Busch, a Guerra e a Luta a Dentadas por um Pedaço de Vida

Fidel Castro

6 de Abril de 2008


Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático.

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.

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Na reflexão titulada "Bush no céu", publicada pela nossa imprensa no passado dia 23 de Março, afirmei que Bush faria das suas durante a reunião da Aliança Atlântica em Bucareste, capital da Romênia, nos dias 1º, 2 e 3 de Abril.

Importantes factos estão acontecendo na Europa. Ignora-los é como ser analfabetos sobre o drama actual. Se o leitor tiver um bocado de paciência, nalgumas folhas disporá de notícias tiradas de um mar de informação, que saem à luz a diversas horas em diferentes dias, misturadas com variados temas, vitais ou não.

"Atenas, 3 de Abril (EFE):

"Os nacionalistas gregos cantaram Vitoria hoje por terem impedido o ingresso de Macedónia na OTAN devido à disputa entre Atenas e Skopje sobre a denominação desse país, que já leva 17 anos sem ser resolvido.

"A imprensa grega é unânime nesta quinta-feira ao avaliar como um sucesso o voto à entrada de Macedónia na Aliança Atlântica, confirmada hoje desde a cimeira que celebra essa organização militar em Bucareste.

"A mídia destaca, sobretudo, as intensas pressões exercidas por Washington para que Macedónia seja admitida na OTAN e expressam o orgulho nacionalista de que Atenas não tenha cedido perante elas.

"‘Não passou a chantagem de Bush’, titula hoje o jornal ateniense Avriani. ‘Kostas Karamanlis, passará à história da Grécia pelo veto contra a vontade de Bush.’"

"Bucareste, 4 de Abril (EFE):

"A Casa Branca expressou a sua complacência pelos resultados obtidos na cimeira, em que os aliados prometeram mais tropas para Afeganistão, deram o seu apoio ao escudo antimísseis que os Estados Unidos planeja na Europa do Leste e prometeram que Ucrânia e Geórgia serão membros da organização atlântica no futuro."

"Tirana, 3 de Abril, (EFE):

"A classe política albanesa acolheu hoje com entusiasmo o convite oficial para que Albânia se integre na OTAN.

"Os deputados do Parlamento albanês, reunidos Numa sessão extraordinária, definiram a jornada como ‘histórica’ e salientaram que é o acontecimento mais importante para o país após a proclamação da independência de Cossovo no passado 17 de Fevereiro e a formação do estado albanês em 1912.

"A presidenta do Parlamento, Jozefina Topalli, agradeceu a todos os países que apoiaram a entrada de Albânia na OTAN, nomeadamente ao presidente estadunidense George W. Bush.

"‘O convite marca o fim da transição política e o primeiro passo que Albânia dá rumo aos processos de integração euro-atlântica nestes últimos 17 anos da democracia,’ disse Topalli.

"O ministro de Economia, Genc Ruli, afirmou que a entrada na OTAN significa maior estabilidade e segurança, e portanto, mais investimentos estrangeiros indispensáveis para o desenvolvimento económico de um dos países mais pobres da Europa.

"As ruas principais da capital albanesa foram enfeitadas hoje com bandeiras da OTAN e nacionais."

"Madrid, 4 de Abril (DPA):

"Isolado do resto do mundo? A imagem de um José Luis Rodríguez Zapatero sentado sozinho junto das cadeiras vazias na mesa da cimeira da OTAN enquanto George W. Bush e outros mandatários conversam animadamente próximos dele, foi hoje a foto de capa dos principais jornais espanhóis e reavivou o debate sobre a política exterior do governo socialista espanhol.

"Para além da famosa foto, os jornais e tertúlias da rádio e televisão salientaram a ausência de um encontro entre Zapatero e Bush, que La Moncloa tinha anunciado quase como um facto depois que o mandatário estadunidense ligasse para o espanhol para felicitá-lo pela sua vitória nas eleições de 9 de Março.

"A relação entre Zapatero e Bush tem sido fria e distante desde que o socialista chegou ao poder devido a que, logo, em Abril de 2004 retirou as tropas espanholas do Iraque, uns 1 300 efectivos.

"Os Estados Unidos e Bush não evitaram em nenhum momento mostrar seu mal-estar por isso. Desde então, jamais houve até a data encontros bilaterais entre os dois.

"Nem Bush tem visitado oficialmente Espanha desde essa data, nem Zapatero tem estado na Casa Branca. Tudo o contrário ocorreu com o anterior presidente do governo espanhol, o conservador José María Aznar… foi um dos quatro vultos de outra foto famosa: a da cimeira dos Açores, em que Grã-bretanha e os Estados Unidos planejaram a intervenção no Iraque que Espanha apoiou.

"O contacto entre Bush e Zapatero em Bucareste ficou reduzido a um ‘Olá, olá, parabéns’ do estadunidense ao espanhol, no que a imprensa ironizou como ‘o encontro das três palavras’."

"Bucareste, 4 de Abril (ANSA):

"Na sua despedida das cimeiras da OTAN, o presidente estadunidense, George W. Bush, deu de bandeja o protagonismo ao seu colega russo Vladimir Putin.

"O adeus do inquilino da Casa Branca, que marcou o debute do seu parceiro francês Nicolás Sarkozy e do Primeiro-ministro britânico Gordon Brown, será recordado segundo analistas pela sua absurda obstinação em pedir o ingresso imediato de Geórgia e Ucrânia ao pacto perante a evidente oposição dos demais membros.

"Foi a ‘Velha Europa’, com eixo franco-alemão à cabeça com as suas críticas à guerra no Iraque, a que norteou o seco ‘não’ ao presidente Bush.

"O mandatário norte-americano apareceu insolitamente nervoso na cimeira de Bucareste. Inclusive, fontes diplomáticas falam de uma discussão em duros termos com a sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, quem intentava convencê-lo de abandonar uma ‘causa perdida’, pelo menos nesta cimeira.

"O nervosismo de Bush emergiu também na sua brusca interrupção da conferência de imprensa na residência estival do presidente romeno Traian Basescu, enquanto o chefe de estado europeu intentava responder a uma pergunta sobre o tratamento de Washington aos romenos que intentam viajar aos Estados Unidos.

"A irritação de Bush foi visível também pela extensão das sessões da cimeira, onde os 26 chefes de estado tomaram a palavra. O presidente abandonou o debate sobre Afeganistão em forma intempestiva, deixando trás de si alguns membros da sua equipa e a vários jornalistas que cobriam a sua viagem.

"Também em modo brusco Bush reagiu a um artigo de The New York Times, onde se mencionava a ‘invisibilidade’ do chefe da Casa Branca nos Estados Unidos em plena campanha eleitoral e no meio de advertências de uma recessão económica.

"Em Bucareste Bush obteve um só êxito: o apoio da OTAN a seu plano de ‘escudo espacial’ com vistas à sua reunião de amanhã com Putin no balneário de Sochi, sobre o Mar Negro.

"Segundo analistas, Bush terá a possibilidade de pôr um bocado de ordem nas conflituosas relações com Rússia, que estão no nível mais baixo desde o fim da ‘guerra fria’."

"Bucareste, 4 de Abril 2008 (AFP):

"Num raro gesto de cooperação, Rússia chegou a um acordo com a OTAN na sexta-feira em Bucareste para que a Aliança Atlântica possa usar seu território para transportar equipamento não militar à sua missão no Afeganistão.

"O acordo sobre Afeganistão foi o único passo concreto entre ambas as partes no Conselho OTAN-Rússia celebrado na sexta-feira no Palácio do Parlamento de Bucareste.

"‘Equipamentos não militares para a ISAF (Força Internacional de Assistência à Segurança para Afeganistão) podem ser transportados através de território russo’, disse o secretário-geral da OTAN, Jaap de Hoop Scheffer.

"A ISAF, liderada pela OTAN desde 2003, conta actualmente com 47 000 efectivos de 39 países.

"Perante o pedido de reforços dos mandos militares para combater a feroz resistência talibã no sul e leste do Afeganistão, os países da OTAN ofereceram tropas que aumentarão de forma ‘bem substancial’ a força.

"A França, por exemplo, enviará um batalhão adicional de uns 700 homens que será desdobrado no leste do país.

"No contexto do desdobramento crescente de tropas e de despesas em aumento, o acordo com a Rússia deveria permitir abaratar custos, visto que tornará possível a transportação de comboio de inputs que até ao momento chegavam no Afeganistão por via aérea."

"Rogozin, embaixador russo na OTAN, tinha dito que os destinos da Rússia e da OTAN no Afeganistão eram interdependentes, pois ambos sairiam perdendo no caso de que os talibãs voltassem ao poder."

"Bucareste, 4 de Abril 2008 (AFP):

"Se o presidente George W. Bush afirmou que ‘a guerra-fria terminou’, a cimeira de Bucareste entre a OTAN e Rússia, voltou a mostrar nesta semana que os ex inimigos continuam enfrentando-se por quase tudo: Geórgia e Ucrânia, a independência de Cossovo, o escudo antimísseis, Irão ou o Tratado de Forças Convencionais na Europa.

"‘A OTAN não pode garantir a sua segurança expandindo-se a outros países’, disse-lhes Putin aos líderes ocidentais.

"As contas são claras: desde o final da guerra-fria, a OTAN passou de 16 para 28 membros, absorvendo quase todo o ex bloco comunista — Polônia, Hungria, República Checa, Bulgária, Romênia, Eslováquia e Eslovénia — e três ex-repúblicas soviéticas, Lituânia, Letónia e Estónia.

"No meio desta batalha geopolítica, Putin conseguiu na quinta-feira que os 26 aliados adiassem o outorgamento da candidatura de adesão a Geórgia e Ucrânia, que contavam com um forte apoio do presidente Bush no seu caminho rumo à OTAN.

"Mas esta vitória parcial de Putin não esconde a preocupação que significa para a Rússia o facto de que a OTAN tenha prometido a essas duas ex repúblicas soviéticas que algum dia ingressarão na Aliança.

"‘A declaração da OTAN se junta às interrogantes e preocupações do lado russo no relativo à direcção que toma a OTAN e a sua evolução. É uma Aliança que se atribui um papel global sem nenhum limite do direito do recurso à força’, explicou um responsável russo."

"Zagreb, 4 de Abril (EFE):

"O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, chegou hoje às 15h00, hora local.

"A visita do Presidente é a primeira oficial que um mandatário dos Estados Unidos faz à Croácia depois da sua independência da antiga Jugoslávia.

"O Presidente dos Estados Unidos chegou desde Bucareste, onde assistiu à Cimeira da OTAN, em que Croácia, junto da Albânia, recebeu um convite oficial para entrar na Aliança.

"As autoridades croatas anunciaram hoje com antecedência que tudo está a postos para a visita de Bush, que representa o maior desafio para as forças de segurança deste país até agora."

Enquanto estas notícias chegavam dos  Balcãs, no sudeste da Europa, onde numerosos países se disputavam a "honra" de serem devorados pelo sistema económico e financeiro do império para melhorarem as suas condições materiais de vida, nada parecidas às do mundo subdesenvolvido, um telex noticioso de EFE de 2 de Abril comunicava o seguinte:

"O presidente do Banco Mundial (BM), Robert Zoellick, instou hoje para uma acção global coordenada frente aos elevados preços dos alimentos que, junto do encarecimento da energia, ameaçam com desestabilizar 33 países no mundo.

"Zoellick mencionou essa acção coordenada como uma das quatro medidas necessárias de forma imediata para edificar uma globalização sustentável e minimizar as ameaças da actual crise financeira internacional sobre o mundo em desenvolvimento.

"Instou a um acordo global de comércio no quadro da rodada de negociações de Doha, que deve ser alcançado ‘agora ou nunca’…

"Solicitou melhorar a transparência do sector de matérias-primas no mundo em desenvolvimento para que este contribua a impulsionar mais o crescimento.

"Seu discurso, num hotel da capital estadunidense, chega nas vésperas da reunião de primavera do BM e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que se celebrará na próxima semana em Washington, e no meio de uma grande incerteza económica mundial.

"Para que isso seja possível, é preciso encarar problemas como a elevação nos preços dos produtos alimentícios básicos, resultado, entre outros factores, da crescença da energia.

"‘Os preços dos alimentos básicos aumentaram 80% desde 2005,’ sublinhou Zoellick, quem lembrou que só no mês passado os preços do arroz marcaram o nível mais alto dos últimos 19 anos e os do trigo a maior cotização em 28 anos.

"‘O Banco Mundial estima que 33 países no mundo defrontam a possibilidade de mal-estar social ou político devido aos elevados preços dos alimentos e da energia,’ afirmou.

"‘As circunstâncias demográficas, a mudança nas dietas, os preços da energia e dos bio-combustíveis, e a mudança climática, sugerem que os elevados e voláteis preços dos alimentos se manterão aí durante os anos vindouros,’ disse.

"Perante essa situação, solicitou o estabelecimento do que descreveu como um ‘Novo Acordo para uma Política Alimentar Global’ que deveria se concentrar não apenas na fome, a mal-nutrição e o acesso aos alimentos, senão em outros factores como as interligações desses preços com a energia ou a mudança climática.

"‘A política alimentar necessita atrair a atenção dos máximos níveis políticos, porque nenhum país ou grupo pode fazer face a esses desafios interligados,’ concluiu."

Ambas as instituições, o Banco Mundial e o FMI, fazem parte do sistema imperialista.

As primeiras notícias da azarada viagem de Bush a Rússia emanavam do próprio avião militar que o deslocava, junto do seu numeroso séquito, rumo a Sochi, cidade situada à beira do Mar Negro.

Com ele viajavam repórteres de várias agências de imprensa ocidentais.

Um telex de AFP de 4 de Abril transmitia:

"O presidente George W. Bush informou aos aliados de Washington na OTAN que tem a intenção de efectuar uma ‘significativa’ adição de tropas estadunidenses no Afeganistão para o ano, disse neta sexta-feira o secretário de Defesa Robert Gates.

"O Presidente indicou que esperava que os Estados Unidos em 2009 fizessem uma ‘significativa contribuição adicional de tropas’, afirmou.

"Gates assinalou que o apoio dos dois partidos maioritários dos Estados Unidos à iniciativa foi suficiente para permitir que Bush fizesse tal promessa, apesar que já não será Presidente."

Desde Moscovo, um telex de EFE de 5 de Abril informava:

"O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, chegou hoje a Sochi, onde celebrará consultas com o seu colega russo, Vladímir Putin, e com Dmitri Medvédev, quem assumirá como chefe de Estado da Rússia no próximo 7 de Maio.

"A última reunião que terão Bush e Putin… estará centrada no plano de Washington de desdobrar elementos do seu escudo antimísseis na Europa do Leste, que acaba de receber o apoio da OTAN e ao qual a Rússia se opõe de maneira categórica.

"Os Presidentes da Rússia e dos Estados Unidos têm previsto também adoptar amanhã domingo um documento que crie um ‘marco estratégico’ que sirva de guia para a relação dos seus países sob o mandato dos seus respectivos sucessores.

"O documento deve ser honesto. Existem problemas que não podem ser obviados’, disse hoje o assessor de Política Exterior do chefe do Kremlin, Serguéi Prijodko, citado pela agência russa Interfax.

"Frisou que entre Moscovo e Washington persistem diferenças importantes sobre a defesa antimísseis, sobre o regime de redução das armas estratégicas logo que expirar o Tratado START-1 e o carácter inadmissível da militarização do cosmos.

"Entre as diferenças, Prijodko assinalou também as posturas sobre a ampliação da OTAN, em particular, com as antigas repúblicas soviéticas de Ucrânia e Geórgia.

"A visita de Bush a Sochi, a última etapa da sua tournée por Europa do Leste, terá uma duração de menos de 24 horas."

A agência alemã DPA comentava em 5 de Abril:

"Juntar dados, sincronizar relógios: os presidentes George W. Bush e Vladimir Putin assistem ao seu encontro no balneário de Sochi, junto do Mar Negro, com o objectivo de eliminar lastro político à herança que deixarão aos seus sucessores.

"O próprio Bush escolheu a residência de verão de Putin como cenário do seu último encontro: os seus pais ficaram encantados depois de uma visita privada em 2003 à mansão levantada após a morte de Stalin. A localidade acolherá, também, os Jogos Olímpicos de Inverno em 2014.

"Os dois Presidentes aproveitaram muitos dos seus 23 encontros para se louvarem em público.

"Porém, junto dessa simpatia pessoal, sobram os motivos para a fricção política. Um dos principais é o controverso projecto estadunidense para desdobrar um sistema de defesa antimísseis na República Checa e na Polônia. ‘Veremos se atingimos um ponto de inflexão na disputa’, disse com cautela Bush em Kiev.

"Há motivos para um optimismo acautelado. Um acordo interessa a todas as partes’, augurou o Vice-presidente da Academia para a Segurança, a Defesa e a Ordem na Rússia, general Viktor Yessin.

"A última reunião entre Bush e Putin também se vê rodeada de especulações de carácter bem diferente: os Presidentes -acreditam alguns- têm previsto acordar a construção de uma via que comunique ambos os países através de Alaska, segundo um projecto concebido já em tempos dos czares.

"A mídia começou a especular com essa opção quando o rico governador da região Chukotka, Roman Abramovich, ordenou à construtora Herrenknecht a máquina de fazer túneis maior do mundo.

"Um porta-voz do Kremlin comentou os boatos sobre o túnel de 100 quilómetros e uns 42 bilhões de euros, 66 bilhões de dólares…"

A agência francesa AFP publicava a 6 de Abril:

"‘Sou prudentemente optimista com relação a um acordo definitivo. Acho que é possível’, declarou Putin.

"Por seu lado, Bush afirmou que deseja estabelecer com o Presidente russo eleito, Dmitri Medvédev, uma relação pessoal que permita ‘que ambos possamos trabalhar sobre os problemas comuns’…

"Bush, quem na quinta e sexta-feira participou da Cimeira da OTAN em Bucareste, chegou a Sochi fortalecido pelo apoio da Aliança Atlântica ao projecto estadunidense do escudo antimísseis.

"O futuro sistema norte-americano inclui uma bateria de 10 mísseis interceptores na Polônia e um radar ultramoderno na República Checa, que estariam em serviço para 2012."

Bush regressava à capital dos Estados Unidos e EFE voltava a comentar em telex de 6 de Abril:

"O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, retornou hoje a Washington com muita tarefa pendente por diante no que diz respeito às suas relações com a Rússia, segundo ele próprio admitiu.

"A Cimeira Estados Unidos-Rússia se fechou com a assinatura de um acordo-quadro estratégico que fixa as linhas mestras da relação bilateral para o futuro em áreas como a luta contra o terrorismo ou a economia.

"Mas o documento também deixa patentes as profundas diferenças que persistem entre Washington e Moscovo no relativo ao escudo de defesa antimísseis que os Estados Unidos planeja na Europa do Leste, um dos pontos mais espinhosos da relação bilateral nos últimos meses.

"Putin declarou… que ‘o diabo está nos pequenos pormenores. Resulta importante que os peritos decidam quais serão as medidas de garantia e como se levam a cabo.’

"Permanece também a discussão sobre assuntos como a ampliação da OTAN para o leste, em particular rumo às repúblicas ex soviéticas de Ucrânia e Geórgia.

"Quando se encontraram há 7 anos, Bush afirmou de Putin que lhe olhara aos olhos e pudera ler sua alma. Os dois mandatários têm mantido uma boa relação pessoal, apesar da deterioração das suas relações exteriores.

"De momento, Bush e Medvédev começaram com um pé bem diferente. Se no seu primeiro encontro o Presidente estadunidense recebeu a Putin com um abraço, a seu sucessor lhe deu apenas um aperto de mãos. E se lhe olhou para os olhos e viu a sua alma, não o disse",

concluiu ironicamente o telex.

Para um país imenso como a Rússia, a Europa Ocidental não é apenas um centro de cultura, arte, história e ciência refinada, ao tempo que produz vinhos famosos, fígado de ganso, queijos de todos os tipos imagináveis e outros delicados e custosos produtos do campo e da cidade; é também consumidora de petróleo e gás, ouro, níquel e matérias-primas russas, instrumento para a fuga do capital e de cérebros, dilapidadora de alimentos convertidos em etanol, que utilizam seus luxuosos e insustentáveis automóveis. O mundo sabe disso.

Para a Rússia, muito mais importante que a Europa é a Ásia, cujas instituições de comércio internacional, através do Grupo de Xangai, lhe abrem mais as portas do que a Organização Mundial do Comércio (OMC), em que Bush promete a Putin apoiar a entrada do seu país.    

Para quê querem os Estados Unidos as suas bases espaciais, os seus radares e plataformas de lançamento na Europa e em todas partes senão para ameaçar a Rússia?

Obviamente, as armas com que ameaça a Rússia, ameaçam também a China e a todos os demais países, sem exclusão alguma, para convertê-los em aliados ou em inimigos de um império cujo sistema económico e político é insustentável.

Os Estados Unidos marcham rumo ao proteccionismo comercial para manter o índice de emprego nesse país, cujos trabalhadores não podem concorrer com centenas de milhões de pessoas que no Terceiro Mundo produzem com grandes sacrifícios bens de consumo de qualidade a muito menor custo, que as multinacionais comercializam depois procurando mais-valia.

Enquanto isso, Bush declara terroristas aos países que bem lhe compraz.

Mesmo sob o risco de ser extenso, decidi não dividir em duas partes esta Reflexão.

Resta-me um aspecto que embora não é de igual transcendência, gostaria examinar aparte por sua relação concreta com o nosso país. Fa-lo-ei noutra oportunidade.


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Inclusão 08/09/2019