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A derrota da Revolução de 1818-1849 sucedeu um período de reação. Em França, Napoleão III instalava-se no trono imperial e conseguia o apoio da burguesia para os seus empreendimentos no exterior (guerra da Crimeia, guerra italiana, guerra do México) e para a sua política de repressão do movimento operário. Na Grã-Bretanha, a classe operária voltou as costas para as ideias revolucionárias e tornou-se simples apêndice do partido liberal. Na Prússia, introduziu-se o sufrágio de três graus. A imprensa foi amordaçada e F. J. Stahl, um judeu converso, conduziu a ciência política pelo caminho da autoridade, da Igreja e da monarquia, Com a ajuda do czar Nicolau I, a Áustria esmagou a Revolução húngara e restabeleceu a Federação germânica.
Mas esse período de reação durou apenas uma década: de 1849 a 1859. O desenvolvimento capitalista que, a partir de 1850, fez progressos extremamente rápidos, reduziu a pó todas as barreiras erguidas pelas potências reacionárias. O descobrimento de minas de ouro na Califórnia e na Austrália, de minas de prata no México; o desenvolvimento das estradas de ferro, do telégrafo e da navegação a vapor; os progressos da indústria metalúrgica, das fábricas, dos bancos e das bolsas e, por último, o desenvolvimento das ciências naturais — química, física e biologia — ao lado do despertar do movimento nacional na Itália, na Alemanha, na Polônia, nos países balcânicos, precipitaram o ritmo da vida social e política da Europa ocidental e central. Até na Prússia manifestaram-se tendências liberais e reformadoras. A tudo isso veio juntar-se a derrota das principais forças da reação europeia; da Rússia, na guerra da Crimeia (1854-1855) e da Áustria, na guerra da Itália (1859).
O período de 1860 a 1870 é o do liberalismo. Na Grã-Bretanha, J. S. Mill e William E. Gladstone obtêm verdadeiros triunfos políticos. Nos Estados Unidos da América, de 1861 a 1865, numa violenta guerra civil chocam-se os partidários e os adversários da unidade nacional e da libertação dos escravos. E o liberal Lincoln sai vencedor dessa guerra civil. Na França, a oposição burguesa republicana levanta a cabeça e obriga Napoleão III a fazer concessões. Na Prússia, a burguesia liberal faz uma oposição cada vez mais forte à política de Bismarck que, afinal, constrangido ao mesmo tempo pelas necessidades da sua política interna e externa (guerra com a Áustria, 1866), é obrigado a apelar para as medidas liberais (concessão do sufrágio universal, em 1867). Na Rússia, a libertação dos aldeãos, em 1861, inaugura um longo período revolucionário. O Japão sai de seu isolamento medieval e desperta para a vida e para a economia modernas.
Grandes coisas se fizeram nessa importante década: Darwin publica suas principais obras; perfura-se o canal de Suez; a escravidão é abolida da América do Norte; inicia-se a transformação econômica da Rússia; a Federação germânica desagrega-se, em consequência da guerra prusso-austríaca de 1866. Na Rússia, a proibição das coalizões operárias é suspensa e introduz-se o sufrágio universal. Estende-se o direito de voto aos operários das cidades da Inglaterra e, na Alemanha e na Itália, começa o movimento de unidade nacional. Esse período caracteriza-se também pelo fato de nele terem sido feitas as primeiras tentativas nacionais e internacionais do proletariado do continente europeu, a fim de organizar-se como classe para lutar pelo advento de uma nova sociedade.
A era liberal termina no período de 1869 a 1879. A vitória da Alemanha na guerra contra a França, em 1870-1871, o desenvolvimento da indústria, do comércio e dos transportes, a depressão da agricultura causada pelos progressos da industrialização ou pela concorrência americana, e a relativa superprodução dos objetos manufaturados, dão origem a um longo período de crise econômica e política, apenas interrompida por um ou outro ano de prosperidade. Este período de crise, que se prolongou até por volta de 1890, foi uma das principais causas da era imperialista, da disputa dos mercados coloniais e da partilha dos países não capitalistas da África e da Ásia. Este período de crise foi, também, das principais causas do despertar do movimento socialista na Europa ocidental e central. Em fins de 70, o liberalismo já estava em declínio. Novas ideias e novas necessidades passaram para o primeiro plano: intervencionismo estatal, protecionismo, política colonial. Em suma: surgia o imperialismo como política das classes dominantes e o socialismo como o ideal e o programa da luta da classe operária. A Europa foi bruscamente arrastada na vertigem de uma transformação que o liberalismo não conseguia controlar.
Estas estatísticas mostram, em linhas gerais, o que foi essa transformação no período compreendido entre 1850 e 1880:
Força mecânica empregada nas estradas de ferro, na navegação e na indústria (em cavalos vapor) |
||
Países | 1850 | 1880 |
Inglaterra | 1.290.000 | 7.600.000 |
França | 370.000 | 3.070.000 |
Alemanha | 260.000 | 5.180.000 |
Rússia | 20.000 | 1.740.000 |
Áustria | 100.000 | 1.560.000 |
Europa | 2.240.000 | 22.000.000 |
Estados Unidos da América | 1.680.000 | 14.400.000 |
Produção de aço em bruto (em toneladas) | ||
Países | 1850 | 1880 |
Inglaterra | 2.250.000 | 7.780.000 |
França | 570.000 | 1.630.000 |
Alemanha | 402.000 | 2.780.000 |
América | 560.000 | 3.840.000 |
Produção mundial | 4.422.000 | 17.140.000 |
Produção de aço (média anual) | ||
Países | 1850-1860 | 1880-1889 |
Inglaterra | 2.600.000 | 25.100.000 |
França | 800.000 | 3.800.000 |
Alemanha | 1.300.000 | 12.000.000 |
Estados Unidos a América | 700.000 | 21.000.000 |
Outros países | 700.000 | 6.100.000 |
Total | 6.100.000 | 68.000.000 |
Produção de carvão (em toneladas) | ||
Países | 1850 | 1886 |
Inglaterra | 49.000.000 | 147.000.000 |
França | 440.000 | 19.400.000 |
Alemanha | 6.700.000 | 59.100.000 |
América | 8.000.000 | 70.500.000 |
Produção mundial | 81.700.000 | 340.000.000 |
Produtos manufaturados (em milhões de libras esterlinas) | ||
Países | 1840 | 1888 |
Inglaterra | 384 | 830 |
França | 260 | 485 |
Alemanha | 150 | 583 |
América | 96 | 1.443 |
População da Europa (aproximadamente) |
|
1780 | 110.000.000 |
1880 | 315.000.000 |
As exposições de Londres (1851), de Paris (1885), de Londres (1862), de Paris (1867) e de Filadélfia (1873) mostraram os enormes progressos realizados pela indústria em todo esse período. É particularmente digno de nota o aumento da população. Em nenhuma época da História foi tão rápido como no século XIX. Resultou dos progressos higiênicos, do melhoramento geral das condições de vida em virtude do desenvolvimento das ciências naturais e da técnica dos transportes, assim como da aplicação das ciências naturais à indústria e à agricultura. Esse aumento da população verificou-se sobretudo nas cidades.
A concentração de consideráveis massas humanas nos centros industriais e comerciais facilitou a troca de ideias. Arrastados pela onda rápida do desenvolvimento industrial, os homens começaram a pensar na natureza e nas condições sociais novas, que elevavam uns à riqueza e precipitavam outros na miséria. O progresso, o movimento, a evolução, foram os temas principais das discussões daquela época. As teorias de Hegel, Darwin e Marx tornaram-se a base de grandes movimentos intelectuais e sociais. O pensamento humano, religioso na Idade Média, mecânico no começo dos Tempos Modernos, voltou-se cada vez mais para o estudo dos problemas biológicos e sociais.
A religião, o mecanismo, o organismo, ou, em outros termos, Deus, a natureza e a vida humana e social, foram os principais títulos dos diferentes capítulos da História da sociedade europeia a partir do quarto século da era cristã.