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Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Não exagero. É a expressão mais generalizada de muitos compatriotas. É a impressão do Chefe do Estado Maior Geral das FAR, Álvaro López Miera, um militar experiente, quando viu na Ilha da Juventude as torres de aço retorcidas, as casas transformadas em ruínas e a destruição por todas as partes.
“Foi um duro golpe, não podia nem sequer imaginá-lo”, disse com voz desgastada pelo esforço, mas firme e decidida, Ana Isa Delgado, Secretária do Partido e Presidenta do Conselho de Defesa do importante município. “É algo nunca visto durante os quase 50 anos que moro aqui!” exclamou um vizinho espantado. Um jovem soldado que descia de um carro anfíbio, gritou: "Demonstremos que estamos dispostos a dar a vida pelo povo!".
Em Herradura, o General de Corpo de Exército Leopoldo Cintras Frías, ao observá-lo tudo transformado em ruínas, olhando ao seu redor, compartilhava o seu espanto e admiração pela coragem da população e expressou: "Isto é como ver uma explosão nuclear." Ele quase a viu no sul-oeste de Angola, se os racistas sul-africanos tivessem decidido lançar contra as tropas cubano-angolanas uma das sete bombas que o governo dos Estados Unidos lhe forneceu. No entanto, era um risco calculado e as tácticas mais apropriadas foram adotadas.
Junto a Pólo estava Olga Lídia Tapia, primeira secretária do Partido e Chefa do Conselho de Defesa da província, sem duvidar um segundo dos frutos do esforço e da determinação de seus compatriotas.
Com toda franqueza atrevo-me a dizer que as fotos e as imagens fílmicas do que transmitiam no domingo pela televisão nacional me lembravam a desolação que vi quando visitei Hiroshima, que foi vítima do ataque com a primeira bomba atômica em agosto de 1945.
Não debalde se afirma que um furacão desenvolve uma enorme energia, talvez equivalente a milhares de armas nucleares como aquelas que foram lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Valeria a pena que algum físico ou matemático cubano realizasse os cálculos correspondentes e o expusesse de maneira compreensível.
Agora a batalha consiste em alimentar às vítimas do furacão. A dificuldade não está em restabelecer quanto antes a eletricidade. O problema na Ilha da Juventude é que, de 16 padarias, todas com forno elétrico e grupo eletrógeno, apenas duas podiam trabalhar de imediato; as edificações foram afetadas. Precisavam receber pão ou bolachas. As cifras de telhas e materiais necessários neste momento para as habitações são extremamente altas. Na Ilha da Juventude o mar está no meio. Não chega com carregar caminhões de alimentos e materiais para enviá-los direitamente.
Nossas Forças Armadas enviaram pessoal especializado em aeródromos e transporte aéreo e terrestre. Dia e noite, auxiliados pelos grupos eletrógenos, os aviões podem aterrar no aeroporto da Ilha. Eles têm a missão de travar sua batalha pela população sem esbanjar recursos. Com igual espírito atuarão nas zonas arrasadas de Pinar del Rio. Todos os organismos têm suas tarefas encomendadas, todos são importantes. Mas, os bens não caem do céu. Compartilhar implica sacrifícios. Não podemos dar-nos ao luxo de esquecê-lo dentro de alguns dias.
O fato adverso deve prestar para trabalhar com maior eficiência cada dia e para utilizar de maneira justa e racional cada grama de material. Temos que lutar contra as nossas superficialidades e egoísmos. Cem milhões de dólares apenas significam nove dólares por habitante e precisamos de muitos mais. Precisamos de 30 vezes, 40 vezes essa cifra para garantir as nossas necessidades mais elementares. Esse esforço deve sair do trabalho do povo. Ninguém pode fazê-lo por nós.
É evidente que a nossa capacidade de divulgação multiplicou-se e a nossa população, que sabe ler e escrever possui, aliás, elevados níveis de escolaridade.
Kcho, o pintor, deslocou-se pelo ar para a Ilha da Juventude, o pedaço de Cuba que o viu nascer e nos enviou uma carta sobre a alta moral dos pineros. Seleciono parágrafos da mesma:
“Querido Fidel:
Achei importante, desde que cheguei à Ilha e pude observar com meus próprios olhos e sentir com meu corpo tudo o que estava passando, contatar com Richard para que você conhecesse a terrível situação que acontecia no Município Especial.
“Não tenho palavras para exprimir a realidade do que eu vi ontem na Ilha da Juventude. Durante meus 38 anos não vi nada semelhante e as pessoas com as quais falei no meu território não tinham visto nada pior, mas incrivelmente eles ainda têm a moral pelo céu... muitos perderam suas moradias e quase todos têm suas coisas, camas, colchões, televisores, geladeiras, etc., destruídos; a maior parte da população tem essa situação; calcula-se que das 25 000 habitações que há na Ilha – ainda nesta altura não é a cifra definitiva – aproximadamente 20 000 foram afetadas de alguma maneira e dessas 20 000, cerca de 10 000 não têm tetos ou foram totalmente destruídas.”
“... a brigada de 52 electricistas camagüeyanos trabalhou até as 15 horas da madrugada e hoje começaram novamente às 6h30 da manhã com muita disposição; eles estão à espera de um grupo de 60 e tais de Holguín...”
“...ainda existem muitos problemas, designadamente, habitações destruídas pelo furação Michelle no ano 2001, que esperam ser resolvidos.
“Existem sérios problemas com a alimentação... Atualmente a Ilha é como uma prisão, pela insularidade, apesar de que já foram restabelecidos os vôos... O dinheiro não tem nenhum valor, não há que comprar nem onde comprar nada.”
“A solidariedade humana está sendo a arma mais importante neste momento. A moral está alta, mas isso não será eterno; nos próximos dias deverão ser resolvidas algumas coisas. Na medida em que seja restabelecido o serviço elétrico, criar pontos de informação onde as pessoas podam se reunir para conhecer o que está acontecendo no país e no Município, ou embora que seja para ouvir música e passar o tempo em coletivo."
“Atualmente o território ‘ é um teatro de operações militares em trégua’, com as pessoas ainda alegres porque salvaram suas vidas, não pensando muito até agora na perda de seus pertences, tentando salvar o que ficou deles, vendo como se ajustam a essa nova situação, mas, com o percorrer dos dias a moral das pessoas pode decair e chegar à depressão.”
“... as condições do hospital são infra-humanas e apenas a vontade e a convicção dos homens e mulheres revolucionários permite que trabalhe.
“O pineiro é revolucionário e combativo, e lá estão todos (pacientes, familiares, a equipe médica) trabalhando de maneira muito intensa. Desde ontem, aproximadamente às 16 horas da tarde, já se encontram na capital os 32 pacientes de hemodiálise, com um acompanhante e enfermeiras, que levavam 48 horas sem o tratamento e se encontravam em boas condições.
“O pineiro continua tendo sua moral alta e está feliz pelo trabalho dos organismos responsáveis e porque não se perdesse nenhuma vida humana nem em Pinar del Río nem na Ilha, nem em Matanzas.”
“Eu acho que para que a Ilha seja o que era antes será preciso investir muito tempo de trabalho e muitos recursos, como se fosse uma província, porque agora tudo está devastado.”
Com sua carta envia fotos demonstrativas da devastação; no envelope a silhueta da Ilha da Juventude e ondeando nela uma bandeira cubana.
Os excelentes pintores que costumavam acompanhar as nossas batalhas de idéias podem deixar constância do episódio vivido e encorajar ao nosso povo em sua épica luta.
Orfílio Peláez nos falava no jornal Granma de um furacão acontecido em 1846 com recorde de pressão mínima de 916 hectopascais, registrado por um aparelho. Isso aconteceu há 162 anos quando não existia rádio, televisão, cinema, Internet e outros muitos meios de comunicação, que por vezes chocam uns nos outros, criando o caos nas mentes.
Naquela época a população de Cuba era de aproximadamente 12 vezes menor. Com trabalho escravo e semi-escravo, o país exportava a maior quantidade de açúcar e também de café durante uma boa parte desse século. Não existia a aposentadoria, a media de vida era muito inferior e quase eram desconhecidas as doenças da idade madura ou a educação maciça, que tantos braços e inteligências precisam para o seu desenvolvimento. Os recursos naturais abundavam. Os furacões, apesar de influírem muito, não significavam uma catástrofe nacional. Sobre as mudanças climáticas, bem distantes, nem sequer se falava.
No jornal Granma de hoje terça-feira, o próprio jornalista nos relata as façanhas de nosso povo em sua batalha pela recuperação e pelos frutos do esforço dos últimos anos. Rubiera, o cientista, pela sua vez, no percurso que realizou por Pinar del Rio observava detalhadamente, entre as ruínas da instalação do Instituto de Meteorologia em Paso Real de San Diego, o aparelho de medir a velocidade do vento que marcava 340 quilômetros de velocidade quando foi destruído pelas fortes rajadas. Foi anunciado que ele falará hoje na Mesa Redonda. Ele tem teorias que explicam o acontecido. Por outro lado, Juan Varela falou sobre os destroços produzidos na maior empresa de culturas várias em Güira de Melena, província de Havana, que devia produzir este ano cerca de 140 000 toneladas de tubérculos, grãos e hortaliças. As perdas, na minha opinião, segundo os preços internacionais, em horas de trabalho, produtos alimentares, equipamentos de cultivo e rega, combustíveis e outras despesas, são milionárias em apenas essa empresa.
No entanto, o mais impactante, pelo drama humano que lhes correspondeu tratar foi a informação subscrita pelo jornalista Alfonso Nacianceno e o fotógrafo Juvenal Balán: a odisséia vivida pelos cinco tripulantes do Lagosteiro 100 de Batabanó, província de Havana. Eles receberam a ordem de regressar ao porto como todas as embarcações pesqueiras, no seu devido tempo. Retrasaram-se por acaso. Desde o sábado perdeu-se a comunicação com eles quando o furacão avançava rapidamente. Duas vezes eu tinha dito em reflexões prévias: "Sorte que temos uma revolução! Nenhum cidadão ficará abandonado a sua sorte.”
Eu soube sobre a incomunicação com o lagosteiro o próprio sábado, quase à meia noite. Raúl me trouxe notícias sobre o que acontecia, confiava na experiência dos pescadores para lidar com tormentas e furacões. Ele me disse que ao amanhecer enviaria os meios necessários para localizá-los. Logo que melhorou o tempo começou a busca, que conseguiu reunir 36 embarcações, três helicópteros e dois aviões durante quase dois dias. Da embarcação não havia nem sinal; no entanto, encontraram os náufragos. O que relatam é incrível; os que conhecem bem o mar sabem o que significa estar intermináveis horas agarrados a um remo e depois a uma bóia.
O milagre revolucionário aconteceu e os pescadores foram resgatados.
Não nos deixemos levar pelas ilusões. Este furacão nos deixa cem mil habitações afetadas em maior o menor grau e a perda quase total de artigos necessários depois da tragédia como explica Kcho na sua carta.
Quantas habitações anti-furacões, seguras, Cuba precisa? Não menos de 1,5 milhões delas para quase um total de 3,5 milhões de famílias. Calculemos o custo internacional desses investimentos, que se corresponde com os dados que se utilizam no mundo.
Uma família na Europa deve pagar pelo menos 100 mil dólares, mais juros, pelos quais entregam 700 dólares mensais de suas rendas durante 15 anos. Dez bilhões de dólares é o custo aproximado de cem mil moradias para famílias médias nos países desenvolvidos, que são os que determinam os preços dos produtos industriais e alimentares no mundo. A isto seria preciso acrescentar o custo das instalações sociais afetadas que devem ser reconstruídas, o resto das instalações econômicas, além das requeridas para o desenvolvimento.
Apenas de nosso trabalho, reitero, poderão sair os recursos. Enquanto as novas gerações realizem essa tarefa, os homens e mulheres que habitam esta ilha precisam da solidariedade, do valor e da combatividade mostrada pelos pinarenhos e os pineros.
O império atravessa nesta altura uma prova difícil na segunda metade do ano, a de sua capacidade de resolver as dificuldades que questionam o seu ritmo de vida à custa do resto dos povos. Agora precisam de uma mudança de leme.
Bush e Cheney foram quase marginados da campanha republicana por guerreristas e indesejáveis. Não se discute sobre uma mudança de sistema, senão sobre como mantê-lo ao menor custo.
O imperialismo desenvolvido terminará matando a todos os que tentem penetrar sem licença dentro de seu território para se transformar em escravos assalariados e consumir algo. Já o estão fazendo. O chauvinismo e o egoísmo que o sistema cria é muito grande.
O sabemos e continuaremos desenvolvendo a solidariedade, o nosso maior recurso dentro e fora da Pátria.