História do Socialismo e das Lutas Sociais
Quarta Parte: As Lutas Sociais na Época Contemporânea

Max Beer


Capítulo XI - Os progressos do movimento socialista no mundo


1. O movimento socialista na Europa

capa

Embora a Dinamarca seja ainda um país em grande parte agrário, o Partido Socialista Dinamarquês foi, relativamente, um dos mais fortes da Segunda Internacional. A polícia, em 1871, reprimiu as primeiras tentativas de organização política. Os operários fundaram então associações cooperativas nas quais começaram a discutir as questões do socialismo. Em 1878, o movimento já era suficientemente forte para a formação de um Partido. Surgiu, nesse momento, a Federação Social-Democrata. Nas eleições legislativas de 1884, foi grande o êxito da Federação. Mas, como esse sucesso fora obtido em aliança com os liberais, surgiu no Partido uma oposição que se propunha dar ao movimento um caráter puramente proletário. Entretanto, a não ser em 1919 e em 1920, a esquerda socialista da Dinamarca não chegou a representar uma força digna de nota. O Partido continuou sendo sempre um Partido de reformas, como a social-democracia alemã ou o Labour Party. A imprensa, as cooperativas e as escolas da social-democracia dinamarquesa estavam admiravelmente organizadas. Em Outubro de 1916, por ocasião da venda aos Estados Unidos das ilhas dinamarquesas das costas ocidentais da Índia, o Congresso do Partido resolveu apoiar o governo liberal. O líder do Partido, Stauning, entrou para o governo. Nas eleições de Setembro de 1920, o Partido obteve 48 mandatos na Câmara dos Deputados e 22 no Senado.

Na Noruega, o movimento operário esteve, a princípio, sob a influência do movimento dinamarquês. Mas em 1887 constituiu-se o Partido Operário Norueguês. A industrialização rápida do país, a partir de 1905, teve como resultado o recrudescimento do movimento revolucionário, a frente do qual estava Tranmaël. Em 1912 a ala esquerda do Partido tornou-se um grupo independente que, em 1918, conseguiu conquistar a maioria no Partido e nos sindicatos. A ala direita deixou então o Partido para formar, em 1920, o Partido Operário Social- Democrata.

O movimento operário dinamarquês teve sempre caráter quase exclusivamente sindical. Do movimento operário norueguês, pelo contrário, participavam intelectuais que se mantinham em contacto com todos os teóricos do socialismo da Europa.

Na Suécia, o movimento socialista data de 1881. Seu principal pioneiro foi o alfaiate Augusto Palm, que havia trabalhado na Alemanha, onde estivera em contacto com os meios socialistas. Palm era um verdadeiro apóstolo. Percorria o país a pé, difundindo a nova doutrina. Depois dele veio Hjalmar Branting, que, em 1886, fundou o Social-Democrata. O Partido Social-Democrata da Noruega foi fundado em 1889. Dez anos depois, esse Partido começou a lutar em prol da reforma eleitoral, conseguindo, afinal, obtê-la, por meio da greve geral. Alcançou formidável triunfo nas eleições, mas caiu no revisionismo, o que motivou a formação de uma oposição revolucionaria. Durante a guerra, Branting pronunciou-se a favor da Entente e entrou, em 1917, num governo de coalisão, que se conservou no poder até 1920, quando foi substituído por um governo puramente socialista, dirigido por ele. Este governo durou apenas alguns meses. A crescente influência das tendências revisionistas no seio do Partido fez com que a oposição reforçasse a sua ação, acabando, afinal, por separar-se do velho Partido para formar o Partido Social-Democrata de esquerda (1917), que, finalmente, em 1921 aderiu a Internacional Comunista.

A Finlândia possuía antes da guerra o movimento operário melhor organizado do mundo. Esse movimento manifestou-se pela primeira vez no país em 1899. O Partido Social-Democrata foi fundado em 1903. Em 1907 obtinha no Parlamento 80 dos 200 mandatos. Em 1916 conquistou a maioria dos votos e formou um governo de coalisão social-liberal, dirigido pelo socialista Tokoi. A Revolução Russa e a guerra que logo estalou entre a Alemanha e a Rússia permitiram que a burguesia finlandesa destruísse por completo o movimento operário. Sustentado pelo exército alemão do general Mannerheim, ela empreendeu a luta contra o proletariado finlandês. Terrível foi a repressão. Dezenas de milhares de socialistas e de operários revolucionários foram chacinados.

Na Holanda, o movimento socialista sofreu “moléstias infantis” até por volta de 1890. Era dirigido por Domela Nieuwenhuis, antigo pastor luterano que, decepcionado com os resultados da ação parlamentar, se havia tornado anarquista-comunista. Nieuwenhuis conseguiu influenciar a maior parte das organizações operárias então existentes. Só em 1893 constitui-se o Partido Social-Democrata Holandês, dirigido por Troelstra e Van der Goes. Na mesma época, o movimento sindical adquiriu enorme amplitude. Em 1903, depois da greve dos transportes, os sindicatos proclamaram a greve geral, que terminou com o fracasso.

Lentamente, o movimento refez-se dessa derrota, tornando-se cada vez mais revisionista sob a influência de Troelstra e de Vliegen. Por isso, os elementos revolucionários, dirigidos por Henriqueta Roland-Holst e Görter, separaram-se do Partido e em 1909 organizaram um Partido Independente, que, depois da Revolução Russa, aderiu a Internacional Comunista.

A Bélgica foi durante muito tempo o paraíso dos capitalistas: governo parlamentar, livre jogo das forças econômicas e um proletariado passivo, privado de todos os direitos políticos e econômicos, e sujeito a influência do clero. O movimento operário só apareceu em 1875. Em 1877 fundaram-se o Partido Socialista Flamengo e o Partido Socialista Brabantino, que em 1879 se fundiram no Partido Socialista Belga. Havia, também, várias outras organizações operárias e muitas cooperativas. Em 1885, todas essas organizações uniram-se, formando o Partido Operário Belga. Um ano mais tarde, estalam insurreições operárias, que são afogadas em ondas de sangue. O Partido Operário Belga empreendeu então a luta pelo sufrágio universal. Tentou, primeiro, obter seus fins pela violência e por meio de greves gerais, mas sem resultado. Afinal, os operários apenas obtiveram um direito de sufrágio restrito. Só depois da vaga revolucionária provocada em toda a Europa, nos anos 1918-1919, pela Revolução Russa, é que a burguesia belga, aterrorizada, cedeu, concedendo o sufrágio universal.

Ao estalar da guerra, o Partido Operário Belga colocou-se ao serviço da defesa nacional. Seu chefe, Emilio Vandervelde, presidente da Segunda Internacional, entrou para o governo. Depois da guerra, Anseele, Destrée e Vauters entraram para o governo de coalizão, com a aprovação do Partido. A oposição fundou em 1920 o Partido Comunista Belga.

O núcleo central do movimento operário da Suíça estava na “Associação do Grutli”, criada em 1838. Em 1878, os grutlianos adotaram os princípios socialistas, mas conservaram uma atitude estritamente nacional e reformista. Pouco a pouco, entretanto, formou-se um Partido Socialista Suíço, que adotou os princípios marxistas. Em 1920, constituiu-se um Partido Comunista, que aderiu a Terceira Internacional.

Na Espanha, o movimento operário teve um início semelhante ao do movimento operário italiano. Apareceu na época da Primeira Internacional e caiu sob a influência de Bakunine. Apenas um pequeno grupo dirigido por Paulo Iglesias, conservou-se social-democrata. Em 1910, Iglesias foi eleito para as Cortes. Durante a guerra, o Partido Socialista Espanhol defendeu a causa da Entente. O movimento sindical espanhol, durante muito tempo, esteve quase que inteiramente dirigido pelos princípios anarco-sindicalistas.

Em Portugal, a situação é muito semelhante à da Espanha. O movimento socialista apenas se esboça. Os sindicatos lá são também dirigidos pelos anarco-sindicalistas.

O Partido Social-Democrata surgiu na Bulgária em 1894. Em 1903 cindiu-se em dois grupos: os ‘‘Largos” e os “Estreitos”, os primeiros reformistas e os segundos revolucionários. Em 1913, o Partido conseguiu enviar 37 deputados à Câmara. Por ocasião da entrada da Bulgária na guerra, os Largos colocaram-se no ponto de vista da defesa nacional. Os Estreitos, pelo contrário, votaram contra os créditos de guerra e foram violentamente perseguidos pelas autoridades. Depois da guerra, sua influência cresceu prodigiosamente. Em 1919, os Estreitos transformaram-se no Partido Comunista.

Na Sérvia, o Partido Social-Democrata foi fundado em 1903. Em 1912, tinha dois representantes na Câmara. Quando estalou a guerra, recusou-se a votar os créditos, Depois da assinatura da paz, as associações revolucionárias da Sérvia, da Croácia, da Bósnia e de outras províncias até então austríacas, integradas no novo Estado iugoslavo, reuniram-se e constituíram o Partido Social-Democrata Iugoslavo que em 1920 aderiu à Terceira Internacional. Esse Partido, desde a sua fundação, sofreu violentas perseguições por parte do governo. Além dele, há também um Partido Socialista Moderado.

Na Romênia, os grupos socialistas começaram a surgir em 1880. Mas as condições políticas do país impediram, durante muito tempo, a organização de um Partido socialista único. O desenvolvimento do movimento sindical provocado pelo progresso da indústria petrolífera veio modificar a situação. Depois da primeira Revolução russa de 1905 e da insurreição camponesa de 1907, os diferentes grupos socialistas se uniram, sob a direção de Cristiano Rakovski, vindo a formar, em 1911, com os sindicatos, o Partido Social-Democrata da Romênia. Este partido pronunciou-se contra a entrada da Romênia na guerra. Em 1918, irrompeu uma greve geral que provocou violenta repressão contra os socialistas e os dirigentes das organizações sindicais. No dia 13 de Dezembro de 1918, o governo mobilizou uma companhia de metralhadoras contra a manifestação operária que se realizava nas ruas de Bucareste. Mais de 100 operários foram mortos.

A anexação à Romênia da Bucovina, da Transilvânia e do Bannat, fortaleceu os elementos moderados, que organizaram o Partido Socialista Romeno; os elementos revolucionários formaram o Partido Comunista, que aderiu a Terceira Internacional.

2. O movimento socialista fora da Europa

Na Austrália, o Partido Operário constituiu-se em 1892, depois do fracasso das greves de 1889-1891. Os operários voltaram-se para a ação política, mas continuaram confinados no quadro do reformismo. O Partido Operário tornou-se depois muito forte e alcançou triunfos nas eleições. Em 1910, conseguiu a maioria no Parlamento (43 deputados operários contra 33 deputados burgueses) e constituiu um governo trabalhista. Nos diferentes Estados, ele também tinha a maioria em quase toda a parte. Mas a guerra, perturbando todos os espíritos, cindiu o Partido, enfraquecendo-o enormemente.

Assim mesmo, alguns anos depois da guerra, conseguia superar suas debilidades e retomar seu vigoroso desenvolvimento.

Na Nova Zelândia, o movimento operário lembra o da Austrália. Mas o Partido Operário é mais nitidamente socialista. A princípio, a arbitragem obrigatória, em matéria de conflitos econômicos, surtiu efeito. Conseguiu impedir as greves, no período compreendido entre 1894 e 1905. Mas o desenvolvimento econômico veio provocar violentas lutas de classe, que nenhuma arbitragem obrigatória poderia impedir.

O Partido Operário da África do Sul foi fundado em 1909. Nas eleições legislativas desse mesmo ano conseguiu obter 4 mandatos.

Foi no Transvaal que mais se desenvolveu. Ali, conquistou a maioria parlamentar, em 1913. Sofreu, depois, como os outros Partidos, a nefasta influência da guerra. A maioria do Partido colocou-se no terreno da defesa nacional. A minoria revolucionária, pelo contrário, fundou a União Socialista Internacional, que manifestou atitudes revolucionárias, pronunciando-se pela colaboração dos operários brancos com os operários de cor. O movimento operário da África do Sul tem sustentado duras lutas contra os proprietários das minas de diamante, que contam inteiramente com o apoio do governo.

O movimento socialista japonês merece grande atenção. No decorrer destas últimas décadas, o Japão transformou-se num país moderno. O movimento operário surgiu por volta de 1880. Em 1900 o Parlamento japonês votou uma lei contra as greves.

O Partido Social-Democrata Japonês foi fundado por Kotoku e Sen Katayama em 1901. Perseguido pelas autoridades, deu origem a Liga dos Plebeus, organização marxista revolucionária que lutou contra a guerra por ocasião do conflito russo-japonês (1904).

Por fim, teve a mesma sorte da organização que a precedera. Em 1910, vários dirigentes socialistas, entre os quais Kotoku, foram condenados à morte e executados sob a acusação de prepararem um atentado contra a vida do Mikado.

O formidável desenvolvimento da indústria japonesa durante a guerra mundial e a Revolução Russa impulsionaram o movimento socialista e sindical.

Hoje, até os núcleos intelectuais burgueses consagram grande atenção à questão social.


Inclusão: 21/10/2021