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Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Lembro-me que quando visitei a República Popular da Polônia, nos anos de Gierek, levaram-me a Osviecim, o mais famoso dos campos de concentração. Pude constatar os horríveis crimes cometidos pelos nazistas contra crianças, mulheres e idosos judeus. Eram as idéias do livro Mein Kampf de Adolfo Hitler aplicadas ali. Antes as tinham aplicado invadindo o território da URSS na procura do espaço vital. Os governos de Londres e Paris naqueles anos açulavam o chefe nazista contra o Estado soviético.
O exército soviético libertou Osviecim e quase todos os campos de concentração nazitas, denunciou os fatos, fez fotos e filmes que percorreram o mundo.
Obama falou no campo de concentração de Buchenwald, dentro do território alemão, em cuja libertação participou um tio-avô dele, que ainda vive e o acompanhou no comício.
Sua atividade mais importante na Europa foi a participação no 65º aniversário do desembarque de Normandia, onde pronunciou um segundo discurso. Desfez-se em elogios para com Dwight Eisenhower, que dirigiu o desembarque. Salientou com justeza o valente papel dos soldados norte-americanos que combateram em uns poucos quilômetros de costa, apoiados pela marinha inglesa e norte-americana e milhares de aviões saídos fundamentalmente das fábricas dos Estados Unidos. As divisões de pára-quedistas não foram lançadas nas posições mais corretas e por isso a batalha se prolongou desnecessariamente.
A maior parte do exército de Hitler e suas divisões mais seletas tinham sido liquidados pelos soldados soviéticos na frente russa depois que se restituíram dos prejuízos do golpe inicial. A resistência de Leninegrado ao prolongado cerco, os combates das divisões siberianas a poucos quilômetros de Moscou, as batalhas de Estalinegrado e o saliente de Kursk passarão à história das guerras entre os maiores e decisivos acontecimentos.
Segundo se pode deduzir do discurso de Obama naquele comício, a Europa pôde ser libertada do nazismo graças ao bem sucedido desembarque de Normandia. Só dedicou 15 palavras ao papel da URSS, apenas 1,2 por cada 2 milhões de soviéticos que morreram naquela guerra. Não foi justo.
Ao findar a sangrenta contenda, o Irão, que por seus recursos naturais e sua localização geográfica tinha jogado um papel importante nessa guerra, foi convertido pelos Estados Unidos em seu mais forte e melhor armado gendarme nessa região estratégica da Ásia.
O povo iraniano, dirigido pelo Aiatolá Ruhollah Khomeiny, com as massas desarmadas dispostas a qualquer sacrifício, derrocou o poderoso Xá do Irã. O fato aconteceu durante os dois últimos anos da administração de Jimmy Carter, que sofreu as primeiras conseqüências da desacertada política exterior dos Estados Unidos, que encurtou seu mandato e propiciou o acesso de Ronald Reagan ao poder.
O Xá morre no Cairo em 27 de julho de 1980, a cidade onde precisamente pronunciou Obama seu discurso no passado 4 de junho.
A absurda guerra Iraque-Irã, que se iniciou em 1980, durou 8 anos e não foi provocada por Khomeiny. Reagan tirou dela todo o proveito possível. Primeiro lhe vendeu armas ao Irã. Com elas e o dinheiro do tráfico de drogas sufragou a guerra suja contra a Nicarágua, burlando as disposições do Congresso, que lhe negou os fundos para aquela cruel aventura que tantas vidas de jovens sandinistas custou. Reagan apoiou a guerra do Iraque contra o Irã.
O Governo dos Estados Unidos autorizou o fornecimento de matérias-primas, a tecnologia e os gases para a guerra química contra o Irã, que liquidou dezenas de milhares de soldados desse país; a população civil foi severamente afetada, empresas norte-americanas cooperaram com a produção das armas químicas. Os satélites, por outro lado, forneceram-lhe a informação necessária para as operações por terra; 600 mil iranianos e 400 mil iraquianos morreram nessa guerra, centenas de milhares de milhões de dólares foram gastados pelos dois grandes produtores de petróleo antes de que ambas as partes aceitassem o projeto de paz elaborado pelas Nações Unidas.
Não é tarefa fácil para um Presidente dos Estados Unidos pronunciar um discurso na Universidade muçulmana Al- Azhar do Cairo. Nem é de esperar que provoque muito entusiasmo entre os iranianos e os árabes.
Fidel Castro Ruz
14 de junho de 2009
16h36