As últimas notícias sobre os acontecimentos na Rússia são largamente exploradas pelos contra-revolucionários de toda espécie. Segundo estes, o famoso "experimento comunista" dos bolcheviques falhou miseravelmente, já que, de certa forma, são obrigados a desfazer uma parte considerável das medidas econômicas de conteúdo comunista que o poder soviético tinha posto em prática. Disto se concluiria que o mecanismo coletivo de produção e distribuição seria inviável, uma vez que os seus defensores mais resolutos e extremados, os comunistas russos, são forçados, pela necessidade de revitalizar a economia do seu país, a permitirem se restaurarem formas puramente capitalistas, como o comércio privado e a exploração privada de empresas produtivas que já tinham passado para a gestão coletiva.
Qual é a verdade? Recordemos resumidamente, tendo presente os últimos discursos e artigos dos camaradas russos e de Lênin a sua vanguarda.
Os comunistas sempre afirmaram que a tarefa do proletariado revolucionário tem um duplo aspecto: político e econômico. A primeira é derrotar o poder burguês, para organizar firmemente o proletário e defendê-lo contra ataques contrarrevolucionários internos e externos. Essa tarefa política se torna uma tarefa militar; longe de se encerrar com a primeira vitória da revolução, ela se prolonga enquanto subsistam focos de resistência burguesa dentro e fora do território do Estado proletário. Para o primeiro Estado proletário, que ainda se encontra, depois de quatro anos, sob cerco e ataque, com aqueles meios de insídia e ofensa que paramos aqui para recordar, pelos gigantes do capitalismo ainda não investidos decisivamente pela propagação do fogo revolucionário, essa imensa tarefa: por um lado, e muito mais grave do que será para todos os outros países que a revolução poderá conquistar mais tarde, por outro lado, assume importância primordial as exigências do segundo aspecto da tarefa da revolução: o econômico. Noventa por cento das energias da revolução russa foram dedicadas à defesa do Estado proletário, ao passo que, talvez, para um país que realizasse a revolução política em um continente e de uma forma predominantemente livre dos Estados burgueses no desenvolvimento anterior da revolução, seria de se esperar que noventa por cento das energias disponíveis fossem levadas para o terreno da construção econômica da edificação do comunismo.
Admitamos que a Rússia tenha feito isso, admitamos que, do pouco que fez no domínio da economia, ela agora é constrangida a abandonar uma boa parte; o saldo da revolução não se tornaria negativo por isso. De forma justa o camarada Losovsky encerra um recente artigo seu dizendo que: se alguém perguntasse à Rússia revolucionária o que ela fez nesses últimos quatro anos, ela poderia responder com razão: "existiu". Essa resposta, aparentemente banal, significa uma série épica de sacrifícios e vitórias sobre as múltiplas hordas da reação mundial, sobre a perfídia dos governantes das maiores potências do mundo, sobre os próprios caprichos das forças naturais: se quisermos dar um valor a uma expressão burguesa tola, talvez contra a própria ira de Deus.
Nesse sentido, os comunistas diziam e repetem que o processo revolucionário integra seus aspectos políticos e econômicos, suas atividades de combate e de construção pacífica em uma escala que não é nacional, e que o impulso decisivo para a construção do comunismo econômico será possível somente quando a grande República internacional dos Sovietes estiver em vigor, quando for uma realidade a ditadura, ao menos, dos proletários mais avançados da Europa e da América.
No terreno de sua tarefa econômica, a revolução russa teria tido o direito de não apresentar um balanço de resultados positivos e de reivindicar para si o formidável patrimônio de sua obra política, que reside não apenas nas vitórias internas e externas da guerra revolucionária, mas também no grandioso trabalho de ter despertado, contra mil influências venenosas, o espírito de batalha do proletariado mundial. Porém, na verdade, também nesse caminho da ditadura do proletariado a Rússia acumulou sucessos decisivos e pode apresentá-los aos amigos e adversários.
O plano econômico do poder soviético não poderia deixar de ser baseado em um plano político, dependente da possibilidade do surgimento de outros Estados proletários. E que pelo menos os burgueses fossem, pelas forças da República Vermelha e do movimento revolucionário internacional, reduzidos a observar em relação a ela um tipo de neutralidade pelo menos comercial. Não só o comunismo, mas também nenhum outro sistema econômico pode viver na Rússia sem relações com outros países, por razões mais do que conhecidas por qualquer pessoa que tenha uma vaga ideia dos recursos da produção russa.
Esse estado de coisas forma o terreno para a chantagem flagrante das potências capitalistas contra o Estado proletário; ao mesmo tempo em que boicotam impiedosamente as iniciativas do Estado-empresário coletivista, eles reabrirão as correntes de seu comércio se o mecanismo de troca e produção privada for reativado. É uma chantagem sobre a vida de milhões de seres humanos; por sua lei fundamental, o capitalismo, mesmo quando está sobrecarregado de bens, os distribui apenas para alimentar as massas que estão ao alcance de sua exploração; ele não se importa que os seres humanos morram quando sua atividade é subtraída ao seu domínio e, portanto, de sua extorsão.
É possível que o plano político dos comunistas russos estivesse errado: e, consequentemente, admite Lênin, que nunca escondeu nem mesmo as verdades mais terríveis - e esse é outro ponto forte da república revolucionária -, fosse ousado demais o plano econômico, delineado em 1918, e que ainda no ano passado, quando este escritor esteve na Rússia, parecia estar em pleno andamento e implementação. Hoje, no campo da transformação econômica, não estamos onde se previa no ano passado que estivéssemos dentro de um ano. O próprio Lênin declarou: estamos em retirada na frente econômica. Mas, precisamente porque os comunistas estão em plena eficiência política, eles não sofrem um recuo desordenado, mas retiram-se conscientemente e em ordem, para reconstituírem as condições para um início mais seguro da nova ofensiva.
Os comunistas sempre disseram que, do ponto de vista econômico, a tarefa da revolução proletária tem um aspecto de gradualismo progressivo. É possível conceber um processo gradual em sentido oposto? Certamente pareceria ruinoso para o destino da revolução se assumisse um caráter definitivo. Mas esse não é o caso, apesar de todas as esperanças reacionárias, nem em relação à Rússia, considerada em si mesma como um território econômico, nem muito menos em relação ao desenvolvimento histórico da revolução mundial, que é o ponto de vista essencial para entender a questão.
Em seu recente artigo, Lênin reiterou claramente que a desaceleração na realização do comunismo e do socialismo econômico, e a aceitação oficial pelo poder proletário de reformas de produção e distribuição em parte capitalistas e em parte coletivistas, não significa um retorno dos comunistas às concepções reformistas da emancipação proletária. Os bolcheviques podem reconhecer a necessidade de revisar o programa de construção econômica de 1918, mas não tiram daí nenhuma conclusão que, no momento, ponha em causa o programa de ação proletária que eles firmemente postularam em 1917 contra os enganos da social-democracia menchevique, e que desde então a Terceira Internacional vem promovendo em todo o mundo contra os enganos dos oportunistas de várias tendências. As premissas do método comunista permanecem reafirmadas por nosso exame da situação na Rússia, mesmo quando isso nos leva a resultados dolorosos: mais do que nunca, os comunistas reafirmam que não pode haver saúde para o proletariado sem a luta revolucionária e a guerra de classes conduzida pelo partido político, sem o estabelecimento do poder dos Conselhos operários e o uso implacável da arma da ditadura de classe contra os estratagemas sinistros da reação capitalista e a aparência enganosa das escolas pequeno-burguesas, que esvaziam o trabalho do proletariado de seu conteúdo revolucionário, tentando iludi-lo de que na democracia burguesa ou em um vago humanismo libertário o caminho para sua emancipação poderia inserir-se de forma menos dura.
O conteúdo histórico da revolução russa está mais do que nunca de pé; a própria queda hipotética do poder soviético, que nem mesmo a burguesia ousa mais esperar, não o afetaria, pois esta é a própria lei do progresso inelutável da história universal na época revolucionária em que vivemos.