, resultaram não só em grandes ganhos para o povo Negro em geral, mas de entre os homens Negro puxou para a primeira linha líderes fortes e membros das massas lutadores, como Angelo Herndon e tantos outros.
Mas, o recrutamento alargado para o partido, particularmente de mulheres Negras lutadoras e líderes, com base nesses avanços, infelizmente ficou para trás. Somos, portanto, chamados a dar uma séria atenção organizacional e política à questão do recrutamento de Negros para o nosso partido. Felizmente, estamos a chegar a um ponto de viragem na nossa abordagem ao apelo e ao trabalho junto das mulheres Negras.
É algo glorioso descobrir no nosso Plenário e nas discussões da Comissão Negra que as mulheres Negras exigem entrar para o nosso Partido. Elas batem à nossa porta, e eu acho isso uma coisa fantástica. Temos de encontrar uma forma de tornar possível que as mulheres Negras entrem para o nosso partido e para a liderança mais completa do partido. Devemos aprender com as organizações Negras sobre esta questão. As mulheres são os principais líderes do povo Negro. A maioria das organizações tem uma liderança feminina ativa.
No dia 6 de Junho(2) teve lugar no Harlem uma conferência sobre o trabalho entre as mulheres Negras organizada pela Comissão de Mulheres. Foi uma conferência muito bem-sucedida. Não entrarei aqui em grandes detalhes. Tal será feito, estou certo, pelas camaradas da Comissão de Mulheres. Para conquistar as mulheres Negras e para as envolver nas atividades de massas, devemos aprender a assumir de forma completa os problemas particulares das mulheres Negras e organiza-las para a luta.
Penso que, em primeiro lugar, devemos considerar a organização das trabalhadoras domésticas. Sabeis, camaradas, que, segundo as estatísticas dos E.U.A. o maior volume de emprego do conjunto das Negras é o de criadas e fornecedoras de serviços pessoais? Não é preciso explicar a esta audiência as condições de trabalho desta categoria de trabalhadoras. O facto é que elas não estão organizadas e é difícil organizá-las por causa das peculiaridades da indústria. Também encontramos um grande número de mulheres Negras em todo o país entre os trabalhadores das lavandarias. Se desenvolvermos a luta entre essas trabalhadoras, traremos milhares delas para as organizações e ganharemos centenas delas para o Partido Comunista. Naturalmente, há outras categorias. Há muitas funcionárias, há milhares de professoras, classe média e outras categorias.
A resolução da Comissão de Mulheres sobre o trabalho entre as mulheres Negras diz:
"A ênfase principal foi dada à promoção de quadros. Foi proposto que se desse especial atenção às mulheres Negras devido aos seus problemas particulares; que se organizassem, quando e se necessário, aulas de formação especial para mulheres; que mais mulheres negras sejam incorporadas na liderança do Partido, dos sindicatos, do CIO(3), dos movimentos de desempregados e dos movimentos pela paz."
Há um acordo absoluto com esta formulação. Em Chicago, por exemplo, um dos melhores organizadores do C.I.O. na região de Calumet é uma mulher Negra. Em Harlem, uma das camaradas mais ativas no Comité Unitário de Ajuda à Etiópia é uma mulher Negra. Quero chamar a atenção para uma companheira que foi nomeada como líder da Aliança dos Trabalhadores no Harlem. Este trabalho foi anteriormente liderado por um dos nossos mais notáveis camaradas masculinos e que recentemente foi enviado para Detroit. Quando este camarada partiu, a organização convocou uma reunião para o substituir. A Aliança dos Trabalhadores em Harlem tinha-se tornado um movimento de massas. Precisávamos de um bom camarada para tomar o lugar daquele que estava de saída. Nós tínhamos, é claro, há muito, os olhos num camarada -uma camarada mulher. Ela foi chamada à reunião do executivo e discutimos o trabalho na Aliança dos Trabalhadores. No final, alguém se levantou e disse: "Eu proponho a nomeação da Camarada Frankie Duty como organizadora da Aliança." Houve uma decisão unânime. A camarada Duty tinha provado o seu valor.
Hoje, inclusivamente, houve uma manifestação de massas dos trabalhadores de socorro no Harlem. Participaram quatro mil trabalhadores; milhares alinharam-se nas ruas. Foi um prazer para mim, juntamente com Herbert Benjamin, líder nacional da Aliança dos Trabalhadores, encabeçar esta manifestação pelas ruas de Harlem ao lado da Sra. Frances Duty. Estávamos muito orgulhosos. Enquanto percorríamos as ruas do Harlem, os trabalhadores ao longo do percurso da marcha acenavam constantemente em saudação à Companheira Duty, chamando-a pelo nome. Foi uma coisa em grande. Aqui estava uma mulher, que se tornara uma grande líder das massas -não apenas uma líder feminina, mas uma líder de um dos maiores movimentos de massas do Harlem- respeitada e aceite pelas massas. Esse é o tipo de líder de que o camarada Dimitrov falou no VII Congresso Mundial da Internacional Comunista. É assim que tentamos, e queremos, promover mulheres líderes no Harlem e em todo o país. Nós, e eu pessoalmente, sentimo-nos muito orgulhosos da camarada Duty. Ela merece-o. Não nos traz nada de bom se não podermos continuar a usar este método de promoção de líderes. Promoção artificial não significa nada; às vezes, causa-nos muitos problemas.
Quero dar outro exemplo.
Todos aqui conhecem a questão da organização e movimento de massas em torno do Hospital do Harlem. Os problemas do hospital de Harlem servem como ponto de convergência dos movimentos cívicos de todo o Harlem. Não quero relatar toda a história deste desenvolvimento. Mas devo dizer uma palavra sobre o camarada que o conseguiu e como foi feito. Conhecem a camarada. É uma excelente camarada mulher. É enfermeira. Aderiu ao nosso Partido há algum tempo, e começou um trabalho sistemático de agitação entre os enfermeiros e pacientes, consciente de que ao fazê-lo colocava em risco o seu posto de trabalho. Mas fê-lo. Ela recrutou um, outro e outro para o partido. Ela trabalhou sob a orientação do comité de secção. Esse trabalho durou um ano ou mais. A célula cresceu. Atingiu os 40 membros do partido. Foram recrutados médicos. O grupo tornou-se um movimento de massas de mais de 400 pessoas no hospital do Harlem e em torno dele. Foram publicados vários boletins. Hoje, esta camarada é uma líder de massas no Harlem. Ela não tinha reservas; simplesmente trabalhava. Ela respeitava a liderança da seção e não deixava de vir todos os dias para receber orientações. Ela não tinha sentimentos subjetivos sobre o Partido nem sobre o seu trabalho. Ela viu o seu dever para com as pessoas ao seu redor e cumpriu esse dever. Em toda a minha experiência, não vi melhor exemplo de liderança, de atitude para com o trabalho e para com o Partido por parte de qualquer dos nossos camaradas do que o desta camarada. Ela é membro do Comité da Divisão de Harlem do Partido Comunista e membro do Comité Estadual do Distrito. Não tenho dúvidas de que ela se tornará uma das líderes mais proeminentes do nosso movimento.
Estes dois exemplos de camaradas mostram como desenvolver quadros e lideranças de massas. Continuemos com este método. Seria ótimo se pudéssemos mergulhar na organização dos trabalhadores domésticos.
Neste plenário temos de prestar homenagem a uma das mais longas militâncias no nosso Partido de uma destacada mulher Negra. Refiro-me à camarada Maude White(4), cujo décimo aniversário como militante do nosso Partido se celebra este mês. Foi muito bom da parte do camarada Browder(5) usar esta ocasião para enfatizar o trabalho entre as mulheres Negras, homenageando a camarada White. Normalmente dez anos não é muito tempo se por exemplo compararmos com o longo e brilhante registo da Camarada Mother Bloor(6). Mas é pouco comum para uma camarada Negra. Não temos muitas que tenham estado no Partido dez anos.
ERGUENDO O PARTIDO ENTRE O POVO NEGRO
Para edificar o Partido entre os Negros e ampliar a Frente Popular Negra unida, é necessário renovar a nossa luta a favor das necessidades imediatas e básicas do povo Negro. Nosso partido deve destacar-se como os combatentes independentes a favor do povo Negro.
Outro fator necessário para a construção do Partido entre os Negros é a questão da formação e reforço da formação dos nossos militantes. Este foi um ponto particular da agenda da Comissão Negra do plenário, o camarada Bassett(7) fez um excelente relatório e delineou um programa de leitura, estudo, de cursos de autoestudo e de aulas para superar rapidamente uma carência muito grande neste campo.
Se fizermos uma análise cuidadosa dos nossos militantes Negros, encontramos quer entre os dirigentes como entre os líderes de outros escalões uma deplorável falta sistemática de formação na teoria e prática revolucionária. Por isso concordamos em organizar uma escola de formação a nível nacional E concordamos em solicitar aos camaradas que desenvolvem trabalho dirigente e que não podem frequentar estas escolas, para apresentarem um plano de autoestudo e leitura.
Há uma grande necessidade de panfletos sobre os problemas dos negros. Vários camaradas foram designados para escrever panfletos populares.
Sublinhamos novamente que deve ser dada uma atenção particular à organização do aparelho do partido nos distritos onde há grandes concentrações de Negros. As experiências do Harlem, Chicago e Cleveland devem ser ampliadas. A necessidade de atenção diária da parte dos comités estaduais e/ou distritais a este trabalho é um problema especial.
Na sequência deste Plenário devem ser organizadas conferências regionais nos maiores e mais importantes distritos e um representante do Centro deve participar dessas conferências.
Numa recente reunião da Comissão Negra realizada em Nova Iorque, o camarada Browder disse-nos o seguinte:
"Eu diria que a principal característica do ano passado foi o trabalho de base entre os Negros. Como na maioria dos outros campos do nosso trabalho, começamos a aplicar em larga escala os resultados da linha do VII Congresso Mundial da Internacional Comunista. Começamos a sair do isolamento sectário e a tornamo-nos uma influência de massas, um poder de massas. Como no nosso trabalho de partido em geral, isto tem sido acompanhado por uma agudização dos problemas envolvidos no nosso trabalho. Todas as nossas fraquezas e inadequações emergem agora de forma mais acentuada precisamente porque fizemos alguns ganhos tremendos e, por isso enfrentamos responsabilidades que, politicamente, nos sentimos preparados para enfrentar."