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Fonte: http://www.cuba.cu/gobierno/discursos/2007/por/f280307p.html
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Não é uma cifra exagerada; mas sim cautelosa. Meditei muito nisso depois da reunião do presidente Bush com os fabricantes norte-americanos de automóveis.
A idéia funesta de converter os alimentos em combustível ficou definitivamente estabelecida como linha econômica da política exterior dos Estados Unidos na segunda-feira, 26 de março.
Uma informação da AP, agência de informação norte-americana que chega a todos os cantos do mundo, diz textualmente:
“WASHINGTON, 26 de março (AP). - O presidente George W. Bush elogiou na segunda-feira, os benefícios dos automóveis que funcionam com etanol e biodiesel, numa reunião com fabricantes de veículos, na qual tentou impulsionar seus planos de combustíveis alternativos.
“Bush disse que o compromisso dos líderes da indústria automotriz nacional para duplicar a produção de veículos que utilizem o combustível alternativo ajudaria a que os motoristas renunciassem aos motores que funcionam com gasolina e dessa maneira reduzir a dependência do país a respeito do petróleo de importação.
“’Este é um grande avanço tecnológico para o país’, disse Bush após inspecionar três veículos de combustível alternativo. Se a nação quer reduzir o consumo de gasolina, o consumidor deve estar em condições de tomar uma decisão racional.
“O presidente instou o Congresso a avançar rápido numa legislação que o governo propôs recentemente para ordenar o uso de 132 bilhões de litros (35 bilhões de galões) de combustíveis alternativos em 2017 e impor padrões mais exigentes de poupança de combustível nos automóveis.
“Bush reuniu-se com o presidente do conselho e diretor geral da General Motors Corp, Rich Wagoner; com o diretor geral da Ford Motor Co., Alan Mulally e com o diretor geral do grupo Chrysler de Daimler Chrysler AG, Tom LaSorda.
“Os participantes do encontro discutiram medidas para apoiar a produção de veículos que utilizem combustível alternativo, tentativas para desenvolver o etanol a partir de fontes como a relva ou a serragem, e uma proposta para reduzir em 20% o consumo de gasolina em 10 anos.
“As discussões tiveram lugar num momento em que aumentaram os preços da gasolina. O estudo mais recente da organização Lundberg Survey salientou que o preço médio nacional da gasolina aumentou em seis centavos por galão (3,78 litros) nas últimas duas semanas, a US$ 2,61.”
Acho que reduzir e reciclar todos os motores que consomem eletricidade e combustível é uma necessidade elementar e urgente de toda a humanidade. A tragédia não consiste em reduzir esses gastos de energia, mas sim na idéia de converter os alimentos em combustível.
Hoje se conhece com toda precisão que uma tonelada de milho só pode produzir 413 litros de etanol como média, conforme as densidades, equivalente a 109 galões.
O preço médio do milho nos portos dos Estados Unidos aumenta em US$ 167 a tonelada. Precisa-se, por conseguinte de 320 milhões de toneladas de milho para produzir 35 bilhões de galões de etanol.
Segundo dados da FAO, a colheita de milho dos Estados Unidos em 2005 atingiu os 280,2 milhões de toneladas.
Embora o Presidente fale de produzir combustível a partir do céspede ou serragem, qualquer pessoa compreende que são frases carentes totalmente de realismo. Entenda-se bem: 35 bilhões de galões significam um 35 acompanhado de nove zeros!
Depois virão belos exemplos do que na produtividade por homem e por hectare atingem os experimentados e bem organizados agricultores dos Estados Unidos: o milho convertido em etanol; os resíduos desse milho convertidos em alimento animal com 26% de proteína; o excremento do gado utilizado como matéria-prima para a produção de gás. Lógico, isto é depois de quantiosos investimentos só nas mãos das empresas mais poderosas, nas quais tudo tem que se mover sobre a base do consumo de eletricidade e de combustível. Aplique-se esta receita aos países do Terceiro Mundo e verão quantas pessoas deixarão de consumir milho entre as massas famintas de nosso planeta. Ou ainda pior: outorguem financiamento aos países pobres para produzir etanol do milho ou de outro tipo de alimento qualquer e não ficará uma árvore para defender a humanidade da mudança climática.
Outros países do mundo rico programaram usar não apenas milho, mas também trigo, sementes de girassol, de colza e de outros alimentos para dedicá-los à produção de combustível. Para os europeus, por exemplo, seria um bom negócio importar toda a soja do mundo com o objetivo de reduzir o gasto em combustível de seus automóveis e alimentar seus animais com resíduos dessa leguminosa, especialmente rica em todos os tipos de aminoácidos essenciais.
Em Cuba, os álcoois eram produzidos como subproduto da indústria açucareira, depois de fazer-lhe três extrações de açúcar ao sumo de cana. A mudança climática já afeta nossa produção açucareira. Grandes secas alternam-se com chuvas recordes, que só permitem produzir açúcar durante cem dias com rendimentos adequados nos meses de nosso muito moderado inverno, de modo que falta açúcar em cada tonelada de cana ou falta cana por hectare devido às prolongadas secas nos meses de plantação e colheita.
Acho que na Venezuela usariam o álcool não para exportar, mas sim para melhorar a qualidade meio ambiental de seu próprio combustível. Por isso, independentemente da excelente tecnologia brasileira para produzir álcool, em Cuba a utilização dessa tecnologia para a produção direta de álcool a partir do sumo da cana não constitui mais do que um sonho o um desvario daqueles que se enganam com essa idéia. Em nosso país, as terras dedicadas à produção direta de álcool podem ser ainda mais úteis na produção de alimentos parta o povo e na proteção do meio ambiente.
Todos os países do mundo, ricos e pobres, sem nenhuma exceção, poderiam poupar milhões de milhões de dólares em investimento e combustível simplesmente substituindo todas as lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes, algo que Cuba fez em todas as casas do país. Isso significaria uma ajuda para resistir a mudança climática sem matar de fome os pobres do mundo.
Podem constatar que não uso adjetivos para qualificar o sistema e os donos do mundo. Essa tarefa fazem-na de maneira ótima os peritos em informação e os homens de ciências sócio-econômicas e políticas honestos que abundam no mundo e que vasculham constantemente no presente e no futuro de nossa espécie. É suficiente com um computador e o crescente número de redes da Internet.
Hoje conhecemos pela primeira vez uma economia realmente globalizada e uma potência dominante no terreno econômico, político e militar, que em nada se parece com a Roma dos imperadores.
Alguns se perguntarão por que falo de fome e de sede. Eu lhes respondo: não se trata da outra face de uma moeda, mas de várias faces da outra peça, como podem ser um dado com seis faces, um poliedro com ainda mais faces.
Vou-me referir neste caso a uma agência oficial de notícias, fundada em 1945 e geralmente bem informada a respeito dos problemas econômicos e sociais do mundo: a TELAM. Disse textualmente:
“Aproximadamente dois bilhões de pessoas residirão em apenas 18 anos em países e regiões onde a água seja uma lembrança longínqua. Dois terços da população mundial poderiam viver em lugares onde a escassez provoque tensões sociais e econômicas de tal magnitude que poderiam levar os povos a guerras pelo prezado ‘ouro azul’.
“Nos últimos 100 anos, o uso da água tem aumentado a um ritmo mais de duas vezes superior à taxa de crescimento da população.
“Segundo as estatísticas do Conselho Mundial d’Água (WWC, suas siglas em inglês), estima-se que em 2015 o número de habitantes afetados por esta grave situação atinja 3,5 bilhões de pessoas.
“A Organização das Nações Unidas comemorou em 23 de março o Dia Mundial d’Água, instando a enfrentar desde esse mesmo dia a escassez mundial da água sob a coordenação da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), com o objetivo de salientar a crescente importância da falta de água a nível mundial e a necessidade de uma maior integração e cooperação que garantam uma gestão sustentável e eficiente dos recursos hídricos.
“Muitas regiões do planeta sofrem escassez severa de água, vivendo com menos de 500 metros cúbicos por pessoa, anualmente. Cada vez são mais as regiões que padecem a falta crônica do vital elemento.
“As principais conseqüências da escassez de água são a quantidade insuficiente desse precioso líquido para a produção de alimentos, a impossibilidade de desenvolvimento industrial, urbano e turístico e problemas de saúde.”
Até aqui a informação de TELAM.
Neste caso não menciono outros fatos importantes, como os gelos que se derretem na Groenlândia e na Antártica, os danos na capa de ozônio e a crescente quantidade de mercúrio em muitas espécies de peixes de consumo habitual.
Há outros temas que podem ser analisados, porém com estas linhas tento simplesmente fazer um comentário sobre a reunião do presidente Bush com os principais executivos de companhias automotrizes norte-americanas.