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Fonte: Arquivo Vania Bambirra - https://www.ufrgs.br/vaniabambirra/ -
HTML: Fernando Araújo.
O trabalho do filósofo Luigi Bordin merece mais que uma leitura, uma grande meditação, não só da sua temática, como também sobre o que é entregue de novo para o estabelecimento de uma relação profunda entre o marxismo e a Teologia da Libertação.
Neste sentido, seu livro vem a ser mais que uma tese doutoral strictu sensu (uma contribuição própria à Ciência Social para fazê-la avançar de formas sistemática e bem fundamentada) porém, especialmente, uma ode à união de duas grandes vertentes do pensamento vivo e controvertido na América Latina: o cristão e o marxista.
Partindo das análises mais relevantes dos grandes teólogos comprometidos com a libertação dos oprimidos – as obras de Hugo Assman, Gustavo Gutiérrez e de Leonardo e Clodovis Boff – Luigi trata de estabelecer as relações existentes entre essas obras e as dos autores da teoria marxista da dependência elaboradas sobretudo por Theotonio dos Santos, Ruy Mauro Marini e por quem escreve este prólogo.
É nisso que reside o seu caráter original: segundo o autor, os que estão efetiva e conscientemente lutando por uma “opção pelos pobres” devem entender a complementariedade entre a fé e a ciência, entre a opção por Cristo – a fé – e a ciência – o materialismo dialético (utilizado nas análises do capitalismo dependente latino-americano, que influenciaram de leste a oeste toda uma geração nova de cientistas sociais).
Daí a sua conclusão brilhante: com Cristo e com Marx.
Em um continente como o nosso, onde, apesar do sincretismo, o catolicismo é a crença dominante, e onde o socialismo torna-se a cada dia o ideal, se bem que intuitivo, em ascendência constante, nada é mais relevante que encontrar e apontar as suas vertentes comuns.
O grande mérito da Teologia da Libertação tem sido o de abrir essa perspectiva, assim como o grande acerto da teoria marxista da dependência foi o de demonstrar a sua necessidade histórica. Ambas, portante, conforme a comprovação de Luigi, devem convergir e convergirão, inexoravelmente.
Compreender essa tese de Luigi é pois fundamental tanto para cristãos como para marxistas (e aqui usamos o conceito não no sentido ortodoxo – pois seriam bem poucos os marxistas na América Latina e em especial no Brasil – mas no sentido amplo dos socialistas em primeira instância e dos da esquerda em geral), pois o presente trabalho tende a uni-los, juntá-los em torno a uma meta comum.
Uma última reflexão. Foi preciso que um filósofo de outras latitudes, no caso a Itália, viesse para abalar o provincianismo da teologia e das ciências sociais conhecidas no Brasil. Pois aqui são desconhecidos os trabalhos pioneiros dos precursores da Teologia da Libertação e da Teoria da Dependência. Isso, na verdade, não é aleatório. Como se sabe, “as idéias dominantes são aquelas das classes dominantes”, e tanto o mais progressista e revolucionário que vem da Igreja, quanto o proveniente das Ciências Sociais são debatidos a meias, quando muito. Quando não são hostilizados abertamente são, ou pouco popularizados, ou ignorados, o que é bem pior.
Confiamos que o livro de Luigi Bordin gere uma motivação para uma reflexão mais profunda e para um debate livre, não só de suas raízes, mas sobretudo para as suas futuras influências. Essa confluência teórica e prática que ele propõe é não só viável, possível, como também indispensável.
Os crentes e os leigos, os cristãos e os marxistas, junto, devem estar unidos na opção por uma sociedade realmente nova. Essa sociedade deve e será democrática. Por ela estão lutando e lutarão, sem preconceitos e com um respeito mútuo, a imensa maioria dos cidadãos. Esse é o futuro que se vislumbra para a América Latina e para o Brasil em particular.
Para mim, como leiga e marxista, foi muito bom ter lido e meditado sobre estas teses. Confio em que para ao cristãos também o será.